
E, se de repente…
Nada fazia prever.
A mais tórrida canícula.
Muita vida morta
E tanta, quase a morrer.
Uma chuva grossa,
Esgaçando o céu,
Inundasse o chão,
Apagando o inferno?...
E se um moribundo,
Às portas da morte,
Saltar do catre,
Corre para a estrada
Anunciando ao mundo
Que jamais morre
E adora a vida?...
E, se o mar irado,
Um leão rugindo,
Cavando a cova
Ao barco que pesca,
Com uma fartura a bordo,
Sem tirte zuarte,
Como um cordeiro,
Se queda inerte?...
Só por acaso,
Clamará o louco.
Só por milagre,
Proclamará o crente.
Dois olhares diferentes
Para a mesma sorte.
Onde a verdade?…
Berlim, 11 de Junho de 2016
8h28m
Dia de sol
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Minhas articulações...
Entorpecidas, secaram minhas articulações todas.
Varre-me a mente uma letargia,
lânguida e morna.
Me deixo ir nela amorfo.
Quase adormeço e esqueço,
afinal, quem fui.
Toda a gente amada foi.
É o deserto sombrio e frio.
Nem um só cisco seco
de carvalho ou pinho.
É a aridez em força
que me força e esmaga.
Não consigo reagir.
Como folha morta eu vou
nesta corrente morta
que não me afoga.
Surjam raios do céu azul.
Desfaçam chuva em cataratas.
Reverdeça este chão sem chão.
Volte a terra húmida
onde as ervas nascem.
Quero ver outra vez flores
bailando ao vendo
e sorrindo ao sol.
Caia forte a vida em mim.
Me aqueça em fogo
estas articulações artríticas.
Quero voltar, de novo, às maratonas...
ouvindo Maria Betânia cantado "Sinhora Aparecida"... só Ela...
Berlim, 12 de Junho de 2016
11h27m
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16167: Blogpoesia (451): "Cocciolo..." e "O talento...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728