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Channel: Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Guiné 61/74 - P18020: (Ex)citações (327): MiG russos e pilotos do PAIGC: mitos e realidades (José Matos / C. Martins / Cherno Baldé / Luís Graça)

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O MiG 17, de origem russa, que felizmente ninguém viu na Guiné, durante a guerra colonial...

Fonte: Cortesia de Wikipedia  (Foto: copyleft).


Seleção de comentários ao poste P18006 (*)


1. Tabanca Grande / Luís Graça
O mítico e saudoso comandanet Pombo, de seu nome compleeto
José Luís Pomo Rodrigues (1934-2017).
Foto de Álvaro Basto (2008)


A notícia do "Daily Telegraph", de 2 de agosto de 1973, da autoria do correspondente em Lisboa, o jornalista Bruce Loudon (, segundo a qual a guerrilha estava "apenas a seis meses de atingir uma capacidade de ataque aéreo com caças MiG russos”) nunca a vi confirmada...

Pergunta-se: (i) onde é que estavam esses 40 guerrilheiros do PAIGC a receber cursos de pilotagem na Rússia?; (ii)  quem foram eles?; (iii) como se chamavam?; (iv) como é que foram (se é que foram...) aproveitados depois da independência?; (v) por que é que o Luís Cabral foi buscar um camarada nosso, o nosso saudoso José Luís Pombo Rodrigues (1934-2017), para pilotar o seu "jacto" presidencial, o Falcon, oferta dos suecos (salvo erro...)?

Recorde-se o que ele nos confidenciou tempos antes de morrer:

(...) "O comandante Pombo privou com os dois, o Luís Cabral e o 'Nino' Vieira. Dos dois era inclusive 'amigo'. Ao ‘Nino’ Vieira tratava-o mesmo por tu. E o Pombo continuou a ser o comandante Pombo, depois da independência da Guiné-Bissau. Terá havido um acordo entre as novas autoridades de Bissau e o governo português para que ele ficasse na Guiné... O PAIGC não tinha pilotos (muito menos MiG ou outros aviões). O comandante Pombo pilotava o pequeno Falcon que fora oferecido ao Luís Cabral, já não sei por quem. Este gostava muito dele, cmdt Pombo, e sempre que viajava com ele trazia-lhe uma garrafa de... champagne." (...)

O Luís Cabral, se tivesse os tais 40 pilotos, acabados de treinar pelos russos, não precisava de nenhum "tuga" para pilotar o seu Falcon!... A menos que não tivesse confiança nenhuma na competência deles e dos seus instrutores russos...

2. Caria Martins:

Vários mitos sobre os MiG:

(i) o PAIGC não tinha dinheiro para comprar e manter os ditos;

(ii)  a URSS não iria vender porque iria internacionalizar o conflito (não esquecer que a Guiné estava sob administração portuguesa, reconhecida pela ONU);

(iii) o  Sekou Touré não iria permitir que o PAIGC os tivesse, se não confiava no seu próprio exército muito menos confiava no PAIGC;

(iv) não era verdade que o PAIGC tivesse alguém a ter instrução para piloto.

(v) onde ficaria a base aérea para operarem?

3. Cherno Baldé:

Tudo isso que vocês dizem é pura verdade: que o PAIGC não tinha dinheiro para comprar e manter os ditos MiG; que a URSS não os iria vender porque iria internacionalizar o conflito, etc.

Mas, "n'empêche que",

(i) o PAIGC já tinha armas anti-aéreas das mais modernas (Strela) que limitavam seriamente as actividades operacionais dos aviões no CTIG;

(ii) tinham conseguido colocar todas as guarnições (quartéis) situadas ao longo das duas fronteiras em situação de perigo permanente e de quase estado de sítio;

(iii) no campo diplomático, tinham conseguido colocar Portugal numa situação insustentável e de permanente pressão internacional...

E, ainda vocês conseguem manter essa atitude de eterno menosprezo pelas suas capacidades de acção e de adaptação as diferentes situações.

Sobre a operação "Mar-Verde", Amílcar Cabral escreveu na sua mensagem de novo ano de 1971, sobre as causas do falhanço da operação:

(...) Primeiro, devido à pronta resposta do povo irmão da Guiné e das suas forças armadas";  (...)  "mas, também, é preciso descobrir, no próprio seio da mentalidade portuguesa, a causa interna, que motivou a sua ventura e, consequentemente a sua derrota. Ela reside, profundamente, no desprezo secular que sempre manifestaram pelo Homem africano. Esse desprezo, que se traduziu eloquentemente na célebre frase de Salazar - "a África não existe".

(...) Como é de vosso conhecimento, também eu (bem como toda a minha comunidade que se aliou e apostou em Portugal) perdi (perdemos) aquela guerra e não adianta questionar se militar ou politicamente. Desde os meus 14/15 anos que jurei a mim mesmo que, custasse o que custasse, nunca faria parte do PAIGC. Detestei-o pelo que fez e pelo que representava na sua essência.

4. José Matos:

Sobre os pilotos guineenses é óbvio que a preparação deles acabaria por ser semelhante aos da Guiné-Conacri, ou seja, sabiam levantar e aterrar o MiG, pouco mais que isso. Portanto, nunca seriam grande ameaça para as forças portuguesas. Nem se sabe se teriam depois MiG para pilotar, portanto, tudo isso foi inflacionado…

Quando se deu a independência os que estavam na URSS devem ter voltado sem acabar o curso de MiG e portanto não tinham qualquer competência para pilotar um Falcon. Não admira que tenham contratado o Pombo Rodrigues…

Meu caro Cherno, a questão dos pilotos guineenses e mesmo outros africanos, nada tem a ver com ser africano. O problema tem a ver com a formação de pilotagem que era dada a estes candidatos a piloto na URSS e depois com a própria capacidade para sustentar as aeronaves. O caso que conheço bem era o da Guiné-Conacri que era uma desgraça e que eu faço referência neste artigo:
https://www.revistamilitar.pt/artigo/1017

Portanto, o problema era a curta formação que tinham na URSS que fazia com que as aptidões de pilotagem e a experiência de voo fossem muito baixas e não permitissem tirar grande rendimento das aeronaves.

Além disso, os próprios MiG estavam muitas vezes inoperacionais por deficiências de manutenção e falta de capacidade em sustentar a frota, o que piorava ainda mais as qualificações dos poucos pilotos para pilotar os aviões. Portanto, não vejo que fosse muito viável o PAIGC ter uma força aérea operacional na Guiné-Conacri e acho que toda essa questão foi inflacionada na época como estratégia de propaganda… (**)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de novembro de 2017 >  Guiné 61/74 - P18006 José Matos: As negociações secretas do acordo dos Açores em 1974: o caso da central nuclear. "Revista Militar", nºs 2581/2582, fevereiro / março 2017

(**) Último poste da série > 29 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17913: (Ex)citações (326): CCAÇ 17, uma companhia da "nova força africana", baseada em pessoal manjaco

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