Capa do livro do ilhavense Lícinio Ferreira Amador, "Tempos de Pesca em Tempos de Guerra", edição de autor . O livro foi apresentado em 16 de abril de 2016, no anfiteatro do Museu Marítimo de Ílhavo, entre outros pelo nosso amigo Tibério Paradela. O autor é professor do ensino secundário aposentado. O livro tem 241 pp, e já vai em 2ª edição, Preço de capa;: 12 €. Pode ser adquirido aqui, no portal da CM Ílhavo.
Fonte: portal Caxinas - Poça da Barca, de "lugar" a freguesia (com a devida vénia)
1. Onze navios, sob bandeira portuguesa, foram afundados, durante a II Guerra Mundial, não obstante e as embarcações estarem claramente identificadas como sendo oriundas de Portugal. Uma dessas embarcações foi afundada por um submarino italiano, as restantes pela marinha e pela aviação alemãs.
Um dos casos mais chocantes foi o bacalhoeiro, o lugre-motor, "Maria da Glória". A tragédia ocorreu a 5 de junho de 1942, faz agora 75 anos. Era comandado pelo capitão Sílvio Pereira Ramalheira, natural de Ílhavo, e que ficou gravemente ferido. Dos 44 tripulantes, apenas 8 sobreviveram, a bordo de um dos dóris da embarcação. Ao todo morreram 36 homens.
A embarcação de bandeira portuguesa, registada no porto de Aveiro, tinha zarpado do estuário do Tejo em 19 de maio de 1942. Na noite de 5 de junho, navegava rumo aos bancos de pesca da costa oeste da Gronelândia, quando às 22h10 é atacada, brutalmente, sem aviso prévio, a tiros de canhão do submarino U-94. (Ainda não lemos o livro do Licínio Ferreira Amador, que é um trabalho de investigação de arquivo, de vários anos. Percorremos várias versões desta tragédia na Net, havendo erros factuais nalgumas. O próprio comportamento do submarino U-94 está por esclarecer: a decisão de atacar o indefeso e frágil lugre bacalhoeiro português pode ter sido originada por fatal erro de comunicações entre os navios pesqueiros.)
A embarcação, de três mastros, ostentava uma bandeira portuguesa no casco, não podendo haver qualquer dúvida sob a sua identificação. Na impossibilidade de deter o ataque e salvar o navio, com incêndio a bordo, mortos e feridos, é dada a ordem de evacuação, que é feita em condições heróicas sob constante metralha. O navio afunda-se às 22h50.
A embarcação, de três mastros, ostentava uma bandeira portuguesa no casco, não podendo haver qualquer dúvida sob a sua identificação. Na impossibilidade de deter o ataque e salvar o navio, com incêndio a bordo, mortos e feridos, é dada a ordem de evacuação, que é feita em condições heróicas sob constante metralha. O navio afunda-se às 22h50.
Os sobreviventes, que escaparam ao naufrágio, espalham-se pelos vários dóris que foi possível içar (pequena embarcação que não é uma baleeira, e não dispunha de água nem de comida) e aqui prossegue a II parte da sua história trágico-marítima (a fome, a sede, o frio, as tempestades, o isolamento, o desespero...). Os feridos mais graves morrem, outros perdem-se no meio das vagas... Ao fim de cinco dias, só resistiam 3 dos 9 dóris. Ao nono (ou décimo) dia, são avistados por um avião de patrulha norte-americano que lhes larga caixas de sinais e de mantimentos. Ao 11.º dia, são resgatados pelo USS Sea Cloud, um navio meteorológico da Guarda Costeira Norte-Americana. Dos 44 tripulantes, há apenas 8 sobreviventes, incluindo o capitão.
Por seu turno, o U-94, que tinha a sua base em França, em Saint Nazaire, era comandado pelo 1.º tenente Otto Ites (1918-1982). Pouco tempo depois, em 28 de agosto de 1942, é atacado e afundado quando navegava à superfície no Mar do Caribe. Os sobreviventes foram resgatados pelas marinhas do Canadá e dos EUA, e levados para este último país onde ficaram prisioneiros até ao fim da guerra.
Aconselha-se a leitura do livro "Tempos de Pesca em Tempos de Guerra”, do investigador ilhavense Licínio Ferreira Amador, que traz a última versão, rigorosa, desta história trágico-marítima.
2. Recentemente, no passado dia 8 de fevereiro, a Associação dos Industriais do Bacalhau formalizou, na Assembleia da República, a proposta para instituição do Dia Nacional do Bacalhau em 5 de junho, justamente para homenagear o "Maria da Glória" e os seus bravos. A ideia partiu da conhecida empresa Riberalves, com o apoio do Museu Marítimo de Ílhavo.
O afundamento do "Maria da Glória"é considerado, pelos historiógrafos, como o episódio mais trágico da história portuguesa da pesca do bacalhau. A data tem, portanto, uma forte carga simbólica no país que mais bacalhau consome em todo o mundo. Pretende-se homenagear não só a epopeia da pesca do bacalhau mas também valorizar a dimensão económica. gastronómica e identitária que tem o bacalhau, em Portugal e nas comunidades portuguesas em todo o mundo. Duas personalidades, Álvaro Garrido (professor da Universidade Coimbra) e Ricardo Alves (presidente da AIB – Associação dos Industriais do Bacalhau, e administrador da Riberalves) são o rosto deste projeto.
Segundo a notícia que lemos no portal Terranova, de 8/2/2017, os proponentes da ideia enfatizam o facto de, ao longo dos séculos, os portugueses terem-se tornado "os maiores consumidores mundiais de bacalhau, transformando este peixe num símbolo identitário da sua cultura, alavancando uma indústria que acolhe 2000 empregos diretos e um volume de negócios de 400 milhões de euros (100 milhões de euros de exportações)."
O afundamento do "Maria da Glória"é considerado, pelos historiógrafos, como o episódio mais trágico da história portuguesa da pesca do bacalhau. A data tem, portanto, uma forte carga simbólica no país que mais bacalhau consome em todo o mundo. Pretende-se homenagear não só a epopeia da pesca do bacalhau mas também valorizar a dimensão económica. gastronómica e identitária que tem o bacalhau, em Portugal e nas comunidades portuguesas em todo o mundo. Duas personalidades, Álvaro Garrido (professor da Universidade Coimbra) e Ricardo Alves (presidente da AIB – Associação dos Industriais do Bacalhau, e administrador da Riberalves) são o rosto deste projeto.
Segundo a notícia que lemos no portal Terranova, de 8/2/2017, os proponentes da ideia enfatizam o facto de, ao longo dos séculos, os portugueses terem-se tornado "os maiores consumidores mundiais de bacalhau, transformando este peixe num símbolo identitário da sua cultura, alavancando uma indústria que acolhe 2000 empregos diretos e um volume de negócios de 400 milhões de euros (100 milhões de euros de exportações)."
A fundamentação académica da proposta coube ao prof Álvaro Garrido o nosso maior especialista da história e da socioeconomia da pesca do bacalhau no Estado Novo.
Parece que a proposta teve bom acolhimento no seio dos partidos representados na Assembleia da República.
Recorde-se também aqui, neste blogue de ex-combatentes, a importância que tinha ou teve, no TO da Guiné, durante a guerra colonial, a presença do "fiel amigo"... Para suprir as falhas da Intendência, eram as nossas próprias famílias que nos faziam chegar, aos aquartelamentos no mato, remessas do tão desejado bacalhau... sobretudo nas datas mais festivas e simbólicas, como o Natal ou o dia de anos. (LG)
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Nota do editor: