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Guiné 61/74 - P17101: Os nossos seres, saberes e lazeres (201): Central London, em viagem low-cost (3) (Mário Beja Santos)

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Highgate Cemetery


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 19 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,
Não tenho qualquer rebuço a sugerir a quem visitar Londres uma visita ao Imperial War Museum, uma casa de património fantástico sobre as duas guerras mundiais e onde é possível ser confrontado com a insânia de ditaduras e guerras, a exposição que ali estava patente sobre o Holocausto é um soco no estômago.
Como o programa turístico era assumidamente low-cost procurava-se o muito bom e o mais barato possível, nisso Londres é pródiga: permite entrar em lojas de antiguidades, passear em estações ferroviárias impressionantes, deambular por circuitos imperiais que fazem recordar a Inglaterra rainha dos mares. E era sonho do turista ir a Highgate, conversar com Marx que previu muito mas não podia prever tudo, nem a sociedade de consumo nem o digital, mas só por má fé é que se pretende iludir como ele foi determinante na ideologia contemporânea.

Um abraço do
Mário


Central London, em viagem low-cost (3)

Beja Santos

O segundo dia de turismo libertário em Londres começa num local de culto: o Imperial War Museum, é a segunda vez que o visito, a primeira era quase uma visita de trabalho, precisava de elementos para o meu livro “Mulher Grande”, um importante historiador português, já condenado pela leucemia, vinha aqui visitar este glorioso museu na companhia de celebridades da historiografia britânica. Quando por aqui andei, nessa altura, comovi-me com cartas, as derradeiras cartas, que muitos militares endereçavam às suas famílias, a seguir iriam tombar nos campos de batalha. A entrada é impressionante, olhamos instantaneamente para os céus, estão aqui os aviões da batalha de Inglaterra, com destaque para o Spitfire e o Hurricane, mas podemos ver as entranhas de uma V2, aterrorizou Londres em 1944, atingia quarteirões inteiros, o visitante tem à sua disposição filmes impressionantes.



Há muito para ver: o acervo sobre a I Guerra Mundial é inumerável, seguem-se exposições sobre a família em tempo de guerra, o período da ascensão das ditaduras e da II Guerra Mundial, uma extensa secção sobre segredos de guerra e paz e segurança entre 1945 e 2014, há um andar com cinemateca e filmes de guerra e o último andar reservado ao público é um documentário avassalador sobre o Holocausto. À cautela, e para não me empanturrar até ao ponto de ficar com dores de cabeça com tanta informação, assento arraiais na I Guerra Mundial. E aí tive motivos para larga meditação.


Estive muito tempo especado diante desta foto. Na minha guerra tive que atravessar passadeiras como esta. A escassos quilómetros de Missirá havia a ponte de Sansão, constantemente se impunha renovar os cibes e as pranchas para permitir a circulação dos unimogs. A época das chuvas tornava a circulação num calvário, muita prudência para lá, muita para cá, logo a seguir uma imensíssima reta que devia ser picada a pente fino. Olho para estes homens e regresso umas décadas atrás ao meu modo de vida, eles cercados por uma natureza desoladora, a vida nas trincheiras exigia limpeza a toda a volta, a angústia em que vivíamos, pelo contrário, era dulcificada pelo coberto florestal, sempre frondoso e assustador, em qualquer ponto lá ao fundo podia sair fogo. E olho para esta fotografia e fica-me o absurdo universal de todas as guerras, na retina e para lá dela.


A acreditar na legenda, esta águia nazi veio da chancelaria do Reich, como é que ficou de pé naquele vendaval de fogo que tudo reduziu a torresmos, é uma perfeita incógnita. Olhou-me quase insultuosamente, impávida a arrogante, o turista disse para consigo: não perdes pela demora, minha cabra, vou mostrar-te como eras, as patifarias que faziam à tua sombra.


À saída do museu, impunha-se esticar as pernas, respirar uma atmosfera sem belicismos. É nisto que o turista dá de frente com uma atração turística que já faz parte do centro de Londres, o London Eye, ao que consta veio para aqui provisoriamente, um pouco à semelhança da Torre Eiffel, está ratificada pela vontade popular. Para ser sincero, captou-se a imagem pelo contraste entre a luz e a sombra e a alvura das nuvens que imprime uma serenidade sem rival à imagem.


Karl Marx está sepultado em Highgate, Highgate Cemetery, está ele, está o pintor Patrick Caulfield, o lendário pianista Shura Cherkassky, George Eliot, o historiador Eric Hobbsaw, Alan Sillitoe, um senhor que escreveu um romance que muito influenciou o turista na sua adolescência: “Sábado à noite, domingo de manhã”. E muitíssima mais gente. Muitos visitantes, jardins bem tratados, a vedeta é mesmo Marx. Este monumento não é o primeiro, este é o mais recente, marxistas e marxistas-leninistas de todo o mundo aqui vieram venerar uma das figuras ideologicamente mais influentes dos séculos XIX e XX.



Aqui está o primitivo túmulo de Marx, ao que parece ele aqui teria o eterno descanso na companhia da mulher e da neta, se o turista não está em erro. É um tanto paradoxal este túmulo assim mutilado, não se sabe se é obra do destino se decorre do excesso de visitas e da trasladação. O túmulo azul é de Patrick Caulfield, um artista pop de que o turista tanto gosta, é possível ver alguns dos seus quadros no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian.

E pronto, a visita está feita, confirma-se que os cemitérios britânicos são, de um modo geral, locais de grande recolhimento, podemos dar passeios aprazíveis, aqui meditar e serenar o ânimo.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17072: Os nossos seres, saberes e lazeres (200): Central London, em viagem low-cost (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17102: Convívios (781): Encontro do 50.º aniversário do regresso da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017. Prazo de inscrição: 13 de abril (Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé)

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Crachá da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) 

Encontro Anual

CCAÇ 1439, Pel Caç Nat 52 e 54, e Pel Mort 81

Caldas da Rainha > 29 de Abril de 2017

Vamos celebrar os “50 anos “ da vossa chegada a Portugal. Haverá o almoço/convívio a que já nos habituámos e não só, passo a explicar: tenho para me ajudar a organizar esta festa de “manga de ronco”, um grande amigo a quem carinhosamente chamo meu “ajudante de campo", o vosso bem conhecido João Crisóstomo que, apesar de residir nos Estados Unidos, de uma forma muito própria, muito me tem ajudado.(*)

Este ano há missa no antigo RI 5, hoje Escola de Sargentos do Exército (ESE), que será concelebrada pelo senhor padre Victor Melícias e pelo senhor capelão da ESE, padre Luís Moronço, às 12 horas,

Os carros podem entrar na referida unidade e ficarem aí estacionados, para tal é necessária a vossa colaboração; tenho que entregar ao sr. major a lista com o nome das pessoas que nesse dia venham a conduzir as viaturas. Peço-vos que não se esqueçam deste pormenor quando responderem aos convites, caso contrário poderão ter que estacionar "fora de portas”.

Seguiremos para o restaurante “A Lareira “, situado no Alto do Nobre,  na estrada antiga que vai das Caldas da Rainha para a Foz do Arelho.

Nem pensem duas vezes, para as Caldas da Rainha, marchar… marchar.

Agradeço a confirmação com o número certo de adultos e crianças até ao dia 13 de Abril.


Um abraço dos amigos
Helena Carvalho  + João Crisóstomo

O meu endereço postal é;
Maria Helena Carvalho (**)

2500-081 Caldas da Rainha
Telem: 917 434 442
Telef: 262 842 990

Mail: m.helenapereiracarvalho@gmil.com
__________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 28 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17092: Convívios (780): Encontro do 50º aniversário do regresso da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017... Missa de ação de graças, concelebrada pelo padre Vitor Melícias e pelo capelão da Escola de Sargentos do Exército (ESE)

(**) Vd. poste de 6 de abril de  2010 > Guiné 63/74 - P6116: O Nosso Livro de Visitas (85): Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé, localidade onde nasceu há 60 anos, hoje residente nas Caldas da Rainha (Luís Graça)

(...) Amadeu Abrantes Pereira, natural de Seia, era um conhecido comerciante, o Pereira do Enxalé. Era dono de uma importante destilaria de aguardente de cana, bem como de outras instalações e casas, que ainda hoje estão de pé. A família era muito estimada pela população local.

A Maria Helena nasceu no Enxalé em 1950, se não erro. Saiu cedo de lá, creio que com sete ou oito anos, por volta de 1958, para ir estudar em Bissau e depois na Metrópole. Mas regressava nas férias grandes. As suas memórias de infância (e os seus amigos de infância) estão indelevelmente ligados a esse tempo e a esse lugar.

Os pais acabaram por sair do Enxalé, fixando-se em Bissau, em 1962. Já havia nuvens negras que prenunciavam a chegada da borrasca da guerra. A matéria-prima (a cana de açúcar) que abastecia a destilaria começou a escassear. Os caminhos tornavam-se perigosos. O PAIGC fazia o seu trabalho de sapa. Entretanto, a mãe morreu e a Maria Helena ficou definitivamente entregue aos cuidados dos padrinhos, das Caldas da Rainha. (...)

Guiné 61/74 - P17103: Lembrete (21): É já manhã, sábado, dia 4, às 15h00, na Galeria-Livraria Municipal Verney, Oeiras, a sessão de lançamento do livro do nosso camarada Jorge Ferreira, sobre Buruntuma, Gabu, da época de 1961/63... Apresentação do nosso editor Luís Graça. Concerto de Korá com o nosso grã-tabanqueiro, o mestre Braima Galissá... Contamos com todos os que puderem aparecer!

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Guiné > Região de Gabu > 3ª CCAÇ (Nova Lamego, 1961/63) > Buruntuma > c. 1961/62  > Uma das tarefas do alf mil Jorge Ferreira foi a colocação de marcos... na fronteira com a República da Guiné... (pág. 22).


Guiné > Região de Gabu > 3ª CCAÇ (Nova Lamego, 1961/63) > Buruntuma > c. 1961/62  > Bajuda fula (p. 53)... O Jorge Ferreira também fez o "retrato" de quase toda a gente, dos "djubis" aos Homens Grandes, das belíssimas bajudas ao régulo de Canquelifá, que morava em Buruntuma, dos militares metropolitanos aos guineenses...  O seu livro de fotografia é uma homenagem às gentes do Gabu, e em especial ao povo de Buruntuma, lá no "cu de judas", junto à fronteira com a Guiné-Conacri... É um documento, hoje, de inegável interesse documental e até etnográfico (, nomeadamente a parte relativa ao "mosaico humano")...

Fotos: © Jorge Ferreira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís & Camaradas da Guiné] (Reprodução com a devida autorização do autor...)


1. O Jorge [da Silva] Ferreira passou a integrar a nossa Tabanca Grande, em 19/9/2016, com o nº  728 (*)- Tem um blogue de fotografia,  que merece ser divulgado e conhecido. A sua paixão pela fotografia remonta à sua juventude, como ele nos conta. 

E acaba de publicar um belíssimo livro de fotografia com o sugestivo título: "Buruntuma: algum um dia serás grande... Guiné, Gabu; 1961/63"... (**)


[Foto à esquerda: Ação de nomadização... O Jorge Ferreira, de calções e de pistola metralhadora FBP... Alf Mil, de rendição individual, pertenceu à  da 3.ª CCAÇ... Depois de 5 meses em Nova Lamego, foi destacado para  Buruntuma, em outubro de 1961, com o seu pelotão (20 metropolitanos e 20 guinenses): foi o primeiro oficial português a comandar uma força naquele ponto sensível do território; Buruntuma na altura teria um milhar de habitantes; ficou lá 11 meses, tempo que lhe permitiu construir o primeiro aquartelamento, fazer ações de nomadização e dar apoio psicossocial à população: terminou a sua comissão de serviço, no TO da Guiné, em junho de 1963;  recorde-se que a 3.ª CCAÇ estava sediada em Nova Lamego, tendo mais tarde dado origem à CCAÇ 5, "Gatos Pretos", sediada em Canjadude]


2. Npágina de fotografia do Jorge Ferreira pode ler-se:

(...) "Não sou um fotógrafo profissional nem mesmo um amador. Sou apenas um 'caçador de imagens' que desde muito jovem se sentiu atraído pela fotografia, passando a fazer parte do meu quotidiano. Quando comecei a viajar pela Europa, à boleia, ainda aluno do secundário, estava-se em 1953, levava na mochila uma Voigtlander Vitessa e com ela captei inúmeras imagens dos países ocidentais e de alguns do leste europeu. Em ambas as regiões ainda eram visíveis sinais expressivos da destruição causada pela II Guerra Mundial. (...)

Em 1961, concluído o 3.º ano da licenciatura em Ciências Políticas e Sociais [pelo ISCUP, na Junqueira] fui chamado a cumprir o serviço militar e mobilizado para a ex-Guiné Portuguesa, actual Guiné Bissau, onde os Ventos da História resultantes das conclusões da Conferência de Bandung (Indonésia) / 1955 se tinham começado a fazer sentir através do apoio internacional aos Movimentos Independentistas.

A minha experiência de comando de um pelotão integrando militares portugueses e nativos, em igual número, foi extremamente enriquecedora e, embora em clima de guerra, moldou-me fortemente o carácter e levou-me a acreditar que a multirracialidade é um dos pilares em que deve assentar a sã e pacífica convivência entre os diferentes povos e raças da Humanidade.

Durante os 25 meses em que permaneci neste pedaço de solo africano foi minha companheira inseparável, nos bons e maus momentos, uma câmara Konika S que me permitiu captar a diversidade étnica e religiosa do 'chão' que corresponde à actual Guiné Bissau, verdadeiro “mosaico humano polícromo”, e o convívio harmonioso de brancos e negros ainda que em cenário de conflito armado." (...)

Finda a Comissão, regressei a Portugal. Entretanto conclui os 2 anos que faltavam para obter a minha licenciatura, abracei a carreira profissional na Área das TI [, Tecnologias de Informação,] concretamente como Técnico e posteriormente como Gestor de Sistemas de Informação, e constituí Família,  tornando-me exclusivamente Repórter fotográfico da Vida familiar, registando os seus momentos mais marcantes, férias, nascimento do filho e dos netos, convívio com os Amigos e viagens por Portugal e pelo Mundo. Só muito recentemente, com a perda inesperada da minha mulher e companheira inseparável ao longo de 40 anos [, Gabriela,] voltei à Fotografia como hobi. (...)

Jorge Ferreira


Lisboa > Festival Todos - Caminhada de Culturas > 11 de Setembro de 2011 > Arquivo Municipal de Lisboa  > Núcleo Fotográfico > Exposição Todos > A Alice Carneiro com o nosso amigo Braima Galissá, natural do Gabu, o grande tocador de kora da Guiné-Bissau... Fomos encontrá-lo, nesta exposição, a tocar kora... Divinalmente, como só ele sabe fazer... Falou-nos da sua banda, e da sua colaboração também com a banda do Kimi Djabaté...  Demos-lhe em abraço em nome de toda a Tabanca Grande, e em especial dos seus amigos João Graça e Mário Beja Santos... 

Amanhã vamo-nos reencontrar, os três, na Galeria-livraria Verney...

Foto e legenda: © Luís Graça / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011). Todos os direitos reservados.


3. O Jorge Ferreira fez questão de convidar o nosso editor, Luís Graça, para apresentação do livro, que tem o apoio expresso do nosso blogue. A sessão é amanhã às 15h00 na Galeria-Livraria Municipal Verney, em Oeiras. (**)

A expensas do autor do livro, o  mestre Braima Galissá, nascido em 1964 no Gabu (e a viver e trabalhar em Portugal como músico e pedagogo, desde 1998), irá dar um toque de magia a esta sessão, oferecendo-nos um concerto de Korá... (Entrou para a nossa Tabanca Grande, formalmente, este ano, em 11 de janeiro; tem o nº 732).

Mais uma razão, adicional,  para os camaradas da Grande Lisboa (e não apenas os da Linha) comparecerem! (***)
______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16502: Tabanca Grande (495): Jorge Ferreira, ex-alf mil, 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego e Buruntuma, 1961/63), nosso grã-tabanqueiro nº 728...

(**) 27 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17089: Agenda cultural (543): Sessão de lançamento do livro de fotografia do nosso camarada Jorge Ferreira sobre Buruntuma, Gabu, 1961/63... Apresentação a cargo de Luís Graça, editor do nosso blogue.... Concerto de Korá com mestre Braima Galissá, nosso grã-tabanqueiro... Local e data: Galeria-Livraria Verney, Centro Histórico de Oeiras, sábado, dia 4 de março, às 15h00... Estamos todos convidados!

Guiné 61/74 - P17104: (Ex)citações (323): Buruntuma, que foi grande na guerra e na paz... Uma pequena homenagem aos bravos que souberam fazer a guerra e a paz, do Jorge Ferreira (1961) ao José Valente (1974)

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Guiné- Bissau > Região de Gabu > Maio de 2016 > Piche, entre Gabu (a 30 km a oeste) e Buruntuma (a 37 km, a nordeste, na fronteira com a Guiné-Conacri. Canquelifá, mais a norte, fica a 30 km.

 [Vd. poste de 31 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16151: Revisitando o "chão fula", e ligando o passado com o futuro (Patrício Ribeiro, Impar Lda) - Parte II: Piche]

Foto: © Patrício Ribeiro (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Gabu > Buruntuma > Dezembro de 2015 > Tabanca e rua principal

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Buruntuma > É uma das mais bonitas e originais capelas que temos visto nas nossas fotos da Guiné... Deve ter tido várias mãos, ao longo do tempo... Um delas, de arquiteto, mestre de obras e decorador, terá sido a de José Mota Tavares, nosso camarada, antigo alferes capelão miliciano, da CCS/BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67) que nos mandou, recentemente, fotos da "sua" capela (*)...

Foto: © Mota Tavares (2016). Todos os direitos reservados.


Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > Memorial da CART 1742, "arquitectado" por João Fernando Lemos dos Santos > "Que os vivos mereçam os nossos mortos"

[Vd. poste de 28 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14198: Em busca de... (253): João Fernando Lemos dos Santos, ex-Soldado Condutor Auto da CART 1742 (Abel Santos)]

Foto: © Abel Santos (2015). Todos os direitos reservados.


1. Temos 75 referências no nosso blogue sobre Buruntuma... As mais recentes são relativas ao livro de Jorge Ferreira, nosso grã-tabanqueiro, e o prmeiro dos oficiais portugueses  a comandar o destacamento de Buruntuma (sendo a sua área de açãpo o triângulo Buruntuma- Bajocunda- Piche): esteve com 45 homens, metade metropolitanos e metade guineenses (a quem já tinha dado instrução em Bolama), entre novembro de 1961 e outubro de 1962...  Era uma força mista, de "infantes" (3.ª CCAÇ) e de "cavaleiros" da CCAV 252 (1961/63).

De rendição individual, mobilizado para a o TO da Guioné em maio de 1961 (e regerssado a casa em junho de 1963), o Jorge Ferrreira pertencia à 3.ª CCAÇ, sediada em Nova Lamego. Entre o início e o fim da guerra, muitas coisas aconteceram nesta povoação de fronteira, de importância estratégica para a defesa do leste e em especial, da região do Gabu...

No seu tempo, e tal como hoje, Buruntuma  era uma povoação construída junto à fronteira, ao longo de uma rua, por onde passava a "pomposamente" chamada estrada internacional que ligava Bissau à recém indepencente república da Guiné-Conacri... O nosso camarada António Martins de Matos, ex-ten pilav (BA 12,  Bissalanca, 1972/74) diz que demorava 1h30 a chegar lá, de DO 27, e 25 minutos de Fiat G-91..., no limite do raio de ação da aeronave (que era subsónica)...

Buruntuma, em mandinga, quer dizer, "algum dia serás grandes"... Como muitos topónimos do leste da Guiné, é de origem mandinga (caso de Bambadinca, "a cova do lagarto")... Pertenceu ao império  (ou reino do Gabu) (1537-1867), que por sua vez resultou da desagregação do grande Império do Mali (séc.  XIII-XVI)... E.m 1867, a "batalha de Kansalá" ditou o fim do reinado mandinga e a ascensão política dos fulas. Fulas e mandingas  coexistem hoje, pacificamente, no Gabu... O mesmo não aconteceu durante  a guerra colonial (ou do ultramar, ou de libertação, conforme as designações de uns e outros).

Evocamos, a talhe de foice, e a título meramente ilustrativo, alguns episódios, contados por camaradas que por lá andaram em diferentes épocas... Na esteira de Jorge Ferreira, podemos dizer que Buruntuma foi grande, na guerra e na paz...  Esta pequena antologia é também uma homenagem a todos aqueles que souberam fazer a guerra e a paz (******).


Manuel Luís Lomba > Não fui feliz em Buruntuma

Salvé, camaradas de Buruntuma!

Seguramente que sou um dos vossos mais velhos: CCav 703, 1965-66.

Não me exponho a grandes contradições ao dizer-vos que essa capelinha de Buruntuma remonta ao meu tempo: resultara da reconversão de um armazém de mancarra e complementada por um nicho votado à Senhora de Fátima, implantado no sítio da "torre" artística, que lhe é posterior. 

A sua concepção e execução pertencem ao furriel Manuel Francisco Moniz de Simas, um açoriano que combinava perfeitamente a sua alma de artista com a de guerreiro, que fará carreira nos Estados Unidos como escultor de ossos de baleia e a fechará como professor do Secundário em Ponta Delgada. Foi inaugurada pelo nosso capelão, tenente António Lavajo Simões, ora residente no Seminário de Vila Viçosa.

Na parte mais alta da tabanca mandinga deixamos (em abril de 1966) um parque de "roncos", à sombra e em redor de um grande poilão, com vedação feita com as leivas dos barris de vinho, inscrições apropriadas num pedregulho. Jamais me esquecerei de um rondo de arromba - a festa das "mulheres paridas"...

A ideia e a sua exploração partiu deste comentador e velho camarada, comandante da milícia e responsável pela "Apsico" local; a obra foi também mérito do Simas..

Ah, não fui feliz em Buruntuma. (**)


Domingos Gonçalves > Buruntuma, o meu batismo de fogo

26 de junho de 1966... Ao entardecer rebentou uma armadilha colocada pelas nossas tropas perto da fronteira.

Um alferes da guarnição local com o respectivo grupo de combate, reforçado por alguns dos soldados do meu grupo, comandados por mim, foi verificar as causas da explosão. Junto do local das armadilhas, que não sei se era em território português, ou da Guiné-Conacry, encontravam-se duas vacas quase mortas. Com alguns tiros de G3, acabou-se-lhes com a vida.

Imediatamente, do outro lado da fronteira, bastantes armas pesadas começaram a disparar sobre Buruntuma, enquanto que, as armas ligeiras, alvejavam o terreno fronteiriço onde nos encontrávamos.

Cautelosamente conseguimos retirar do local, mais para o interior, sem, contudo, conseguir entrar no nosso aquartelamento que, durante cerca de uma hora, ficou sob o fogo cerrado das armas do inimigo.

Abrigados por um ligeiro declive do terreno, e pela protecção do arvoredo, sentíamos nos ares o silvar das granadas que, às dezenas, choviam sobre Buruntuma.

Aqui e além as explosões provocavam incêndios, principalmente nas casas dos nativos, cujo telhado era feito de capim. Quase em simultâneo as armas de Buruntuma também abriram fogo. As bazookas e o canhão sem recuo vomitavam granadas ininterruptamente. Os morteiros cuspiam, para o outro lado da fronteira, os seus tenebrosos projécteis. Através das seteiras dos abrigos as metralhadoras consumiam centenas de munições. As armas ligeiras, os canos já aquecidos, disparavam, um pouco ao acaso, contra um inimigo que não tinham capacidade de atingir. De um e outro lado era ensurdecedor o ruído da fuzilaria e o detonar das granadas.

Anoiteceu. De ambos os lados começou a abrandar a intensidade do combate. Lentamente, o silêncio foi caindo sobre a povoação martirizada. Era o fim de uma pequena batalha. Cautelosamente, os soldados que estávamos fora do aquartelamento, longe da protecção dos abrigos subterrâneos, fomo-nos aproximando do arame farpado e entrámos no quartel.

Dirigi-me ao posto de socorros. Lá dentro, aguardando tratamento, já havia muitos feridos. Outros, brancos e negros, foram depois chegando. O médico, que na vida civil era cirurgião, trabalhava afanosamente, ajudado pelos enfermeiros, extraindo estilhaços, colocando ligaduras, injectando soro... Só muito tarde deu por findo o seu trabalho.
Contabilizados os prejuízos verificou-se que havia três mortos entre a população e bastantes feridos tanto entre os soldados como entre os civis. Para além disso o nosso sistema de transmissões estava inutilizado, as instalações danificadas e alguns indígenas tinham perdido as suas casas.

Trabalhava em Buruntuma um agente da PIDE que, através do sistema de transmissões particular, de que dispunha, alertou Bissau para o sucedido e pediu que fossem evacuados para o Hospital Militar os feridos mais graves. Eram já altas horas da noite quando nós, os oficiais, nos fomos deitar.

No abrigo onde dormíamos comentavam-se os acontecimentos com alguma insensibilidade. Já deitado, o capitão murmurava:
- Os filhos da puta não nos deixam em paz...

A guerra para ele era algo a que já estava habituado e pouco o impressionava. Quando em conversa se referia a acções de combate transmitia até a ideia de gostar das sensações da guerra. Eu sentia-me de certo modo aterrorizado com a baptismo de fogo que, sem o desejar fui obrigado a receber.

Foi um baptismo sério e prolongado... E cheio de calor!... (***)


Mota Tavares > Buruntuma, o silêncio de Deus...

Li, com muito entusiasmo o relato da vossa visita ao Gabu [, poste por AO - antigo alferes capelão], no meu tempo Nova Lamego. Aí passei quase dois anos. Todas as terras de que vocês falam, me foram familiares e de que tenho muitas fotografias e diapositivos. Estive [lá] em 1965-67.

Tenho imensas histórias de Piche, Canquelifá (uma operação e duas vezes debaixo de fogo), Fá (emboscada e… aventura!), Bajocunda, Copá, Madina do Boé (8 ou 10 vezes debaixo de fogo, três mortos, duas fugas durante a missa para o abrigo…), Buruntuma onde construí uma linda capela – fui o arquitecto, o engenheiro, o pintor, o mestre de obras com o apoio do capitão de que ainda hoje sou amigo. 

[Foi] inaugurada pelo brigadeiro Reimão Nogueira e [nela foi] baptizado um furriel de Lisboa. Chegou-me há tempo uma foto dessa capela 'vandalizada' pelos militares que lá estiveram depois – transformaram-na em escola!…

Bafatá, Bula, Bissau… as escoltas, 12 vezes debaixo de fogo, 27 operações com muitas histórias que dariam um enorme texto! Mas, por hoje, fico por aqui e ao vosso dispor. (*)


António Martins Matos > Buruntuma, cu de Judas...

Buruntuma era mesmo no cu de judas.

Tinha igualmente aquele estigma, (semelhante a Guidage e Pirada) demasiado próximo da fronteira com o país vizinho, podia ser utilizada como tiro ao alvo do PAIGC sem que pudéssemos ripostar, já que o Spínola não autorizava missões da FAP no estrangeiro.

Os aviadores aterravam na direcção da fronteira e descolavam na direcção oposta (qualquer que fosse o vento ou as condições meteorológicas).

Andei várias vezes por ali à procura de MiGs imaginários, nunca os vi!!!

Um dia deixaram-nos ir partir umas bilhas lá para Koundara, quando aterrámos em Bissau já estávamos a dever combustível ao G-91. (**)


C. Martins > Buruntuma, turismo em tempo de guerra...

Contava-se entre os artilheiros que o alferes milicano,  comandante do Pel Art  de Buruntuma, em 73, resolveu um dia ir de Buruntuma até Nova Lamego em bicicleta, vestido à civil e munido de máquina fotográfica... Ia  parando pelo caminho e fartou-se de fazer fotos de pássaros, passarinhos e até passarões.

Quis regressar da mesma forma, mas o comandante do sector obrigou-o a ir numa coluna... Resultado: a coluna sofreu uma emboscada, ele levou um tiro num pé e estragou a máquina fotográfica...

Não sei se foi verdade, mas que se contava, contava. (**)


 Luís Borrega > Buruntuma e o carisma de Spínola

Caro António Matos: Quando foste a Buruntuma bombardear Kuundara (?), não seria Kandica ?.. O gen Spínola estava lá em Buruntuma. A CCav 2747 tinha tido um valente ataque IN na noite de 25/11/71. Dia 27, Spínola vai de DO a Buruntuma. Manda formar a guarnição, a milícia e a população.. Nesse momento chegam seis Fiats G-91, rasam Buruntuma e Kandica, ali as antiaéras começaram a disparar mas calaram-se logo. A seguir ouviram-se enormes rebentamentos em Sofá, a base do PAIGC. Nova passagem e largaram o resto das bombas e retiraram-se para Bissau.

Spínola mostrou o seu carisma de chefe. Falou às populações locais:
-Viram o que aconteceu? Agora vão dizer aos do lado de lá, que se tornam a fazer outro ataque com morteiros, mando o dobro dos aviões e o dobro das bombas!

Com esta atitude moralizou extraordinariamente os militares da CCav 2747 e milícias. (**)


José Manuel Matos Dinis > Buruntuma, as famosas 13 horas debaixo de fogo

É verdade,  o sentimento de Spínola em relação àquela fronteira. Não sei desde quando, mas o general teria mandado informar que, se Buruntuma fosse atacada, as NT ripostariam sobre Kandika. Em 27 de fevereiro de 1970, após um ataque àquele aquartelamento em 24  (é o que consta da História da Unidade, embora me pareça que decorreu mais tempo), que provocou 28 mortos civis, depois de vários transportes de material (obuses, canhões e morteiros, bem como munições, guarnições, e outra tropa de segurança), as NT retaliaram durante cerca de duas horas. O IN respondeu durante 13 horas.

As famosas 13 horas de Buruntuma. As NT sofreram 1 morto e 5 feridos.

Da mesma história da unidade consta que o IN sofreu 8 mortos militares, incluindo o tenente comandante, e o chefe da alfândega [do outro lado da fronteira].

Foi a primeira acção em que participou a minha companhia, através do 1º.pelotão e do Fur mil Azevedo, de armas pesadas. (**)


Luís Guerreiro > Buruntuma: Pel Caç Nat 65, e o 1º cabo Ismael que chegou a levar para o mato o cano do morteiro 60 cheio de vinho

Tem sido com interesse que tenho seguido as crónicas do José Manuel Dinis da CCaç 2679, pois os nossos caminhos cruzaram-se em Piche, Buruntuma e Bajocunda, onde menciona diversas vezes o Pel Caç Nat  65.

Na sua chegada na coluna de Nova Lamego para Piche, e que teve como escolta o Pel. Fox e o Pel Caç Nat 65, onde menciona que era comandado por um cromático alferes que deambulava de pistola à cinta, empunhando uma moca com um lenço amarelo, esclareço que o dito alferes se chamava Monteiro, e esse era o seu equipamento preferido mesmo em patrulhamentos.

Estivemos implicados no ataque de 27 de fevereiro de 1970 à base de Kandica, retaliando o ataque a Buruntuma, onde o Pel Caç Nat 65 permaneceu cerca de um mês, antes de ser transferido para Bajocunda.

Também menciona o apontador do morteiro, que chegou a levar [o ando de] este cheio de vinho durante uma saída para o mato, é verdade, chama-se Ismael, era cabo, e um excelente operador do morteiro 60, embora por vezes se encontrasse sob os efeitos do álcool, era bom rapaz e excelente combatente.


Ramón Pérez Cabrera > Buruntuma, cemitério do jovem internacionalista cubano Ramón Maestre Infante

Na 2ª fase da Op Djassi (a primeira tem a ver como os três G - Guidaje, Guileje e Gadamael, maio / junho de 1973, ainda no tempo do Spínola), Ramon Pérez Cabrera [, autor de "La historia cubana en África: 1963-1991: pilares del socialismo en Cuba", edição de 2005], iz que participaram "14 internacionalistas cubanos", um dos quais, um jovem oficial que tinha partido de Cuba por via aérea em 13/12/1973, e que vai encontrar a morte nas imediações de Copá (ou de Canquelifá?), às 8 da manhã do dia 8 (ou 7?) de janeiro de 1974, surpreendido por tropas portuguesas. 

O seu corpo terá sido "levado para Buruntuma", mutilado e exumado, diz Ramón Pérez Cabrera. Tratar-se-ia, quanto a nós, da mesma emboscada em que terá sido apanhado vivo, o caboverdiano Jaime Mota, 1940-1974, alegadamente executado depois

Ramón Maestre Infante terá sido o último dos 9 internacionalistas cubanos a morrer na "guerra de liberación" da Guiné-Bissau. Enfim, mais um caso para alimentar a nossa série Controvérsias, e que o nosso Jorge Araújo vai, por certo, querer explorar, ele que agora tem em mãos o "dossiê médicos cubanos". (****)


Luís Graça > Buruntuma: a chantagem do terror com o comandante Bobo Keita no pós 25 de abril

O Bobo Keita, antiga glória do futebol guineense, tinha feito parte da delegação do PAIGC, na 1.ª ronda de negociações de paz, em Argel... Depois de Argel, regressou à Frente Leste. E deve-lhe ter subido à cabeça a mania do protagonismo...

Aqui, no leste, foi claramente 'mais papista que o Papa', passando a perna à direção política do PAIGC. Foi ele quem teve a iniciativa de:

(i) colocar barragens para controlos dos nossos veículos militares, nas estradas do leste;

(ii) forçar a desocupação do quartel de Buruntuma;

...para além de (iii) ter resolvido, através do terror (3 fuzilamentos e diversas prisões), um conflito em Paunca com milícias (ou não seriam antes os militares da CCAÇ 11?)...

Ele próprio reconheceu, antes de morrer, na altura em que foi entrevistado para o seu livro de memórias, que a chantagem feita aos tugas de Buruntuma era mero bluff, que não era sua intenção atacar nenhum quartel...

A verdade é que este homem podia ter originado uma tragédia de consequências imprevisíveis e incalculáveis... A sua atitude de fanfarrão obrigou à intervenção pessoal do Fabião e do Juvêncio Gomes (delegado do PAIGC em Bissau) (*ª)


José Valente > Buruntuma: Guerra e paz

Há vários meses que estava em Buruntuma, como furriel do 28.º Pel Art quando no dia 5 de julho de 1974 fui obrigado a retirar para Ponte Caium. Tive que voltar a Buruntuma para inativar as munições de artilharia que tínhamos sido obrigados a abandonar. A tensão era tal que a todo o momento temíamos o pior. Felizmente tudo correu bem.

Mas o mais caricato da história da guerra é que passados alguns dias me sentei em Bafatá a uma mesa de café, a beber cerveja, com o comandante 'Nai', do comando leste do PAIGC, a quem e a seu pedido ofereci o livro "Portugal e o Futuro",  de António Spínola, e em troca recebi, tirado da própria lapela do uniforme, um pin original do PAIGC. Alguns dias antes éramos inimigos,  agora trocávamos presentes. Coisas de uma guerra que nunca compreendi nem quero compreender. (**)

Jose Valente
Furriel Mil 28.º PelArt


Luís Graça > Buruntuma > A primeira guarnição do leste a ser desocupada pelas NT, em 5/7/1974

Buruntuma foi a primeira guarnição da zona leste a ser desocupada pelas NT e ocupada de imediato pelo PAIGC, por uma força comandada pelo Bobo Keita, em 5 de julho de 1974. Camajabá e Canquelifá foram desocupadas a seguir, a 6 e a 7 de julho, respetivamente.

As restantes guarnições do leste só foram desativadas em agosto e setembro, respeitando os planos de retração do nosso dispositivo militar (aprovado pela 3.ª Rep/QG/CCFAG) (...)

Os factos acima relatados pelo Bobo Keita são confirmados pelo relatório da 2.ª rep. O ultimatum de Bobo Keita às NT em Buruntuma é vista uma clara violação ao acordo de cavalheiros estabelecido pelas NT e o PAIGC no que respeito à retirada, planeada, ordenada e concertada (a nível local), dos nossos aquartelamentos e destacamentos. 

Alega-se que Bobo Keita estaria "mal esclarecido" sobre esse acordo e os seus trâmites. Por outro lado, as instalações das NT eram particularmente apetecidas pelos combatentes do PAIGC, na zona leste, mais árida, com menos vegetação do que no sul, e em plena época das chuvas. No relatório da 2.ª Rep, diz-se explicitamente que o comportamento indisciplinado dos homens de Bobo Keita se devia também, em parte, ao facto de serem "periquitos", de serem novos na região e na guerrilha, viverem em condições precárias e estar-se na época das chuvas. (*****)

Guiné 61/74 - P17105: Agenda cultural (544): Apresentação do livro "O General Ramalho Eanes e a História Recente de Portugal", II Volume, da autoria de M. Vieira Pinto, dia 9 de Março de 2017, pelas 15 horas, na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha

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O nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, dá-nos notícia da apresentação de mais um livro, integrada no 17.º Ciclo de Tertúlias Fim do Império, a levar a efeito na próxima quinta-feira, dia 9 de Março de 2017, na Messe Militar do Porto.

17.º CICLO DE TERTÚLIAS, PORTO

164.ª TERTÚLIA

Apresentação do 26.º livro da coleção Fim do Império, "O General Ramalho Eanes e a História Recente de Portugal", II Volume, da autoria de M. Vieira Pinto (lançado em 2017.01.25, no Museu dos Combatentes), com Autor, a levar a efeito no próximo dia 9 de Março de 2017, pelas 15 horas, na Messe Militar do Porto.

«Ramalho Eanes, que estava em serviço em Angola, não participou no movimento do dia 25, mas sendo imediatamente chamado a Lisboa, foi, usando o seu prestígio e autoridade pessoais, um agente fundamental da evolução para a nova constitucionalização de Portugal, impedindo o triunfo dos extremismos e apoiando a entrega do poder ao eleitorado. Pondo de lado pequenos incidentes, pelo prestígio militar, e sabedoria ganha no conhecimento vivido da maior parte do findo império, foi conduzido pelas Forças Armadas aos mais altos postos, destacando-se, nesse processo complexo, ter sido eleito, por maioria esmagadora, Presidente da República, em 1976, por isso Comandante Supremo das Forças Armadas, mais a Chefia do Estado-Maior das Forças Armadas, e Presidente do Conselho da Revolução.» 

(Excerto do testemunho de Adriano Moreira)

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Sobre o autor:

Manuel Paulo Lalande Vieira Pinto é licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa. 
Foi quadro, administrador e consultor de diversas empresas privadas, públicas, e de serviços públicos. 

Presidiu aos Conselhos Directivos do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social e do Gabinete Português de Estudos Humanísticos. 

Desempenhou, como catedrático convidado, funções docentes no ensino superior particular, de que foi fundador com várias personalidades. 

É autor de algumas obras de natureza técnica, didáctica, histórica e biográfica, entre elas, "Adriano – Vida e obra de um grande português" (2010, DG Edições), tendo também participado no 6.º livro da colecção «Fim do Império», Memórias do Oriente, de Dias Antunes.

(Com a devida vénia a Âncora Editora)
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17089: Agenda cultural (543): Sessão de lançamento do livro de fotografia do nosso camarada Jorge Ferreira sobre Buruntuma, Gabu, 1961/63... Apresentação a cargo de Luís Graça, editor do nosso blogue.... Concerto de Korá com mestre Braima Galissá, nosso grã-tabanqueiro... Local e data: Galeria-Livraria Verney, Centro Histórico de Oeiras, sábado, dia 4 de março, às 15h00... Estamos todos convidados!

Guiné 63/74 - P17106: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (24): o alferes "periquito" que escoltei até Buruntuma num domingo de agosto de 1964 e que nesse mesmo dia atravessou a fronteira e desapareceu... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

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Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > c. 1961/62 > Reunião de homens grandes para aplicação da justiça tribal. O cavalo era já raro na Guiné, devido à peste equina africana rndémica... Foto de Jorge Ferreira, com a devida vénia: "Buruntuma: algum, dia serás grande!... Gabu, Guiné, 1961/63  (Lisboa, 2016, p. 87).


1. Comentário de Alcídio [José Gonçalves] Marinho, ex-fur mil inf, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65), ao poste P17104(*)


Fui duas vezes a Buruntuma.

A primeira vez foi com o nosso 3º pelotão na 1º ou 2ª semana de maio, cerca de um mês depois de chegarmos á Guiné (Bafatá). A área de Buruntuma ainda pertencia ao BCAÇ 238, comandado pelo sr. coronel Sá Cardoso.

A outra vez foi assim:

Era um domingo de agosto/1964, estava em Bafatá, pois no destacamento de Cantacunda tinha apanhado um ataque de paludismo, que levou à minha evacuação.

Cerca das 9 horas da manhã, o oficial de dia da 412, foi chamado ao Comandante do Batalhão 506, sr. tenente-coronel Liiz Nascimento de Matos. Informação do comando:
− Vai chegar uma Dornier com um sr. oficial, que é urgente fazer chegar a Nova Lamego, e depois a Buruntuma. Precisa-se duma escolta simples, basta um jeep, com um vosso oficial e dois soldados.

O oficial de dia, disse que não havia nenhum oficial disponível a não ser ele próprio. Resposta do sr. teneent-coronel:
− Então mande um sargento.

O alferes Baltazar chegou ao nosso quartel e toca a chamar-me:
- Marinho, manda preparar um jeep com respectivos condutor e operador rádio, mais dois soldados. Depois vais para a pista de aviação,  pois vai chegar um alferes "periquito" e vais levá-lo a Nova Lamego e depois a Buruntuma.

Requisitei um jeep, os militares necessários e ala para a pista de aviação, esperar o maçarico. Cerca das onze horas chegou o maçarico que cumprimentei e logo vi que o alferes era muito pouco comunicativo e taciturno. Vinha à civil, com uma malinha pequena.

Expliquei para onde íamos e como.  Não perguntou nada, nem disse nada. Nós olhamos uns para os outros, admirados e muito desconfiados. Lá seguimos para Nova Lamego. Aí chegados, o Alferes foi apresentar-se ao oficial dia  do BCAÇ 512.

Seguimos de seguida para Buruntuma. Chegamos, mesmo na hora do almoço. O destacamento era ao nível de pelotão. Fomos convidados para almoçar pelo furriel que substituía o alferes, agora chegado.
Conversa puxa conversa e lá ficamos cerca de três horas.

Entretanto, alguns militares do pelotão, deslocaram-se para o campo de futebol, para jogar. Nós, os da CCAÇ 412 também fomos ver o jogo. Decorria o jogo e alguns de nós,  furrieis,  trocavámos impressões do sr. alferes.

De repente, alguém começa berrar muito alto:
− Olha, o alferes vai para a fronteira!

A malta toda começa a gritar para chamar o alferes, que transporta a sua malinha. Ao ouvir os berros da malta, ele apressa o passo na estrada que segue para a fronteira. E desaparece.

Um furriel com alguns militares, foram de jipão, perseguir o alferes, mas dele já não havia
vestígios.

Então parti para Nova Lamego, onde comuniquei ao oficial de dia, os factos ocorridos. Claro que ele não acreditava, mas,  recebida a informação Rádio, comunicou ao sr. ten-cor Figueiredo Cardoso. Que ficou espantado.

O qlferes que no mesmo dia chega e parte. Mais tarde ouviram-o na Rádio Argel. Entretanto, dizia-se que ele em Bissau, havia afirmado que não ficaria muito tempo na Guiné. (**)

Alcidio Marinho

CCAC  412
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Guiné 61/74 - P17107: Blogpoesia (496): "Sol envergonhado..."; "Chave à porta..." e "Tentativas falhadas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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Foto: Com a devida vénia a Diário Digital Castelo Branco


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros durante a semana ao nosso blogue, que publicamos com prazer:



Sol envergonhado...

Este sol que se esconde
atrás da cortina de nevoeiro espesso,
dormiu mal a noite longa
Ou andou na farra,
pela madrugada.
Agora tarda
o mafarrico.
Vai ter a paga.

De secar a terra,
toda encharcada.
Se quer brilhar.

Até ele falha,
de vez em quando.
Para nosso mal.

Só ele é rei.
Abusa da força.
Ninguém o manda...

Tira-nos tempo
de passear nos campos,
e ver o mar.

Mas dá-nos vida,
mesmo a dormir!...

Mafra, 5 de Março de 2017
8h04m

Nevoeiro denso
Jlmg

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Chave à porta...

Como entrar no céu.
Depois de meses
sem dormir em casa.

Sabe tão bem!
O nosso cantinho,
com tudo à mão.

Foi bom partir.
Estar com os nossos.
Onde os pôs a vida...
Tão bom chegar.

Que bom sabor.
Pisar o chão,
Respirar a fundo,
Ao pé do mar.

Esperar o sol
com seu calor.
Ouvir falar
sem traduzir.

Saborear sabores
dos nossos frutos.

Do nosso azeite
e do nosso sal.
Foi bom partir.
É bom voltar...

Bar "Caracol" em Mafra
27 de Fevereiro de 2017
10h28m
Jlmg


************

Tentativas falhadas...

Esforço inglório.
Quando se almejam as distâncias
onde se adivinha o sucesso.
Por onde giram os nossos sonhos.
E há promessas de vitórias.

Se organizam arquitecturas
e se traçam estratégias.
Se aplicam as energias
e, com denodo esforçado,
se avança destemido.

Para, ao resto e ao cabo,
desaguar na ilusão.

Tanto esforço.
Tanta riqueza, em vão, se consumiu.
No fim de tudo,
só a lição...

Bar "Sete momentos" em Mafra
28 de Fevereiro de 2017
10h26m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17085: Blogpoesia (495): "Bendita a sorte de viver..."; "Outra vez..." e "Em breve...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P17108: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral e outros / Casa Comum (21): O professor primário e o enfermeiro de Buruntuma, em 1961... Trabalhavam para o PAICG na cara da PIDE ?!...

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Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > c. 1961/62 > Destacamento deBuruntuma ( 1 Gr Com reforçado, 3ª CCAÇ e CCAV  252) > Uma ação de nomadização... À freente o alf mil Jorge Ferreira, de calões e FPB!... Atrás duas praças guineenses, com a velha mauser e capacete!...



Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > c. 1961/62 >A escola de Buruntuma > O alf mil Jorge Ferreira e um dos gradudos (furriel miliciano, provavelmente o cmdt de seção da CCAV 252...), de chapéu colonial, que dava aulas aos militares... Não há nenhuma foto fo professor cabo-verdiano. 


Fonte: vd. sítio do fotógrafo Jorge da Silva Ferreira e o seu livro "Buruntuma: algum, dia serás grande!... Guine, Gabu, 1961-63 (Lisboa, Programa Fim do Império, Liga dos Combatentes, 2016, p. 25).


Fotos: © Jorge Ferreira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No último trimestre de 1961, quando chegou a Buruntuma para comandar o destacamento, guarnecido por uma força cojunta (cerca de 40/45 homens) da 3ª CCAÇ e da CCAV 252, o alf mil Jorge Ferreira,  esta povoação fronteiriça era rua uma por onde passava a "estrada internacional" Bissau-República da Guiné (Conacri)... 

A fronteira (uma linha imaginária!) era a escassas centenas de metros... De um lado e do outro da rua, alinhavam-se "algumas casas de alvenaria", a saber:

(i) do lado direito, a casa do régulo Sene Sane, tenente de 2ª linha; o armazém de mancarra (que servia de aquartelamento); duas casas comerciais (uma da família Coelhoso, natural de Mirandea (?);

(ii) do lado esquerdo, a escola primária; as instalações da PIDE; duas casas comerciais, a Casa Gouveia e a Sociedade Ultramarina; e a enfermaria...

Por destrás da Buruntuma colonial, ficavam as moranças da população local (fulas e mandingas), estimada em um milhar de habitantes. 

Fonte: FERREIRA, Jorge - Buruntuma: algum dia serás grande!.. Guiné, Gabú, 1961-63. Lisboa: Programa Fim do Império [, Liga dos Combatentes,], 2016, p. 8.

Na página 25, há uma fotografia da escola de Buruntuma. O Jorge Ferreira aparece ao lado de uma figura que pode muito bem ser o professor. O autor da publicação citada diz-nos que em Buruntuma havia "!uam escola e uma enfermaria, aliás infraestruturas de qualidade que não era vulgar encontrar em povoações de igual dimensão na Metrópole" (p. 10)

Referindo-se ao "apoio socuial" prestado pela tropa, no seu tempo, acrescenta:

(...) " Em termos de escola, propôs-se ao professor de origem cabo-verdiana cujpo português muitas vezes era mescalado com termos de crioulo, dar-lhe apoio destacando para a escola militares habilitados" (p. 10). A proposta foi aceite, sendo "essa colaboração extremamente benéfica em termos de aproveitamento escolar"... A adesão foi "entusiástica" por parte dos nulitares, ajudando-os a ocupar os seus tempos libres e sair da rotina,

Quanto à "enfermaria". o comandante do destacamento propôs ao comando da companahia (a 3ª CCaç , sediada em Nova Lamego) que o médico se disponibilizasse para atender também a população local. Em geral, ele visitava regularmente o destacamento, ou seja, de quinze em quinze dias. O médico [, julgo que o ten mil médico António Sancho, mais tarde conhecido cirurgião plástico...] acolheu a ideia de bom grado e a extensão da cobertua médica à população contribuiu também para "o ótimo clima de relacionamento que a breve trecho se estabeleceu entre a população e os militares" (p. 10).

Jorge Ferreira não nos diz quem era o enfermeiro nem identifica o professor, que só sabemos que era, no final de 1961 / princípios de 1962, de origem cabo-verdiana. (Em Bambadinca, era uma professora, também de origem cabo-verdiana, a dona Violete da Silva Aires).

Pergunta:  o enfermeiro não deveria ser guineense, Cirilo de seu nome ? E o professor não seria o Timóteo Costa, autor da carta que a seguir se reproduz ? 

De acordo com o tratamento do documento, que faz parte do Arquivo Amílcar Cabral, Timóteo Costa, acabado de colocar em Buruntuma como professor [do ensino primário], escreve a um seu contacto [Marcelo de Almeida, membro do PAIGC, cabo-verdiano, próximo de Amílcar Cabral nesta época, 1961], a quem trata afetuosamente por "amigo e irmão africano", e dando-lhe a seguinte informação:

(i) acaba de chegar a Buruntuma, vindo  de Bissau, há 12 dias;

(ii) dá notícias do seu "ilustre amigo Cirilo", enfermeiro;

(iii) incentiva [, o destinatário,] a "trabalha[r] que nós também estamos a fazer o mesmo para um bom futuro e feliz progresso do filho africano";

(iv) dá um recado do Cirilo, transmitido em linguagem algo hermética [, tudo indicando que o Cirilo faz trabalho político em Buruntuma, sendo por isso um militante do PAIGC];

E o Timóteo Costa termina dizendo, "cá me encontro como professor em Buruntuma, portanto podes contar comigo em todos os momentos"...

O que lhes terá acontecido, a um e a outro ? Não há mais rasto deles,,, no Arquivo Amílcar Cabral
e o Jorge Ferreira ceghou a conhecê-los e lideou com eles ? Trata-se de um documento interessante, que ilustra o trabalho de sapa que Amílcar Cabral e o seu partido estavam a fazer, a partir de Conacri...


2. Transcrição, revisão e fixação de texto (LG): 

Amigo e irmão africano Marcelo:

Tomo hoje a liberdade de lhe fazer [sic] duas linhas, informando que cheguei de Bissau, há já 12 dias, onde tenho notícias cujo termo lhe vou informar quando estiver [? ] dentro da minha normalidade. Isto é, quando tiver quem a levará. Pode ser dentro de já. Cá encontramos dia de eu e seu islustre [sic] amigo Cirilo, enfermeiro, com muito prazer de encontrar. Trabalha que nós também estamos a fazer o mesmo para um bom futuro e feliz progresso do filho africano,

Mudando de assunto, junto lhe dou o recado do senhor Cirilo:

Segue:
-  Enquanto a informação, isto do nosso combinado está correndo na medida do costume. Por hora (sic) não [há] nada de anormal, mas no entanto farei o possível de lhe enviar qualquer motivo dentro de breve. Pode estar sossegado que no sábado lhe enviarei algumas considerações sobre esta política africana.

Cá me encontro como professor em Buruntuma, portanto podes contar comigo em todos os momentos. Sou, Timóteo Costa. 


Documento, manuscrito, de 2 páginas, 


Portal Casa Comum /  Instituição:Fundação Mário Soares

Pasta: 04608.052.187

Assunto: Transmite um recado do enfermeiro Cirilo, que se encontra em Buruntuma como professor, sobre o trabalho em prol da luta de libertação.

Remetente: Timóteo Costa

Destinatário: Marcelo [de Almeida]

Data: 1961

Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência recebida 1961 (PAIGC, MPLA, FRELIMO, CONCP, UGEAN)
.

Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Tipo Documental: Correspondencia

Arquivo Amílcar Cabral > Correspondência  > 1961

Citação:(1961), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_38633 (2017-3-5)

(Transcrito com a devida vénia)

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Guiné 61/74 - P17109: Notas de leitura (934): “O Adeus Ao Império, 40 anos de descolonização portuguesa”, organização de Fernando Rosas, Mário Machaqueiro e Pedro Aires Oliveira, Nova Veja, 2015 (Mário Beja Santos)

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Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Dezembro de 2015:

Queridos amigos,
Procede-se a um balanço em torno dos 40 anos de descolonização portuguesa. Antes de se falar na Guiné-Bissau, Guiné e outras parcelas que foram do Império, diferentes investigadores pronunciam-se sobre questões colaterais: o antigo colonialismo tardio do antifascismo português; os partidos nacionalistas africanos no tempo da revolução; o balanço militar em 1974 nos três teatros de operações; visões das forças políticas portuguesas sobre o fim do Império.
Analisados os termos da descolonização, outros dois investigadores debruçam-se sobre retornos e começos: experiências construídas entre Moçambique e Portugal, bem assim como memórias em conflito ou o mal-estar da descolonização.
Para os organizadores é tempo de fazer não apenas um balanço crítico mas, sobretudo, de contribuir, para aumentar a compreensão do fenómeno complexo que foi a descolonização portuguesa.

Um abraço do
Mário


Quando a Guiné se separou do Império

Beja Santos

“O Adeus Ao Império, 40 anos de descolonização portuguesa”, organização de Fernando Rosas, Mário Machaqueiro e Pedro Aires Oliveira, Nova Veja, 2015, é uma leitura irrecusável pelos diferentes registos que acolhe, pela exploração de temas que têm andado ao sabor de polémicas e paixões, o fim do colonialismo que motivou um penoso e duradouro luto imperial. Para os organizadores, os constrangimentos que haviam obstado à criação de uma comunidade pós-colonial para o espaço lusófono – os traumas coloniais, foram caindo graças a três acontecimentos simbólicos, entre 1998 e 2002: a realização da Expo 98, um evento concebido para celebrar uma identidade pós-colonial que não enjeitava a memória dos Descobrimentos; a transferência pacífica e ordenada da administração portuguesa em Macau para a República Popular da China; e o advento da independência Timor-Leste, no termo de um longo processo que mobilizou segmentos significativos da sociedade portuguesa.

Dentre o conjunto de ensaios em que se aborda a descolonização, destaco o trabalho de António Duarte Silva intitulado: “Guiné-Bissau: libertação total e reconhecimento portugueses”. O investigador começa por referir que o MFA local controlava quase todo o aparelho militar e que confirmado o triunfo do 25 de Abril, o núcleo duro demitiu e enviou para Lisboa o Governador e Comandante-Chefe e tornou irreversível o golpe do dia anterior. São factos que muitas vezes descuramos pelo seu significado, e que permitem ver claramente como a Guiné estava madura para a viragem da descolonização. Enquanto o PAIGC se pronunciava a sugerir a abertura imediata de negociações, diferentes comandos de unidades no interior da Guiné apelavam ao pronto cessar-fogo, pediam mesmo autorização para abandonar as posições. A 7 de Maio, Carlos Fabião foi nomeado pela Junta de Salvação Nacional para os cargos de Encarregado de Governo e Comandante-Chefe da Guiné. Mas não se deu esta substituição de governadores, Fabião passará a ser o “delegado da JSN, a quem Spínola lhe deu claras indicações sobre a forma de diretivas: negociar com o PAIGC, mas continuar o esforço defensivo de guerra até a assinatura do acordo de cessar-fogo; dar continuidade ao processo político de autodeterminação e preparar a sua visita à Província. Mal chegado a Bissau, Fabião constatou que tudo mudara: o MFA era poder, constituíra-se como gabinete de Governo. Em Lisboa, preparavam-se as conversações com o PAIGC que começaram ainda à carga, compareceram a delegação portuguesa com Mário Soares à frente e o PAIGC representado por Aristides Pereira e Joaquim Pedro da Silva. Do encontro não resultou qualquer compromisso formal. Seguiram-se conversações em Londres, a argumentação do PAIGC subia de tom: “de potência colonial, Portugal passou a estar na situação de agressor contra o nosso Estado soberano, reconhecido por mais de 80 países no mundo”.

Entre 25 e 31 de Maio, realizaram-se 10 sessões, a meio, Soares e Almeida Bruno deslocaram-se a Lisboa para apresentar um primeiro “protocolo” ou tentativa de acordo. Spínola recusou a proposta de Soares que contemplava o imediato reconhecimento da Guiné-Bissau como república. É durante estas conversações que se verifica que o PAIGC parecia não ter pressa na partida dos portugueses, admitindo um “período de transição” até 6 anos, desde que satisfeitas algumas exigências, a começar pelo reconhecimento da independência. Em Junho reiniciaram-se as conversações com o PAIGC, em Argel, a primeira reunião saldou-se por um fracasso. A atmosfera internacional também era desfavorável às obstinações de Spínola. Em Bissau, o MFA local não desarmava, e numa assembleia, perante cerca de 800 militares, foi aprovada uma moção onde se propunha: o repúdio de qualquer solução local e unilateral; o reconhecimento inequívoco da República da Guiné-Bissau; e o imediato recomeço das negociações com o PAIGC. Ninguém queria já falar em guerra e, o MFA local apresentava o seu plano de descolonização. Reúnem-se o governo de Bissau e o PAIGC na mata do Cantanhês, entre 15 e 18 de Julho. O tema central foi a retração do dispositivo das tropas portuguesas, mas debateram-se outros temas prementes como o problema dos Comandos Africanos e a troca dos prisioneiros de guerra. Nesse mesmo mês de Julho, é aprovada a lei n.º 7/74, a chamada Lei da Descolonização, através da qual Portugal reconhecia o direito dos povos à autodeterminação. E no início de Agosto recomeçaram as conversações entre o governo português e o PAIGC, assim se chegou a um protocolo de acordo bem como foi aprovado um anexo destinado a regular a continuação da retração do dispositivo militar português, a saída progressiva das Forças Armadas e algumas obrigações portuguesas. Os acordos de Argel foram assinados em 26 de Agosto de 1974 e traduziam-se no reconhecimento da nova República, no cessar-fogo, na saída das Forças Armadas até 31 de Outubro. E definiam-se matérias concretas quanto ao anexo: as Forças Armadas portuguesas obrigavam-se a desarmar as forças africanas sob o seu controlo; o governo português pagaria as pensões de sangue, de invalidez e de reforma a que tinham direito quaisquer cidadãos por serviços prestados às Forças Armadas portuguesas; e o governo português participaria também num plano de reintegração na vida civil de tais cidadãos militares.

Em 19 de Outubro, os titulares dos órgãos dirigentes da República da Guiné-Bissau e do PAIGC entraram festivamente em Bissau. Oiçamos os cometários do investigador:
“À data, o PAIGC era uma organização sólida, embora com escassos ‘quadros’, dotada de um aparelho ‘para-estadual’ e de umas forças armadas poderosas. Encontrava-se perante uma conjuntura particularmente favorável, pois beneficiava de amplo apoio e entusiasmo popular e dispunha de ajuda e cooperação multilateral, quer dos partidos comunistas quer dos países ocidentais. Mas a Guiné-Bissau era um dos países mais pobres do mundo e com poucas condições para construir um Estado-Nação. Rapidamente surgiram várias manifestações de fragilidade e de perversão do poder, sobretudo múltiplas medidas repressivas e evidentes sinais de corrupção, a par de provas de incompetência técnica do PAIGC para governar o país. A mobilização dos camponeses e o desenvolvimento rural esvaziaram-se e os recursos concentraram-se em Bissau – que tudo devorou. Em 1980, um golpe semimilitar pôs termo ao projeto histórico da unidade Guiné-Cabo Verde”.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Março de 2017 > Guiné 61/74 - P17094: Notas de leitura (933): “Baía dos Tigres”, por Pedro Rosa Mendes, Publicações Dom Quixote, 1999 (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P1710: Agenda cultural (545): Apresentação do livro de fotografia, " Buruntuma", do nosso camarada Jorge Ferreira, em Oeiras, no passado sábado, dia 4 (Parte I) - As primeiras fotos

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Foto nº 1 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 . 16h30 > Sessão de lançamento do livro de fotografia, da autoria de Jorge Ferreira, "Buruntuma: algum dia dia serás grande!... Guiné, Gabu, 1961-63" (Lisboa, Programa Fim do Império, Liga dos Combatentes, 2016)...  Na foto, o  O "calmeirão" do Jorge Ferreira,  no uso da palavra...  A apresentação esteve a cargo do nosso editor Luís Graça.(*)


Foto nº 2 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00  . 16h30 > O Manuel Barão da Cunha, fazendo as honras à casa... Esta é a 164ª tertúlia do Programa Fim do Império, da Liga dos Combatentes!... Presentes algumas dezenas de camaradas e amigos... O convite foi foi feito  pelo autor, Jorge Ferreira, e teve o apoio de: (i)  Ptograma Fim do Império; (ii) Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné; (iii) Movimento de Expressão Fotográfica (MES); e (iv) Núcleo de Fotografia de Oeiras (NFO). (**)


Foto nº 3 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30 >   
O mestre Braima Galissá mostrando o "mezinho" que, na melhor tradição mandinga, usa para proteger o seu korá... O instrumento que ele usa, nos seus concertos, já não é o que lhe deu o seu pai, mas uma versão moderna, ocidental, do instrumento original, misto de harpa e alaúde...  (Pode ser ligado a um amplificador, mas nesta ocasião o Braima Galissá tocou sem amplificação e encantou-nos!).


Foto nº 4 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30  >   O Braima Galissá falando,  com saber e paixão, do "seu" korá... Além de tocador, é também "djidiu", cantor... E tem Portugal na sua alma. Nascido em 1964, no Gabu (NovaLamego), "sob a bandeira portuguesa", vive em Lisboa dese 1998  e aguarda, com ansiedade, o deferimento do seu pedido de naturalização como cidadão português.


Foto nº 5 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30>   
Atuação do mestre Braima Galissá  e aspeto da assistência


Foto nº 5 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30>   A antiga equipa que deu voz e alma ao PIFAS: o antigo primeiro sargento Silvério Dias (, nosso grã-tabanqueiro) e a famosa "senhora tenente", sua esposa... 



Foto nº 6 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30>   Na assistência, mais dois dos nossos grã-tabanqueiros, o António Graça de Abreu e a Alice Carneiro


Foto nº 7 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30 >  Avô (jorge) e neto (Daniel)... O Daniel quer ser fotógrafo como o avô...



Foto nº 8 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30>  O Estuário do Tejo, visto de Paço de Arcos... Foi daqui que todos (ou qusse todos) partimos para a Guiné...




Foto nº 9 > Oeiras > Galeria-Livraria Municipal Verney > 4 de março de 2017 > 15h00 - 16h30>  O Braima Galissá descobriu, emocionado, uma foto do Jorge Ferreira onde está o seu avô, tocador de korá, num festa em Buruntuma... O Jorge Ferreira trouxe-o, a suas expensas, para tocar e (en)cantar nesta sessão de lançamento do seu livro.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Guiné 61/74 - P17111: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10): Enxalé, a outra margem do Geba

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José Nascimento, um olhar sobre o Geba


1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 27 de Fevereiro de 2017:

ENXALÉ, A OUTRA MARGEM DO GEBA

O Enxalé começou a fazer parte da zona operacional do Xime e da CART 2520 em Outubro de 1969. O rio Geba separava estes dois aquartelamentos, assim como uma bolanha intransponível na época das chuvas, portanto com um elevado grau de dificuldade para se estabelecer a ligação entre as duas unidades.
A travessia do Geba era uma completa aventura e dependia sempre da maré cheia, podia-se fazer esta cambança a bordo do  Sintex ou pelas pirogas manobradas por um indígena, cujo remo situado na sua popa servia de força propulsora e simultaneamente de leme.

Ao 3.º pelotão da CART 2520 também  coube a missão de permanência no Enxalé.
No segundo dia após a nossa chegada, o alferes Lapa que foi em substituição do comandante de pelotão, o alferes Marques, regressou ao Xime, ficando o pelotão apenas com dois graduados, os furriéis Nascimento e  Monteiro, passando o comando para o mais "velho" destes elementos, que era eu.
Este destacamento era constituído por um aglomerado de antigas casas, pertença de um fazendeiro que se refugiou em Bissau com o eclodir da guerra. Este fazendeiro era possuidor de uma destilaria de cana de açúcar, que foi totalmente destruída, restando apenas alguma sucata. Havia uma tabanca com seis centenas de moradores, composto maioritariamente por balantas e mandingas, cabendo a nós militares fazer a sua protecção de possíveis ataques do PAIGC, o que chegou a acontecer no dia 10 de Fevereiro de 1970, dia de Carnaval.

Quando se ouviram os primeiros disparos, já a noite havia caído, também eu disparo numa corrida a sete pés para o abrigo mais próximo, só que assim que saio dos meus aposentos ouço o rebentamento de uma granada de RPG7, num mergulho à peixe atiro-me ao chão entre uns bidons cheios de terra, que eventualmente nos protegiam dos projécteis do IN. Um dos estilhaços ainda em brasa, caprichosamente veio estacionar a um palmo do meu nariz. Enceto nova corrida até ao abrigo da Breda, penso ter batido o recorde mundial dos 30 metros. Já agarrado à Breda chega o "Espanhol" e berra:
- Deixe isso comigo meu furriel, fazendo de seguida umas rajadas que ajudaram o IN a ir jogar ao Carnaval para um outro lado.

Resultou deste ataque: ferimentos com alguma gravidade na perna de uma habitante, outro elemento da população perdeu uma mão e um rapaz sofreu ferimentos ligeiros. Todos foram evacuados de héli para Bissau no dia seguinte. Arderam também várias tabancas.


Enxalé após o ataque

No dia anterior a este ataque, decorreu na outra margem do Geba, a operação Boga Destemida na qual as nossas tropas sofreram uma brutal emboscada na zona de Gandagué Beafada por parte do inimigo, sendo perfeitamente audível à distância em que nos encontrávamos, o matraquear das armas de fogo e o rebentamento de granadas.
Sabendo via rádio da gravidade da situação, solicito para ser transportado para a margem esquerda do rio, a fim de poder dar a minha ajuda no que fosse possível. Na enfermaria presto a minha colaboração ao furriel enfermeiro Augusto Costa, o ferido que mais me impressionou e que seria evacuado para Bissau, juntamente com outros elementos, foi o furriel Pestana, as suas costas estavam rasgadas por estilhaços de granada, numa das feridas cabia perfeitamente um dos meus punhos fechados. Este camarada jamais regressaria para a CART 2520, recuperou, mas as mazelas ficaram para sempre a marcar o seu corpo e o seu espírito.

Quando passava uma guia de livre transito para um dos habitantes da tabanca se deslocar a Bissau, o chefe de tabanca dos mandingas falou em francês, fiquei surpreendido e perante a minha pergunta porque falava naquela língua respondeu-me que tinha estudado no Senegal antes da guerra começar, mais perplexo ainda fiquei.
Com uma frequência quase diária, um puto da tabanca com cerca de 10 anos, de uma tez muito clara, vinha conversar connosco e fazer-nos alguma companhia, nós em troca demos-lhe a nossa amizade. Para ti Dingue, se ainda pertenceres ao número dos vivos, aqui vai um fraterno abraço.

Com o amigo Dingue

Era normal os nossos militares darem uns tirinhos à caça das rolas, quando o faziam na zona frontal ao destacamento virada para bolanha, não havia qualquer problema,  mas nas traseiras da tabanca isso representava algum perigo e foi o que aconteceu com o nosso apontador de metralhadora, de caçador ia sendo caçado. Valeu-lhe o seu sangue frio e coragem, que ao aperceber-se de que alguns guerrilheiros se preparavam para lhe deitar a luva, sacou de uma granada de mão e lá vai disto, escapando-se de imediato para o quartel e desta maneira o Martins deixou de ser um possível prisioneiro de guerra nas mãos do PAIGC e de fazer um passeio turístico até Conakri.

De vez em quando chegavam mensagens codificadas vindas do Xime, que eu decifrava através do Codoper, com ordens para montar uma emboscada ou fazer um patrulhamento a determinado local. Eu falava baixinho com os meus botões, capitão Maltez cá tem cabeça. Temos que assegurar a protecção do destacamento e da população, como é que vamos montar uma emboscada com meia dúzia de gatos pingados? Na volta do correio eu respondia: "montada" emboscada ou  patrulhamento "efectuado".

E assim se passaram dois meses com relativa tranquilidade, mas com muitas dificuldades. Matar a fome às nossas barriguinhas não foi tarefa fácil. Receber e enviar correspondência por vezes demorava mais de uma semana. O isolamento era enorme, os nossos contactos com o mundo exterior só eram possíveis através do Xime e com o Xime foi muito difícil e arriscado devido à travessia do rio. Cada vez que passava de uma margem para outra, pensava sempre que algum dia poderia servir de pequeno almoço a um qualquer jacaré se na eventualidade acontecesse algum incidente e a nossa embarcação nos mandasse a banhos.  Neste espaço de tempo só eu e mais dois ou três elementos do pelotão é que saímos do Enxalé até à sede da Companhia.



Enxalé

Fotos: © José Nascimento

Para todos os nossos camaradas de armas um grande abraço.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16737: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (9): A música das nossas vidas: "Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz, cuja amada esposa se chamava Isabel e vivia a 5 mil km de distância, em Vila Real, Portugal...

Guiné 61/74 - P17112: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (2): Abertura das inscrições

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Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > 16 de Abril de 2016 > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande
Foto de família © Miguel Pessoa


XII ENCONTRO DA TERTÚLIA DA TABANCA GRANDE

DIA 29 DE ABRIL DE 2017

PALACE HOTEL DE MONTE REAL

ABERTURA DE INSCRIÇÕES

Caros amigos e camaradas
Estamos hoje a abrir as hostilidades para a Grande Operação a Monte Real, o XII Convívio da Tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, a levar a efeito no dia 29 de Abril próximo.

Como devem estar lembrados, a sala comporta 200 lugares, pelo que os retardatários poderão perder a oportunidade de participar nesta salutar manifestação de amizade e camaradagem. Inscrevam-se, logo que tenham a certeza de que poderão estar presentes, preferencialmente para o email carlos.vinhal@gmail.com.

Considerem a partir de agora abertas as inscrições que são extensivas a todos os combatentes da Guiné, tertulianos ou não, seus familiares e amigos convidados; e pessoas de algum modo ligados à Guiné-Bissau, naturais, cooperantes, etc.

As inscrições fecharão no dia 23 de Abril, domingo, ou quando se atingirem as 200.

Os camaradas e amigos que se inscreverem pela primeira vez irão receber um crachá, em formato Power Point, enviado atempadamente pelo nosso camarada Miguel Pessoa, que deverão imprimir e exibir durante o Convívio.
Aqueles que sendo repetentes, extraviaram os crachás do ano passado, deverão solicitar uma segunda via.

Vamos então relembrar o essencial:

Preço do almoço e lanche - 35,00€ (adultos)
Crianças até aos 12 anos - 18,00€

Alojamento no Palace Hotel:
single - 50,00€
duplo - 60,00€ 

Ementa do Almoço e Lanche

Aperitivos – Terraço Sala D. Diniz (em caso de mau tempo será no Hall D. Diniz) – 13H00 

Saladinha de Polvo 
Salada de Bacalhau 
Salada de Atum 
Salada de feijão-frade com orelha grelhada 
Salada de Ovas 
Meia desfeita de bacalhau 
Salgadinhos variados 
Presunto fatiado 
Meia concha de mexilhão com vinagreta 
Tortilha de camarão 
Pezinhos de coentrada 
Choquinhos fritos à Algarvia 
Joaquinzinhos de escabeche 
Sonhos de bacalhau 
Coxas de frango fritas à nossa moda 
Cogumelos salteados c/ bacon 
Guisado de dobrada 

Almoço – Sala D. Diniz – Menu Servido - 14H00

Sopa Rica de Carne 
Lombo Recheado com alheira com batata no forno e legumes 
Pudim de Pão e maçã collis de caramelo e refresco de baunilha

Lanche – Sala D. Diniz – Buffet – 17H30/19H00 

Roast Beef 
Carnes frias com molho tártaro 
Enchidos da região grelhados 
Queijos variados 
Charcutaria variada 
Azeitonas com laranja e orégãos 
Franguinho assado
Batata Chips 
Salada de tomate
Salada de alface Salada de cenoura
Salada de Pepino 
Mesa de sobremesas 

Bebidas nas refeições: Vinho branco e tinto ‘Fontanário de Pegões’
Vinho Verde (Branco e Tinto) 
Água mineral, sumos de laranja e cerveja 
Café e digestivo nacional

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Os organizadores do Convívio
Luís Graça
Joaquim Mexia Alves
Miguel Pessoa
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Estas e outras informações podem ser consultadas no poste de 16 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16959: XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 29 de Abril de 2017 (1): Primeiras informações

Guiné 61/74 - P17113: O nosso blogue em números (41): O Jorge Araújo registou ontem, dia 6, às 11h11, o nº 7777777 no nosso contador de visualizações: uma capicua perfeita e irrepetível... Na próxima (77777777), daqui a 7 décadasa, já estaremos todos a dormir o sono dos justos... Os heróis, poucos, esses terão um lugar especial no Olimpo...

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Imagem do contador do nosso blogue, com a situaçãpo de ontem, às 11h11. Fonte: Jorge Ara+ujo (2017)


I. Mensagem, com data de ontem,  ÀS 11H42, Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CAR  3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974), nosso grã-tabanqueiro e colaborador permanente:

Caro Luís,

Bom dia.

Acaso possa interessar, como elemento histórico e estatístico de visitas ao n/ blogue, anexo o registo obtido às 11h11 de hoje:

7777777.

Boa semana.

Um abraço,

Jorge Araújo.


II. Resposta do nosso editor:


Jorge, tens jogar no Euromilhões!...

Essa, vou publicar... É uma capicua perfeita e absolutamente irrepetível... A próxima seria 77 milhões 777 mil e 777 visualizações... Ou seja, admitindo, na melhor das hipóteses que o nº de visualizações cresce um milhão por ano, daqui a 7 décadas, lá para o final do séc. XXI... Nessa altura estaremos  todos a dormir o sono dos justos....

Agora a acrescenta mais 1,7 mihões, relativos ao período de 23/4/2004, início do blogue, a maio de 2010 (e não de 2014!, como por lapso  vinha indicado, uma "maldita gralha" que "resistiu"ao nosso olho clínico)...   Teemos assim 9,5 milhões de visualizações  no total... a camuinho dos 10 milhões a atingir ainda este ano...

Como vais tu ?... Eu há um mês como "jubiliado", mas a continuar a trabalhar para a Escola e a pensar que tenho todo o tempo do mundo... Uma treta, é uma ilusão... Contimua a ser um bem precioso. único,o tempo!

Ab. fraterno. Luis

PS - Passas, a partir de hoje, a ter o estatuto de colaborador permanente do nosso blogue....



Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: evolução do nº de visualizações de página de 6/2/2017 a 7/3/2017, às 14h00. 

Fonte: Blogger (2017)


Resumo do mês:

Visualizações de páginas de hoje (até às 14h00) > 693

Visualizações de página de ontem  > 1 851

Visualizações de páginas no último mês  (de 6/2/2017 a 6/3/2017/ > 57 128

Histórico total de visualizações de páginas  (desde maio de 2010) > 7 779 729

Seguidores  > 560


 III. Definição de "capicua"

ca·pi·cu·a
(catalão capicua, de cap, cabeça + i, e + cua, cauda)

substantivo feminino

1. Número que se lê igualmente da direita para a esquerda ou vice-versa e ao qual se atribui boa sorte (ex.: 1467641 é uma capicua).

2. [Jogos] Pedra que, no jogo do dominó, pode fazer dominó ou ganhar a partida, deslocando-a para um e outro lado.

"capicua", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/capicua [consultado em 07-03-2017].

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Nota do editor:

Vd. últimos postes da série:

9 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16934: O nosso blogue em números (41): No final de 2016, atingíamos um total de 66 600 comentários (mais 5200 do que em 2015)... O número médio de comentários por poste é ligeiramente inferior a 4... Os nossos leitores continuam a vir ao blogue, a ler-nos e comentar-nos, não obstante o sistema, nada amigável, do Blogger, que filtra o SPAM

7 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16928: O nosso blogue em números (40): No final de 2016, atingimos um total de 9,3 milhões de visualizações... Quem nos visita, vem sobretudo de Portugal (41,9 %), EUA (24,9 %), Brasil (6,8 %), Alemanha (4,6 %) e França (4,3%)

5 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16922: O nosso blogue em números (39): Em 13 anos, de 23/4/2004 até ao final de 2016, publicámos 16890 postes, e a Tabanca Grande tem hoje 731 membros (51 dos quais falecidos)


Guiné 61/74 - P17114: Parabéns a você (1218): António Marques Lopes (DFA), Cor Art Ref, ex-Alf Mil Art da CART 1690

Guiné 61/74 - P17115: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte V: o grupo cénico-musical que atou nas ilhas de São Viicente, Sal e Santo Antão...

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"Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.)


Parte IV (pp. 21-25)




Continuação da publicação da brochura "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do Capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.) [, imagem da capa, à esquerda].(*)

O autor é José Rebelo, Capitão SGE que foi em 1941/43 um dos jovens expedicionários do RI I1, então com o posto de furriel. Não sabemos se ainda hoje é vivo, mas oxalá que sim, tendo então a bonita idade de 96 ou 97 anos. Em qualquer dos casos, este nosso velho camarada é credor de toda a nossa simpatia, apreço e gratidão.

O nosso camarada Manuel Amaro diz-nos que o conheceu pessoalmente: (...) "Por volta de 1960, fez a Escola de Sargentos, em Águeda e após promoção a alferes, comandou a Guarda Nacional Republicana em Tavira, até 1968. Como homem de cultura, colaborava semanalmente, no jornal "Povo Algarvio", onde o conheci, pessoalmente. Em 1969, já capitão, era o Comandante da Companhia da Formação no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa." (...)

A brochura que estamos a reproduzir é uma cópia, digitalizada, em formato pdf, de um exemplar que fazia parte do espólio do Feliciano Delfim Santos (1922-1989), que foi 1.º cabo da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11, pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).

O então furriel José Rebelo,
expedicionário do 1º batalhão
do RI 11
Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do Governador Civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada com diversas fotos, tem 76 páginas, inumeradas.


O batalhão expedicionário do Onze [RI 11, Setúbal] partiu de Lisboa em 16 de junho de 1941 e desembarcou na Praia, ilha de Santigao, no dia 23. Esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão. A

Sabemos, por este cronista, que os "expedicionários do Onze" tinham um grupo cénico-musical que fez espectáculos nas ilhas por onde passou (São Vicente, Sal e Santo Antão), Na  ilha de São Vicente, atuaram uns dias depois da hegada, logo nos dias 6, 7,  9 e 10 de julho de 1941 (domingo, segunda-feira, quarta-feira e quinta-feira, respetivamente). No Mindelo, fizeram récitas, muito ao gosto da época, no Teatro "Eden-Park". O encenador era o tenente Manuel Bertrand Vila Nova, e o maestro da orquestra (15 elementos) era Jaime Gouveia, ele próprio compositor, O próprio José Rebelo era um dos atores do grupo.




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(Continua)
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Guiné 61/74 - P17116: Convívios (781): 30º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha: 16 de março de 2017, 5ª feira, restaurante "O Nosso Cantinho", rua das Tojas, nº 192 A, Carrascal de Alvide, Cascais. Inscrições até dia 13... (Manuel Resende)

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Caros “Magníficos”, vai-se realizar no próximo dia 16 de março de 2017, terceira quinta-feira do mês de Março, o 30.º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "O NOSSO CANTINHO", já conhecido de convívios anteriores, e cuja morada, para os que não sabem, aparecerá no fim desta mensagem.

INSCRIÇÕES ATÉ 13-03-2017 – (segunda-feira)

Como de costume, as inscrições são feitas da mesma forma, ou seja:

- No Facebook da Tabanca da Linha, clicando em "VOU" (não esquecer de indicar o número de pessoas).

- Por e-mail ou telefone:

jorge.v.rosales@gmail.com  
 914 421 882





manuel.resende8@gmail.com  
919 458 210




E M E N T A

(i) Entradas: - Pão, azeitonas, paio, queijo fresco, salgados, manteiga

(ii) Sopa: - de legumes

(iii)  Prato: -Bacalhau à lagareiro com batatinhas e grelos

(iv) Sobremesas: -Frutas e doces à escolha

(v) Cafés

(vi) Bebidas: - vinho branco e tinto do Douro, cerveja, sumos, águas

Nota: Quem não quiser este prato pode pedir outro em alternativa, dos que houver disponíveis. Deverá fazer o pedido à chegada, para que tudo saia ao mesmo tempo.

Preço: 20 €

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Como chegar até lá:

Restaurante "O Nosso Cantinho"
2755-010 Cascais

Este restaurante fica situado em Alvide - Cascais, junto à A5, na saída para Alvide, frente às antigas instalações da Mercedes.

Quem vem de Lisboa pela A5 sai para Alvide, e entra na Terceira Circular de Cascais (que vem do Hospital). Existem aí uns semáforos. Sair para a esquerda e logo a seguir outra vez à esquerda.

Rua ou Estrada das Tojas, nº 192-A.

Apareçam. 
Um abraço a todos
Manuel Resende
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Nota do editor:

Último poste da 28 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17092: Convívios (780): Encontro do 50º aniversário do regresso da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67) : Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017... Missa de ação de graças, concelebrada pelo padre Vitor Melícias e pelo capelão da Escola de Sargentos do Exército (ESE)

Guiné 61/74 - P17117: Blogpoesia (497): Neste dia da Mulher, um poema de Juvenal Amado, dedicado à sua companheira de sempre

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1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 3 de Março de 2017, trazendo-nos um poema dedicado à sua companheira de vida:

Está a chegar o dia da mulher, por isso vai alguma coisa para uma mulher lutadora, abnegada e presente
JA


O DIA DA MULHER

Um sonho simples é
Aspirar o teu perfume
Percorrer com dedos a tua pele
Andar de mãos dadas,
pôr-do-sol a projectar
as nossas sombras juntas

Beber água fresca das tuas mãos,
adormecer nos teus braços
Sentir o teu corpo ao nascer do dia
Ver o mar pelos teus olhos
Embriagar-me no azul do nosso céu.

Sentir no rosto o teu alento
O amor que de nada precisa
Porque está completo
Extravasa e jorra por montes e vales
Acalma tormentas e tempestades

Existe porque nos encontrámos um dia
Sem exigências vivemos um de cada vez
Porque nunca nos fartamos
Ansiamos sempre pelos reencontros
Mulher és minha como sou teu
E as palavras serão para sempre inúteis
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17107: Blogpoesia (496): "Sol envergonhado..."; "Chave à porta..." e "Tentativas falhadas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17118: Os nossos seres, saberes e lazeres (202): Central London, em viagem low-cost (4) (Mário Beja Santos)

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Igreja da Santíssima Trindade - Long Melford


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 25 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,
Deambular por Londres traz surpresas. Como se vivia um programa low-cost, escolheu-se um museu gratuito, uma casa portentosa, The Wallace Collection, antes visitou-se o Exército de Salvação, gente amável que ofereceu café e biscoitos, o feitiço dos livros superou a disciplina da carga, saiu-se dali com mais três quilos a abraçar até regressar a casa. Tinha visto o visitante no Museu Berardo obras de Bruce Nauman, foi curioso vê-lo do outro lado da montra, em fato de macaco a montar uma instalação, acenou-se-lhe, o artista veio à porta, confessou-se admiração e teve-se direito a visita guiada a uma imensa traquitana em fase de montagem, o que se reteve foram luzes feéricas sob um teto azul, um género de paraíso da sociedade de consumo. Seguiu-se para Suffolk, o pretexto é visitar uma vila medieval. E viagem prosseguirá, com grande expetativa, até Cambridge, em circunstância alguma o viandante esqueceu essa suprema maravilha da arquitetura que é King's College Chapel.

Um abraço do
Mário


Central London, em viagem low-cost (4)

Beja Santos

O turista vai passar a manhã em Londres, tem agenda completa, à tarde ruma-se para a região de Suffolk, a primeira etapa é pernoitar em Long Melford e daqui para Lavenham, uma cidade medieval que enriqueceu nos tempos prósperos nos negócios da lã. Primeiro, assiste-se a um concerto pela banda do Exército de Salvação, música religiosa. Sempre afáveis, convidaram a assistência a ir tomar café e ir comer uns biscoitos nas suas instalações. O turista cometeu a asneira de andar a ver livros vendidos ao preço da chuva, doravante andará com uns quilos de cultura às costas.



Há edifícios em Londres que têm esculturas preciosas, no caminhar desatento nem damos por elas. Foi exatamente a esperar o sinal verde que o viandante se apercebeu que aquela escultura não era o melhor conjunto de ferros, disse mesmo para si: "Não me digas que é uma escultura da Barbara Hepworth, a minha deusa da escultura contemporânea". E era mesmo.


Ferro forjado em Londres há às toneladas. Na II Guerra Mundial muito deste ferro foi requisitado para fazer navios e aviões, talvez canhões e outras coisas. Houve que refazer, e no refazer encontraram-se soluções engenhosas, com aditamentos requintados. O turista especou-se a ver, custou muito, não se importaria de viver assim.


The Wallace Collection é uma belíssima coleção que se pode visitar gratuitamente, resulta de doações em cinco gerações sucessivas dos marqueses de Hertford e Sir Richard Wallace. Há para aqui muita armaria, mobiliário francês e holandês, até ali se encontrou um baú Namban que meteu negócios portugueses. Na pintura, prima o classicismo, o turista pode deambular a ver relógios, porcelanas, bustos, majólicas, não falta Rubens e Boucher, este está aqui representado a pintar Madame de Pompadour. O viandante deu-se sempre muito bem com a pintura de Frans Hals, estava um pouco cansado e compartilhou dos luxuriantes detalhes da indumentária e da figura. O quadro chama-se “O cavaleiro a rir”, mas é pura ilusão de ótica dada pelo olhar amarotado e pelos bigodes retorcidos. Seja o que for, ninguém nega a obra-prima.


É dia de sol, os londrinos, o viandante já parou, reverenciado, a ver a esplêndida sala de espetáculos que é Wigmore Hall, teve até a esperança que houvesse um concerto com a Maria João Pires, agora vai-se até ao parque através de Wigmore Street, ali bem perto, e come-se o almoço, os londrinos estão felizes também tiveram sorte com as amenidades do Outono. Curioso este parque em Cavendish Square, com imenso bulício à volta, estamos praticamente no coração de Londres. Prossegue agora o passeio para ir buscar a bagagem e partir para Suffolk, no caminho a bela surpresa de ver a montagem de uma instalação de Bruce Nauman, artista contemporâneo que o viandante aprecia, foi convidado a vir à tarde, infelizmente não pode ser.


The Black Bull é uma reconstrução de albergaria que vem dos tempos dos Tudor, o viandante abre uma exceção low-cost, desta feita tive direito a pequeno-almoço com ovos e bacon e algo mais. Chegou-se a Long Melford, vila que tem a caraterística, bem rara em terras inglesas, de se estender pelas bermas da estrada. Foi o que de mais perto se encontrou para chegar ao objetivo, Lavenham uma cidade medieval construída entre 1450 e 1500 e escrupulosamente tratada. Ali se passará o dia, não haverá meios para se satisfazer um dos sonhos do viandante, ir a casa de Gainsborough, um dos mais importantes pintores do romantismo, não é fácil superar o problema dos transportes.



Long Melford estava radiosa para receber o turista, um céu claríssimo, aves a esvoaçar, o turista consulta o mapa, sabe que há duas casas senhoriais visitáveis, daquelas que custam 16 libras cada, e uma portentosa igreja, a da Santíssima Trindade. Uma das descobertas do viajante é que anda perplexo com a fronteira ténue entre o catolicismo e a igreja anglicana, vê santos nas igrejas, rituais semelhantes, alguém lhe explica que a Alta Igreja está cada vez mais próxima do catolicismo, não será por acaso que Roma e Cantuária se reúnem tão amiudadas vezes. Mais uma questão de estudo. O mais importante é registar a beleza do templo, mais por fora do que por dentro, pena que a câmara do viandante não consinta em dar um plano integral de tão bela construção. Fim do passeio, toma-se autocarro para Lavenham, tudo o resto do dia será para passar aqui, mas tarde novo transporte para a penúltima etapa, Cambridge.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17101: Os nossos seres, saberes e lazeres (201): Central London, em viagem low-cost (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17119: (De) Caras (68): Buruntuma, 1961: o enfermeiro Cirilo e o professor primário Timóteo Costa... (Jorge Ferreira / Mário Magalhães)

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Guiné- Bissau > Bissau > 2000 > O Hospital Nacional Simão Mendes (, antigo enfermeiro da época colonial, militante do PAIGC, morto em combate no Morés, e sobre o qual se sabe muito pouco).


Foto: © Albano Costa (2000). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Jorge Ferreira (ex-alf mil da 3ª CCAÇ,  Bolama, Nova Lamego,  Buruntuma e Bolama, 1961/63), autor do livro "Buruntuma: algum dia serás grande!... Guiné. Gabu, 1961-63" (ed. autor, Oeiras, 2016).

Data: 8 de março de 2017 às 17:04
Assunto: Buruntuma


Caro Luís:


Estou neste momento reunido com Mário Magalhães,  puxando pelos "neurónios", uma vez que a questão que levantas nos obriga a recuar mais de 50 anos. (*)

Quanto ao enfermeiro  Cirilo (???) o único facto a relatar é que (anteriormente à minha deslocação para Buruntuma), estando à frente do destacamento o Furriel Mário Magalhães [MM]. houve um acidente com arma de fogo casual e,  ao ser requisitado os serviços do Cirilo,  o seu comportamento
foi verdadeiramente exemplar (MM dixit).

O poderoso régulo de Canquelifá, que morava
 em Buruntuma, Sene: c. 1961/62.
 Cortesia de Jorge Ferreira (2016)
Não se deve ignorar que os enfermeiros [civis] tinham uma actividade extremamente nómada pois
diariamente visitavam as nabancas com enfermarias onde permaneciam os doentes com "doença do sono" ou "lepra". Convirá referir que a Missão do Sono da Guiné era uma estrutura sanitária altamente prestigiada cuja acção era relevada pela OMS [Organização Mundial de Saúde]..

Não há registo de qualquer acção "suspeita" do enfermeiro. quer durante a permanência em Buruntuma do MM ou de mim próprio.

Quanto ao dito professor Timóteo [Costa]  (???) não se pode ignorar que as nossas instalações eram frontais à escola, junto a ela funcionavam as nossas instalações sanitárias, e existia uma morança habitada por um português que tinha sido deportado por "razões políticas" e que se tinha "cafrealizado", vivendo com uma mulher nativa e vários filhos.

Por outro lado, não se deve ignorar que a Escola era frequentada diariamente pelos militares que não estavam envolvidos em "operações de nomadização" ou "escalas de serviço",  na sua função de apoio escolar.

Por tudo isto parece-nos que o professor  não tinha condições para se dedicar a actividades subversivas. Não se deve ignorar que o próprio Corpo de Guardas do Régulo  [Sene Sané] exercia uma importante acção de vigilância que muitas vezes pôs em causa a "lealdade" dos informadores do
responsável pelo posto da PIDE.

Já após o regresso do MM a Portugal, talvez por volta de 1966 (???), este foi abordado em
Lisboa pelo professor de modo muito cordial ...

E é tudo quanto se nos oferece dizer (MM / JF) sobre as questões que levantas no teu / nosso Blogue.

Saudações-

JF / MM


ET -  O MM manifestou todo o interesse em aderir à Tabanca Grande !!!


2. Comentário do editor LG:

Caros Jorge Ferreira e Mário Magalhães:

Como eu já tinha dito em comentário ao poste P17108 (*),  o resumo do teor do documento em causa, feito pelos técnicos da Fundação Mário Soares,  parece-me "ambíguo" ou "confuso": (...) "Assunto: Transmite um recado do enfermeiro Cirilo, que se encontra em Buruntuma como professor, sobre o trabalho em prol da luta de libertação."

Timóteo Costa, que é o remetente, transmite a Marcelo Ramos de Almeida ("Marcel", para a família e amigos mais íntimos...), representante do PAIGC em Koundara, Guiné-Conacri, um recado do Cirilo, enfermeiro, que está em Buruntuma, a fazer trabalho político para o PAIGC, ao mesmo
tempo que é enfermeiro pago pela administração portuguesa...

Sem dúvida que, e à falta de médicos, os enfermeiros da administração colonial tiveram um papel importantíssimo na luta contra a doença do sono, a lepra e outras doenças tropicais, bem como no apoio sanitário às populações, antes da guerra. Também é verdade que houve, de resto, vários enfermeiros aliciados pelo PAIGC (ou melhor, PAI) nesta época (1961)... O Simão Mendes é um deles. (Morreu em combate, e deu o nome ao antigo hospital central da época colonial, em Bissau)

Conclui-se, do vosso depoimento que o tal Cirilo, enfermeiro, era conhecido das NT e fez inclusive tratamentos a um militar ferido, num acidente com arma de fogo, da CCAV 252,  quando o  fur mil cav Mário Magalhães comandava o destacamento de Buruntuma, ainda antes da chegada do Jorge Ferreira (em outubro de 1961).

O Timóteo Costa é que é o professor que acaba de chegar a Buruntuma (em 1961, não sabemos em que dia e mês)... O Mário Magalhães tê-lo-á conhecido em Buruntuma, em 1961, e reconhecido em Lisboa, por volta de meados dos anos 60. Devia ser cabo-verdiano, (**)

Ficamos gratos a ambos pelo vosso depoimento e felizes pelo facto de o veterano Mário Magalhães (mais antigo que o Jorge Ferreira em Buruntuma, talvez dois ou três meses!...) aceitar o convite para integrar a nossa Tabanca Grande...

De facto, é uma "preciosidade" encontrar camaradas de 1961 (!) com "cabeças ainda frescas" como vocês, Jorge Ferreira e o Mário Magalhães!.. E mais do que isso: prontos a partilhar com os seus camaradas as memórias (boas e más) de há 50 e tal anos atrás!

Recorde-se que a CCAV 252 foi a primeira companhia de cavalaria a ser mobilizada para a Guiné (agosto de 1961 / outubro de 1963), tendo como unidade mobilizadora o RC 3. O Jorge Ferreira, por sua vez, foi mobilizado para o TO da Guiné em maio de 1961, estebve a dar instrução no CIM de Bolama, foi para Nocva Lamega, para a 3ª CCAÇ, e ao fim de 3 meses, é colocado no destacamento de Buruntuma, onde esteve 11 meses.  Antes de acabaer a comissão, em junho de 1963, ainda voltou ao CIM de Bolama.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17108: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral e outros / Casa Comum (21): O professor primário e o enfermeiro de Buruntuma, em 1961... Trabalhavam para o PAICG na cara da PIDE ?!...

Guiné 61/74 - P17120: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte III: Gilbraltar, Santa Cruz de Tenerife, oceano Atântico, a caminho das Caraíbas, no navio cruzeiro "Costa Luminosa" (17 pisos, 93 mil toneladas, 2800 passageiros, 950 tripulantes)...

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Parte II (pp. 7 a 10)



Texto, fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo" do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 175 referências. É casado com a médica chinesa Haiyuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

Partida do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. 




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