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Channel: Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Guiné 61/74 - P17677: Fotos à procura de...uma legenda (88): "Pietá"... O fotógrafo indiano, Avinash Lodhi, captou o desespero de uma fêmea de babuino que abraça a cria inanimada (Luís Mourato Oliveira)

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"Pietá"...Um fotógrafo indiano captou o momento em uma uma macaca abraça com força a cria, que aparentemente estava inconsciente. "Foi um momento raro, especialmente entre animais", disse o fotógrafo Avinash Lodhi.

Segundo informação do DN - Diário de Notícias, de 11 de maio de 2017, a fotografia foi tirada em Jabalpur, no estado indiano de Madhya Pradesh e publicada nas redes sociais. "A imagem tem comovido vários utilizadores e tornou-se viral."... Um momento raro, entre animais, comentou o fotógrafo. O animal parece-nos ser um babuino (ma Guiné-Bissau, macaco-cão),

[Imagem enviada e legendada por Luís Mourato Oliveira. Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradasa da Guiné... Reprodução com a devida vénia...]


1. Mensagem do Luís Mourato Oliveira, com data de 22 de junho (complementada com informação sobre a foto em 15 do corrente):


[foto à esquerda, Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil inf CCAÇ 4740, Cufar, 1972/73, e Pel Caç Nat 52, Bambadinca e Mato Cão, 1973/74; membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 730]

Quando há algum tempo escrevi para a Tabanca Grande “Quatro Aventuras Gastronómicas na Guiné” (*) ,  fi-lo com o propósito de deixar um testemunho das limitações que existiam na obtenção de alguns géneros alimentares e também recordar o recurso à imaginação e improviso com que os militares em campanha ultrapassavam essas mesmas dificuldades.

Não contava, o que me deu muita satisfação, que um dos textos enviados, “ Macaco em Mato de Cão”, gerasse polémica e discussão tendo ainda originando um inquérito feito no Blog e no Facebook, sobre as opiniões gustativas dos camaradas que experimentaram esse prato. (**)

Um camarada criticou vivamente essa prática gastronómica que qualificou de quase canibalismo e quem a praticava de “não serem boas rolhas”,  tendo eu assumido com algum humor que me enquadrava nessa categoria.

Há alguns dias uma fotografia trouxe-me à memória a discussão travada na altura. Foi produzida por um fotógrafo indiano [, Avinash Lodhi,]. que captou o desespero de uma macaca que abraçava a cria inanimada e a imagem trouxe-me imediatamente à memória a Pietà que Miguel Ângelo esculpiu quando tinha apenas vinte e três anos e que é das obras de arte que mais emoções me produziram. 

Na Pietà a mãe de Jesus sustenta o corpo do filho morto com resignação pela morte e talvez a serenidade da sua expressão na escultura já represente a esperança da ressurreição. Na macaca o que mais impressiona é o enorme desespero e revolta de uma perda para ela irrecuperável.

Hoje seria para mim impossível repetir o exercício relatado em “Macaco em Mato de Cão”, não pelo efeito da fotografia, mas por toda a vivência de mais de quarenta anos que modificaram mais de forma invisível o meu comportamento, bem como os camaradas da minha geração com experiência similares que as transformações físicas que vamos sofrendo, o que me leva a ponderar sobre que tipo de pessoas éramos quando jovens num cenário de guerra e qual o limite que a educação e a ética impunham para os nossos comportamentos de então?

Questiono-me se,  sem as experiências vividas, como teríamos evoluído como seres humanos e se a nossa visão de humanidade seria hoje critica aos comportamentos dos nossos vinte anos?

Todos nós “crescemos” no mesmo sentido ético e dentro dos mesmos valores após as experiências vividas?

Sem rejeitar nada do passado, em transportar quaisquer sentimentos de culpa ou complexos pelos momentos vividos naquele período, quero acreditar que a vida e as experiências adquiridas nos encaminharam para ciclos distintos de comportamento difíceis de explicar porque muitas vezes antagónicos.

Quero acreditar que o processo de evolução das nossas vidas nos conduz à aprendizagem e aperfeiçoamento permanente a padrões de humanidade e compaixão por todos os seres que connosco coabitam neste Mundo e à rejeição dos caminhos fáceis de trilhar do egocentrismo, da violência e da escuridão. (***)

Luís Mourato Oliveira


Nota: A cria que na fotografia parece ter morrido estava apenas inconsciente e após ter recuperado a macaca mostrou de novo alegria e “macaquices”.

______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16706: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (2) - Experiências gastronómicas (Parte II): Restaurante do Mato Cão: sugestões de canibalismo, bom pão e melhor... macaco cão no forno com batatas!

(**) Vd. 17 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16730: Inquérito 'on line': Num total de 110 respondentes, apenas 16% disse que provou (e gostou de) carne de macaco-cão... Pelo lado dos "tugas", o "sancu" está safo... Agora é preciso que os nossos amigos guineenses façam o seu trabalho de casa...

(ªªª) Último poste da série > 26 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17620: Fotos à procura de...uma legenda (87): o luxo de um "petromax" da Casa Hipólito nas noites escuras como breu...

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