1. Comentário deixado no poste P17453 (*), pelo nosso colaborador permanente Hélder Valério de Sousa (ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72, ribatejano a viver em Setúbal, com página pessoal no Facebook)
Uma história deliciosa (não só por causa do bacalhau...) que demonstra bem a capacidade inventiva do 'português típico' que é capaz de descortinar uma saída qualquer para os 'milhentos' problemas com que muitas vezes se depara.
Essa cadeia de solidariedade, de boas vontades, funcionou. E funcionou bem.
Em Vila Franca de Xira, onde vivi até ir para a Guiné e ainda algum (pouco) tempo depois, havia (e ainda há) um rapaz do meu tempo (1 ou 2 anos mais velho), o Orlando Levezinho, que julgo ser primo do Tony. Tocava num daqueles conjuntos que proliferavam na década de sessenta e acho que ainda hoje está ligado a actividades musicais.
Mas o que me levou a fazer este comentário foi o apelo do Luís para que aparecessem mais histórias de remessas de produtos que chegavam por diversas formas e meios.
É claro que para quem estava em Bissau as coisas eram muito mais facilitadas, mas no interior também chegavam coisas. Acontece é que para o Levezinho a cadeia de solidariedade era mais complexa mas, mesmo assim, não teve quebras...
Uma das formas como as coisas chegavam era pelo 'portador'.
Quando se regressava de férias lá havia umas 'lembranças', fosse em bacalhau, chouriços, queijos, etc.
Quando fui para a Guiné (já contei aquando da minha apresentação aqui) fui portador de um garrafão de água-pé, castanhas e outras coisas, pois calculava-se que chegaria lá a tempo para o S. Martinho e de facto assim aconteceu pois cheguei no dia 9 de Novembro.
Essa 'encomenda' foi para o meu conterrâneo José Augusto Gonçalves, colega de turma na EICVFXira [, Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira] que era Fur Mil no Pelotão de Transmissões (tratava da montagem dos rádios e assistência à aparelhagem), cujo quarto (que ele partilhava com outros dois Fur Mil, o Vítor Ferreira, também de Vila Franca e meu parceiro/competidor de bilhar na "Brasileira", e o já aqui várias vezes referido Pechincha, da CART 11) fui usufruir.
Mais tarde, também foi a minha vez de receber alguma coisa, desta vez por intermédio de um tripulante do T/T "Niassa". Era avisado por carta (ou aerograma) de que isso ia acontecer, estava atento à chegada dos navios, entrávamos em contacto e lá recebia a encomenda.
Também tinha a sorte de ter um primo (aí já em terceiro grau...) na Base Aérea [,BA 12, em Bissalanca], o Sargento Salgado Valério (acho que era Valério Salgado, não sei bem) e que também de vez em quando recebia coisas por via aérea e que me facultava parte quando calhava.
Mas a maior parte e mais interessante, eram as encomendas que o meu camarada das Transmissões e da Escuta, o Fur Mil Nelson Batalha, recebia.
O seu pai era funcionário de um Despachante aqui de Setúbal, o Fernando Pedrosa, que foi dirigente do Vitória de Setúbal e também com responsabilidades federativas.
Algumas vezes foi possível enviar, já quando estávamos em Bissau, na Escuta, umas caixas isotérmicas em barcos que passavam por Setúbal, por exemplo o "Ana Mafalda". Nessas caixas iam imensas coisas variadas que o Nelson partilhava connosco. Fruta da época (lembro-me bem dos melões, que o pessoal nativo dizia ser "papaia da metrópole"), compotas, bolachas, enchidos, etc..
Havia também patês variados de coisas que não estava habituado, como veado, javali e outros (isso agora é corriqueiro mas na época o que havia eram os de sardinha e atum e de presunto) e também várias espécies de salsichas, da Baviera, suecas, etc, que provinham das amostras que os fornecedores deixavam na Alfândega e que, pronto!, lá seguiam até à Guiné.... para se fazer o teste e aprova de qualidade.
Quando estive no interior, no 'mato', em Piche, lembro-me que de vez em quando havia quem recebesse coisas da 'Metrópole' mas não me lembro qual o meio utilizado.
Abraços
Hélder Sousa
_______________
Nota do editor:
Vd. poste de 10 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17453: (De) Caras (76): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte II
Uma história deliciosa (não só por causa do bacalhau...) que demonstra bem a capacidade inventiva do 'português típico' que é capaz de descortinar uma saída qualquer para os 'milhentos' problemas com que muitas vezes se depara.
Essa cadeia de solidariedade, de boas vontades, funcionou. E funcionou bem.
Em Vila Franca de Xira, onde vivi até ir para a Guiné e ainda algum (pouco) tempo depois, havia (e ainda há) um rapaz do meu tempo (1 ou 2 anos mais velho), o Orlando Levezinho, que julgo ser primo do Tony. Tocava num daqueles conjuntos que proliferavam na década de sessenta e acho que ainda hoje está ligado a actividades musicais.
Mas o que me levou a fazer este comentário foi o apelo do Luís para que aparecessem mais histórias de remessas de produtos que chegavam por diversas formas e meios.
É claro que para quem estava em Bissau as coisas eram muito mais facilitadas, mas no interior também chegavam coisas. Acontece é que para o Levezinho a cadeia de solidariedade era mais complexa mas, mesmo assim, não teve quebras...
Uma das formas como as coisas chegavam era pelo 'portador'.
Quando se regressava de férias lá havia umas 'lembranças', fosse em bacalhau, chouriços, queijos, etc.
Quando fui para a Guiné (já contei aquando da minha apresentação aqui) fui portador de um garrafão de água-pé, castanhas e outras coisas, pois calculava-se que chegaria lá a tempo para o S. Martinho e de facto assim aconteceu pois cheguei no dia 9 de Novembro.
Essa 'encomenda' foi para o meu conterrâneo José Augusto Gonçalves, colega de turma na EICVFXira [, Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira] que era Fur Mil no Pelotão de Transmissões (tratava da montagem dos rádios e assistência à aparelhagem), cujo quarto (que ele partilhava com outros dois Fur Mil, o Vítor Ferreira, também de Vila Franca e meu parceiro/competidor de bilhar na "Brasileira", e o já aqui várias vezes referido Pechincha, da CART 11) fui usufruir.
Mais tarde, também foi a minha vez de receber alguma coisa, desta vez por intermédio de um tripulante do T/T "Niassa". Era avisado por carta (ou aerograma) de que isso ia acontecer, estava atento à chegada dos navios, entrávamos em contacto e lá recebia a encomenda.
Também tinha a sorte de ter um primo (aí já em terceiro grau...) na Base Aérea [,BA 12, em Bissalanca], o Sargento Salgado Valério (acho que era Valério Salgado, não sei bem) e que também de vez em quando recebia coisas por via aérea e que me facultava parte quando calhava.
Mas a maior parte e mais interessante, eram as encomendas que o meu camarada das Transmissões e da Escuta, o Fur Mil Nelson Batalha, recebia.
O seu pai era funcionário de um Despachante aqui de Setúbal, o Fernando Pedrosa, que foi dirigente do Vitória de Setúbal e também com responsabilidades federativas.
Algumas vezes foi possível enviar, já quando estávamos em Bissau, na Escuta, umas caixas isotérmicas em barcos que passavam por Setúbal, por exemplo o "Ana Mafalda". Nessas caixas iam imensas coisas variadas que o Nelson partilhava connosco. Fruta da época (lembro-me bem dos melões, que o pessoal nativo dizia ser "papaia da metrópole"), compotas, bolachas, enchidos, etc..
Havia também patês variados de coisas que não estava habituado, como veado, javali e outros (isso agora é corriqueiro mas na época o que havia eram os de sardinha e atum e de presunto) e também várias espécies de salsichas, da Baviera, suecas, etc, que provinham das amostras que os fornecedores deixavam na Alfândega e que, pronto!, lá seguiam até à Guiné.... para se fazer o teste e aprova de qualidade.
Quando estive no interior, no 'mato', em Piche, lembro-me que de vez em quando havia quem recebesse coisas da 'Metrópole' mas não me lembro qual o meio utilizado.
Abraços
Hélder Sousa
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Nota do editor:
Vd. poste de 10 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17453: (De) Caras (76): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte II