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Channel: Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Guiné 63/74 - P14829: Memória dos lugares (296): Rio Corubal: Já o atravessei a nado, duas vezes, com óculos e barbatanas, vasculhando o fundo, junto à jangada do Ché Ché, de tão má memória... (Patrício Ribeiro, Bissau)

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Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > Rápidos do Saltinho > 3 de Março de 2008 > Lavadeiras do Saltinho... Doces e trágicas memórias, a deste rio... O único e verdadeiro rio da Guiné, já lá dizia o Amílcar Cabral, porque todos os demais são de água salgada, são rias, são braços de mar... É provavelmente o mais belo rio da Guiné, digo eu, que só conheço este, o  Geba, o Mansoa e mais alguns rios mais pequenos, afluentes...

Um dia destes,  os novos senhores de África decidem construir aqui uma monstruosa barragem, hidroelétrica, à revelia dos verdadeiros interesses do povo guineense... É sonho antigo que vem da independência... E com isso destruir o recurso mais precioso que tem a Guiné-Bissau, para além do seu povo, que é a sua biodiversidade... Não sei se este projeto tem viabilidade (do ponto de vista técnico,
financeiro, económico, ambiental e político)... Mas já vimos tanto coisa, em todo o lado (a começar pelo nosso país)...

Enfim, o que eu quero sublinhar é que  sem biodiversidade não há futuro, não há desenvolvimento sustentado e partilhado, não há esperança... Oxalá que este  projeto nunca se chegue a concretizar... Para bem da Guiné-Bissau e de todos nós, incluindo o povo chinês cujo dinheiro está a ser fortemente investido em África, e não só... Porque a terra não nos pertence, é a nossa casa comum, e temos a obrigação de a deixar, melhor, mais habitável e sustentável, aos que hão-de vir depois de nós, os nossos filhos, netos e bisnetos, europeus, africanos, asiáticos, americanos, australianos...

Também me parece que há hoje  um sério risco de "pesca selvagem" no Rio Corubal, a avaliar pelas fotos de alguns "sites" de caça e pesca, internacionais, que promovem, descaradamente, quase pornograficamente, o saque dos recursos piscícolas do Rio Corubal... Vejam aqui.

O mar da minha terra também era rico de vida marinha, lançavam-se cem covos, apanhavam-se cem lagostas. E pescador que não apanhasse à linha uma garoupa do seu tamanho era uma merda de pescador... Estou a falar de há 60/70 anos atrás... Hoje até a sardinha foge de nós... En Peniche o número de traineiras deve ter sido reduzido na ordem das 80 para 10... O atum desapareceu do mediterrâneo. E, claro, do Algarve.

No passado, nunca aprendemos com os erros uns dos outros... Tem sido a ganância de uns poucos que nos empobrece e mata  a todos... Aqui, e em toda a parte... Infelizmente a Guiné-Bissau é um dos países mais ameaçados do mundo, em consequência das alterações climáticas... Não sei se os nossos bisnetos poderão chegar a  conhecer o Rio Corubal, os rápidos do Saltinho e de Cussilinta  ou o arquipélago dos Bijagós...  Todavia, a consciênica ecológica está a chegar também à Guiné-Bissau: o povo bijagó, por exemplo, está-se a mobilizar para defender e proteger os seus recursos marinhos e florestais, sem os quais corre o risco de perder o seu modo de vida e a sua forte identidade cultural... E são as mulheres que lideram essa luta... Vejam aqui o sítio da ONGD, de base comunitária, Tiniguena. (LG)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Patrício Ribeiro:

 [Foto à esquerda: Patrício Riubeiro, português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde 1984, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda; também conhecido carinhosamente como "pai dos tugas"]


Data: 2 de julho de 2015 às 11:38

Assunto: Sondagem sobre ss nossos rios da Guiné

Boas,

Ainda recentemente, estive a fazer  caça submarina,  com uns amigos no Corubal,  em Cussilinta.

Todos os anos, vou dar lá uns mergulhos e matar uns peixes, assim como no Saltinho, águas com mais de 5 metros de   profundidade, doce, com 3 metros ou mais, de visibilidade.

Normalmente apanhamos percas do Nilo (garoupas do rio) que chegam a pesar,  algumas,  mais de 5 kg.

São bons fins de semana e passeios, mergulhos, javalis, com campismo á mistura.

Já atravessei  o rio Corubal  duas vezes a nado, com óculos e barbatanas, vasculhando o fundo, junto à jangada do Ché Ché, de tão má memória...

Nesta jangada no Ché Ché a funcionar, lá vão passando com frequência, as professoras portuguesas da ONG FEC,  que estão a morar em Gabú, levar a língua portuguesa até Beli, no Boé.

Para informação do António Rosinha, a estrada entre Gabú e o Ché-Ché, onde estive a semana passada, está a reparada por uma empresa portuguesa,  penso que depois da reparação há 30 anos pelo Rosinha,  ele volta a ter manutenção.

Abraço
Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa 

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