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Channel: Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Guiné 61/74 - P18199: O nosso blogue em números (49) em c. de 14 anos (164 meses) entraram 4,7 novos membros, por mês, para a Tabanca Grande.: éramos 111, em junho de 2006, somos 765 em dezembro de 2017... Neste último ano tivemos 9 "baixas", por falecimento.

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Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


1. No final de 2017, a Tabanca Grande contava com 765 membros, designados por "grã-tabanqueiros"... No final de 2016, éramos 731... Entraram, portanto, durante o ano, 34 novos membros, mais 13 do que em 2016 (n=21). (*)

Em junho de 2006, éramos 111... De abril de 2004 a maio de 2006, entram em média, 5,3 novos membros por mês (!)... Tratávamo-nos, uns aos outros, "tertulianos".  O nosso coeditor Carlos Vinhal ainda usa o termo "tertuliano", membro da Tertúlia da Guiné" ou "Tertúlia dos Ex-Combatentes da Guiné". O termo foi progressivamente substituído por "Tabanca Grande", e passou a incluir os camaradas e os amigos da Guiné...

Mais do que triplicámos em  pouco mais do que três anos e meio (de junho de 2006 a dezembro de 2009), passando a ser  390 membros da Tabanca Grande: crescimento médio mensal = 6,5.
De 2009 (n=390) a 2012 (n=595), o crescimento médio mensal continuou alto (5,7). De então para cá, esse indicador tem vindo a  diminuir: é agora de 2,8  por mês. Em todo o caso, melhor em 2017 (2,8) do que em 2016 (1,7).

No conjunto dos c. de 14  anos da nossa história (164 meses),  tivemos em média 4,7  novos membros por  mês, o que é notável.

 2. No ano de  2017 tivemos 9 "baixas" (por falecimento), mais 3 do que em 2016. Lembremos aqui, por ordem alfabética, os nomes dos 8 camaradas e 1 amigo, inscritos formalmente na Tabanca Grande, que "da lei da morte se foram libertando":


Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017)
Aurélio Duarte (1947-2017)
Carlos Filipe Coelho (1950-2017)
Inácio J. Carola Figueira (1950-2017)
Ivo da Silva Correia (c 1974-2017)
Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017)
José Luís Pombo Rodrigues (1934-2017)
Mário Vasconcelos (1945-2017)
Nelson Batalha (1948-2017)

São agora já 61 os camaradas e amigos já falecidos nestes 13 anos e tal de existência do nosso blogue. Mas podem eventualmente ser mais. Há membros da nossa Tabanca Grande que não têm dados "sinais de vida", nos últimos anos, contactando-nos, escrevendo-nos, telefonando-nos, aparecendo nos convívios das diversas tabancas, etc.(**)

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Notas do editor:



Vd. postes anteriores:

8 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18190: O nosso blogue em números (47): o nº de visualizações de páginas /visitas em 2017 foi de 800 mil (média diária: 2192)... Em 2018, vamos continuar a "blogar" até quando "todos" quisermos e pudermos...

8 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18189: O nosso blogue em números (46): postes (1262) e comentários (4100) publicados em 2017


Guiné 61/74 - P18200: (De)Caras (104): Patrício Ribeiro, nascido em Águeda, criado em Angola, "filho da escola" da Armada, ex-grumete fuzileiro, empresário em Bissau, ator e observador da história recente da "pátria de Cabral", o "homem certo no sítio certo"... Ou melhor: o "tuga" que sabe mais da Guiné, e para quem a Guiné "sabi di mais"...

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Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Orango > 7 de outubro de 2008 > O Patrício Ribeiro no--- Hotel de Orango, na ilha mais atlântica da Guiné-Bissau, a 100 km de Bissau, ou seja, a 7 horas de canoa "nhominca", de Bissau..

[O nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro é um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bssau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné-Bissau > Bissau > Impar Lda > 15 de abril de 2017 > Foto da página do Facebook da Impar Lda: 25 anos na Guiné-Bissau, a trabalhar na área da energia e comunicações: energia solar geradores, bombas de água solar, rádios VHF/HF, GPS, radares... Ver aqui a sua galeria de projetos realizados, do arquipélago dos Bijagós à fronteira com o Senegal e a Guiné Conacri... 100 guineenses (trabalhadores e suas famílias dependem da carteira de encomendas desta empresa, e da sua boa gestão)...

Foto: cortesia da Impar Lda... Ao fundo, o Patrício Ribeiro, de óculos escuros, orientando so trabalhos de montagem de painéis solares...


1. Resposta do Patrício Ribeiro ao comentário do nosso editor Luís Graça (*):

Luís, o comentário que enviei sobre as fotos da praia de Varela, foi a partir da minha lareira nas margens do Vouga [, em Águeda], onde há frio e foi com um copo de tinto na mesa …
Gosto de falar da minha praia de Varela de que adoro; dos banhos na água quente a 30º, das minhas pescarias diretamente para o grelhador, acompanhadas por umas bacias de ostras, etc…

O que escrevi no comentário, é um pequeno resumo dos diversos capítulos vividos naquela época, mas muitos deles ainda os considero 'classificados'…
Quando nos voluntariamos a ajudar os outros, quando pessoas a chorar nos pedem para não os deixar para trás …,   a “formação militar não o permite", vem ao de cima...

E, por força das condições, passamos a ser o elo de ligação entre o resto do mundo e o interior de um país em guerra, de onde não é possível informar os familiares: onde estamos, que estamos vivos … Repara, não havia telefones e as fronteiras estavam fechadas, quer internamente, quer com os países vizinhos e estas últimas estavam a ser bombardeadas. Bissau ficava longe e não  se sabia o que se passava no interior.

E quando do exterior… nos pedem a colaboração, através do nosso “bombolom”, para encontrar esta e aquela pessoa de quem não se tem notícias há muitas semanas … certamente qualquer um de nós ajudaria, se tivesse condições...

Os restantes capítulos vão saindo, quando alguém tocar na "ferida".

Luís, depois de ter saído na canoa nhominca, que, no regresso, na minha presença, carregou da fragata Vasco da Gama a primeira ajuda humanitária para a Guiné, destinada à Missão Católica de Suzana,  eu voltei para Portugal. Não, não fiquei lá...

Mas passados 2 meses regressei à Guiné, via Dakar e táxi aéreo para Bubaque, dali para Bissau em vedeta de guerra, que foi construída no Alfeite e que estava na mão dos militares senegaleses.

De Bissau por vezes saía para Varela, quando recebia um 'papelinho' avisando que era melhor ir dar uma volta… Pegava na minha mochila com uma lata de atum, atravessava a pé as bolanhas e lá ia eu para banhos.

O aeroporto de Bissau, esteve fechado quase um ano…

Quando da morte do 'Nino', tinha ido passar o fim de semana à ilha de  Orango…

Na morte do Ansumane Mané, estava fora de Bissau...Ao reentrar em Bissau encontrei quase uma centena de milhares de pessoas, a saírem a pé. Algumas já iam para lá de Nhacra. Fiz um apelo na rádio RTP África, para mandarem transporte, afim de apanharem as pessoas que estavam a dormir à beira da estrada, sem qualquer condição.

Ao mínimo problema, a estrada principal era fechada a viaturas, em Safim.

Assim. como da morte dos restantes [altos dirigentes do país...], estava fora, por Varela, Contuboel, etc.

Abraço

Patricio Ribeiro

MPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau ,
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau | Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com


2. "Curriculum vitae" (abreviadíssimo...) que o Patrício Ribeiro nos mandou em 10/9/2009 (, devendo acrescentar-se que ele é membro sénior da Tabanca Grande, entrou em... janeiro de 2006):



(i) nasci [em 11 de outubro de 1947,] nas margens do Rio Vouga, centro do mundo, sou vizinho do D. Duarte Lemos, frequentei a Escola Industrial de Águeda;

(ii) fui Fuzileiro (Gr FZ) [, portanto "filho da escola"];

(iii) passei por Bissalanca em 1969, estava muito calor: como não tinha roupa apropriada (tinha deixado o camuflado em Vale do Zebro, na escola de Fuzileiros), mandaram-me seguir para Luanda [, 1969/72]…

(iv) ao fim de uns anos, deixaram-me ir para casa, em Luanda, em 1972...

(v) por lá fiquei até ao último avião, da ponte aérea para Lisboa (, enfim, outras guerras);

(v) a minha família viveu dezenas de anos no Huambo (, antiga Nova Lisbao): pai, mãe e irmãos, etc.

(vi) minha mulher é natural do Huambo;

(vi) por questões profissionais, em 1984 fui para Bissau; 

(vii) gostei, fiquei por lá desde então:

(viii) fundei a Impar Lda: o 'patrão' paga-me para fazer coisas que gosto, em locais de difícil acesso, e porque é uma aventura permanente… já não sei viver sem ela!

(ix) faltam-se 2 660 dias para a reforma… 

Lx, , 10/9/2009

Guiné 61/74 - P18201: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IX: regresso a casa, no N/M Uíge, em 4 de agosto de 1969

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Foto nº 516 > No Uíge, o último adeus à Guiné


Foto nº 517 > Uíge: já no alto mar, no oceano Atlântico


Foto nº 518 > Avistado do Uíge, um navio ao largo [, parece ser um petroleiro]


Foto nº 514 > Bissau: um caça-bombardeiro T6 protege o nosso Uíge


Foto nº 515 > O heli do Spínola, dizendo adeus às tropas embarcadas no Uíge



Foto nº 510 > Militares no convés do Uíge

Guiné > Bissau > Estuário do rio Geba e Oceano Atlântico > N/M UIge > 4 de agosto de 1969 > O regresso a casa...

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69):

Mensagem de 3 do corrente;

Caro Luís e camaradas:

Com os desejos de um Bom ano que agora já vai no seu 3º dia de 2018, com saúde e tudo de bom.
Coincidência, faz hoje 51 anos que assentei praça em Mafra, dia 3 de Janeiro de 67. Foi só para lembrar como era bom ser novo... Voltava de bom grado a reviver tudo do principio.

Vou acabar com as fotos relativas a este capitulo 511 - O Regresso, acho que faz-me bem. Quando puderem ser publicadas, não há pressa nenhuma. (...) 


________________

Nota do editor:



20 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18109: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte III: Foto tirada do T/T Uíge, no nosso regresso, em 4/8/1969: vê-se o T/T Rita Maria atracado na ponte-cais de Bissau, e uma lancha da marinha que nos veio trazer o último militar a embarcar.

17 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18096: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte II: Zona portuária de Bissau e o heli do Spínola a dizer adeus ao T/T Uíge, em 4/8/1969

Guiné 61/74 - P18202: Efemérides (266): Dia Internacional do Obrigado... uma seleção de 12 manifestações, no nosso blogue, de agradecimento e de gratidão, que são dois dos sentimentos mais genuinamente humanos... Um Oscar Bravo (OBrigado) à nossa Tabanca Grande, aos membros do nosso blogue, aos nossos leitores, a todos os que nos visitam, lêem e escrevem, aos nossos editores, aos nossos colaboradores permanentes, a todos os que nos apoiam, direta ou indiretamente (Luís Graça)

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Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)



No Dia Internacional do Obrigado, 11 de janeiro de 2018,  aqui ficam uma dúzia de manifestações de agradecimento e gratidão,  nossos e vossos, editores, autores, colaboradores permanentes, comentadores, leitores, visitantes do nosso blogue, avós, pais, filhos, netos... e todos os de mais  que, direta ou indiretamente, nos apoiam, pelo bem  que mutuamente fazemos uns aos outros através da existência, organização e manutenção desta Tabanca Grande, organizada  em torno do conhecimento e da experiência  comum de uma guerra e de um território, a Guiné entre 1961 e 1974... Aliás, temos uma expressão que traduz perfeitamente esse sentimento: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!"...

São excertos de postes, recolhidos ao acaso, onde surge o descritor "obrigado", "obrigada", "oscar bravo"...


1
Para todos os/as amigos/as e camaradas da Guiné vai o meu/nosso Oscar Bravo (OBrigado). Continuamos a contar com todos/as para, juntos, mantermos vivo este nosso projeto, que já não é nosso, é da NOSSA geração, a tal que se recusa a ser sepultada na vala comum da ignonímia e do esquecimento (Luís Graça, editor)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2015/01/guine-6374-p14111-o-nosso-blogue-em.html

2
Obrigado, pai... Tenho muito orgulho em si (Tiago ). Obrigada, pai, por seres o melhor pai do mundo (Marta): depoimentos dos filhos do Jorge Rosales, no dia do seu 74º aniversário.


3
Obrigado, amigo e camarada Luís,  pelas notícias! De facto, não quis forçar a entrada de um "angolano" na Tabanca Grande, por ter pensado (erradamente) que o Régulo só deixaria entrar na aldeia veteranos "guinéus"! (Mário Leitão).


4
Obrigado aos nossos críticos, anónimos ou não. Obrigado, sem ironia. Obrigado, mesmo. Vejo os seus comentários como um repto, um desafio, não apenas aos editores e colaboradores mais próximos, mas a todos aqueles camaradas da Guiné que acreditaram (e ainda acreditam...) neste projeto de restituição da voz de um geração sofrida e silenciada ou, no mínimo, esquecida... (Editor Luís Graça)


5
Obrigado pelo vosso apoio e ajuda, bjs, Filomena Maria de Sousa Parreira [filha de Francisco Parreira (1948-2012), ex-1º cabo mec elect auto, Grupo de Artilharia nº 7, Bissau, 1970/72]


6
Obrigada, pelo trabalho no blog “A Nossa Quinta de Candoz” que diriges, mas que também é nosso, por todos os versos, frases e cantilenas que, graciosamente,  redigiste ao longo destes anos, em diferentes situações, para toda a nossa família, (mas eu neste aspeto sinto-me a mais sortuda… a mais privilegiada é verdade… porque só para mim fizeste muitos, muitos versinhos!)  (Ana Carneiro, nos 70 anos do nosso editor, Luís Graça).


7
Obrigada a todos, em meu nome e da Cidália, por nos terem permitido entrar nas vossas vidas [Cátia Félix, amiga da Cidália, esposa do nosso camarada António Ferreira, 1º Cabo Trms, CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74), morto em 17 de Abril de 1972 na emboscada do Quirafo, e mãe da filha que que ele nunca chegou a conhecer]


8
Obrigada, ex-combatentes. Esta gente continua a ter no seu ADN a garra e o espírito lutador que ganharam na sua juventude (Fátima Ascensão, Diário de Notícias da Madeira, 23 de abril de 2017).


9
Sr. Carlos Vinhal, muito obrigada pelo carinho. Muitos Parabéns por terem criado um blogue de tremenda importância social! Tal deve ser constantemente reconhecido, deve ser premiado e quiçá ser objecto de estudo académico. Tudo farei por divulgar o vosso projecto! (Mafalda Ramos, filha do nosso camarada Armando Ramos, ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BCAÇ 1911 (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71)


10
Obrigada, Carlos Vinhal, meu amigo desconhecido, mas não tanto, que não dê para trocar umas palavras amigas. Obrigada, meu Amigo, por este ano que passou fugindo.  Nem calcula quantas horas passo aqui frente ao computador, é um vício! mas acredita que ligo o computador e vou direitinha ao nosso Blogue? Podem orgulhar-se do vosso trabalho! (Felismina Costa, nossa amiga, grã-tabanqueira, poetisa).


11
O meu OBRIGADA a todos os Camaradas que enviaram mensagens de Solidariedade, Amizade, Carinho.... tudo contribuiu para que estes dois últimos meses de vida do Ranger Humberto Duarte tivessem um pouco mais de qualidade, e, para que ele e eu continuássemos a sorrir apesar da difícil picada que estávamos a atravessar. (Ana Duarte,  esposa  do nosso Camarada Humberto Carneiro Fernandes Duarte, ex- Fur Mil Op Esp / Ranger do BCAÇ 4514, Cantanhez -1973/74, falecido em 28 de fevereiro de 2010).

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/03/guine-6374-p5945-in-memoriam-38.html

12
À nossa Tabanca Grande, aos membros do nosso blogue, aos nossos leitores, a todos os que nos visitam, leem e escrevem, aos nossos editores: um especial OSCAR BRAVO (obrigado). Aos autores mais comentados, os meus parabéns.(Luís Graça, editor).

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2009/11/guine-6374-p5214-o-nosso-blogue-em.html

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18012: Efemérides (265): 25/26 de novembro de 1967: a notícia da tragédia diluviana na Região de Lisboa que chegou a Gadamael pelas ondas hertzianas (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

Guiné 61/74 - P18203: Notas de leitura (1031): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (17) (Mário Beja Santos)

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Escola Missionária de Bolama


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Outubro de 2017:

Queridos amigos,

Este documento é intencionalmente extenso, não conheço melhor comprovante, relatório tão meticuloso e protesto quase virulento, como este.
Trata-se de responder ao governador do BNU sobre uma alegada revolta de Felupes que ocorreu em Novembro de 1933, fruto da queda de um avião francês, que se presumia ter acontecido na região de Susana. O que aqui se expõe,  demonstra de forma eloquente que era precária a posição portuguesa em toda aquela região, cambiava a violência, não se pagava o imposto de palhota, cortavam-se cabeças por tudo e por nada. É um episódio tão impressionante que o historiador René Pélissier lhe dedicará inusitada atenção, como veremos mais adiante.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (17)

Beja Santos

O ano de 1933 vai ser dominado pela chamada revolta dos Felupes. Em 10 de Novembro desse ano o BNU sede envia o seguinte telegrama:

“Este telegrama é absolutamente confidencial e só poderá ser decifrado pelo gerente devendo na sua ausência ser devolvido indecifrado ao expedidor – telegrafe se o gentio se revoltou – telegrafe se ordem restabelecida quem e como foi sufocada alteração. Telegrafe as notícias que puder pormenorizando. Este telegrama é absolutamente confidencial para toda e qualquer pessoa seja como for a sua categoria.

A 13, por carta talhada, o gerente de Bissau escreve ao governador relativamente à revolta dos Felupes:  

“Há cerca de três meses levantou voo de Dakar, com destino a Ziguinchor, um avião francês tripulado pelo aviador Gatti, acompanhado de um observador.

Por qualquer razão desconhecida – diz-se que fugindo a um tornado, o avião desviou-se da sua rota e presume-se que por falta de gasolina tenha caído em território desta colónia, a uns 40 ou 50 quilómetros da fronteira Norte, na região dos Felupes, área do posto civil de Susana, circunscrição de Canchungo.

O governo francês, supondo que o avião tenha de facto caído nesta região, solicitou do nosso que mandasse proceder às necessárias pesquisas. Diz-se que essas pesquisas foram efetuadas sem resultado. Há 20 dias, pouco mais ou menos, apareceram na área do posto de Susana a mulher do aviador desaparecido e uma outra senhora francesa acompanhadas de um sargento aviador francês e ainda de um outro indivíduo que se dizia comerciante de Dakar, para fazerem, por sua vez, novas pesquisas.

O administrador da circunscrição não consentiu nessas diligências sem autorização superior, e essa equipa francesa foi a Bolama conferenciar com o governador, regressando ao posto de Susana acompanhada pelo ajudante de campo deste.

Em breve começaram a circular boatos sobre o aparecimento de vestígios do avião e dois ou três dias depois seguia também para Susana o Diretor dos Serviços e Negócios Indígenas, Capitão Velez Caroço. Afirma-se que este oficial, depois de iniciadas novas pesquisas, notando certo retraimento do gentio, receando qualquer agressão dos Felupes (gentio da região) que desde sempre se tem mantido mais ou menos rebelde, pagando o imposto positivamente quando e como quer, sem que lhes tenha sido aplicado o corretivo necessário por falta de recursos, cobardia ou desleixo, resolveu de acordo com o governador, não continuar as suas diligências sem se fazer acompanhar de uma pequena força militar.


No dia seguinte ao da ida daqueles oficiais a Bolama, regressaram a Bissau com um pequeno contingente, e daqui partiram de novo para Susana, armados e municiados. Os Felupes receberam-nos hostilmente, travando-se um combate em que morreram dois soldados, ficando vários feridos. O facto foi comunicado ao governador, seguindo imediatamente para o local, com reforços, o Capitão Sinel de Cordes, comandante da polícia. Chegado este a Susana, e posto ao corrente do que se tinha passado, entendeu, e muitíssimo bem, que era preciso castigar energicamente os revoltosos, tanto mais que já o ano passado, na mesma região, tinham cortado a cabeça a cinco soldados, presumindo-se que outro tanto tivessem feito aos tripulantes do avião desaparecido.

O Capitão Sinel de Cortes veio a Bissau conferenciar com o governador, no dia 4 do corrente, e no dia seguinte regressava a Susana com mais reforços, sendo expedidas ordens para de Bolama virem todos os oficiais e soldados disponíveis que aqui chegaram cerca de meia-noite desse dia, seguindo ato contínuo por via marítima para a região revoltada.

Entretanto, era mandado chamar o nosso chefe dos contínuos, Bora Sanhá, alferes de 2ª linha, com bons serviços prestados em anteriores campanhas, para se lhe ordenar que organizasse o mais rapidamente possível um grupo de irregulares Fulas, com o fim de coadjuvarem com as tropas regulares na ação decisiva que o momento impunha contra os Felupes. Poucas horas depois, Bora Sanhá escolhia 100 homens da sua confiança, alguns deles seus antigos companheiros de armas, dos 300 que se lhe ofereceram, depois de armados e municiados, embarcaram para Jufunco (povoação revoltada). Ao mesmo tempo, foram expedidas ordens para em Bambadinca serem mobilizados mais 200 irregulares Fulas, também comandados pelo Tenente de 2.ª Linha Bonco Sanhá, primo de Bora, um dos quais foi a Lisboa o ano passado, à Exposição Industrial.

Corriam os mais desencontrados boatos sobre o que se estava a passar com os Felupes. Dizia-se que aos aviadores desaparecidos tinham sido cortadas as cabeças, operação de especial simpatia dos Felupes, para, depois de descarnadas por elas beberem vinho de palma com sangue de galinha, como manda o ritual.

Tinham sido mortos dois soldados nossos e feridos outros, em combate; foram mandados para a região revoltada, todos os soldados disponíveis, 100 ou 120; mobilizaram-se irregulares, etc; mas as autoridades, guardando uma reserva que nada justifica, a nosso ver, informavam que nada se passava de anormal, que se tratava de um simples caso de polícia! O Capitão Sinel de Cortes assumiu o comando de regulares e irregulares, ao tudo cerca de 400 armas e cinco metralhadoras, começando a bater os revoltosos com a energia que o momento impunha. Os revoltosos, porém, batidos mas não derrotados, refugiavam-se entre pântanos de onde era difícil desalojá-los por falta de artilharia, visto estarem fora do alcance das metralhadoras e espingardas, fazendo pequenos ataques de guerrilhas, dizimando dezenas de auxiliares. A região é muito pantanosa e portanto moroso o avanço das nossas forças.

O governador seguiu para o campo de operações, e durante quatro dias estivemos, em Bissau, sem quaisquer notícias. Sua Excelência regressou a esta cidade em 11, à noite, e no dia seguinte, aproveitando o convite que nos fez para irmos falar, tivemos ocasião de trocar impressões sobre o que se passava com os Felupes.

Disse-nos que, apesar das grandes dificuldades de avanço das nossas tropas, o gentio, desalojado, se tinha posto em fuga, sofrendo importantes baixas; resolvera dar por findas as operações, deixando apenas na região uma pequena força para policiamento, visto que os acontecimentos não tinham a gravidade que se lhes atribuía; que se tratava apenas de um caso de polícia, já solucionado, e que se iniciaria uma política de atração do indígena, que se deve ter refugiado no território francês, criando-se para início dessa política, a circunscrição civil de S. Domingos, que abrangerá toda a região dos Felupes.

Ao senhor Ministro das Colónias devem ter sido prestadas outras informações mais claras e precisas, pois nós julgamos saber que a situação de Susana, conquanto não seja grave, é, todavia, um tanto melindrosa. As nossas tropas, à custa de sacrifícios grandes, têm efetivamente avançado e arrasado todas as povoações por onde têm passado, incendiando as palhotas e destruindo as culturas, dizimando os revoltosos sem contudo os derrotar.

A revolta, que teve início na tabanca (povoação indígena) de Jufunco, estendeu-se a outras povoações, como Egino, Bolor e Lala, engrossando, consequentemente, o número dos rebeldes, que a princípio se calculavam entre 1500 a 2000, número que hoje deve ser muito mais elevado, oferecendo mesmo poucas garantias toda a região dos Felupes. 

A ação das nossas tropas está longe, muito longe mesmo, segundo as informações que temos, de se poder considerar decisiva. Ainda nos últimos dias foi assaltada pelos rebeldes uma camioneta que conduzia auxiliares, escapando, por milagre, o condutor do carro; aos outros foi a todos cortada a cabeça e membros, e os troncos decapitados deixados na estrada, alinhados, numa demonstração de ameaça e requintada selvajaria. As cabeças foram levadas para, consoante o uso, servirem de taças.


Bola - Interior de uma escola

É curioso notar, e convém não esquecer para melhor se poder aquilatar do caso de polícia em questão, que, até hoje, as nossas tropas não conseguiram ver nem uma mulher nem uma criança. Quer isto dizer que o gentio está perfeitamente decidido a tudo e disposto a combater até ao fim. O gado também desapareceu, na sua quase totalidade, o que não é menos significativo. Só por manifesto desconhecimento dos usos e costumes gentílicos se poderá atribuir significado diferente a estes detalhes. O senhor governador, porém, resolveu, e possivelmente com muito acerto, mandar recolher as tropas em operações, deixando na região revoltada, porventura batida mas não derrotada – não é demais frisá-lo – um destacamento de polícia.

Não desejamos comentar esta medida governamental, porque isso não está na nossa índole, nem temos fundamento bastante para considerar desastrosa a ordem de retirada. Não percebemos nada de assuntos militares, nem dos altos problemas de administração ou de política indígena e muito menos de política internacional.

Mas, talvez justamente por isso, permitimo-nos discordar absolutamente – perante V. Exa., nesta carta confidencial –, da atitude assumida pelo senhor governador. A saída das nossas tropas da região revoltada sem ter infligido um exemplar castigo aos revoltosos é desprestigiante e será, necessariamente, mal interpretada pelos vizinhos franceses, que estabeleceram postos militares ao longo da nossa fronteira, guarnecidos por tropas senegalesas rapidamente transportadas para lá em camiões e bicicletas, como fomos informados.

Sabe-se que em Ziguinchor um francês que acompanhou as duas senhoras a que atrás fizemos menção ao referir-se à nossa ação nas pesquisas do avião desaparecido nos alcunhou de cobardes. Talvez tenha sido por isso que o Capitão Sinel de Cordes, calmo e sereno, mas decidido, tivesse tido a intenção de acabar de vez, com a lenda dos Felupes, lenda que tem custado a vida a soldados e auxiliares indígenas”.

Nunca até agora me fora dado ler documento tão contundente e exposição tão pormenorizada de gerente para governador do BNU. Fala-se em vergonha, na arrogância Felupe que no ano anterior tinham feito sofrer um revés na mesma região às nossas tropas, cortando cabeças, era completamente incompreensível deixar os Felupes sem uma punição severa. E o gerente da filial de Bissau recorda ao governador em Lisboa os Bijagós da ilha de Canhabaque e a falta permanente de respeito dos Papéis na ilha de Bissau, os Papéis recusavam-se à reparação das estradas da ilha e à limpeza da cidade mandando fazer este trabalho os Balantas e os Mancanhas, considerados os intrusos do “seu chão”. E mais criticava o governador por não ter acedido à proposta do ministro das Colónias de dispor de dois aviões para acompanhar as operações. E assim se despede o gerente de Bissau:

“O efeito moral seria ótimo, sendo esta a melhor forma de mostrar aos franceses que também dispomos dessa arma de guerra”.

Mas não fica por aqui esta saga da revolta dos Felupes, como veremos a seguir.

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 5 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18175: Notas de leitura (1029): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (16) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 8 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18188: Notas de leitura (1030): A Guiné-Bissau, os acontecimentos de 14 de Novembro de 1980 e um relatório do CIDAC de Dezembro do mesmo ano (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18204: Historiografia da presença em África (105): O atlas da Guiné, de João Soares, que teve várias edições nos anos 40 do séc. XX e era usado no ensino liceal (Armando Tavares da Silva)

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Guiné > Atlas de João Soares (c. 1940) > Escala: 1/2 milhões. Teve várias edições nos anos 40 e era usado no ensino liceal. 

Cortesia do prof Armando Tavares da Silva, nosso grã-tabanqueiro, especialista da história da Guiné no período que vai de 1878 a 1926, abarcando o essencial das "campanhas de pacificação". 




Capa do livro de Armando Tavares da Silva. “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Porto: Caminhos Romanos, 2016, 972 pp.)

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18205: Parabéns a você (1374): Maria Ivone Reis, ex-Capitão Enfermeira Paraquedista (1961/74)

Guiné 61/74 - P18206: Historiografia da presença portuguesa em África (106): O atlas da Guiné, de 1914 (Armando Tavares da Silva)

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Guiné > Atlas de 1914 (esboço) > Escala 1/1 milhão


Cortesia do prof Armando Tavares da Silva, nosso grã-tabanqueiro,  autor de “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Porto: Caminhos Romanos, 2016, 972 pp.)


1. Mensagem de Armando Tavares da Silva, com data de 4 do corrente:

Caro Luís Graça,

O Post P18170 do Grã-Tabanqueiro Cherno Baldé, fez-me apressar o envio da carta da “Província da Guiné”, inserta no Atlas Colonial Português da Comissão de Cartografia do Ministério das Colónias, de 1914. Esta carta, que tem 100 anos, ajuda a conhecer as mudanças que sofreu a toponímica da Guiné.

Para além da imagem de toda a carta (ocupa 2 páginas e tem a dimensão de 43 x 32 cm), envio ainda a mesma carta mas dividida em quatro partes para melhor identificação das povoações.

Uma das povoações que nela figura é Gam Sancó, povoação que não figura nas cartas mais recentes. Esta povoação figurava também nas cartas da Comissão de Cartografia de 1889 e 1906, e ainda no atlas de João Soares (*), que teve várias edições nos anos 1940, e era utilizado no ensino liceal. [...]

 Abraço do

Armando Tavares da Silva

Guiné 61/74 - P18207: Os nossos seres, saberes e lazeres (248): À sombra de um vulcão adormecido (3) (Mário Beja Santos)

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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 1 de Novembro de 2017:

Queridos amigos,
Estadia mais frutuosa não podia haver. Amigo há várias décadas de Mário Reis, o combativo secretário-geral da ACRA - Associações dos Consumidores da Região Açores, recebi com ambas as mãos o convite que me endereçou para passar um tempo numa casa de família, no Vale das Furnas. Dali só saí para ir a Ponta Delgada visitar uma comadre e fazer uma brevíssima romagem de saudade por alguns dos locais frequentados 50 anos atrás.
Apanhei bom e mau tempo, sol e neblina, os calores de várias estações do ano, o importante era uma varanda vidrada com vista para os prados e para as cumeeiras, acrescentando-se o mugir das vacas ao quadro bucólico. E fica-se naquela varanda a contemplar um quadro de uma região que é, toda ela, um geoparque, uma preciosidade nascida de um acidente vulcânico habitado por povoadores que adubaram o misticismo e a curiosidade de conhecer mundo, basta pensar em Antero de Quental e Bento de Góis, o importante missionário que chegou à China.
Nunca dá para cansar o deslumbramento açoriano.

Um abraço do
Mário


À sombra de um vulcão adormecido (3)

Beja Santos

O viandante chegou em Outubro de 1967 a esta terra abençoada pela bagacina e pedra vulcânica. Muito se surpreendeu pelas estradas flanqueadas por plátanos, perguntou a alguém que planta era aquela que se espalhava pelos declives, aprendeu o que era a conteira, uma infestante. Numa fase mais adiantada de iniciação açoriana aprendeu a distinguir a criptoméria. E se aqui se fixa camélias amarelas, em pleno Outubro, depois habitou-se a vê-las pelo Outono a desabrochar em tons vermelhos e brancos, é porque se manteve incrédulo, visto à distância até lhe parecia hibisco, valha-nos a ignorância, mas é assim que se aprende. Camélias a receber-me no Vale das Furnas!



Era 19 de Outubro, data de nascimento da filha mais nova do viandante, falecida em 2009. Entrou na igreja de Nossa Senhora da Alegria para fazer as suas encomendas, apontando-as às estrelas. É nisto que dá de face com este vitral, a exaltação do nascimento, calou-lhe fundo a associação imaginada, nesta e noutras coisas o viandante é pouco virado para os milagres, visões a aparições, embora acredite que é possível receber sinais. Haja alegria!



Estamos agora na Poça de D. Beija, apresentada como espaço de correio e de relaxamento, tendo mesmo uma mística especial. O que para o caso interessa é o deslumbramento da água férrea, fluído contínuo, sabe bem estar em decúbito dentro de águas a uma temperatura média de 39 graus, encostar a coluna à torrente, um arremedo de talassoterapia, assim se passam as horas e o corpo agradece. Repare-se na segunda imagem duas hidrângeas em flor, como se contempla assim a água em cascata.


Já se tirou esta fotografia, largos meses atrás, na primeira viagem comemorativa do cinquentenário do achamento de S. Miguel. Desta feita até se conversou com a proprietária do estabelecimento, ela tem muito orgulho neste espavento de cestos coloridos, tudo à disposição de furnenses e turistas, é uma bela atração vegetal, ali a escassos centímetros daquele belo pavimento de pedra acinzentada, não acham?



Um tanto a despropósito, quer recordar-se a quem nos lê que se cumpriu a tradição, comeu-se cozido, aqui nas Furnas tem chancela de monumento nacional. As coisas passam-se assim: as panelas que resguardam as carnes e os vegetais do cozido são ensacadas e enterradas em solo geotérmico, segue-se uma cozedura de cerca de 5 horas, e o resultado é um cozido totalmente distinto do que se come no continente. Mas não se vai agora falar em cracas, nem nos bifes, nem nos filetes de abrótea, nem nas alcatras de peixe, nem nas queijadas, quanto muito deixa-se uma referência ao bolo lêvedo, daqui originário, um bolinho preparado na sertã, uma delícia com compota ou manteiga. Voltemos à natureza. O que aqui se vê é o que é possível ver do jardim da D. Beatriz do Canto que no século XIX era conhecido por Parque das Murtas, localiza-se junto do leito da Ribeira das Murtas. O parque é visitável em Agosto, ao todo 3,7 hectares. Isto que se mostra é o que se pode ver fora de Agosto. É muito pouco mas é muito belo.



As caldeiras merecem uma visita obrigatória, não há ninguém que não se impressione com estas fumarolas de água fervente, aqui se fez termalismo usando lamas medicinais e águas. É ponto obrigatório, tal como as caldeiras da Lagoa das Furnas, nesta é que se prepara o cozido. Os turistas que aqui arribam veem um pouco da lagoa, inexplicavelmente não chegam a visitar a Ermida de Nossa Senhora das Vitórias nem a Mata-jardim José do Canto, ao tempo um caso exemplar de empreendedor agrícola, sempre na vanguarda; há passeios pelo Parque Terra Nostra, com abundante flora, com uma espantosa coleção de fetos, conhecido no mundo inteiro pela sua coleção de camélias, rododendros e a flora endémica nativa dos Açores; e finalmente as caldeiras, acreditem que é um passeio incomparável. Por aqui o viandante andou à solta e daqui partiu com a noite escura.


Quem vem ao Vale das Furnas não deve perder a oportunidade de visitar o Observatório Microbiano dos Açores, que se apresenta como um centro de divulgação científica e tecnológica, está instalado no antigo chalé, seguramente que aqui se fazia termalismo, olhe-se para a cor desta banheira e tenham-se ideias positivas que nela emergiram doentes e que imergiram com muito mais conforto. Ninguém deu uma explicação satisfatória ao viandante por que estas termas perderam uso quando no passado tiveram tanto prestígio.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18181: Os nossos seres, saberes e lazeres (247): À sombra de um vulcão adormecido (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18208: Convívios (836): Já são 62 os ' magníficos' inscritos para o 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 18, em Algés, no restaurante "Caravela de Ouro". Cinco vêm do Porto, cinco gloriosos "bandalhos"!... O prazo de inscrição termina 2ª feira, 13 (Manuel Resende)

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Magnífica Tabanca da Linha > Foto de grupo do 30º  almoço-convívio em 


35º almoço-conmvívio > Algés, 5ª feira, dia 18/1/2018 > List provisória dos inscritos


Destaque para os cinco "bandalhos", do glorioso Bando do Café Progresso, Porto (régulo: Jorge Teixeira)

1. Mensagem de ontem ao fim da tarde, do nosso régulo Manuel Resende, publicada na página do Facebook da Magnífica Tabanca da Linha (que tem 88 membros registados):


Amigos Magníficos, depois de publicar o convite para o 35º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha, publico a seguir a lista dos já inscritos até este momento. 

Já somos 62. Esperamos chegar a 70. Veremos, pois ainda faltam muitos que não costumam falhar. Qualquer alteração, digam.

Manuel Resende


2. Informações:

Preço por boca - 20 "morteiradas"  (crianças dos 5 aos 10 anos pagam metade)
Restaurante "Caravela de Ouro"

Localização:
Alameda Hermano Patrone, 1495 Algés (Jardim de Algés, junto à marginal)

Inscrições até às 24 horas do dia 15, 2ª feira,  para os régulos:

Jorge Rosales 914 421 882 - jorge.v.rosales@gmail.com

Manuel Resende 919 458 210 - manuel.resende8@gmail.com

ou dizendo "vou" ao convite do Facebook no nosso grupo.
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Nota do editor:

Último poste da série >  > 9 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18194: Convívios (835): Vai realizar-se no próximo dia 18 de Janeiro mais um convívio da Magnífica Tabanca da Linha, no Restaurante "Caravela de Ouro", em Algés (Manuel Resende)

Guiné 61/74 - P18209: Fotos à procura de...uma legenda (98): Adivinhem quem vem almoçar à Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 18 ?... Será um grupo coral alentejano ? Alguns "meninos da Linha" já se começaram a queixar, ao régulo e seu adjunto, que a Tabanca está-se a tornar numa grande "bandalheira"...

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Foto sem legenda: Alguns virão ao 35º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha (*), dizem-nos... Mas a foto é intrigante e há várias hipóteses de resposta:

a) um grupo coral alentejano;
b) um grupo excursionista e jantarista da raia espanhola;
c) uma turma da universidade sénior de Freixo Espada à Cinta;
d) um bando de turistas nórdicos fotografados junto ao Padrão dos Descobrimentos, em Belém;
e) fãs do escritor Zé Ferreira de Catió;
f)  os últimos sobreviventes portugueses da batalha de La Lys
g) representantes sindicais dos lenhadores do pinhal de Leiria;
h) delegação dos que viviam "para lá do Marão" antes da abertura do túnel, e que vieram a Lisboa protestar porque "já não mandam os que lá estão";
i) foliões do Carnaval de Torres Vedras, candidatos ao Panteão Nacional;
j) grupo de ex-combatentes da guerra colonial na véspera de embarque para a Guiné, em viagem de turismo de saudade....

Alguns meninos da Linha já se queixaram ao régulo (e seu adjunto) que a Tabanca se  está a tornar numa grande "bandalheira" (**)... A resposta do Jorge Rosales, coadjuvado pelo Manuel Resende, só podia ter sido  a mais politicamente correta possível: "Meninos da Linha, não sejam sulistas e elitistas. A Tabanca quando nasceu, foi para todos!"...

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Guiné 61/74 - P18210: O nosso blogue em números (50): visualizações de página por navegador e por sistema operativo... 602 seguidores do blogue; 2630 amigos do Facebook... Comentário do nosso colaborador permanente Hélder Sousa

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1. Mais alguns números que podem ter piada, para os nossos leitores e visitantes (*):

(i) Nas visualizações de página, "por navegador", ganham o Chrome e o Firefox, cada um com 32%. Segue-se, com alguma distância, a Internet (26%)... E, muito mais atrás, o Safari (4%) e outros (6%) (Opera, BingPreview, Mobile Safari, Mobile, GSA, Crhomeframe) (Gráfico 6);

(ii) Nas visualizações de página,  "por sistema operativo", o Windows aparece destacadíssimo (80%)... Abaixo de 10%, temos o Macintosh (6%), Linux (4%) e o Android (4%) (Gráfico 7).


Comparando com o ano de 2014, constatava-se que (**):

(iii) por navegador, o Internet Explorer ia à frente (38%), seguido do Chrome (28%) e do Firefox (22%); os restantes juntos somavam 12% do total dos visitantes;

(iv) por sistema operativo, o Windows  era então )como continua a ser) o rei e o senhor (82%), destacadíssimo da concorrência: McIntosh (6%), Linux (5%) e outros (7%).


2. Temos 602 seguidores do nosso blogue.  E o Facebook da Tabanca Grande Luís Graça atinge, neste momento, a cifra dos 2630 "amigos".

O nº de amigos "facebook...eiros" era de 1638, em finais de 2014 (, mais 300 do que em 2013).  Em três anos subiram para 2630.

Recorde-se que a nossa página no Facebook nasceu em janeiro de 2011. E uma página "aberta" a todos ou quase todos os que nos pedem "amizade".

Temos, contudo, dado preferência, em termos de resposta a esses pedidos, aos antigos combatentes da guerra colonial (Angola, Guiné, Moçambique...), mas nem todos os amigos do Facebook têm a ver com a guerra, longe disso, e muito menos com a Guiné.

É bom também lembrar que a nossa página do Facebook, gerida pelos editores Luís Graça e Carlos Vinhal, não se rege pelos mesmos princípios editoriais do blogue. Os amigos do Facebook não são automaticamente membros do blogue. Para esse feito, têm que seguir os mesmos procedimentos: (i) mandar 2 fotos, (ii) ter um email válido (ou disponível, através de um familiar ou amigo); e (iii) apresentar-se aos membros da nossa comunidade virtual a que chamamos Tabanca Grande, escrevendo meia dúzia de linhas, a dizer quem são, por onde andaram, a que unidade pertenceram, etc.

Como temos frisado noutros anos, temos de: 

(i) encontrar uma maneira de articular melhor o blogue e a página do Facebook; 

e (ii) prestar mais atenção às muitas páginas que, sob a forma de blogues, sítios e páginas do Facebook, se abriram nestes últimos anos, individuais ou de grupo, e que são um importantíssimo contributo para o esforço de preservação, proteção e divulgação das memórias dos antigos combatentes da guerra colonial.

3. Comentário do nosso colaborador permanente Hélder Sousa, com data de ontem:

Sem dúvida que isto é notável.

Estes anos todos, com situações que levaram ao 'cansaço' de alguns (lembrei-me de uma parte de um poema que dizia "ouvimos dizer que estás cansado"), com a forte concorrência do Facebook  que convida ao imediatismo e à preguiça mental, com o surgimento de mais locais relacionados com o 'fundo' do nosso Blogue, com muitas mais coisas que 'convidam'à dispersão, a realidade que está por detrás destes números é realmente um caso incontornável.

Devemos fazer do Encontro/Convívio deste ano, em Maio, uma "prova de força e de vontade".
Apelo para que possamos:

(i) comparecer em massa;

(ii) aprofundar a nossa amizade e fraternidade;

(iii) resolver (pelo menos, tentar) algumas "diferenças";

(iv) se possível, dar algum impulso à iniciativa da petição do nosso camarada [Inácio Silva];

(v) enfim, aproveitar a ocasião para entendermos melhor o tempo e a época que vivemos.

Guiné 61/74 - P18211: Blogpoesia (548): "Rastejante e subtil", "Subindo a montanha", e "Sinfonia dos pardais", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Rastejante e subtil

Como a água,
Rastejante e subtil,
Tudo inunda,
Como o sol.
Ora perto ora distante.
Se impregna.
Corpo e alma.
Bem distintos.
Semi-partes.
Dois destinos.
Dum o chão, a terra e húmus.
Doutro o céu. O além para sempre.
É vida. Energia ardente.
Sarça breve.
Arde e cinza.
Verde, alegre.
Assim desponta.
Flor silvestre.
Fonte pura.
Cardo e espinhos.
Sabor a mel.
Clara e escura.
Alada e presa.
Rainha e escrava.
Comboio e barca.
A viagem, mesma.
Partiu e marcha.
Sentido, de ida apenas.
Destino igual.
A todos leva.
Eternidade.

Ouvindo Vespers de Rachmaninov
Berlim, 7 de Janeiro de 2018
8h51m
Jlmg

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Subindo a montanha

Escalada dorida da vida.
Montanha elevada,
Encostas agrestes.
Por vezes suaves.
Desafio constante.
Seguir adiante, sem olhar para trás.
Se alarga o horizonte,
Se torna mais leve,
À medida que sobe.
Umas vezes com ânimo.
Outras, apetecendo parar.
O caminho tem fontes e sombras.
As pedras são bancos.
Mata-se a sede.
O corpo descansa.
A força renasce.
Os cumes lá em cima,
Mais perto do céu,
São leves e longos.
Atraem e chamam.
Prometem esperança e sossego.
Dá para correr e sonhar.
Depois, quando a saudade apertar,
Por um lado ou pelo outro,
É sempre a descer…

Berlim, 8 de Janeiro de 2018
Dia de sol - está tudo gelado
Jlmg

********************

Sinfonia dos pardais

Poisam nos fios ao de leve.
Como as notas numa pauta.
Como enxames pelas ramagens,
Soltam brados e orações.
Cantam breves as suas preces.
Trinam cantos, entoam sons.
Parecem choro, parecem hinos.
Ora em coro, ora sózinhos.
Não têm escola.
É inata a sua arte.
Melodia universal.
Jorra pura e cristalina.
Brilha ao sol e silva ao vento.
A candura terna duma flauta.
Suave encanto dum violino.
São alegres, rapioqueiros.
Assustadiços como a aragem.
Interrompem a sua festa.
Desprendidos. Generosos.
Sabem que agradam a toda a gente.
Nunca esperam as nossas palmas.
Em todo o lado são felizes…

Ouvindo sinfonia nº 2 – Oceano de Rubinstein
Berlim, 11 de Janeiro de 2018
6h47m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18184: Blogpoesia (547): "O primeiro poema...", "Começou a viagem", e "Despedida do passado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P18212: Convívios (837): 66º encontro da Tabanca do Centro, em Monte Real, 31 de janeiro, 4ª feira: comemoração do 8º aniversário, inscrições até 26, lotação máxima: 90 pessoas (Miguel Pessoa)

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Página de rosto da revista 'on line',  mensal,  "Karas de Monte Real", editado pelo nosso camarada e amigo Miguel Pessoa. Edição de dezembro de 2017. 



Excerto do poste de 12 de janeiro de 2018 > P987: vem aí o nosso aniversário...

 Para saber mais ver aqui o blogue da Tabanca do Centro, que é editado pelo nosso camarada e amigo Miguel Pessoa. Régulo da Tabanca: Joaquim Mexia Alves. Email: tabanca.centro@gmail.com.

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Nota do editor:

Último poste da série >  13 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18208: Convívios (836): Já são 62 os ' magníficos' inscritos para o 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 18, em Algés, no restaurante "Caravela de Ouro". Cinco vêm do Porto, cinco gloriosos "bandalhos"!... O prazo de inscrição termina 2ª feira, 13 (Manuel Resende)

Guiné 61/74 - P18213: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (24): ronco balanta em Cufar, a festa de circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos')

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Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3 


Foto nº 4


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 9



Foto nº 8


Foto nº 10


Foto nº 5

Foto nº 12


Guiné > Região de Tombali >  Cufar > CCAÇ 4740 (1972/74) >  1973 > Ronco balanta, a festa da circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos')



Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mais fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1.º semestre 1973) e, no resto da comissão, comandante do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

Afinal, o Oliveira ainda esteve umas largas semanas em Cufar com o António Graça de Abreu, do CAOP1 (,  pelo menos desde junho até agosto de 1973), antes de ir, no 2º semestre, para o setor L1 (Bambadinca), comandar o Pel Caç Nat 52 e fechar a guerra...

Durante a sua comissão foi sempre uma apaixonado pela fotografia. A sequência que hoje publicamos, a preto e branco, é notável, retratando um acontecimento que poucos de nós puderam apanhar... Ele chamou-lhe simplesmente "ronco"... Mas trata-se (, e eu confirmei isso com ele ao telefone) da festa da circuncisão ('fanado') dos rapazes ('blufos'), que se passava em três ou quatro momentos e espaços: tabanca (preparativos, anúncio, batuque), bolanha, tabanca,  floresta (cerimónia da circuncisão p.d. e transmissão de saberes) e, mais tarde, o regresso de novo à  tabanca (**)... É pena não podermos legendar com detalhe cada uma das fotos... Este 'fanado' (masculino) era (e continua a ser) um aspeto central da cultura balanta. O médico que estava então em Cufar, um alferes miliciano (Faria, se não erro) tentou que a pequena ciriurgia (ablação dp prepúcio) se realizasse em condições de higiene, segurança e assepsia. Em vão...

2. Veja-se o que diz o dicionário sobre o vocábulo "blufo":

blufo | s. m.
blu·fo
(balanta blufo)
substantivo masculino

1. [Guiné-Bissau] Rapaz não circuncidado.

2. [Guiné-Bissau] Jovem inexperiente.

3. [Guiné-Bissau] Indivíduo considerado estúpido.

4. [Guiné-Bissau] Dança executada na cerimónia de circuncisão.

"blufo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/blufo [consultado em 14-01-2018].
___________

Notas do editor:


(...) Em 1951, James Pinto Bull, nascido em 1913 em Bolama, funcionário colonial, ao tempo administrador de circunscrição, e com carreira de deputado pela frente, três vezes eleito pelo círculo da Guiné para a Assembleia Nacional, escreve no Boletim Cultural da Guiné um artigo intitulado “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”.

É uma escrita direta, de pendor marcadamente divulgativo, chama à atenção para o “fanado” e para o modo como os Balantas encaram esta cerimónia religiosa, começando logo por referir que os “grandes” das tabancas apresentam-se com o tradicional “lopé” e trazendo enrolado pelo corpo pedaços de corda, vão à autoridade local pedir autorização para “deitar o fanado”.

Segue-se uma descrição vivacíssima:

“Dada a autorização, rompe imediatamente o tamborilar de um pequeno tambor para levar a nova aos indígenas reunidos nas moranças e com danças alusivas à cerimónia que se vai iniciar, os velhos regressam à tabanca. Toda a noite se ouve o barulho do “ẽbõbor” (tambor grande, anunciando às tabancas distantes a realização do fanado, convidando os jovens a virem alegrar com a sua presença a grande festa. 

"Rompe a aurora e principia a concentração da turba nas proximidades da tabanca onde se realiza o fanado. A falange engrossa rapidamente e os assistentes vão-se aquecendo, não só pela ação do calor que sufoca, mas também pela do álcool. O mestre-cerimónia dá o sinal para se fazer a concentração geral. Começa a marcha e centenas de indígenas lançam-se em correria desenfreada, parecendo à primeira vista que se trata de um ataque guerreiro, pois quase todos os do sexo masculino ostentam espadas e cacetes. 

"O grupo dos futuros circuncisos esforça-se por abrir caminho a fim de se dirigir para o porto ou bolanha mais próximos, onde besuntam o corpo com lama. Em correria louca e entoando cânticos variados, os blufos regressam à tabanca, formando grupos separados, para que cada um possa mostrar o seu valor. Continua nos arredores da tabanca o barulho ensurdecedor dos tambores, misturado com milhares de vozes e com a gritaria infernal dos mais alcoolizados. 

"O sol vai declinando e, enquanto os futuros circuncisos se reúnem na tabanca para tomarem a última refeição ainda como blufos e receberem as mezinhas para os proteger contra os feiticeiros durante a permanência na barraca, a multidão alegra-se cada vez mais, chegando a tomar o aspeto de verdadeira orgia. Todos estão em maior ou menor grau sobre a ação etilisante do álcool”.

(...) “As mulheres e as bajudas estão completamente excitadas sobre a dupla ação do álcool e algumas delas não resistem à tentação de se deixar agarrar pelo blufos que sabem tirar partido destas oportunidades. É que nesse dia tudo é permitido, desde o adultério, que para certos maridos até constitui honra, por verem que as suas mulheres foram muito apreciadas, até a própria violação das bajudas, facto que alguns pais perdoam, não exigindo a costumada reparação material”.

É então que o mestre-cerimónia, velhos e rapazes já circuncidados seguem para a bolanha para que se cumpra a operação. A festa acabou. Os futuros circuncisos já chegaram à bolanha e estão atolados pelo menos até aos joelhos. Vamos regressar ao relato:

“Começa então a operação feita pelo parente mais próximo, a qual consiste no corte do prepúcio, por um ou mais golpes ao contrário do que se sucede nas outras tribos em que o corte tem que ser rápido e com um único golpe. Acaba a operação, os pacientes recolhem-se a um local antecipadamente escolhido, em princípio numa mata próxima da tabanca, e onde é feita previamente uma clareira protegida por uma paliçada. 

"A permanência varia de um a três meses, e enquanto os circuncidados ali permanecerem, as famílias são obrigadas a preparar-lhes as melhores comidas e a confecionar os tradicionais e caprichosos panos de fanado. 

"Terminado o tempo julgado necessário, os circuncisos descem às povoações, formando um único grupo, envolto nos panos do fanado. Cumpridas estas regras, o irresponsável blufo que até vivia em comum com os seus camaradas, adquire todos os direitos e deveres de homem, podendo construir a sua palhota e arranjar mulher para constituir família”.

(...) Uma última nota, James Pinto Bull irá falecer num acidente de helicóptero, em Julho de 1970, faleceram entre outros, José Pedro Pinto Leite, considerado como uma das grandes promessas da Ala Liberal. (...)

Guiné 61/74 - P18214: Pelotões de Morteiros mobilizados para o CTIG: elementos históricos e estatísticos (Jorge Araújo)

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 Oito símbolos de Pelotões de Morteiro (retirados da Net) que ainda não têm referências no nosso blogue 

Os modelos de Morteiros usados no CTIGuiné foram: o morteiro médio Brandt de 81mm (francês), imagem acima, e o morteiro 10,7 cm (americano).

Sobre o primeiro modelo consultar, também, o sítio Museu da Vitória - Brigadeiro Nero Moura




Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp/ranger,  CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974)


PELOTÕES DE MORTEIROS MOBILIZADOS PARA A GUINÉ (1961-1974) - ELEMENTOS HISTÓRICOS E ESTATÍSTICOS [CORRIGIDOS E AUMENTADOS]

por Jorge Araújo



1. INTRODUÇÃO

Na condição de ex-combatente miliciano no TO do CTIGuiné (1972/1974), determinada pela conjuntura política vigente nesse tempo ou nessa época, cativa-me participar neste plenário virtual (electrónico) a que o seu fundador deu o nome de «Tabanca Grande». E é Grande, de facto, como provam os dezoito mil postes contabilizados no dia em que se atingiu a expressiva cifra de dez milhões de visitas ou visualizações (21Nov2017 às 18h47). Pela quantidade do seu valioso espólio estamos perante um verdadeiro Serviço Público aberto a todas as comunidades… e que continua o seu processo de crescimento.

Por outro lado, como membro tertuliano e comungando dos mesmos objectivos didácticos do seu colectivo, cativa-me também poder partir da percepção do já acontecido, do já sentido e do já divulgado ou publicado, e adicionar-lhe algo mais, o que anda disperso, ou aquilo que resulta do seu aprofundamento, estudo ou investigação nesta área – a da ciência militar – da qual possuo uma reduzida competência teórica.

Dito isto, o presente trabalho nasce de um desejo/pedido do editor e camarada Luís Graça endereçado
ao nosso novo Tabanqueiro (761.º), Carlos Vieira, ex-fur mil do Pel Mort 4580 (Bafatá, 1973/74), a quem envio um abraço de boas vindas. O pedido foi formulado no P17993, em comentário, nos seguintes termos… “Carlos, quantos Pelotões de Morteiro passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974? Podemos saber, mas para já só temos referências a 19 Pel Mort, e nalguns casos muito escassas…”.

Sem prejuízo da participação do camarada Carlos Vieira neste ou noutros temas, pois será sempre bem-vindo, o que acontece é que este estudo, sobre este mesmíssimo levantamento, eu há já algum tempo o tinha realizado.

Ao estruturar o presente texto, encontrei um trabalho académico semelhante, mas mais completo pois incluía os três TO, realizado por um estudante da Academia Militar que, como é do conhecimento público, é uma Unidade Orgânica Autónoma do Instituto Universitário Militar.

Trata-se do “Relatório Científico Final do Trabalho de Investigação Aplicada” com o título: «Estudo estatístico sobre a mobilização de unidades da Arma de Infantaria durante a Guerra de África (1961-1974)», sendo seu autor o Aspirante de Infantaria José Luís Pires Ferreira, estudo concluído em Julho de 2015 (capa ao lado).

Ao confrontar este trabalho académico com o meu, constatei existiram discrepâncias nas estatísticas, pelo que hesitei sobre qual deles deveria fazer uso neste fórum: o académico ou o meu. Mas, enquanto membro da academia, na qualidade de docente universitário, não podia aceitar que se continuasse a manter os erros históricos e estatísticos, por uma questão de princípio deontológico (a segunda condição).

Assim, partindo da mesma premissa temática, decidi acrescentar o que estava em falta, e corrigir o que não estava bem, apresentando a competente justificação para cada caso. Por este facto, espero ser perdoado pelo Oficial de Infantaria José Ferreira.

Este seu trabalho pode ser consultado no poprtal RCAAP - Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal


2. O PORQUÊ DESTA INVESTIGAÇÃO

José Ferreira, autor do estudo, no ponto 1.2 - Importância da investigação e justificação do tema -, refere que “dos trabalhos publicados em Portugal sobre a história da guerra de África (1961-1974), nenhum abordou a mobilização das unidades da Arma de Infantaria, que foram constituídas no dispositivo territorial do Exército, do Continente, da Madeira e dos Açores, e depois enviadas para os três Teatros de Operações.

O estudo publicado pela comissão para o estudo das campanhas de África (CECA) e a obra “Os anos da guerra Província Ultramarina” [“Os Anos da Guerra Colonial”] da autoria de Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso, reúnem dados e analisam diversas dimensões sobre a guerra, mas não foram estudos dedicados especificamente à mobilização. Julgamos pertinente analisar o esforço de mobilização para cada um dos TO, a sua evolução ao longo do período da guerra, bem como aspetos particulares sobre a tipologia das unidades mobilizadas pela Arma de Infantaria.

O presente trabalho visa revelar conhecimento novo e permitir retirar conclusões sobre os períodos de maior ou menor esforço de mobilização para cada TO, bem como conhecer a tipologia de unidades mais utilizadas durante o conflito ultramarino detalhando este processo, relativamente a cada um dos três TO. Este trabalho vem assim enriquecer o historial da Arma de Infantaria.

2.1 RESUMO DA INVESTIGAÇÃO

No trabalho de Investigação Aplicada acima referido, José Ferreira apresenta-o fazendo um resumo do que nele aborda. “Através desta investigação pretende-se caracterizar a tipologia das unidades mobilizadas pela Arma de Infantaria, com base no recrutamento e mobilização feito em Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores e Madeira, bem como compreender o esforço de mobilização realizado por esta arma, quer através do ritmo de mobilização ao longo do período da guerra, quer ao nível das unidades territoriais que mobilizaram forças durante a guerra para cada um dos Teatros de Operações [TO], durante o período em estudo. É de relevante pertinência a realização desta investigação, pela possibilidade de retirar conclusões sobre os períodos de maior e menor esforço de mobilização (não considerando as unidades de intervenção e as de guarnição normal) em cada Teatro de Operações bem como conhecer a tipologia das unidades empenhadas durante o conflito ultramarino”.

2.2 MOBILIZAÇÃO DE PELOTÕES DE MORTEIROS PARA A GUINÉ

Encontrando-se o trabalho organizado por TO, no ponto 5.5 é apresentada a competente estatística, relativa à Guiné, de modo diacrónico (figura 25) e comentados os resultados obtidos.

Assim, segundo o autor, “o início da mobilização de PelMort iniciou-se em 1962 [errado] e até 1967 o ritmo de mobilização foi pouco variável. Em 1969 ocorreu a maior mobilização desta tipologia, nove unidades foram enviadas para o TO da Guiné [errado]. [Omite 1970]. A partir de 1971 até 1973 o número de unidades mobilizadas foi sempre decrescente. Pela análise do gráfico seguinte verifica-se que foram mobilizados 60 PelMort [errado].

        _____________________________________________________________________________

Ferreira, José L. P. - «Estudo estatístico sobre a mobilização de unidades da Arma de Infantaria durante a Guerra de África (1961-1974)», op.cit. p 43.




2.3 ELEMENTOS HISTÓRICOS E ESTATÍSTICOS CORRIGIDOS

De seguida, apresentar-se-ão quadros estatísticos por anos, retirados do capítulo dos «Apêndices» [AP-37/38], onde se assinala as discrepâncias encontradas entre as duas investigações, a académica (Academia Militar) e a empírica (a minha).

Como elementos de prova, indicam-se as respectivas fontes.






"Diário do Alentejo", 18 de julho de 1961

Fonte: Blog BC 236, Guiné 61/63 (com a devida vénia)






Breve história do Pelotão de Morteiros 2138

“Tudo começou no dia 2 de Junho de 1969 em Chaves, sendo a unidade mobilizadora do Pelotão de Morteiros 2138 o Batalhão de Caçadores 10. Até ao dia 5 de Julho decorreu a instrução de adaptação operacional [IAO] na região de Boticas. De 7 a 16 de Julho foram gozados dez dias de licença antes do embarque para o então chamado Ultramar Português. No dia 17 teve início a segunda parte do IAO estando previsto para o dia 30 de Julho, no navio “Índia” o embarque para a Guiné, tendo o mesmo sido adiado para 13 de Agosto por avaria no navio. A viagem fez-se a bordo do navio “Uíge”, com chegada à Guiné no dia 18 e desembarque a 19 de Agosto de 1969 pela manhã”

[http://pelotaodemorteiros2183.blogs.sapo.pt/1706.html (de notar que os últimos dois algarismos do número do pelotão estão invertidos)].





Aproveitando o texto que serviu de base à análise estatística da figura 25, esta poderia ser, em função das correcções, a seguinte:

“O início da mobilização de PelMort iniciou-se em 1961 e até 1967 o ritmo de mobilização foi pouco variável. Em 1969 ocorreu a maior mobilização desta tipologia, dez unidades foram enviadas para o TO da Guiné. Em 1970 a mobilização foi atípica só com duas unidades. A partir de 1971 até 1973 o número de unidades mobilizadas foi sempre decrescente. Pela análise do gráfico seguinte verifica-se que foram mobilizados um total de 63 PelMort.


____________________________________________________________________________

Fonte: Adaptado de: Ferreira, José L. P. - «Estudo estatístico sobre a mobilização de unidades da Arma de Infantaria durante a Guerra de África (1961-1974)», op.cit. p 43.



3. PELOTÕES DE MORTEIROS MOBILIZADOS PARA A GUINÉ (1961-1974) COM E SEM REFERÊNCIAS NO NOSSO BLOGUE

Contabilizado, até à presente data, o número de Pelotões de Morteiro referenciados no blogue da «Tabanca Grande», este é igual a 19 (dezanove), a que corresponde uma percentagem de 30.2%, quando comparado com o universo dos Pelotões de Morteiros mobilizados para a Guiné (1961/1974). Com mais cinco unidades atingiremos 1/3.

A) - Pelotões de Morteiros com referências no Blogue (ñ19=30.2%)

16 – 17 – 19 – 912 – 942 – 1192 – 1208 – 1209 – 1242 – 2005 – 2106 – 2117 – 2138 – 2268 – 2297 – 4275 – 4574 – 4575/72 – 4580.

Pel Mort 1028 (1)
Pel Mort 1192 (4)
Pel Mort 1208 (2)
Pel Mort 1209 (2)
Pel Mort 1242 (2)
Pel Mort 16 (1)
Pel Mort 17 (1)
Pel Mort 19 (27)
Pel Mort 2005 (2)
Pel Mort 2106 (12)
Pel Mort 2117 (1)
Pel Mort 2138 (3)
Pel Mort 2268 (9)
Pel Mort 2297 (1)
Pel Mort 4275 (9)
Pel Mort 4574 (31)
Pel Mort 4575/72 (3)
Pel Mort 4579 (1)
Pel Mort 4580 (6)
Pel Mort 4581 (1)
Pel Mort 912 (27)
Pel Mort 942 (8)

B) - Pelotões de Morteiros sem referências no Blogue (ñ44=69.8%)

18 – 41 – 916 – 917 – 918 – 978 – 979 – 980 – 1028 – 1029 – 1039 – 1040 – 1041 – 1042 – 1085 – 1086 – 1087 – 1191 – 1210 – 1211 – 2004 – 2005 – 2006 – 2105 – 2114 – 2115 – 2116 – 2172 – 2173 – 2174 – 2267 – 2294 – 2295 – 2296 – 3020 – 3030 – 3031 – 3032 – 4272 – 4273 – 4274 – 4277 – 4579 – 4581.

Aproveito esta oportunidade para reproduzir oito símbolos de Pelotões de Morteiro (retirados da Net) que ainda não têm referências no nosso blogue [, vd.  imagens no topo deste poste], com a expectativa e/ou esperança de, num futuro próximo, possamos receber algumas histórias das suas passagens pelo CTIG, pois aconteceram em locais e épocas diferentes. Aguardemos!


Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.

27NOV2017.

Guiné 61/74 - P18215: Notas de leitura (1032): “Uma Estrada para Alcácer Quibir”, por António Loja; Âncora Editora, Dezembro de 2017 (Mário Beja Santos)

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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Janeiro de 2017:

Queridos amigos,
É com satisfação que saúdo o regresso de António Loja, autor de uma obra memorável e referência obrigatória da literatura da guerra da Guiné, "As Ausências de Deus".
Regressa com lembranças pícaras, desvelando episódios ridículos da nomenclatura militar, obrigatoriamente regressa ao corredor de Guileje e ao quartel de Mejo, aos 83 anos lá estão as memórias em carne viva.
António Loja é o exemplo acabado quando ao dever de memória, com o filtro da idade apuram-se lembranças eivadas de ternura e mantem-se hasteada a bandeira do companheirismo, neste caso é incansável a tecer louvores ao bando de irmãos da sua companhia operacional que foi do Forreá até ao Jolmete, percorrendo a estrada para Alcácer Quibir.

Um abraço do
Mário


O regresso de António Loja e o seu bando de irmãos

Beja Santos

Devemos a António Loja um dos livros mais impressivos, compassivos e inspiradores da literatura da guerra da Guiné: "As Ausências de Deus"; Âncora Editora, 2013[1]. Reincidente, temo-lo de volta com “Uma Estrada para Alcácer Quibir”; Âncora Editora, Dezembro de 2017. Desta feita, temos um rossio estuante de recordações de alguém que cumpriu por três vezes o serviço militar obrigatório, em todas essas etapas lhe assaltam a memória episódios pícaros, brutais e de grande companha. Em dado passo, ruminando sobre a guerra, ele escreve:
“Foi então que comecei a pensar em como seria constituído esse exército que preparávamos para combater na segunda batalha de Alcácer-Quibir. Tínhamos todo um país para mobilizar: do Minho ao Algarve, dos Açores à Madeira, de Cabo Verde à Guiné, de Angola a Moçambique, da Índia, de Macau e Timor, emigrantes dispersos pelo Brasil, África do Sul e Venezuela, por Paris e Bruxelas, pela Alemanha e pelo Luxemburgo; cavadores de enxada e tratoristas, condutores de autocarro e carteiristas, distribuidores de jornais e engenheiros civis, economistas e médicos, enfermeiros e amanuenses, contabilistas e feirantes, licenciados em Filosofia e Matemática, mas sobretudo muitos analfabetos.
E foi assim que partimos para África, cada um com a sua espingarda, alguns com um morteiro ou com um lança-granadas, outros mais sofisticados levaram um tanque ou um avião ou mesmo um helicóptero. Todos eles fizeram parte da força armada que combateu na segunda batalha de Alcácer-Quibir, travada entre os anos de 1961 e 1974”.

E assim se vão desenrolando episódios da sua passagem pelo RI 14, em Viseu, estávamos em 1961, coube-lhe organizar os serviços da secretaria, ali lhe apareceu o Francisco Esteves que se oferecia como voluntário, o alferes quis saber mais sobre o motivo, era bem prosaico: “É que eu casei-me há três meses e já não aguento a minha mulher. Estou farto dela e prefiro ir para a guerra”. Temos cenas dos pequenos poderes daqueles majores que comunicavam abruptamente quem era mobilizado, até ao dia em que foi bem ensinado. Vem a talhe de foice referir um telegrama que assim rezava: “Informo V. Exa. que se encontra ao dispor dessa unidade no Depósito Geral de Material de Guerra um equipamento M-201, que deve ser levantado, mediante requisição, nas próximas 24 horas”. No topo da hierarquia, para não dar parte fraca, despachou-se para baixo e a certa altura houve um sargento que quis resolver o transcendente problema do equipamento M-201, requisitou-se uma GMC, daquelas que tem 10 pneus e bebe 100 litros de gasolina aos 100 quilómetros, lá foi com um condutor com uma escolta de um cabo e seis soldados até ao Entroncamento. Ninguém tivera a veleidade de fazer um telefonema para saber o que era esse M-201. A GMC e a escolta regressaram com uma embalagem ridícula, era um vulgar filtro para a água.

Estamos agora na Guiné, o autor comanda a CCAÇ 1622, que esteve em Mejo e acabou no Jolmete, passou também por Aldeia Formosa e Teixeira Pinto. Recorda aquelas operações em que se tinha que passar a vau vários braços de rios, sentindo a sucção do lodo e quando se chegava a terra firme era-se recebido com uma tempestade de fogo. A missão, daquela vez, era atingir Chinchin-Dari, ali perto do corredor de Guileje. Emboscadas não faltaram, reagiu-se como se pôde, pediu-se apoio aéreo, houve que dar uma estalada a quem gritava a plenos pulmões: “Ai! Minha rica Nossa Senhora do Sameiro, vamos todos pró caralho”. E o antigo capitão de Mejo recorda: “Nem todos fomos para o caralho. Regressámos ao quartel com três mortos e sete feridos, carregados penosamente pelos sobreviventes, ao longo de 20 quilómetros de mato e lama”.

Porquê bando de irmãos? O autor dá a seguinte justificação: “Assim designa Shakespeare na peça Henrique V que os homens de armas que à volta do rei se associam na aventura da missão comum. Juntos correm perigos idênticos e juntos se apoiam no encontro de soluções para os problemas que enfrentam, alternando derrotas com vitórias, batendo-se cada dia com a morte. Na luta sentem-se solidários. Na solidariedade descobrem-se irmãos”. E o autor justifica-se que é o capitão do bando de irmãos, que andou por terras do Forreá, percorreu o corredor de Guileje à procura de Balantas e cubanos, deslocou-se ao longo das margens do Geba e do Cacine. E explica-se melhor: “Três meses depois de terminado o treino operacional, com deslocações a Santa Margarida e a Lamego, eis-nos embarcado no navio Uíge que nos deixou em Bissau e logo transferidos numa LDG para Buba e daí rapidamente recambiados por terra para Aldeia Formosa, onde nos instalámos para uma estadia que se prolongou por nove meses até sermos transferidos para Mejo, mais conhecida na gíria militar por colónia penal”. A soma de tudo isto eram ataques quase diários dirigidos contra o quartel, o isolamento da instalação militar que no flanco do corredor de Guileje tinha as suas deslocações por terra frequentemente emboscadas. Foi assim que se forjou o bando de irmãos naquela companhia operacional com cerca de 170 homens.

Peripécias vividas nas operações é coisa que não falta neste polifacetado registo de memórias, desde a tormenta das formigas das emboscas noturnas, o terror dos crocodilos, o cão Guileje que espetava as orelhas quando sentia no capim a presença hostil dos guerrilheiros, e não esqueceu o mais imprevisto dos ferimentos:  
“Foi uma refrega rápida. Saltámos dos carros e, lançados ao longo da picada, ripostamos com o mesmo entusiasmo da noite anterior. Entretanto, ainda rastejando e metralhando do capim onde se escondiam os guerrilheiros, senti que tinha sido atingido numa coxa depois do rebentamento de uma granada.
Chegado ao quartel chamei Brado, o sempre diligente e eficaz furriel enfermeiro, para ver o que havia na coxa que ainda sangrava. O homem desinfetou a área e fez uma incisão ligeira com o bisturi para extrair o suposto estilhaço de granada. Surpresa! Enquanto rastejara sobre o rico solo da Guiné, uma formiga furara o camuflado e, encontrando um menu mais apetitoso, começara a perfurar um túnel e iniciara a caminhada para dentro do meu corpo. O bisturi retirou-a a tempo”.

Por vezes o rossio estuante de recordações começa numa história recente e chega rapidamente à Guiné. Foi o caso de naquela conversa se falar numa antena que ia ser colocada num edifício para melhorar a rede de ligações telefónicas, logo se falou de uma antena existente nos CTT de Chaves que servia de refúgio a milhares de estorninhos. E assim se volta ao passado:  
“Disse-lhe da minha profunda emoção ao presenciar em Bolama, na antiga colónia da Guiné, um espetáculo em todo idêntico, não com estorninhos mas com morcegos que todos os dias se deslocavam aos milhares entre Bolama e a mata densa na outra margem do rio, no momento do pôr e do nascer do sol. Porque esta é uma das mais comoventes manifestações da natureza que guardo da minha passagem por aquele território guineense”.

É de saudar o regresso de António Loja à Guiné, aos 83 anos ainda está firme no seu posto de capitão daquele bando de irmãos, um exemplo para todos nós.
____________

Notas do editor:

[1] - Vd. postes de:

27 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6477: Notas de leitura (112): As ausências de deus, de António Loja (1) (Mário Beja Santos)

28 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6483: Notas de leitura (113): As ausências de deus, de António Loja (2) (Mário Beja Santos)
e
30 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11993: Notas de leitura (515): "As Ausências de Deus", por António Loja (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 12 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18203: Notas de leitura (1031): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (17) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18216: Historiografia da presença portuguesa em África (106): a história desconhecida da Guiné dos anos 60-70 do séc. XIX: Alfa Moló e Alfa Mussá, heróis dos fulas-pretos (Armando Tavares da Silva)

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Mussá Moló, tendo à sua direita Dembá Dançá, e à sua esquerda Maransará, chefe-de-guerra deste último (in Francis Bisset Archer, The Gambia Colony and Protectorate. An OfficialHandbook, London, 1906)-Cortesia de ATS.


[A vermelho, a atual fronteira da Guiné-Bissau. Cortesia de ATS]


1. Mensagem de 11 do corrente, do nosso grã-tabanqueiro Armando Tavares da Silva:


Assunto - Blogue: Guiné Séc. XIX

Caro Luís Graça,

Para quem se interessar pelos acontecimentos que se foram desenrolando na Guiné no decorrer do tempo, o texto que envio poderá ser útil e esclarecedor.

Há quem se queixe que em meados do século XX nada se sabia sobre aquele teritório. Tal não era também possível, pois não havia escritos que o pudessem permitir. Pouco mais se sabia além de que a Guiné tinha sido descoberta por Nuno Tristão.

Se percorrermos as “Histórias de Portugal”, mesmo, e sobretudo, as mais recentes, nada se encontra. E alguns trabalhos onde sumariamente se referem acções militares, confundem factos e apresentam erros. Acresce ainda que, quando se fala da Guiné, é quase sempre para denegrir. Talvez isto seja consequência do que ainda hoje leva a que se oiça dizer: “Mas aquilo tem algum interesse?”.

Parabéns ao blogue e seus editores, e... vida longa!

Abraço

ATS


2. Em comentário ao Post P18172  de 4-01-2018 (*), relativo à identificação do topónimo Gan Sancó, muito possivelmente um antigo regulado mandinga, Cherno Baldé menciona as contendas em que estiveram envolvidos mandingas e fulas. A menção destas contendas  levou-me a rever o que havia escrito em “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar, 1878-1926” [, imagemda capa à esquerda,],  sobre a própria emancipação dos fulas-pretos do domínio de mandingas e beafadas.

O alferes Francisco António Marques Geraldes, que havia sido comandante do presídio de Zeguichor, e que era chefe do presídio de Geba, relatando o que fora acção de Alfá Moló, diz-nos em 1886 que este, fula-preto, era chefe de uma “raça que há muitos anos vergava sob o jugo da escravidão. Beafadas, mandingas, fulas-forros e futa-fulas eram seus senhores e, enquanto estes descansavam das fadigas da guerra a que sempre se dedicaram, os fulas-pretos, largando as armas com que defenderam seus senhores, pegavam nos instrumentos agrícolas e ei-los curvados sobre o solo tirando do seu seio, à custa de trabalhos insanos, o alimento preciso para sustentar as tribos guerreiras de que dependiam.” 

Este estado de escravidão resultava da ausência de um chefe enérgico e audaz que se opusesse ao poder dos mandingas e beafadas. Moló, porém, entendeu fazer um esforço sobre-humano para tentar tal milagre e, à frente de um punhado de fulas, edifica a ocultas uma tabanca em lugar inculto e cheio de denso arvoredo, tabanca pequena e povoada só por homens. À distância de duas léguas existia uma outra de mandingas com suas famílias e haveres. “Os fulas-pretos atacam uma madrugada e de improviso esta tabanca; matam os homens, tomam as mulheres e cavalos; alargam a sua tabanca para assim haver cabimentos para as famílias entradas”.

Marques Geraldes situa em 1864 o começo da emancipação dos fulas-pretos, conseguindo Moló, que lutou até ao último dia da sua vida, destruir quase todo o poder dos beafadas e mandingas nos territórios de Geba até Gâmbia.

Depois da morte de Alfá Moló, será um dos seus filhos –Mussá Moló – possuidor de grande energia e superior inteligência, que chama a si os principais guerreiros jalofes, saracolés e mesmo antigos fidalgos mandingas que foram possuidores daqueles territórios e, devido às suas liberalidades, premiando os mais valentes, dando-lhes cavalos e mulheres, soube criar um tal prestígio que se tornou o ídolo dos fulas-pretos. Assim, Mussá soube vencer aqueles restos dos grandes povos que dominaram na Guiné e, em poucos anos tinha suplantado beafadas e mandingas, ficando possuidor de ambas as margens do rio de Geba desde a sua embocadura.

O território do Forreá povoado por fulas-forros estava igualmente cheio de escravos fulas-pretos. Em 1879, quando Agostinho Coelho inaugurou o governo da província, decorria a luta sangrenta entre os fulas-forros e os fulas-pretos, altura em que o Rio Grande mantinha o seu esplendor, ostentando as suas cinquenta e três feitorias prósperas e ricas, e em que a população de Buba era numerosa. 

Por espírito humanitário Agostinho Coelho, na difícil situação de procura da pacificação entre os povos que se digladiavam, e portanto da pacificação da província, recebeu na sua praça de Buba todos os fulas-pretos que quisessem ser livres, arrostando assim com uma guerra que lhe trouxe o completo definhamento do comércio e agricultura. Vendo-se os fulas-forros repentinamente privados dos seus escravos, não tiveram em mira senão vingar-se, o que deu começo a uma guerra no território de Forreá, que aniquilou o comércio e agricultura em Buba e feitorias do Rio Grande.

Joaquim da Graça Correia e Lança, que fora governador interino entre 1888 e 1890, referindo-se também, em relatório de 1890, aos povos que ocupavam a província, escreve: 

“Toda a região do alto Geba era ocupada pelos fulas-pretos, que se estendiam até ao Forreá, onde dominavam os fulas-forros. Era uma enorme área, outrora ocupada por mandingas e beafadas. Estes estendiam-se pela margem esquerda do rio Geba até à povoação deste nome e ocupavam o território de Bricama, Corubal e o Forreá. Aqueles, estendiam o seu império desde Farim até ao Futa-Djalon”. 

Ora, tanto a grande nação mandinga do interior, como os mandingas de Geba viram entrar no seu território “sem desconfiança os inofensivos pastores fulas que, com os seus rebanhos caminhavam sem cessar na direcção do oceano, apenas pedindo pastagem para os seus gados e sal para as suas comidas”. Vivendo sujeitos aos mandingas e beafadas, os fulas haviam sido objecto de “inúmeras extorsões e violências, vivendo uma vida verdadeiramente servil”, até que, em 1863, se dá um primeiro movimento de revolta, tendo-se verificado o primeiro combate em Cabucussará.

Como aqui se vê, Correia e Lança situa o primeiro combate de emancipação dos fulas-pretos em 1863, em Cabucussará.




Atlas da Guiné (1914): posição relativa de Gam Sancó e Ber[e]colon. Cortesia de ATS


Mas os mandingas também sofreram ataques e pesadas derrotas infligidas por futa-fulas, como se infere do referido comentário de Cherno Baldé ao Post P18172 (*).  Segundo este, a fortaleza mandinga de Berecolon foi destruída pelos almames do Futa-Djalon no início de uma guerra que se iniciara em 1852, e que terminaria com a derrota dos mandingas na batalha de Cansala em 1864. Marques Geraldes diz-nos que fora o almame Ibráhima, denominado o Sory, que maiores vitórias alcançara contra os mandingas, e eu faço notar que em 1882, na praça de Buba, circundada por uma paliçada, existia uma autêntica aldeia mandinga, onde se terão acolhido, provavelmente fugidos dos ataques de futa-fulas.    

Houve, porém, um território – o Oio – onde mandingas soninqueses conseguiram resistir aos avanços fulas. É o governador Júdice Biker que, em 1903, mais demoradamente se vai referir a este facto, começando por notar que por muitos anos durou a luta entre fulas e soninquezes, ficando aqueles vencedores tomando posse do chão dos soninquezes, à excepção da região chamada Oio, ainda hoje pertencente aos soninquezes.

Acrescenta Júdice Biker:

“Depois, os fulas passaram a conquistar o território pertencente aos beafadas, luta que igualmente durou bastantes anos, mas sendo os beafadas expulsos do seu chão que igualmente ficou pertencendo à raça fula, refugiando-se os beafadas em Quinará e Cubissegue, que ainda hoje conservam devido à protecção do governo”.

E continua:

 “Relativamente ao Oio, os fulas empregaram todos os esforços para ocupar aquela região. A tabanca de maior nome do Oio é a de Gussará; cinco vezes foi atacada pelos fulas que foram sempre derrotados sofrendo perdas enormes”. Por isso, “para os fulas o Oio passou a ser considerado como território com feitiço”.

Vai ser na sequência de uma incursão no Oio em 1902, e do “prestígio” de que dela resultara, que Júdice Biker, devidamente autorizado, vai proceder a título provisório à primeira cobrança do imposto de capitação (que antecedeu o imposto de palhota), o que realiza durante uma extensa digressão, entre Fevereiro e Março de 1903, em que percorreu de Buba a Geba 275 quilómetros. (**)

Guiné 51/74 - P18217: Em busca de... (286): Camaradas do Pel Mort 2114 (Tite, 1969/71) (Joaquim Pereira da Silva, Custóias, Matosinhos)

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1. O nosso camarada Joaquim Pereira da Silva, residente em Custóias, Matosinhos, telefonou-nos para saber de 2 camaradas do seu Pel Mort 2114 (Tite, 1969/71), mobilizado pelo RI 2 (Abrantes) (*):

i) Lino Duarte Meneses (Benfica, Lisboa);

ii) Francisco Paulinho Sevinha dos Santos (Trafaria, Alamada).

Os três eram soldados de armas pesadas de infantaria. o Joaquim Pereira da Silva é da Tabanca de Matosinhos, amigo do nosso grã-tabanqueiro Albano Costa, de Guifões, que lhe facilitou os contactos...

Enfim, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Vamos ver o que conseguimos apurar, e nomeadamente pôr os três (ou mais) camaradas do Pel Mort 2114, de novo em contacto... Não temos infelizmenmte nenhuma referência a esta (e muitas outras subunidades) de armas pesadas de infantaria (**),

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Notas do editor:

(*) Último poste da série >  17 de dezembro de 2017 >Guiné 61/74 - P18094: Em busca de ... (285): Camaradas do meu pai, João Arindo Canha, que pertecenceu ao Pel Caç Nat 57, e esteve em Cutia, na região do Oio (Henrique Canha)

(**) Vd. poste de 15 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18214: Pelotões de Morteiros mobilizados para o CTIG: elementos históricos e estatísticos (Jorge Araújo).

Guiné 61/74 - P18218: Historiografia da presença portuguesa em África (107): Alfa Moló (c 1820-1881) e Mussá Moló (1846-1931), heróis de todos os fulas, tanto dos fulas-pretos (antigos servos) como dos fulas-forros (antigos senhores), uns e outros oprimidos pelos mandingas (Cherno Baldé, Bissau)

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Mussá Moló, tendo à sua direita Dembá Dançá, e à sua esquerda Maransará, chefe-de-guerra deste último (in Francis Bisset Archer, The Gambia Colony and Protectorate. An Official Handbook, London, 1906). [O Cherno Baldé leu mal a legenda: a foto não é do Alfa Moló mas do filho, Mussá Moló].

Cortesia de Armando Tavares da Silva (2018)

Comentários do Cherno Baldé ao poste P18216 (*)
Cherno Baldé, Bissau

1. Caro amigo Armando: Muito obrigado pelos importantes subsídios para a história da Guiné. Obrigado, também, pela imagem do lendário Alfa Moló Baldé [, não, trata-se do Mussá Moló].

Dizem que o seu apelido original [do Alfa Moló], antes do cativeiro, seria Culubali. O Baldé era o apelido do seu Senhor e Suserano que ele foi obrigado a adoptar, como se fazia na época. Para quem não sabia, é isto que explica o número elevado de famílias "Baldé" no antigo território por eles governado, onde a maior parte eram descendentes de antigos captivos. "os fulas-pretos".

O Demba Dança, ou Dansa, era irmão mais novo e herdeiro legítimo do irmão Alfa Moló Baldé, facto que a administração colonial não compreendia na altura, tomando-o por um simples aventureiro, arruaceiro.

O Mussa Moló era o filho, pelo que, de acordo com os usos e costumes da época, devia esperar até chegar a sua vez. Não quis e usurpou o poder no meio de muita guerra e intriga palaciana, entre fulas-pretos, fulas-forros, futa-fulas, mandingas em decadência, beafadas e potências estrangeiras. [Morreu em 1931]

2. Caro Luis, duvido que encontres o topónimo Cabucussara. Deves ver o Cabu na persprctiva de Gabu e Cussará poderia ser a actual Cossaraá (Regulado de Bafatá) ou Gussará. Assim Cabucussara deveria ser Cossara ou Gussara do Gabu ou Cabu em mandinga.

Gostei imenso de ler estes textos e os mapas da época apresentados por Armando T. Silva. Espero ver um bom trabalho da história da Guiné contada, desta vez, pela voz de quem conhece.

3. Como se costuma dizer, uma imagem vale mais do que muitas palavras. A imagem do (Alfa) Moló Baldé corresponde bem ao que ouvimos dos nossos pais e avós, de um homem simples que, certamente, estava imbuído do alto espírito e designo de libertar os fulas da opressao insuportável a que estavam sujeitos pelos mandingas durante séculos. Não tinha ambicoes imperialistas.

A sua ligação ao Futa-Djalon é atestado pelo título que recebeu: "Alfa" quer dizer Chefe de Província, um pouco abaixo do titulo imperial de " Almame" que estava reservado ao Chefe teocrático do Futa, o Ibrahima Sory Maudo e seus sucessores.

Já o seu filho, Mussa Molo, era mais ambicioso e em consequência, mais belicoso. Todavia, os tempos tinham mudado e, na região. tinham chegado os Europeus que teriam a sua palavra a dizer no contexto da região, da África e do mundo.

4. Após consulta a alguns sites na Net, constatei que a foto que acompanha o texto não é o de Alfa Molo, mas o de Mussa Moló, seu filho.

O Alfa Molo ou Molo Egué (nome original) não teria feições tão finas e bonitas como o Mussá Molo. Pois que este último tinha nascido da união de seu pai (Molo Egué) com a Cumba Udé, filha do seu Senhor que era fula-Forro.

Também a data que consta na foto (1913) indica claramente que não poderia ser o pai pois este morreu em 1881 na localidade de Dandum Cossara que ele escolhera para capital do império de Fuladu e que se estendia entre as bacias dos rios Geba e Gâmbia.

Dandum Cossara ou Gussara situa-se a cerca de 15 km a nordeste de Bafatá, na Estrada antiga que ligava Bafatá a Contuboel. Estou convencido que o tal topónimo de Cabucussara seria a junção de duas palavras ou seja Cabu+Cussara e há fortes probabilidades de estar ligado com a história do actual regulado de Cossara ou Gussara.

Quanto ao conteúdo do titulo de que o Alfa Moló e seu filho seriam heróis dos fulas pretos, acho que não é bem assim, eles ainda hoje são considerados como os heróis de todos os fulas, sejam eles Forros (antigos senhores), sejam Pretos (antigos servos), na realidade todos eles eram servos dos mandingas e foi contra estes que todos os Fulas se reuniram para acabar, aparentemente, com os seus abusos de poder.


A propósito destes heróis Fulas, Amílcar Cabral, no livro da “História da Guiné e as ilhas de Cabo-Verde, diria assim: "...sempre que os africanos se levantaram para lutar e libertar os seus irmãos da dominação e da tirania dos outros, acabaram por se transformar ainda em maiores tiranos e continuar a oprimir os seus próprios irmãos".

Ironia de destino, o movimento de libertação que o próprio criou e dirigiu, o PAIGC, acabaria por se transformar na pior de todas as tiranias que os nossos povos jamais conheceram e, ainda hoje, continuamos a ser reféns da ditadura militar que nos impuseram e para a qual não encontramos saída.

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