1. Texto enviado ontem pelo Juvenal Amado (ex-1.º cabo condutor autorrodas, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74, e autor de "A tropa vai fazer de ti um homem!... Guiné 1972/74" (Lisboa, Chiado Editora, 2016):
Em Outubro de 1972 vim de férias a casa e, mal cheguei, a minha mãe passou a ser assediada por uma vizinha com um pedido para, quando eu regressasse, levar uma encomenda para o namorado da filha que era furriel lá num sítio qualquer.
Mas não querendo correr o risco de que me acusassem de ter ficado com a encomenda, lá ia perguntado à minha mãe se o tal namorado da fulana tinha recebido o embrulho. A minha mãe pareceu-me, a mim, que rodeava a pergunta e nada de concreto me dizia.
Entretanto ainda lá passei mais 17 meses e o caso perdeu o meu interesse.
Entretanto fui para casa, contei à minha mãe o sucedido, ela fez um sorriso meio maroto e lá me contou finalmente o que se tinha passado. "Olha, filho, ainda tu não tinhas lá chegado, descobriu-se que ela andava metida com outro e o namoro escangalhou-se".
Finalmente percebi o estranho silêncio de 17 meses, a atrapalhação da dita cuja e das amigas, quando eu me dirigi a ela em pleno café Portugal.
2. Comentário do nosso editor:
A propósito das nossas redes de "contrabando de ternura"... e desfazendo dúvidas: o SPM - Serviço Postal Militar também efetuava a entrega de encomendas (livros, roupas, mantimentos...) remetidas pelas nossas famílias, e não apenas cartas e aerogramas... Recorde-se aqui um poste do Paulo Santiago, já com dez anos (**), e de que se reproduz a seguir um excerto:
(...) "A minha avó Clementina, avó materna, resolveu enviar-me, por encomenda postal, um bolo-rei, dirigido para o SPM de Bambadinca. Como chegou após o dia 24, reenviaram-no para o SPM 3948 (era do Pel Caç Nat 53). Chegou ao Saltinho, já tinha vindo eu para Bissau. Reenviaram a encomenda para Bambadinca, acabando por receber o bolo-rei em meados de Janeiro. Estava duríssimo, mas...foi o melhor bolo-rei que comi até hoje." (...)
Também temos notícia de entrega de salpições, via SPM, iguaria de resto muito apreciada entre a malta do Norte. Veja-se aqui, a este propósito, um saboroso poste do nosso José Manuel Matos Dinis (***). Mas também já apareceram camaradas nossos a queixarem-se do "extravio" de encomendas enviadas pelas famílias...
(*) Vd. último poste da série > 11 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17454: (De) Caras (77): Também eu fiz parte dessa rede de "contrabando de ternura" que permitia, aos nossos familiares, fazer-nos chegar a Bissau e ao 'mato' as suas "encomendinhas"... (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72; criado em Vila Franca de Xira e a residir hoje Setúbal)
(**) Vd. poste de 24 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2378: O meu Natal no mato (11): Saltinho, 1972: O melhor bolo rei que comi até hoje, o da avó Clementina (Paulo Santiago)~
(***) Vd. poste de 25 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11002: História da CCAÇ 2679 (61): A vingança serve-se fria (José Manuel Matos Dinis)
Não lembro de ter recebido alguma encomenda mas lembro-me de ter levado. (*)
Em Outubro de 1972 vim de férias a casa e, mal cheguei, a minha mãe passou a ser assediada por uma vizinha com um pedido para, quando eu regressasse, levar uma encomenda para o namorado da filha que era furriel lá num sítio qualquer.
Escusado será dizer que este tipo de "correio", retirava do saco da TAP, já si pequeno para nós próprios, coisas que nós queríamos levar para nosso consumo e dos amigos chegados . Era pois um favor prestado a quem não conhecíamos e com quem não tínhamos relação nenhuma, dadas as diferenças sociais em que navegávamos na altura.
Mas, pronto, o que se havia de fazer? Na data próxima ao meu regresso à Guiné, lá veio o embrulho que eu meti custo no meu saco. Chegado a Bissau, enviei-o para onde me tinham dito que devia mandar e assim foi.
Mas não querendo correr o risco de que me acusassem de ter ficado com a encomenda, lá ia perguntado à minha mãe se o tal namorado da fulana tinha recebido o embrulho. A minha mãe pareceu-me, a mim, que rodeava a pergunta e nada de concreto me dizia.
Entretanto ainda lá passei mais 17 meses e o caso perdeu o meu interesse.
Quando regresso, eis que, ao passar no café Portugal, vejo a jovem que me tinha feito acarretar o embrulho e de quem nunca recebi o pequeno agradecimento, em alegre cavaqueira com várias amigas. Resolvi perguntar-lhe, directamente e a cores, se o namorado tinha recebido ou não a encomenda. Ficaram todas com cara de caso a olhar para aquele desterrado a quem a cor de terra não sairia nos próximos meses, a quem nunca se tinham dignado a dirigir palavra. Ela, um bocado atabalhoadamente como quem é apanhado em falso, que sim, que tinha recebido e muitos obrigados finalmente.
Entretanto fui para casa, contei à minha mãe o sucedido, ela fez um sorriso meio maroto e lá me contou finalmente o que se tinha passado. "Olha, filho, ainda tu não tinhas lá chegado, descobriu-se que ela andava metida com outro e o namoro escangalhou-se".
Finalmente percebi o estranho silêncio de 17 meses, a atrapalhação da dita cuja e das amigas, quando eu me dirigi a ela em pleno café Portugal.
2. Comentário do nosso editor:
A propósito das nossas redes de "contrabando de ternura"... e desfazendo dúvidas: o SPM - Serviço Postal Militar também efetuava a entrega de encomendas (livros, roupas, mantimentos...) remetidas pelas nossas famílias, e não apenas cartas e aerogramas... Recorde-se aqui um poste do Paulo Santiago, já com dez anos (**), e de que se reproduz a seguir um excerto:
(...) "A minha avó Clementina, avó materna, resolveu enviar-me, por encomenda postal, um bolo-rei, dirigido para o SPM de Bambadinca. Como chegou após o dia 24, reenviaram-no para o SPM 3948 (era do Pel Caç Nat 53). Chegou ao Saltinho, já tinha vindo eu para Bissau. Reenviaram a encomenda para Bambadinca, acabando por receber o bolo-rei em meados de Janeiro. Estava duríssimo, mas...foi o melhor bolo-rei que comi até hoje." (...)
Também temos notícia de entrega de salpições, via SPM, iguaria de resto muito apreciada entre a malta do Norte. Veja-se aqui, a este propósito, um saboroso poste do nosso José Manuel Matos Dinis (***). Mas também já apareceram camaradas nossos a queixarem-se do "extravio" de encomendas enviadas pelas famílias...
_____________
Notas do editor:
(*) Vd. último poste da série > 11 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17454: (De) Caras (77): Também eu fiz parte dessa rede de "contrabando de ternura" que permitia, aos nossos familiares, fazer-nos chegar a Bissau e ao 'mato' as suas "encomendinhas"... (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72; criado em Vila Franca de Xira e a residir hoje Setúbal)
(**) Vd. poste de 24 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2378: O meu Natal no mato (11): Saltinho, 1972: O melhor bolo rei que comi até hoje, o da avó Clementina (Paulo Santiago)~
(***) Vd. poste de 25 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11002: História da CCAÇ 2679 (61): A vingança serve-se fria (José Manuel Matos Dinis)