Quantcast
Channel: Luís Graça & Camaradas da Guiné
Viewing all 11948 articles
Browse latest View live

Guiné 61/74 - P19455: In Memoriam (337): José Arruda (1949-2019), presidente da direção nacional da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas: o corpo estará em câmara ardente com guarda de honra militar, na sede na associação, em Lisboa, a partir das 16h00 de amanhã, 5ª feira, sendo a última cerimónia fúnebre, 6ª feira, às 16h00, no crematório do cemitério dos Olivais

$
0
0

Lisboa > ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas > Av Padre Cruz > 17 de Novembro de 2009 > 18h > Lançamento do livro de Manuel Godinho Rebocho, "Elites Militares e a Guerra de África" (Lisboa, Editora Roma, Colecção Guerra Colonial, nº 8, 2009, 486 pp,).(*)

Na mesa, na sessão de apresentação do livro, estiveram presentes o  Dr. Manuel Joaquim Branco, o autor, Doutor Manuel Godinho Rebocho, o José Arruda (presidente da ADFA), a Prof Doutora Maria José Stock, da Universidade de Évora (e orientadora da tese de doutoramento em sociologia do nosso camarada Manuel Rebocho, discutida e aprovada em provas públicas, na Universidade de Évora, em 2005) e ainda  o editor Dr. José Vicente (Editora Roma).

Na foto acima, o presidente da Direcção Nacional da ADFA, José Eduardo Gaspar Arruda (1949-2019), antigo combatente no TO de Moçambique, e que tive o prazer de conhecer pessoalmente nessa ocasião, tendo-lhe apresentado as saudações de toda a nossa Tabanca Grande. (*)

 O  camarada Arruda convidou-me, por sua vez, para comparecer na festa dos 35 anos do jornal ELO, na segunda-feira seguinte, dia 20. Por razões da minha vida profissional, não pude infelizmente lá estar, nesse dia e hora. Mas não quero faltar, desta vez.  á derradeira despedida, da Terra da Alegria,  do nosso camarada José Arruda, em meu nome pessoal e dos demais membros da Tabanca Grande. (**)


Foto (e legenda): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: BLogue Lu+is Graça & Camaradas da Guiné]




Honras Fúnebres ao Comendador José Eduardo Gaspar Arruda Presidente da Direção Nacional da ADFA

ADFA | 30 de janeiro 2019 [comunicado eeproduzido com a devida vénia]


A Associação dos Deficientes das Forças Armadas – ADFA cumpre o doloroso dever de informar sobre as Cerimónias Protocolares e Honras Fúnebres que serão prestadas ao Senhor Comendador José Eduardo Gaspar Arruda, Presidente da Direção Nacional da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, no Auditório Jorge Maurício, na Sede Nacional da ADFA, em Lisboa.

O Comendador José Arruda estará em câmara ardente, com Guarda de Honra Militar, e será velado a partir das 16h00, até às 23h30, do dia 31 de janeiro, quinta-feira.Na sexta-feira, dia 1 de fevereiro, o Velório prosseguirá a partir das 10h00 até às 14h00, hora a que terá lugar a Cerimónia Fúnebre.


Nesta última homenagem intervirão o Presidente da Mesa da Assembleia-Geral Nacional da ADFA, Joaquim Mano Póvoas, e o associado António Calvinho. A Cerimónia Religiosa de Encomendação será presidida pelo Capelão-Chefe e Bispo das Forças Armadas, Dom Rui Valério. Seguidamente, a Família – filhos José Paulo e Bóris – deixará o seu testemunho e homenagem. Tem lugar depois um pequeno momento musical.

O Cortejo Fúnebre segue, pelas 16h00, até ao Crematório do Cemitério dos Olivais, para a prestação de Honras Militares.


O cerimonial de exéquias e honras militares foi definido de acordo com a vontade expressa da Família do Senhor Comendador José Arruda.

A ADFA reitera, neste último adeus ao seu Presidente, o profundo reconhecimento pela sua dádiva a Portugal e aos cidadãos portadores de deficiência, especialmente aos deficientes militares.

“Eu não canto o épico da guerra!
Não, Não canto!
Eu canto a agressão que fui e suportei!”

Capitão António Calvinho, “Trinta Facadas de Raiva”

A Direção Nacional da ADFA

_____________

Notas do editor:

(*) Vd poste de 26 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5343: Bibliografia (31): Lançamento do livro de Manuel Rebocho, na ADFA, Lisboa, 17/11/09: Foto-reportagem

(**) Último poste da série > 27 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19446: In Memoriam (336): José Arruda (Movene, Moçambique, 1949 - Lisboa, 2019), líder histórico da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas

Guiné 61/74 - P19446: Blogoterapia (291): Graças à vida... e ao nosso blogue (Virgílio Teixeira / Luís Graça)

$
0
0
1. Comentário de Virgílio Teixeira [ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), nascido no Porto em 29 de janeiro de 1943; vive em Vila do Conde, economista e gestor reformado (*) 


Caros amigos, camaradas e membros do Blogue:

A todos os que leram este Poste, aos que comentaram esta data de aniversário, e a todos os outros que por razões, que a razão desconhece, não aparecem aqui, pela minha parte o meu muito sincero, obrigado.

Entro hoje no chamado quarto quadrante da vida, se tivermos como horizonte os 100 anos.

No 1º quadrante fomos crescendo, aprendemos a ler, chegamos a gente adulta, e fomos cumprir as nossas obrigações, enquanto cidadãos de Portugal.

No 2º quadrante formamos familia, o objectivo da vida, e procuramos o nosso caminho.

No 3º quadrante, já instalados na nossa missão na terra, estamos na velocidade cruzeiro, e já pensamos que sabemos quase tudo.

No 4º quadrante, que começa no 1º dia dos 76 anos, vamos percorrer a parte mais dificil da nossa existência, lutando, agora não contra as minas e armadilhas, mas contra um inimigo implacável, a idade, o inicio da velhice que custa a convencer-nos, e o outro lado da batalha, a doença que nos vai levar, mais tarde ou mais cedo, a fazer parte da lista daqueles que da lei da morte se foram libertando – isto aprendi aqui no blogue, entre muitas outras verdades.

Quero aqui publicamente agradecer ao nosso editor, amigo e camarada, Luís Graça, a única pessoa que conheço que nasceu no meu dia, por me ter trazido para a companhia destes nossos tertulianos, cujo convivio, mesmo que virtual, deram um novo rumo à minha vida. 

Partilhando acontecimentos que julguei sempre que só tinham passado por mim, e que afinal, nos juntamos num núcleo de pessoas, que têm em comum mais do que terem passado pela guerra da Guiné, mas acima de tudo porque ficaram e estão marcados por esta vivência e não conseguem ver-se livres do «espirito e mistério» daquela terra, tão madrasta, para tanta gente, e que nos amarrou para toda a vida.

Obrigado por me terem aturado os meus maus momentos, e por tudo aquilo que escrevo e que não é do agrado de todos, mas são coisas que não consigo ultrapassar, estou bem assim e espero continuar por muito tempo, há aqui um espaço de escape, para partilhar com gente que sabe do que falo, pois hoje, é mais dificil encontrar alguém que entenda esta linguagem.

E agora comentando para o aniversariante Luís Graça, nos seus jovens 72 anos, que seja muito feliz, e que o País lhe pague por ter ‘montado’ este Blogue, narrando a nossa guerra, sem hipocrisia, sem preconceitos, sem politica, apenas a verdade nua e crua, quer se goste ou não, mas que ficará para sempre na nossa história, da nossa geração. Parabéns, Luís, e um Bom Dia junto daqueles que te são mais queridos. Virgilio Teixeira Vila do Conde, 29 de Janeiro de 2019

P.S. - Para quem não sabe: No dia 29 de Janeiro de 1943, estava eu a nascer, quando o General Nazi Paulus comunicou a Hitler que se ia render aos Russos na frente da batalha de Leninegrado, levando para a morte inglória, mais de 200 mil soldados.


2. Comentário de Luís Graça, ex-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), nascido na Lourinhã, em 29 de janeiro de 1947; é sociólogo,  professor universitário reformado, vive entre a Lourinhã e Alfragide / Amadora:


Como já tive ocasião de te dizer pessoalmente ao telefone, fico feliz e sensibilizado por ler o teu sincero e emotivo comentário, para mis sendo tu um dos mais recentes, mas também mais ativos,  grã-tabanqueiros entrados há pouco mais de um ano...

Tens  já mais de 110 referências no nosso blogue, o que é obra!...  Tens um extenso álbum com um milhar de fotos a preto e branco e a cores, e uma memória notável dos temos e lugares da guerra da Guiné.

Gosto da tua franqueza e frontalidade, és tipicamente um homem do Norte. Fazes anos no mesmo dia que eu, por isso passei,  a partir de ontem, a tratar-te  também como "mano", além de amigo e camarada...

Só me lembro de um velho amigo, que já morreu há muito, que fazia anos no mesmo dia que eu: o tio João 'Moleiro', da Atalaia / Lourinhã... Moleiro de profissão... (E, mais recentemente, de um dos filhos do meu amigo Luís Morais, de Tomar, que eu ajudei a doutorar em saúde pública, e curiosamente filho de miliar, com vivências em Angola, na infância)

Quando lá vivi, na Lourinhã, e sobretudo nos primeiros anos do meu regresso da Guiné, entre 1971 e 1974, ia sempre lá a casa dele, o ti João 'Moleiro', que sempre conheci 'nfarinhado',  beber um copo à sua/nossa saúde, nesse dia... Com o meu saudoso amigo, colega e primo João 'Patas' que, se não erro, era afilhado do ti João 'Moleiro' ... (Nas terras pequenas, na província, toda a gente tem alcunhas, muitas vezes ligadas às velhas profissões: moleiro, sapateiro, funileiro, mata-porcos, etc.)

E, ainda a propósito: descobri que o João 'Patas', meu colega nas finanças, era meu primo, depois de morrer, ainda novo, com filhas para criar, naquela idade em que devia ser proibido um homem morrer... Fez uma comissão em São Tomé e Príncipe, o João 'Patas', no início dos anos 60... Era do clã "Maçarico", de Ribamar, como eu... Os nossos bisavós eram irmãos, soube-o mais tarde, tarde de mais...

Virgílio, sei que não gostas de fazer anos... Afinal, quem gosta de envelhecer ? É verdade,  hoje estamos um ano mais velhos, mas estamos vivos!... Em rigor, matematicamente falando, estamos 24 horas mais velhos do que ontem... É só isso.  E tivemos, os dois, que revalidar a carta de condução...

Mas demos graças à vida, por tudo o que a vida nos deu!... e nos vai continuar a dar... porque, modéstia à parte, a gente merece tudo... e mais qualquer coisinha!

Espero que tenhas tido, com a tua querida família, um belo jantar, em Vila do Conde... Como eu te dsse, se fosse mais perto, iria lá cravar-te um uisque... com água de Perrier... Mas fica para a próxima! ... Afinal, Vila do Conde não fica longe dos sítios por onde pário quando vou ao Norte...

Espero poder, entretanto, dar-te um abraço ao vivo, em Monte Real, no dia 25 de maio.... Já temos marcado, para esse dia, o XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande... Vamos comemorar os 15 anos de existência deste espaço (único) que é o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, onde todos cabemos com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos pode separar (a política partidária, a religião proselitista, o clubismo futebolístico...).

E, mais uma vez,  obrigado pelo teu elogio ao blogue qe que foi pensado, justamente, para unir todos os camaradas que estiveram na Guiné, entre 1961 e 1974... Os vivos e os mortos...  Todos, independemente da arma, da especialidade ou  do posto... E a única união possível é através da partilha das memórias (e dos afetos)... Um alfabravo, Luís.

PS - Blogoteria: substantivo feminino > Blogo (de blogue) + terapia > tratamento de 'doenças ou distúrbios' através da partilha de memórias e afetos (por exemplo, entre antigos combatentes ou camaradas de armas)... Ainda não vem nos dicionários... Mas há-de lá chegar.

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19451: Parabéns a você (1569): Luís Graça, ex-Fur Mil Armas Pesadas Infantaria da CCAÇ 12, fundador e editor deste Blogue e Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil SAM do BCAÇ 1933 (Guiné, 1967/69)

Guiné 61/74 - P19457: Historiografia da presença portuguesa em África (147): O padrão, no Gabu, comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné (1446-1946)

$
0
0


 Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > Janeiro de 1968 > O Virgílio Teixeira junto aum padrão do V Centenário, localizado "perto de Nova Lamego, à saída para Bafatá".

Foto (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso editor Luís Graça, na sequência do poste P19448 (*)


Virgílio e Valdemar:

Aparentemente, está desvendado o mistério da foto nº 7:  o "padrão", junto ao qual foi fotografado o meu "mano" Virgílio Teixeira, é o do V Centenário da Descoberta da Guiné, 1446-1946... Ampliei a foto, e consegui ler parte da inscrição na parte inferior: [cen]tenário e [19]46..

Devia haver vários padrões deste tipo, de estética estado-novista, espelhados pelo território da Guiné, provavelmente nas sedes das circunscrições (Bafatá, Nova Lamego, Bissorã, Farim, Teixeira Pinto, etc.). Foi obra do governador geral Sarmento Rodrigues, no ªambito das comemorções do V Centenário da Descoberta da Guiné...(**)

No nosso blogue, há imagens de pelo menos um padrão comemorativo da efeméride: estava (e está) em Portogole, na margem direita do Rio Geba... Mas a forma é diferente, é cilíndrica, uma coluna tal como os padrões, coma as cinco quinas, que os nossos navegadores íam colocando, nas por si demandadas e "descobertas"... (**)

Também encontrámos uma outra, nas imediaçõe sde Susana, no chão felupe: esse padrão é idêntico ao do Gabu e da mesma altura.... A inscrição na base não deixa dúvidas: "V Centenário 1446-1946"...

Em relação ao padrão do Gabu, ainda poderia, inicialmente,  haver um pequena dúvida: podia eventualmemte tratar-se de um  monumento comemorativo da morte do Infante Dom Henrique, o V Centenário do Infante Dom Henrique (1460-1960)... Há um monumento desses pelo menos no Cacheu.

Mas a dúvida, em relação à foto do Virgílio Teixeira,  dissipou-se: o algarismo que se lê na bse do monumento  é [19]46 e não 1960... 




 Guiné > Região do Cacheu > Cacheu > Março de 1972 > Monumento em homenagem do "V Centenário da Morte do Infante Dom Henrique [1460-1960]. Foto do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73)


Foto e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementae: Blogue Luís Graç & Camaradas da Guiné]



Tudo indica, portanto, que este monumento, o do Gabu,  tenha sido inaugurado em 6/2/1947, quando o subsecretário de Estado das Colónias, engº Rui Sá Carneiro,  na companhia do governador geral Sarmento Rodrigues, passou pelo Gabu, no seu périplo pela Guiné. em representaçãodo Governo Português, no âmbito das comemorações do V Centenário da Descoberta da Gyuiné (1446-1946). Na época o Gabu era Gabu, só mais tarde passou a designar-se pro Nova Lamego.(****)





Guiné > Região de Cacheu  > Suzana > Monumemto comemortativo do "V Centenário 1446-1946"... Homenagemm também ao mito felupe do primeiro casal felupe:  “Foi aqui que o primeiro Felupe ergueu a sua casa da tradição”... (**)  Segundo Lúcia Bayan, especailista da sociedade felupe,  doutorando em estudos africanos, ISCTE - IUL, trata-se do mito fundador dos felupes de Suzana, segundo o qual "Emit-ai (Deus) deitou à terra um casal felupe, que construiu a primeira casa felupe e deu origem à primeira tabanca felupe, denominada Sabotul. Situada perto de Suzana, Sabotul terá sido destruída, provavelmente no século XIX, por Ambona, o herói felupe que fundou Suzana"... O padrão do V Centenário não ficou no local da antuga Sabotul mas a alguns quilómetros antes.


Foto: Arquivo do Blogue Luís & Camaradas da Guiné [, em princípio os crédistos fotográficos devem ser atribuídos a Lúcia Bayan; trata-se de um excerto de um texto desta que veio "coaldo" a um outro de Mário Beja Santos, certamente por lapso...[




Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 2005 > Marco comemorativo do V Centenário da Descoberta da Guiné (1446-1946) > Porto Gole, na margem direita do Rio, na estrada Bissau - Nhacra - Mansoa - Porto Gole - Bafatá (interdita no meu tempo, 1969/71. L.G.). 

A fotografia é do Jorge Neto (pseudónimo,. Jorge Rosmaninho, autor do blogue "Africanidades (Vivências, imagens, e relatos sobre o grande continente - África vista pelos olhos de um branco") que não já está ativo). 

Este monumento foi inaugurado em 8/2/1947 pelo subsecretário de Estado das Colónis, engº Rui Sá Carneiro, sendo governador geral Sarmento Rodrigues.

Foto: © Jorge Neto (2005)- Todos os direitos reservados {[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
_______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

28 de janeiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19448: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXI: As colunas para o sudoeste do setor: Bafatá, Fá Mandinga e Bambadinca, eram mais de 200 km, ida e volta


(**) Vd, postes de:


Guiné 61/74 - P19458: (In)citações (124): A Angola e os angolanos que eu conheci e que ficaram no meu coração: os nossos camaradas angolanos eram filhos do povo, do admirável e sofrido povo de Angola; (...) para a esmagadora maioria deles, foi só quando passaram a fazer parte da nossa companhia que eles puderam, pela primeira vez nas suas vidas, relacionar-se com brancos de igual para igual, olhos nos olhos, ombro com ombro, de homem para homem ... (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535, 1972/74)

$
0
0
Fernando de Sousa Ribeiro. Vive no Porto.
Mss também gosta de Lisboa  onde viveu e trabalhou
Term página no Facebook
1. Mensagem de Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 (Angola, 1972/74), membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018_

Obrihgado, Luís, pelos votos e pelo vídeo.

Alguma coisa tem vindo a mudar em Angola desde que João Lourenço assumiu a presidência. Este vídeo [, em que o comandantenacional da política denuncia, publicamente, a corrupção na instituição e expulsa das suas suas fileiras alguns dos seus mais elementos] é uma demonstração real disso.

Mas as dificuldades que o João Lourenço está a enfrentar são provavelmente maiores do que as que ele esperava encontrar, sobretudo no que ao repatriamento de capitais desviados para os paraísos fiscais diz respeito.

Até agora, ele só tem ouvido palavras aparentemente muito simpáticas de vários governos e entidades internacionais, mas sem consequências práticas. O Reino Unido, então, já recusou repatriar os 500 Milhões  de dólares desviados do Fundo Soberano de Angola pelo filho mais novo do José Eduardo dos Santos, José Filomeno dos Santos, e sua quadrilha. É a pérfida Albion no seu "melhor".

De qualquer modo, o tempo parece estar a jogar a favor de João Lourenço, que vai consolidando o seu poder, mas também joga contra ele, porque a economia angolana não parece estar a "levantar voo", nem pouco mais ou menos. Espera-se que este ano a economia do país entre em recessão, o que é muito mau.

Esperemos para ver, desejando que as coisas melhorem, para bem de um povo que eu aprendi a amar, graças aos maravilhosos subordinados angolanos que tive o supremo privilégio de comandar e pelos quais choro copiosas lágrimas de saudade.

A este respeito, permito-me reproduzir as seguintes palavras que lhes dediquei no meu livro inédito de memórias da guerra, a que dei o título de "Dignidade e Ignomínia":


Sinto um orgulho enorme nos subordinados [portugueses e angolanos] que me coube comandar.

(...) Posso (...) afirmar categoricamente que fui um privilegiado por ter tido a meu lado companheiros dotados de uma tal fibra.

Fui ainda mais privilegiado porque entre eles havia angolanos, que foram das pessoas mais extraordinárias que conheci. Não há dinheiro no mundo que pague toda a sua sabedoria, toda a sua generosidade e toda a sua sensibilidade. Depois de os ter conhecido, nunca mais fui o mesmo.


Tenho os seus nomes escritos em letras de ouro no meu coração: Domingos Amado Neto, Silva Alfredo dos Santos, Domingos Cangúia, Diogo Manuel, Ramiro Elias da Silva, Domingos Jonas, Mateus Tchingúri, Jonas Vitorino, Lucas Quinta, Henrique Luneva, Raimundo Nunulo, Domingos Dala, Fortunato Francisco João Diogo e Simão João Leitão Cavaleiro. Nunca os esquecerei.

Os nossos camaradas angolanos eram filhos do povo. Do admirável e sofrido povo de Angola. Quer isto dizer que, para a esmagadora maioria deles, foi só quando passaram a fazer parte da nossa companhia que eles puderam, pela primeira vez nas suas vidas, relacionar-se com brancos de igual para igual. Olhos nos olhos, ombro com ombro, de homem para homem. E eles foram insuperáveis no companheirismo e na dignidade com que se relacionaram connosco, os europeus da companhia.


Encontrando-se na mesma situação que nós, os nossos camaradas angolanos não se limitaram a partilhar as suas vidas connosco no seio da companhia; eles fizeram parte integrante de nós mesmos, tanto quanto isto foi possível.


Eles travaram os mesmos combates que nós.


Eles caíram nas mesmas emboscadas que nós.


Eles enfrentaram as mesmas minas que nós.


Eles contornaram as mesmas "bocas‑de‑lobo" que nós.


Eles suaram os mesmos cansaços que nós.


Eles enjoaram as mesmas rações de combate que nós.


Eles dormiram debaixo da mesma chuva que nós.


Eles tremeram os mesmos medos que nós.


Eles riram as mesmas alegrias que nós.


Eles choraram as mesmas saudades que nós.


Eles acalentaram as mesmas esperanças que nós.


Eles foram nós. Todos fomos nós." (...)(**)
Um abraço

Fernando de Sousa Ribeiro
Porto, 12 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19459: Notas de leitura (1146): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (71) (Mário Beja Santos)

$
0
0
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
Pôs-se termo ao expediente do gerente de Bissau quanto à evolução da luta armada, a partir do momento em que ele se limitou a enviar para Lisboa os Boletins Oficiais das Forças Armadas, deixámos de ter uma outra maneira de olhar os acontecimentos, cortou-se com a pluralidade.
O documento de Castro Fernandes, não hesito em classificá-lo assim, é uma das peças mais relevantes que constam do Arquivo Histórico do BNU.
Figura proeminente do regime de Salazar, vai produzir nestes apontamentos observações sulfúreas, não esconde que vem aí uma nova era e que não se pode iludir o separatismo. E se neste texto dá nota negativíssima ao Perfeito Apostólico, o que iremos ler a seguir sobre o meio social encerra alguns dos parágrafos mais eloquentes da descrição do colonialismo guineense.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (71)

Beja Santos

Concluída a viagem pelo expediente “Acontecimentos Anormais”, em síntese, a documentação enviada pelo gerente de Bissau para a governação em Lisboa sobre a eclosão e desenvolvimento da luta armada entre 1962 e inícios de 1964, temos agora por diante um conjunto de tarefas que culminarão com a cessação de funções do BNU na Guiné, tendo dado lugar ao Banco Nacional da Guiné-Bissau.

De 9 de março a 8 de abril de 1957, António Júlio de Castro Fernandes, o administrador do BNU com a tutela da Guiné, viaja à Província e produz uma coletânea de apontamentos que, atrevo-me a dizer, é um dos documentos fundamentais para análise sociopolítica e económica da década de 1950, e em certos domínios lança luz para tudo quanto se vai passar no tumultuoso itinerário que leva à saída das forças portuguesas em 1974. Daí a ênfase se irá fazer a um documento que, em termos historiográficos, estimo como incontornável, como se verificará.

O administrador, antigo Ministro da Economia, e mais tarde figura de proa da União Nacional (foi presidente da Comissão Executiva), elabora os seus apontamentos a partir da situação política que constatou.
Saltando imediatamente os considerandos geográficos, demográficos, por demais conhecidos, vejamos o que o administrador observa sobre a população dita civilizada:
“A grande maioria da população civilizada é constituída por comerciantes e funcionários. Há apenas um reduzido número de indivíduos exercendo profissões liberais e artes ou ofícios. Os ponteiros, quando não são puramente comerciantes, têm pequenas culturas, principalmente de cana-de-açúcar, feitas com mão-de-obra indígena.
Não há qualquer diferenciação de funções entre os civilizados por grupos rácicos: brancos, mestiços e negros constituem uma sociedade homogénea. Os libaneses dedicam-se exclusivamente ao comércio. Trata-se de uma sociedade burguesa, sem quaisquer preocupações de ordem intelectual. Vive este pequeno grupo em permanente emulação e intriga”.

E quanto à outra população:
“Não existem na Guiné elites nativas cultural e politicamente europeizadas, desligadas da minoria civilizada que dirige a vida da Província. Muitos régulos e chefes que mantêm o seu estatuto mas receberam forte influência europeia conservam uma ligação harmoniosa quer com a sociedade civilizada, quer com a sociedade indígena. Não há elites negras repelidas pela sociedade europeia e pela sociedade africana. Na Guiné Portuguesa não há elites nativistas, política ou culturalmente. O indígena quando tem razões de queixa é sempre contra determinada pessoa e não contra a sociedade civilizada”.

E tece o primeiro comentário que se prende com o mundo envolvente e as ideias separatistas:
“A situação geográfica da Guiné, encravada na África Ocidental francesa, não deixa de criar preocupações quanto às ideias separatistas que dominam o território francês e que podem ou infiltrar-se ou, quando tais infiltrações não sejam relevantes, ser postas no plano internacional.
O Perfeito Apostólico, sobretudo na sua paixão contra o Governador, mostra-se extremamente preocupado com as infiltrações que, segundo afirma, são já gravíssimas. Segundo me disse, não tardará que a Guiné Portuguesa constitua um caso idêntico ao de Goa.
O Governador, por seu lado, considera a nossa situação no plano internacional, no que diz respeito à Guiné, de extrema gravidade. Em sua opinião, é insustentável a nossa afirmação de que não temos colónias, de que a Guiné não é uma colónia, enquanto se mantiver a distinção legal entre cidadãos e indígenas. Para uma população de 509 mil indígenas, há 8,3 mil cidadãos, dos quais 360 são estrangeiros. À pergunta que nos farão qual a população da Guiné no seu total, a resposta de 518 mil indivíduos dos quais só 15% são cidadãos – conduz, naturalmente, à conclusão de que se trata de uma colónia, digamos nós o que dissermos. Em sua opinião, esta distinção entre cidadãos e indígenas deveria acabar: todos seriam cidadãos, embora uma parte desses cidadãos vivessem em regime tribal, respeitando o Estado o direito próprio de cada tribo, protegendo-os e educando-os por forma a que venham a gozar os benefícios da civilização. Claro que tal regime traria como consequência que todos os indígenas que soubessem ler e escrever teriam direito de voto. Tal perspectiva não o atemoriza – pelo contrário. Prefere um eleitorado disperso e sobre o qual os administradores possam exercer a sua influência a um eleitorado concentrado, muito fácil de manobrar pela oposição. Perguntando-lhe eu se a Guiné Portuguesa poderia vir a constituir um problema idêntico ao de Goa, respondeu-me ‘Pior, muito pior, porque na Índia temos uma obra em profundidade com 500 anos e aqui, na Guiné, não temos nada’.”

Segue-se uma descrição no campo das intrigas envolvendo o topo das instituições da colónia:
“Durante o interregno Melo e Alvim (fora Governador até 1956) exerceu a encarregatura do Governo o Inspector Superior Capitão Abel Moutinho. Pondo de parte o que dizem de bom, de mau e de péssimo, a respeito do Capitão Abel Moutinho, não restam dúvidas de que o senhor pretendeu ser nomeado Governador. Para tanto, foi organizando os seus quadros, formando à sua volta um grupo que o obviava e através do qual dirigia a Província. Também me não restam dúvidas – até por documentos que vi – que o seu orientador era o Perfeito Apostólico. Naturalmente que, por outro lado, foi preocupação do encarregado do Governo desmantelar o quadro que lhe era hostil. E, à cabeça, investiu com o Intendente (Chefe dos Serviços da Administração Civil), Santos Lima. Para tanto, instaurou-lhe um processo disciplinar com três fundamentos: actividades nativistas com ligações com os separatistas de Dakar, hostilidade à situação, irregularidades administrativas. O processo, para a instauração do qual contribuiu activamente o antigo Comandante Militar Neves e Castro, agradou ao Perfeito Apostólico – só por escrúpulo me não atrevo a dizer que foi por ele inspirado – e tinha como finalidade desmantelar com o Santos Lima o grupo que, de qualquer forma, lhe estava ligado.

A nomeação do Dr. Silva Tavares caiu como uma bomba no grupo Abel Moutinho. Este, em vez de desistir da almejada nomeação, tentou e tenta ainda – sempre através dos seus sequazes, tornar impossível a acção do Governador, obrigá-lo ou a estender-se ou a desistir. Para tanto, criaram-lhe – no intervalo entre a nomeação e a posse – todas as dificuldades possíveis.
O Perfeito Apostólico não escondeu nunca a sua hostilidade ao novo Governador. E marcou desde logo a sua posição, não esperando o Governador quando este chegou à Província e não assistindo à sua posse – claro que pretextando impedimentos pouco plausíveis.
Entretanto, o processo de Santos Lima foi seguindo o seu curso, mesmo antes da chegada do novo Governador tinham caído, por ausência de qualquer fundamento, as acusações de nativismo e hostilidade política. O Intendente foi reintegrado nas suas funções – ficando o processo disciplinar reduzido a duas ou três acusações sem a menor importância (Posso afirmá-lo, porque me foi facultada a leitura do processo). Como o Governador não investiu contra o Santos Lima e, pelo contrário, lhe deu e continua a dar consideração correspondente ao lugar que ocupa – embora tenha mandado que o processo siga o seu curso normal – tal atitude serviu de pretexto para o Perfeito Apostólico o atacar violentamente. Digo violentamente porque a mim mesmo me disse que a amizade do Governador pelo Santos Lima – homem desonesto e inimigo declarado das missões – era um autêntico escândalo. A verdade, porém, é que o Governador não é, nem deixa de ser, amigo do Santos Lima. O Governador não pode – só para satisfazer o Perfeito Apostólico e os amigos de Abel Moutinho – tratar mal, desprestigiar o Intendente. A hostilidade do Prefeito Apostólico manifestava-se um pouco em surdina, não se exibia publicamente. Até que surge o pretexto… Apareceu na Guiné um sujeito de Cabo Verde, dizendo-se vendedor de livros. Foi ao Gabinete, pedindo facilidades. O Chefe do Gabinete escreveu um cartão para o Director do Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, enviando-lhe o indivíduo e dizendo-lhe se os livros podiam interessar ao Centro. E é tudo… e foi um trinta e um. O camarada era propagandista de uma seita protestante e os livros aparentemente de cultura geral tinham o veneno na cauda. O Perfeito Apostólico escreveu uma carta violentíssima e malcriadíssima ao Governador, este responde-lhe em termos (li toda a correspondência e o relato do Governador para o Ministro – não me ficando dúvidas sobre a fragilidade do terreno em que o Perfeito se colocou).

A hostilidade agora é feita à luz do dia – por parte do Perfeito. Assim: do próprio púlpito da catedral, na presença do Governador, o Perfeito leu uma prática desancando-o e mandou que essa prática fosse lida em todas as igrejas da Guiné (os padres, porém, apenas a resumiram); quando o Governador chegou da Costa do Ouro, o Perfeito não assistiu nem à recepção nem à transmissão dos poderes (eu estava presente e vi que todos os padres estiveram no aeroporto); recusou – sempre com pretexto de doença ou ausência – o convite para assistir ao banquete que o Governador me ofereceu; pretextando uma pane, que certamente não houve, não veio ao cocktail que o Banco ofereceu; no dia da minha partida, foi ao cais mas despediu-se logo para se não encontrar com o Governador. Não esconde a sua má vontade. Acusa o Governador de seguir uma política económica errada, acusa-o de não favorecer a acção missionária, dificultando a sua missão, acusa-o de proteger o desqualificado Santos Lima, e muito mais.
Em minha opinião, a atitude do Perfeito Apostólico, além de indefensável, é erradíssima.
Pessoalmente, acho o Perfeito Apostólico uma pessoa muito simpática, activo, devotado – mas falta-lhe altura intelectual. É, por outro lado, um apaixonado, um violento, um recalcado. Não me parece que esteja à altura da missão extremamente oficial que lhe cabe.

A evangelização exige, num meio como a Guiné, uma técnica muito especial e que, a meu ver, não reside na imposição. Pretende o Perfeito que a coisa se passa através da acção policial ou governativa – mas de tal sorte que o antipático recaia apenas nas autoridades. Assim, a islamização da Guiné – que não constitui apenas um problema religioso, porque pode vir a constituir – e já constitui – um obstáculo à integração do indígena na comunidade nacional – é assunto que tem que ser encarado com uma delicadeza muito especial. Os islamizados (são os indígenas mais evoluídos) querem aprender a ler e a escrever, mas se forem instituídas escolas católicas mandam os filhos para o território francês. A única forma de actuar é pois instalar escolas laicas – o que constitui pretexto do ataque do Perfeito Apostólico contra o Governador, acusando-o de favorecer escolas não pertencentes às missões…”

E a seguir o administrador Castro Fernandes ajuíza um novo Governador e dá-nos um quadro espantoso do meio social.

(Continua)

____________

Notas do editor:

Poste anterior de 25 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19435: Notas de leitura (1144): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (70) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 28 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19449: Notas de leitura (1145): Viagens de Luís de Cadamosto e de Pedro de Sintra (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19460: In Memoriam (338): José Arruda (1949-2019): fotos da última homenagem no cemitério dos Olivais, com Honras Militares prestadas por um Pelotão do Exército, e Alas de Cortesia, compostas por praças dos três Ramos das Forças Armadas (José Martins)

$
0
0

Foto nº 1 > Cortejo auto



Foto nº 2 > Força para prestação de honras militares



Foto nº 3 > Alas de Cortesia


Foto nº 4 > Força em ombro e funeral armas.



Foto nº 5 > Carros para transporte de flores



Foto nº 6 > Carro com o caixão coberto pela Bandeira Nacional




Foto nº 7 > Distribuição de munições de salva



Foto nº 8 > Três salvas de ordenança


Foto nº 9 >  Três salvas de Ordenança.

Lisboa > Cemitério dos Olivais > 1 de fevereiro de 2019 > O funeral do José Arruda


Fotos (e legendas): © José Martins (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo, camarada e colaborador permanente José Martins, com data de hoje, às 18h07


Boa tarde

Acabo de chegar do funeral do José Arruda.

Como muitos gostariam de ter estado presente, e não lhes foi possível, envio as fotos possíveis.

Apesar de pertencer à Classe de Sargentos DFA, teria direito a uma Guarda de Honra a nível de pelotão.

Porém foi entendido que, devido ao cargo que ocupou nos últimos tempos em prol dos Deficientes das Forças Armadas, a maioria dos quais combatentes, foi decidido que as Honras Militares fossem prestadas por um Pelotão do Exército, e as Alas de Cortesia, compostas por praças dos três Ramos das Forças Armadas.

O velório decorreu no salão nobre da ADFA, tendo uma guarda de dois militares em permanência. O funeral seguiu para o Cemitério dos Olivais (Lisboa) onde o corpo foi cremado.

Fotos:

1 > Cortejo auto
2 > Força para prestação de honras militares
3 > Alas de Cortesia
4 > Força em ombro e funeral armas.
5 > Carros para transporte de flores
6 > Carro com o caixão coberto pela Bandeira Nacional
7 > Distribuição de munições de salva
8 e 9 > Três salvas de Ordenança.


Abraço
Zé Martins

_____________

Nota do editor:

Vd. postes anteriores da série > 

30 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19455: In Memoriam (337): José Arruda (1949-2019), presidente da direção nacional da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas: o corpo estará em câmara ardente com guarda de honra militar, na sede na associação, em Lisboa, a partir das 16h00 de amanhã, 5ª feira, sendo a última cerimónia fúnebre, 6ª feira, às 16h00, no crematório do cemitério dos Olivais

27 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19446: In Memoriam (336): José Arruda (Movene, Moçambique, 1949 - Lisboa, 2019), líder histórico da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas

Guiné 61/74 - P19461: Parabéns a você (1570): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305 (Guiné, 1970/73)

Guiné 61/74 - P19462: (In)citações (125): Por histórias de amizade e camaradagem como as do Jonas (que combateu depois pelo MPLA e morreu no Huambo em 1982) e do Sessendje (que se alistou na UNITA), eu posso orgulhar-me de ter pertencido à CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 (Zemba, Angola, 1972/74), que promoveu a amizade e não o ódio (Fernando de Sousa Ribeiro)

$
0
0

Foto nº 1 A > À frente do pelotão o furriel miliciano Luís Macedo; o sexto militar que se vê à direita do Macedo, e que é o mais pequeno de todos, era  o Domingos Jonas, que tinha como alcunha "Miúdo", um soldado natural do Huambo [Nova Lisboa]


Foto nº 1 B > O resto do pelotão, em formatura


Angola > Zemba > CCAÇ 3535 (1972/74) > O meu  grupo de combate que comandei, quase todo, em Zemba.


Foto (e legenda): © Fernando de Sousa Ribeiro (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso editor Luís Graça , enviada em 12/1/2019 ao Fernando de Sousa Ribeiro [, foto à esquerda]


Fernando: vejo que tens montes de recordações boas de Angola e dos teus/nossos camaradas angolanos... E mais: tens um livro inédito... À espera de quê ?

Podes partilhá-lo no todo ou em parte no nosso blogue...Pelo menos, chegas a um público mais vasto... E há cada cada vez mais gente interessada em conhecer a história, a geografia e a cultura de Angola... e nomeadamente a segunda metade do sec. XX, terrível para o povo angolano...Quando fui lá pela primeira vez, em 2003, havia dezenas e dezenas, talvez centenas, de mutilados de guerra nas ruas... 400 mil deficientes diziam-me, terá sido o balanço da chamada 2ª guerra da independência...

Pediram-me para lá voltar em 2019, não sei se já terei forças... Angola, hoje, não é para todos!

Gostava de poder publicar o texto que escreveste, com as nevessárias adaptações, não vou exibir o vídeo, até porque não falamos da "atualidade política" dos nossos países... Por uma questão de coerência, autenticidade, economia de meios, etc. Seria uma "caixinha de Pandora"... E eu só me interessa o "material vivido", as experiências, as emoções, as recordações do tempo da guerra colonial...

2. Resposta do Fernando de Sousa Ribeiro, com data de  13/01/2019, 17:56



 Caro Luís,

Tenho a maior relutância em publicar o meu livro por várias razões. 


Uma prende-se com o facto de eu fazer nele acusações claras e diretas a diversas pessoas e organismos, com nomes, descrições, fotografias, etc. Eu quis que as minhas memórias fossem tão factuais quanto possível, mas não pretendo atingir ninguém em concreto, apesar dos pormenores que dou. O que pretendo é mostrar como aconteceram certos factos que não deviam ter acontecido, independentemente de quem os protagonizou. Assim, só no futuro é que o meu livro poderá interessar (ou não) a alguém, mas não enquanto eu estiver vivo.

Por outro lado, publicar um livro de memórias da guerra colonial é o mesmo que deitar dinheiro fora, a menos que eu me chame António Lobo Antunes ou Carlos Vale Ferraz. Já existem dezenas e dezenas de livros publicados sobre a guerra, com os mais diversos pontos de vista, mas cada um deles só tem vendido meia-dúzia de exemplares. 


O meu seria mais um livro a acrescentar ao monte. Lembro o caso do primeiro capitão que a minha companhia teve e que também publicou um livro. Dois ou três anos depois de o livro ter sido lançado no mercado, o autor foi contactado pela editora (a D. Quixote), informando-o que os exemplares não vendidos estavam a ocupar um espaço precioso nos armazéns e perguntando-lhe se pretendia ficar com eles ou se preferia que fossem destruídos. Ele quis ficar com eles e agora tem a casa atulhada de livros!

A guerra colonial em Angola foi uma coisa terrível, é verdade que sim, mas ela foi uma brincadeira de crianças comparada com a guerra civil que se seguiu, a qual atingiu um número incomparavelmente maior de pessoas, durou muitíssimo mais tempo e teve consequências infinitamente mais devastadoras. Ainda agora há pessoas que são mortas ou ficam mutiladas por acionarem minas terrestres, apesar dos milhões e milhões de minas que já foram levantados.

A propósito, refiro-te um facto que talvez desconheças e que se prende com o destino que foi dado aos angolanos que combateram nas fileiras das Forças Armadas Portuguesas. Muito ao contrário do que se terá passado na Guiné, em Angola todos os movimentos procuraram atrair para si os ex-militares que os tinham combatido na guerra colonial, para aproveitarem a sua experiência de combate na guerra civil. 


Os meus maravilhosos camaradas angolanos também foram aliciados para aderirem a este ou àquele movimento, depois de terem passado à disponibilidade. Uns aderiram ao MPLA, outros à UNITA, nenhum aderiu à FNLA e a maior parte deles preferiu manter-se na condição civil, sem que fossem molestados por esse facto.

Mando-te em anexo uma fotografia que mostra o grupo de combate que comandei, quase todo, em Zemba. À frente da "formatura" vê-se o heróico furriel Luís Macedo, que é português (Foto nº 1A]. O sexto militar que se vê à direita do Macedo, e que é o mais pequeno de todos, era um soldado natural do Huambo chamado Domingos Jonas, que tinha como alcunha "Miúdo". A valentia deste soldado era inversamente proporcional à sua estatura. Ele e o furriel Macedo foram precisamente os dois militares mais valentes do grupo. 


Depois de ter concluído o serviço militar no Exército Português, no fim de agosto de 1974, o soldado Jonas alistou-se nas FAPLA, o braço armado do MPLA, pelas quais combateu até que morreu perto do Huambo em 1982. A notícia da morte do soldado Jonas foi dada por um outro antigo soldado da minha companhia, mas não do meu grupo, chamado Mário Sessendje, que aderiu à UNITA. 

Agora repara: o Jonas e o Mário conheceram-se na minha companhia, tornaram-se amigos e a sua amizade prevaleceu sobre o ódio que opôs os movimentos a que aderiram, o MPLA e a UNITA. Mesmo combatendo em campos opostos, o Jonas e o Mário mantiveram-se em contacto e conservaram a sua amizade intacta, até que a morte de um deles os separou. 

Só por isso, acho que me posso orgulhar de ter pertencido à Companhia de Caçadores 3535, que promoveu a amizade e não o ódio.


Um abraço


Fernando de Sousa Ribeiro
membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018, com o nº 780]

2. Nota do editor:

A CCAÇ 3535 foi mobilizada pelo RI 16, partiu para Angola em 13/6/1972 e regressou em 28/8/1974. Esteve em Zemba, P. R. Zádi. Comandantes: cap mil inf José Manuel de Morais Lamas Mendonça e Silva, e cap mil inf José António Pouille Nobre Antunes. Pertencia ao BCAÇ 3880, sediado em Zemba e Maquela e comandado  pelo ten cor inf Armando Duarte de Azevedo. As outras duas subunidades eram a CCAÇ 3536 (Cambamba, Fazenda Costa) e a CCAÇ 3537 (Mucondo, Béu).

______________

Nota do editor:

Último poste da série >  1 de fevereiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19458: (In)citações (124): A Angola e os angolanos que eu conheci e que ficaram no meu coração: os nossos camaradas angolanos eram filhos do povo, do admirável e sofrido povo de Angola; (...) para a esmagadora maioria deles, foi só quando passaram a fazer parte da nossa companhia que eles puderam, pela primeira vez nas suas vidas, relacionar-se com brancos de igual para igual, olhos nos olhos, ombro com ombro, de homem para homem ... (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535, 1972/74)

Guiné 61/74 - P19463: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XII: cap inf Izidoro Azevedo Gomes Coelho (Vila Real, 1936 - Ambriz, Angola, 1964), cmdt da CCAÇ 539, morto por uma mina A/C com mais 7 dos seus homens

$
0
0



Eis os mortos desse dia, para além do capitão:

Agostinho Arro,mba Soares Fonseca,  1º cabo;

Alberto José FernandesMachado,  fur mil;
Joaquim Gonçalves de Magalhães,  sold;
Armando Augusto Oliveira Moreira, sold;

 Manuel Fernando Alves Nogueira, 1º cabo;

 Augiusto Martinho Rodrigues, sold.



1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia)Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972. Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar.


___________

Nota do editor:

Último poste da série > 29 de janeiro de 2019 > Giné 61/74 - P19453: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XI: cap cav António Lopo Machado Carmo (Coimbra, 1933 - São Domingos, Guiné, 1963), comandante da CCAV 252 (1961/63)

Guiné 61/74 - P19464: Os nossos seres, saberes e lazeres (306): Viagem à Holanda acima das águas (10) (Mário Beja Santos)

$
0
0
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
Era sonho muito antigo, conhecer esta herança portuguesa, a mais importante Sinagoga na Europa, que não a mais antiga. É ofuscante, deslumbra este compromisso entre um luxo contido e uma sobriedade de mobiliário e ornamentação, numa outra dimensão. E o diálogo das culturas, está ali a traça europeia e a especificidade dos artefactos e alfaias judaicas. Creio que a sinagoga mais antiga está em Praga, era ali que os nazis se preparavam para ter uma mostra dos "homens inferiores", no seu dizer racial. A Esnoga é o espelho de uma sociedade que ganhara opulência, os judeus sentiam-se seguros naquele país onde se gozara da liberdade de expressão enquanto nos demais as guerras religiosas destruíam civilização e cultura.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (10)

Beja Santos

Fotografia dos canais de Amesterdão, retirada de http://www.dutchamsterdam.nl/6623-amsterdam-canals, com a devida vénia.

Para um neófito, sair do Rijks de Amesterdão e querer ir diretamente à Sinagoga Portuguesa, pode ser uma dor de cabeça, andarilhar por aqueles canais, apanhar um elétrico na boa direção e sair no sítio certo, e depois palmilhar ruas e ruelas até chegar à Sinagoga. O viandante procurara saber um pouco mais sobre Amesterdão, lendo um dos livros de Bill Bryson (“Nem Aqui, Nem Ali, a Europa, de Estocolmo a Istambul”, Quetzal Editores, 2008). Bryson é considerado o autor de livros de viagens mais lido em todo o mundo, o que o viandante leu sobre Amesterdão não deu grande esclarecimento. Escreve ele: “Em virtude de os Holandeses se terem vindo a congratular a si mesmos pela sua tolerância inteligente durante todos estes séculos, é-lhes agora impossível não se acomodarem generosamente aos graffiti, aos hippies desgastados, à caca de cão e ao lixo”. Depois de visitar o bairro da prostituição declara ter passado a manhã no Rijks e não esconde elogios rasgados aos 250 compartimentos repletos de quadros maravilhosos. E dali seguiu para a casa de Anne Frank. O viandante não seguiu esse itinerário, pediu ajuda a Laurens Van Krevel, e atravessou-se o centro de Amesterdão.



Bem gostaria o viandante de dizer que morre de amores por esta cidade, tal não acontece, o que não significa que não haja encontro auspicioso com esta ligação aos canais, as fachadas de edifícios com ar tão mercantil, o céu está um pouco plúmbeo, reflete-se na luminosidade, como é óbvio, e até no estado de alma, vai-se cheio de curiosidade conhecer esse templo que ancestrais portugueses, fugidos à perseguição da Inquisição, aqui construíram, a monumental Esnoga, a Sinagoga Portuguesa, a mais ampla de toda a Europa, escapou à fúria dos nazis.



A Esnoga está no coração do velho bairro judeu de Amesterdão, foi recentemente restaurada, ao seu lado funcionam alguns museus que acolhem uma importante coleção de objetos de ritual, o viandante a determinada altura viu escrito Livraria Montezinos, aquilo cheirou a Portugal ou a Espanha, informaram-no na receção que estava fechada. A Sinagoga foi construída em 1675 por judeus sefarditas fugidos de Portugal e Espanha, imigrantes e descendentes daqueles judeus fugitivos do final do século XV e princípio do século XVI. Foram os imigrantes, eles próprios chamaram à Sinagoga Portuguesa porque os Países Baixos ao tempo estavam em guerra com o império espanhol. Aqui os judeus encontraram a liberdade religiosa que fora promulgada pela União de Utrecht (1579), estamos então na Idade do Ouro dos Países Baixos, Amesterdão é uma mescla de asquenazes e sefarditas. A fachada, como se vê, é pouco impressionante, muito austera, parece um armazém reconvertido, o esplendor está sempre presente no interior.




A atual Sinagoga aproveitou o local da anterior (que datava de 1639), preparou-se para receber 1200 homens e 440 mulheres, foi consagrada em 2 de agosto de 1675. A que podemos visitar está exatamente como era, só com os acrescentos do progresso, caso da eletricidade. Mesmo que o viandante ande de brochura em punho, tem dificuldade em falar de artefactos e alfaias religiosas como Teba, Hechal, Ner tamid, vai regalando os olhos pelos belos móveis, pela profusão de luzes, pelo coro. Acaba por descobrir que em 1889 o livreiro David Montezinos ofereceu a sua preciosa biblioteca que está hoje incluída no registo da UNESCO, a ver se na próxima visita o viandante pode dar uma espiada pelos 20 mil volumes, centenas de manuscritos e dezenas de milhar de documentos avulsos. Há livros em todos os idiomas, incluindo o Yiddish e o Ladino.




A Esnoga tem muito para ver e um viandante português não perde ocasião para ver nas lápides os nomes dos portugueses prosélitos e generosos que puseram de pé este monumento incomparável. Porque há tesouros de objetos cerimoniais, tecidos de uma grande beleza. E há o bairro cultural judeu, que inclui o Museu Histórico Judeu, a Sinagoga em si com a sua biblioteca, o Monumento a Auschwitz, o Museu do Holocausto, o Monumento a Espinosa, são imensos os percursos propostos, o mais importante de tudo é que o viandante já registou os nomes Mendes Coutinho, vários Pereira, a família de Pinto, Jerónimo Nunes da Costa, está consolado, a idade não perdoa, está bem esmoído, vai regressar a Alphen, mas antes ainda quer percorrer a pé alguns troços por Amesterdão, amanhã é dia para Haia. À noite, a ler um livro sobre o Rijks de Amesterdão encontrou uma pintura de Emanuel de Witte, de 1680, com o interior da Sinagoga Portuguesa de Amesterdão. Despede-se o viandante com tal imagem, é orgulho de andarmos pelas sete partidas, se dói não haver a feitoria portuguesa na Flandres, ao menos temos a Esnoga em todo o seu esplendor a falar da alma lusa.




(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19440: Os nossos seres, saberes e lazeres (305): Viagem à Holanda acima das águas (9) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19465: Blogpoesia (606): "O Fado de Lisboa", "Acridoces..." e "Meu pensamento", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

$
0
0


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:

O fado de Lisboa

Rezam as lendas que, vindo da Grécia,
deixou o mar, subiu o Tejo, numa madrugada de luar.
Era Ulisses. Deixara Ítaca e sua esposa.
Lisboa era uma urbe humilde.
Estendida pela colina que, hoje, é do Castelo.

Extasiado com sua beleza, aqui ficou.
Por ela andou e cirandou.
Fez-se um seu.

Saíam à porta a ouvi-lo as gentes
quando, pela madrugada, passava entoando loas, em voz sonora.
Ninguém entendia.
Eram saudades.
Faziam chorar.

Até que um dia, de madrugada,
não resistindo,
desceu o rio e se fez ao mar.
Penélope o esperava, longe.

Tão forte e belo era o seu canto,
calou profundo na alma das gentes.
Ainda hoje perdura nas suas ruelas,
nas casas de fado.
À guitarra:

- Ai, Mouraria, na velha rua da Palma...
- Foi Deus...
- Mãe negra...

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 27 de Janeiro de 2019
10h27m
Jlmg


********************

Acridoces...

Acridoces são as saudades de Lisboa.
Distante, para lá dos Pirinéus.
Onde o sol se põe em cada dia.
E o mar é o fim do mundo.

Me rendo ao esplendor dos seus clarões.
Me consolo com a memória dos dias doces que por lá andei.
Aquelas descidas à Baixa pelo Chiado.
Ao Rossio engalanado de verdura.
À Rua Augusta que é augusta e elegante, com suas vitrinas.
O Elevador altivo donde se alcança Lisboa para todo o lado.

Subir a Avenida larga e saborear a doçura da liberdade.
Aquele Parque solene ao cimo, que nos transporta até ao céu.
Girar de eléctrico por toda a parte, no meio das gentes atarefadas.
Como se está à janela da nossa casa.

Quem me dera, agora, sentar-me à mesa e tomar uma bica com o Pessoa...

Ouvindo Tchaikovsky - Hymn of the Cherubim - USSR Ministry Of Culture Chamber Choir

Berlim, 29 de Janeiro de 2019
8h28m
Jlmg


********************

Meu pensamento

Largo ao vento meu pensamento livre.
Qual condor, de asas abertas,
Sobre os penhascos das escarpas imensas.
Procurando a presa.

Desfaço em pedras minha mole inerte,
Como brasa a arder.
Queimo no chão a lenha inútil.
Garimpo na areia pepitas d'oiro,
Sonhando ser rico.

Incendeio na eira toda a palha seca e para nada serve.

Exponho ao sol minha alma a arder.
De olhos fechados, subo aos céus e contemplo o infinito.
Inibrio meu espírito sedento, de perfumes de alabastro.
Enlevo-me a ouvir acordes sublimes de beleza.
Nem a tela nem a pena conseguem traduzir...

Ouvindo HAUSER - Song from a Secret Garden

Berlim, 1 de Fevereiro de 2019
8h25m
Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de 27 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19444: Blogpoesia (605): "Andorinhas de Lisboa", "Fugacidade da vida" e "As calçadas de Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19466: Agenda cultural (670): As Rotas da Escravatura, série de 4 episódios na RTP 1: 2ª feira, dia 4/2/2019, 4º (e último) episódio > 1789-1888: As Novas Fronteiras da Escravatura |

$
0
0



RTP1 | 2ª feira, 4 Fev 2019 | 23h43

Género > Documentário - História


1789-1888: As Novas Fronteiras da Escravatura 
| Episódio 4 de 4 | 

Duração: 53 min


Sinopse>

Em 1790, o tráfico negreiro atinge o seu zénite. Mais de 100 000 cativos são deportados todos os anos.

No advento do séc. XIX, a violência dos negreiros dita a condenação do tráfico transatlântico. Doravante, a Europa terá de encontrar um meio de enriquecer sem recorrer a este tráfico, agora, imoral.

Nos anos que se seguem à proibição do tráfico, os europeus vão fazer recuar as fronteiras da escravatura.

O Brasil guarda nele a herança dos últimos anos da escravatura.

No momento em que o comércio de escravos é proibido, uma segunda vaga de deportações de cativos chega à Baía do Rio de Janeiro.

Com mais de dois milhões de escravos desembarcados no séc. XIX, o Rio tornou-se o maior porto de tráfico do mundo.


Rever últimos episódios no RTP Play

1620-1789: Do Açúcar à Revolta  | Episódio 3 | 28 Jan 2019


Ficha Técnica

Título Original: Les Routes de l´esclavage
Realização: Daniel Cattier, Juan Gelas, Fanny Glissant
Produção: Compagnie des Phares et Balises, ARTE France, Kwassa Films, RTBF, LX Filmes, RTP, Inrap
Música: Jérôme Rebotier
Ano: 2017
Duração de cada episódio: 53 minutos

_________________

Guiné 61/74 - P19467: Parabéns a você (1570): Cap Inf Ref José Belo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)

Guiné 61/74 - P19468: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte I: A partida no T/T Quanza, em 8/1/1964

$
0
0

Lisboa > Cais da Rocha  Conde de Obidos > dia 8 de Janeiro de 1964. > Partida do BCAÇ 619 para o TO da Guiné, no T/T Quanza (, navio, da CNN - Companhia Nacional de Navegação, construído  na Alemanha, tendo estado ao serviço da marinha mercante 4 décadas, de 1929 a 1968).



Lisboa > Cais da Rocha Conde de Óbidos > T/T Quanza > 8 de janeiro de 1964 > Partida do BCaç 619 para o TO da Guiné > A criança que está no cais de pé no ar é a minha filha Paula Cristina que fazia 2 anos naquele dia. Hoje tem 57 anos e é advogada.


Lisboa > Cais da Rocha  Conde de Óbidos > T/T Quanza > 8 de janeiro de 1964 > BCAÇ 619 > A partida... Adeus, até ao meu regresso!
 

T/T Quanza > BCaç 619 > 8 de janeiro de 1964 > Saída da Barra de Lisboa ao pôr do Sol.


T/T Quanza > BCaç 617 > 9 de janeiro de 1964 > Exercício de salvamento a bordo



T/T Quanza > BCAÇ 619 > A caminho da Guiné > c. 8-15 de janeiro de 1964 > Missa a bordo



T/T Quanza > BCaç 617 > c. 8-15 janeiro de 1964 > Cinema ao ar livre.

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O João Sacôto  {, João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, de seu nome completo,] foi alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66). Foi Trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC [Direção Geral de Aeronáutica Civil]. Foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

Estudou em Instituto Superior de Ciencias Económicas e Financeiras . Andou no Liceu Camões em 1948 e antes no  Liceu Gil Vicente. É natural de  Lisboa. É casado. Tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo  seguido por mais de 8 dezenas de pessoas. É membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011 (*)

Da mesma companhia, a CCAÇ 617, é o nosso grã-tabanqueiro Carlos Alberto Rodrigues Cruz, ex-fur mil. Do mesmo batalhão, mas da CCAÇ 616 (Empada, 1964/66), temos Joaquim da Silva Jorge ex-al mil, régulo da tabanca de Ferrel, concelho de Peniche.Tal como  Francisco Galveia, ex-1º cabo cripto, residente em Fronteira. Da CCAÇ 618 (Binar e Susana, 1964/74) temos o João Pinho dos Santos, ex-alf mil, infelizmente já falecido. Ao todo, temos 5 representantes do BCAÇ 619, na Tabanca Grande, o que está dentro da média: um em cada em camaradas da Guiné apresenta-se ao portão de armas da Tabanca Grande...



2. Começamos hoje a publicar uma seleção de fotos (a cores e a preto e branco) do álbum do João Sâcoto, de inegável interesse documental. Tanto quanto possível vamos seguir uma ordem cronológica e temática, começando hoje pela partida para o TO da Guiné no N/M Quanza, em 8 de janeiro de 1964. 

Mas antes convém dizer aqui duas palavrinhas sobre  a CCAÇ 617 e o BCAÇ 619

2.1. Do historial do BCAÇ 619 (Catió, 1964/66), destaca-se o seguinte:

(i) foi mobilizado pelo Regimento de Infantaria nº 1, Amadora;

(ii) sob o comando do tenente-coronel de Infantaria Narsélio Fernandes Matias; 2º comandante o major de infantaria Manuel de Jesus Correia; oficial de informações e operações/adjunto,  o cap inf Rogério Jorge Vale de Andrade; cmdt da CCS (Companhia de Comando e Serviços ),  o  capy  SGE José Francisco Galaricha;

(iii) a sua divisa era: “Sentinela do Sul”;

(iv) embarca em Lisboa no dia 8 de janeiro de 1964 e desembarca em Bissau a 15, juntamente as suas subunidades de quadrícula: CCAÇ 616, CCAÇ 617 e CCAÇ 618;

(v) em 17 de janeiro de 1964 assume a responsabilidade do Sector F, substituindo o BCAÇ 356;

(vi) tem a sede em Catió e os subsetores de Catió, Empada, Bedanda e Cabedú;

(vii) integrou a Operação Tridente (Ilha do Como, de 5 de janeiro a 24 de março de 1964);

(viii) passou a integrar na sua zona de acção o subsetor de Cachil;

(ix) entre as operações que coordenou destacam-se as operações “Broca”, “Campo”, “Razia” e “Satan”, tendo apreendido 1 metralhadora pesada, 4 ligeiras, cerca de meia centena de espingardas e pistolas metralhadoras, 30 minas e 59 granadas de armas pesadas;

(x) no dia 11 janeiro 1965 o setor passa a ser designado por Setor S 3 e em 17 de janeiro de 1965 passa a incluir o subsetor de Cufar, então criado na sua zona;

(xi) com as populações dispersas, a 17 de março de 1965 iniciou a experiência de reagrupamento de populações, sendo criada a tabanca de Ualala, para o efeito;

(xii) é rendido em 21 de janeiro de 1966, pelo BCAÇ 1858, seguindo para Bissau w ficando a aguardar embarque.

2.2. Quanto à CCAÇ 617:

(i) permaneceu inicialmente em Bissau, como força de reserva do CTIG, colaborando na segurança e protecção das instalações e das populações da área, tendo integrado o dispositivo do BCaç 600 em substituição da CCaç 273.

(ii) em 1 de março de 1964, por troca com a CCaç 414, foi colocada em Catió como subunidade de intervenção e reserva do sector e ficando então integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão, tendo actuado em várias operações realizadas nas regiões de Ganjola, Cobumba, Cufar Nalú, Cabolol e Catunco, entre outras.

(iii) em 22 de setembro de de 1965, por troca com a CCaç 728, assumiu a responsabilidade do subsector de Cachil, onde se manteve até ser rendida pela CCaç 1424 em 16 d janeiro de 1966,, após o que recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

(iv) comandante: cap inf António Marques Alexandre.

_____________

Nota do editor:

Guiné 61/74 - P19469: Notas de leitura (1147): Viagens de Luís de Cadamosto e de Pedro de Sintra (3) (Mário Beja Santos)

$
0
0


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,
Os relatos de Luís de Cadamosto são reveladores de um viajante curioso que tudo anotava, tinha que prestar contas a quem autorizara a viagem (o Infante D. Henrique) e seguramente que queria trazer notícias rigorosas para Veneza (se havia ouro, quais eram as trocas desejáveis, quais os itinerários da navegação). Tudo leva a querer que esteve próximo do que é hoje a Guiné-Bissau, mais seguro foi a viagem de Pedro de Sintra que se aproximou da Serra Leoa. Se pudemos contar, ainda com as reticências de que o cronista hagiógrafo, com o documento de Zurara sobre o descobrimento da Guiné, Cadamosto introduz uma observação complementar de alguém que buscava mercados e queria conhecer as gentes para saber o que podiam oferecer para a troca e o que esperavam dos barcos que ali aportavam. Mal sabia Cadamosto que em breve o comércio vai de ser de carne humana.

Um abraço do
Mário


Viagens de Luís de Cadamosto e de Pedro de Sintra (3)

Beja Santos

É nesta segunda viagem que Cadamosto chega ao que é hoje a Guiné-Bissau. Avistaram o rio Casamansa, atingiram o Cabo Roxo e mais adiante chegaram ao rio de S. Domingos. Houve um completo desentendimento na comunicação: “Vendo nós que estávamos em país novo, e que não podíamos ser entendidos, concluímos que passar para diante era inevitável”. No entanto, conseguem comprar anéis de ouro, descobrir que há uma agricultura um tanto semelhante à que encontraram nos países acima, mas aqui há pouquíssimo ouro. Cadamosto sente-se surpreendido pelas marés, pelos terrenos subitamente alargados e escreve: “Há, naquela terra, maré montante e vagante, como acontece em Veneza, o ímpeto da corrente da dita maré, quando começa a encher, é quase incrível”.

Convém recordar que as duas viagens de Cadamosto decorreram poucos anos antes da morte do Infante D. Henrique. D. Afonso V, ciente da natureza do projeto henriquino e do ponto a que chegara o conhecimento do litoral africano, manda duas caravelas armadas e o Capitão era Pedro de Sintra, Escudeiro do rei. Cadamosto encontra Pedro de Sintra em Lagos, Pedro de Sintra conta ponto por ponto todas as terras que haviam descoberto e os nomes que lhes tinham posto. Pedro de Sintra chegara à Guiné. As coisas ter-se-ão processado da seguinte maneira. Passaram o Cabo da Verga, e navegaram ao longo da dita costa, pelo espaço de 80 milhas, aproximadamente; descobriram um outro cabo que é o mais alto cabo que até hoje fora avistado, e a meio desse cabo forma-se uma ponta aguda e alta, a modo de ponta de diamante e todo ele está cheio de altíssimas e verdes árvores.

Puseram nome a este cabo, o Cabo de Sagres, em memória de uma fortaleza que fez o Infante D. Henrique, a qual é propriamente uma das pontas do Cabo de S. Vicente, à qual se pôs o nome de Sagres. E é chamada pelos portugueses Cabo de Sagres da Guiné. No relato nota-se de que se já está a falar de uma realidade comum à Senegâmbia, falam de pessoas idólatras porque adoram estátuas de madeira com forma de homens e os negros quando comem ou bebem oferecem de comida aos ídolos. E escreve-se: “São igualmente pretos, mas têm uns sinais feitos com ferro em brasa, tanto na cara como no corpo; são mais depressa pardos do que pretos. Não tem armas, por não haver ferro nas suas terras. Sustentam-se de arroz, milho e legumes, isto é, fava e feijões, de qualidade diferente dos nossos e muito maiores e mais belos. Têm carne de vaca e de cabra, mas não em muita quantidade. Tem esta gente as orelhas todas furadas, com buracos em toda a volta, nos quais buracos trazem vários aneizinhos de ouro, um em seguido ao outro; também têm o nariz furado por baixo, no meio, e aí trazem um anel de ouro, de pendurado, como trazem os nossos búfalos”.

Prossegue a viagem e do Cabo de Sagres da Guiné atingem a Serra Leoa.

Este o essencial dos relatos das duas viagens de Cadamosto e do que contou Pedro de Sintra. Insiste-se que o historiador Damião Peres contesta a descoberta de algumas das ilhas do arquipélago de Cabo Verde como Cadamosto menciona e exibe críticas altamente desfavoráveis a começar por Duarte Leite e Fontoura da Costa. E após uma exposição de críticas e de muitos argumentos contra, Damião Peres observa: “A hipótese formulada por Crone, afirmando não existir razão alguma que impeça ter-se realizado em 1456, na viagem em que participou Cadamosto, o encontro das ilhas cabo-verdianas, embora se admita que o melhor reconhecimento delas, preparador da sua colonização foi realizado em 1459 ou data próxima por Noli, talvez acompanhado por Diogo Gomes”. Dito de outro modo, e à luz dos conhecimentos em meados do século XX, não se exclui que Luís de Cadamosto tenha estado nalgumas das ilhas mas só anos depois é que se considera a sua descoberta e colonização a partir da viagem de Noli e provavelmente acompanhado por Diogo Gomes.

Pedro de Sintra terá viajado desde a foz do rio Geba até uns quilómetros além do Cabo Mesurado, mas já teria anteriormente navegado por lá em vida do Infante D. Henrique. Não nos esqueçamos que ao tempo das comemorações do V Centenário da Descoberta da Guiné (1946) Teixeira da Mota escreveu um dos seus textos mais importantes sobre a descoberta, contestando a hipótese de Nuno Tristão. Mas deixaremos a apresentação deste assunto para mais tarde.


Mapa da Senegâmbia em 1707
____________

Notas do editor

Postes anteriores de:

21 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19425: Notas de leitura (1143): Viagens de Luís de Cadamosto e de Pedro de Sintra (1) (Mário Beja Santos)
e
28 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19449: Notas de leitura (1145): Viagens de Luís de Cadamosto e de Pedro de Sintra (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 1 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19459: Notas de leitura (1146): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (71) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19470: Agenda cultural (671): Lançamento do livro "Milando ou Andanças por África", do Paulo Salgado, na Associação 25 de Abril, Lisboa, 21 do corrente, às 18h00. Apresentação: cor cav ref Mário Tomé, ex-cmdt da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)

$
0
0


Convite para a apresentação do livro do Paulo Cordeiro Salgado, nosso grã-tabanqueiro, administrador hospitalar reformado,    "Milando ou Andanças por África" (Torre de Moncorvo: Lema d'Origem, 2019).

Local: A25A - Associação 25 de Abril, Rua da Misericórdia, 95, Lisboa. Data e hora: 21 de fevereiro de 2019, às 18h. Aporesentação a cargo de Mário Tomé.


Sinopse:

Trata-se do lançamento de mais um livro de ficção do autor, que tem por título Milando ou Andanças por África, englobando quatro andanças. São narradas as aventuras e desventuras de personagens reais que passaram por África e que merecem o respeito do autor. Decerto que serão apreciadas pelos leitores..

Paulo Salgado  foi alf mil cav , op esp.,  CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), e é autor do livro "Guiné - Crónicas de Guerra e Amor". Mário Tomé comandou a CCAV 2721.

____________

Nota do editor:

Último poste da série >  3 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19466: Agenda cultural (670): As Rotas da Escravatura, série de 4 episódios na RTP 1: 2ª feira, dia 4/2/2019, 4º (e último) episódio > 1789-1888: As Novas Fronteiras da Escravatura 

Guiné 61/74 - P19471: (D)o outro lado do combate (43): 'Puxão de orelhas' de Amílcar Cabral a Rui Djassi (Faincam) (1937-1964), em carta enviada em janeiro de 1964, sinal precursor da sua substituição na Zona 8, região de Quínara (Jorge Araújo)

$
0
0

Citação: (1964), "I Congresso do PAIGC em Cassacá", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_85097 (2019-1-25) - Grupo de dirigentes por ocasião do I Congresso: Lay Sek, Constantino Teixeira, Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Amílcar Cabral e 'Nino' Vieira (com a devida vénia).




Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue



GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > 
"PUXÃO DE ORELHAS" DE AMÍLCAR CABRAL A RUI DJASSI (FAINCAM), EM CARTA ENVIADA EM JANEIRO'1964, ERA O SINAL PRECURSOR DA SUA SUBSTITUIÇÃO NA "ZONA 8": ENTRE A DESPROMOÇÃO E A MORTE -


1. INTRODUÇÃO

Na sequência das narrativas apresentadas no fórum nos P19433 e P19437 (*), onde se colocava a questão «o que terá acontecido ao Rui Djassi (Faincam)?» entre finais de 1963 e início de 1964, algumas hipóteses foram avançadas tendo por base a literatura consultada, mas nenhuma delas, digo eu, dando respostas fidedignas e esclarecedoras. (**)

Com efeito, na busca de outros pressupostos ou cenários complementares, seguimos em frente no sentido de encontrar novos elementos que nos ajudem a compreender melhor esta problemática, considerada ainda como incógnita.

Eis os elementos que podem contribuir para uma nova leitura sobre a questão de partida.


2.  CARTA DE AMÍLCAR CABRAL ENVIADA A RUI DJASSI (FAINCAM) NO INÍCIO DE JANEIRO'1964


Tendo por base uma leitura hermenêutica, consideramos o conteúdo da carta acima referida como um valente "puxão de orelhas" a Rui Djassi, expresso num duplo desagrado: o primeiro por insuficiente comunicação, o segundo por um comportamento pouco cuidado, rigoroso e muito permissivo na "zona 8", como principal responsável operacional na região, do qual originou um bloqueio da fronteira Sul por parte das NT, inviabilizando o cumprimento da estratégia logística no «Corredor de Guileje».

Da importância deste contexto nos dá conta Leopoldo Amado, no seu livro "Guineidade & Africanidade" (2013), p. 263, onde se refere a gigantesca e complexa rede logística (sem dúvida, a maior do PAIGC) que "estendendo-se desde Conacri e perpassando por outras cidades da República da Guiné como Boké, Kandiafara, Simbeli e Tarsaia, prolongava-se depois pela então Guiné Portuguesa adentro pelo Corredor de Guileje, a partir do qual, sintomaticamente, se despachavam o maior volume (dir-se-ia mesmo a esmagadora maioria) do armamento e munições e ainda os víveres imprescindíveis ao esforço de guerra". [Vidé, também, P2499: Guileje - Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008).(***)

Dito isto, o conteúdo da carta de Amílcar Cabral, que seguidamente se partilha no fórum, era já um sinal precursor do que estava para acontecer ao Rui Djassi, ou seja, o seu afastamento da liderança da "zona 8" e a sua substituição por outro quadro do PAIGC, no caso Guerra Mendes.

Rui Djassi já não marcaria a sua presença em Cassacá, no I Congresso [Fev' 1964], justificando Amílcar Cabral a sua ausência "pelo seu desaparecimento, cujo paradeiro ninguém conhece, embora seja certo que está vivo".






PAIGC (Nov 1970) - Duas imagem obtidas, algures no Sul, pelo fotógrafo norueguês Knut Andreasson.  

 Recorde-se que este fotógrafo norueguês acompanhou uma delegação sueca (tendo à frente a antiga líder do parlamento sueco, Birgitta Dahl) na visita às regiões libertadas da Guiné-Bissau, em Novembro de 1970.

Segundo o sítio da Nordic Africa Institute (uma agência dos países nórdicos, com sede na Suécia, em Upsala ), esta visita deu-lhe oportunidade de falar com Amílcar Cabral, em pleno palco da luta pela independência, e ficar a conhecer melhor o PAIGC, a guerrilha e a sua implantação no terreno.

Andreasson e Dahl publicaram mais tarde um livro em sueco sobre essa viagem. Andreasson, por sua vez, realizou uma exposição fotográfica e publicou um álbum fotográfica sobre esta visita.

A maior parte das fotos deste período foram doadas ao Nordic Africa Institute pela viúva de Andreasson. A exposição foi , por sua vez, doada à Fundação Amílcar Cabral, com sede na Praia, Cabo Verde, pelo Nordic Africa Institute, sendo apresentada por Birgitta Dahl, a antiga líder do Parlamento Sueco, por ocasião das celebrações do 80º aniversário de Amílcar Cabral, em Setembro de 2004.

Fonte: Nordic Africa Institute (NAI) / Fotos: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a autorização do NAI) (As fotografias tem numeração, mas não trazem legenda) (***)


2.1 - Transcrição da carta de Amílcar Cabral:



Recebi as tuas cartas, datadas de 26 e de 30 de Dezembro [1963].

No começo de um novo ano, aproveito para te dirigir saudações fraternais em nome de todos os camaradas do Secretariado e em meu nome pessoal. Que 1964 seja o ano da libertação total do nosso povo e que tu avances sempre no caminho do serviço do nosso grande Partido pela liberdade e pelo progresso real do nosso povo. Saudações para a tua família e para todos os camaradas.

Acho que o que aconteceu na fronteira (emboscada do inimigo e fecho da passagem por Simbeli) não foi causada pela estadia dos camaradas na fronteira. A razão principal é a falta de controlo real da zona de fronteira [Sul] pelos nossos combatentes, assim como a presença sempre para fora do inimigo em Quebo. Se o inimigo não pudesse sair de Quebo sem correr grandes riscos, se nós estivéssemos sempre a chateá-los em Quebo, não teria coragem de vir pregar-nos uma grande partida. Não achas?

Espero no entanto que estás a fazer tudo para acabar com essa situação. Não há outro caminho perto, conduzindo à base?

Como compreendes, não é possível indicar com antecedência dias fixos para transporte de material, porque isso não depende só de nós. Temos de estar dependentes das autoridades, do seu tempo disponível, da sua boa vontade, etc.. O que é indispensável é controlares sempre os caminhos para não deixar o inimigo a possibilidade de nos pregar partidas. Para evitar que o inimigo reforce as suas posições tens de chateá-los por todos os lados, não o deixar em paz, como estar a fazer. Tens de fazer do tempo seco o período da intensificação das nossas acções.

Foi com prazer que recebi as notícias da luta. Quero felicitar todos os camaradas responsáveis e combatentes de fora pela actividade que estão a fazer. Espero que vamos intensificar cada vez mais a nossa acção, mas sem nos deixarmos levar pelo inimigo, quer dizer, só vamos batermo-nos com ele quando tens a certeza de o vencer, de o destruir.

Espero também que dês notícias mais detalhadas, porque senão é difícil aproveitá-las para comunicados. Dizes por exemplo: "no mesmo dia os camaradas atacaram Fulacunda no momento de içar a bandeira". Boa notícia, mas abateram o quê exactamente, de que maneira, com que resultados? Qual era o objectivo do ataque? Conseguiu-se esse objectivo? Etc. Tu sabes bem que deves dar assim as informações, para eu poder avaliar e poder servir-me delas.

Lamento muito a morte do nosso camarada Malan N'djai. Peço que apresentes sentimentos à família dele. Não deixes de mandar a ficha correspondente, com todos os dados.

No que respeita ao material destinado à tua zona, ele tem seguido e já não há nenhum neste momento. Estamos a fazer esforços para pôr no país todo o material previsto no plano que foi há tempos. Claro que isso não é indispensável para a marcha da nossa luta, mas é conveniente para a nova fase que estabelecemos.

Penso no entanto que muito podem fazer – e estamos a fazer – com o material de que dispõe hoje os nossos combatentes nas zonas de luta. Temos agora de pensar em desenvolver a nossa acção, sem esperar por mais material.

Ficamos todos muito contentes com a missão que vocês fazem. Foi uma grande vitória, camarada. Vamos continuar nesse caminho, como já deves saber.

Acho que o caso entre o José Sanha e o Caetano, que não percebi bem, será brevemente resolvido pela Direcção do Partido, a bem do progresso da nossa luta. Espero que tenhas a paciência de esperar um pouco, sem criar problemas graves e que ninguém poderá aceitar nem compreender, no momento em que tens grandes responsabilidades.

Dá saudações ao povo da zona, a todos os responsáveis e a todos os militantes. Tenho grande saudade de todos. Para ti, o melhor abraço do camarada Amílcar Cabral.

Seguem medicamentos pelo Dino, que esteve doente.

 .
2.2 - Segue-se a reprodução da carta manuscrita por Amílcar Cabral.












Citação: (1964), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35428 (2019-1-25)

Fonte: Casa Comum, Fundação Mário Soares.
Pasta: 07056.008.007.
Assunto: Emboscada do inimigo que teve como consequência o fecho da passagem por Simbeli. Falta de controlo real na zona de fronteira, presença do inimigo no Quebo. Instruções para enfraquecer o inimigo. Material militar e medicamentos para a zona.
Remetente: Amílcar Cabral.
Destinatário Djassi (Faincam) [Rui Djassi].
Data: 1964 [Jan].
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral. Início de 1964. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.



2.3 – Em 30 de Maio de 1964 [três meses e meio após o I Congresso] nova referência a Rui Djassi em carta remetida por Amílcar Cabral a Osvaldo Vieira



Citação: (1964), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_35499 (2019-1-25)

Fonte: Casa Comum, Fundação Mário Soares.
Pasta: 04606.045.073.
Assunto: Acusa recepção do relatório sobre as missões em andamento, notícias do Rui Djassi, aumento de base de guerrilhas, pede pormenores sobre a tentativa de complot feito por alguns camaradas.
Remetente: Amílcar Cabral.
Destinatário: Osvaldo [Vieira],
Data: Sábado, 30 de Maio de 1964.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Cartas e textos dactilografados enviados por Amílcar Cabral 1960-1967.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.
Tipo Documental: Correspondência.

Transcrição:

Conacri, 30 de Maio de 1964

Meu caro Osvaldo,

Não te escrevi há dias pelo Yaye, porque estava ocupadíssimo, mas espero que esta carta te chegue às mãos por ela e antes dele. O Yaye te contará a história dos estudantes que fizemos voltar para traz.

Vi com atenção o vosso relatório sobre as missões em andamento, e não deixo de lamentar o que tem acontecido com o Rui Djassi. Aliás até hoje ninguém parece saber onde pára o Rui, e tudo está a atrasar-se, a prejudicar-se por causa disso. […]


Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

25JAN2019.


(***) Vd. poste de  2 de Fevereiro de 2008 Guiné 63/74 - P2499: Guiledje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (13): Enquadramento histórico (I): a importância estratégica de Guileje


Guiné 61/74 - P19472: Parabéns a você (1571): Ana Duarte, Amiga Grã-Tabanqueira; Fernando Franco, ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288 (Guiné, 1973/74); Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1621 e CCAÇ 6 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)

Guiné 61/74 - P19473: Efemérides (297): Tragédia do Che-Che, dia 6 de Fevereiro de 1969 - 47 miúdos pereceram nas águas do Rio Corubal (José Martins)

$
0
0

Guiné - Zona Leste - Sobreviventes da tragédia de Cheche, no Rio Corubal, na retirada de Madina do Boé

Foto (e legenda): © Paulo Raposo (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em mensagem do dia 6 de Janeiro de 2019, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70), lembra o dia 6 de Fevereiro do já longínquo mas inesquecível ano de 1969, como ele próprio diz, uma data indelével para os combatentes da Guiné e familiares dos militares que sucumbiram na catástrofe durante a travessia do rio Corubal.


No cinquentenário da Passagem do Corubal

Todos temos uma, ou mais, datas que são indeléveis. Para mim, e para muitos que estavam nas imediações do destacamento do Che-Che, junto ao rio que divide a zona sul de Nova Lamego e o Boé, é o dia 6 de Fevereiro do ano de 1969.

Foi nessa fatídica tarde que, quando se cumpria a parte mais difícil da retirada das tropas que ocupavam Madina do Boé e o destacamento do Ché-Che, se deu um dos maiores desastres militares da guerra que ocupou mais de um décimo da população portuguesa.

Passados 50 anos, ainda não há consenso sobre o que aconteceu, nem será agora que iremos tecer teorias para encontrar a causa: essa é a que consta, se constar, dos relatórios da "Operação Mabecos Bravios”.

Foram 47 “miúdos” que sucumbiram nas águas do Corubal, que, vindo da Guiné Conacri, atravessa toda a zona do Boé, para casar com o Geba, que vem do norte, das terras do Senegal, e entrarem, de braço dado, no Atlântico depois de banharem Bissau.

O mais velho tinha 28 anos e os 3 seguintes tinham, 27, 26 e 25 anos, sendo naturais da então província e já com alguns anos de guerra. Com 24 anos pereceram 4 militares, com 23 anos foram 25, e os mais novos, com 22 anos, 14 militares.

Passados estes anos, meio século, já “perderam” a patente; “perderam” o número de identificação, “perderam” o direito a pertencer a uma Unidade Militar. Agora são HERÓIS NACIONAIS e pertencem ao BATALHÃO CELESTIAL DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, que conta, cada vez mais, com novos membros que, terminada a sua comissão de serviço regressaram às suas terras, e foram por sua vez partindo.

Os seus nomes permanecerão escritos, em letras de ouro, na Galeria dos Heróis. 
São de militares de origem europeia ou guineense e soldados milícias africanos:

Adul Embalo 
Adulai Silva 
Alberto da Silva Mendes 
Alfa Jau 
Alfredo António Rocha Guedes 
Américo Alberto Dias Saraiva 
Aníbal Jorge da Costa 
António Domingos Nascimento 
António dos Santos Lobo 
António dos Santos Marques 
António Marques Faria 
António Martins de Oliveira
Augusto Caril Correia 
Augusto Maria Gamito 
Avelino Madail de Almeida 
Carlos Augusto da Rocha 
Celestino Gonçalves Sousa 
David Pacheco de Sousa 
Francisco da Cruz 
Francisco de Jesus Gonçalves Ferreira 
Gregório dos Santos Corvelo Rebelo 
Indique Embuque 
Joaquim Nunes Alcobia 
Joaquim Rita Coutinho 
Joel Santos Silva 
José Antunes Claudino 
José da Silva Coelho 
José da Silva Góis 
José da Silva Marques 
José de Almeida Mateus 
José Fernando Alves Gomes 
José Ferreira Martins 
José Loureiro 
José Maria Leal de Barros 
José Pereira Simão 
José Simões Correia de Araújo 
Laurentino Anjos Pessoa
Luís Francisco da Conceição Jóia 
Manuel António Cunha Fernandes 
Manuel Conceição Silva Ferreira
Manuel da Silva Pereira 
Octávio Augusto Barreira 
Ricardo Pereira da Silva 
Tijane Jaló 
Valentim Pinto Faria 
Victor Manuel Oliveira Neto.

Foram estes os nomes que foram escritos no impresso de mensagem e apresentados ao Comandante da Unidade, que assim autorizava o seu envio para o batalhão e deste, para o Comando-Chefe.

Pouco tempo depois, foram enviados pelo radiotelefonista que, após cada nome parava. Não apenas para respirar, mas sobretudo para limpar mais uma lágrima que não conseguia reprimir.

6 de Janeiro de 2019
José Marcelino Martins
____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19203: Efemérides (296): No 1º centenário da Grande Guerra: fomos revisitar o Diário de Lisboa, de 5 de abril de 1924: a mediatização do herói. o Soldado Milhões

Guiné 61/74 - P19474: Efemérides (298): A minha homenagem às 47 vítimas da tragédia do Cheche, há 50 anos, os mortos da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 e os mortos da CCAÇ 1790, do meu batalhão, BCAÇ 1933: que Deus e a Pátria jamais os esqueçam (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

$
0
0

Foto Nº 8  > A História da Unidade – BCAÇ 1933 – devidamente encadernada e guardada há 50 anos



Foto nº 7  > Reprodução da capa da História da Unidade, tendo por fundo o território da Guiné, e por cima, um soldado anónimo, não se sabendo quem é o autor do desenho.


Foto nº  1 > Relação dos mortos da CCaç 1790 / BCAÇ 1933

1. Mensagem de Virgílio Teixeira, com data de segunda-feira, 4/02, 12:38 

Assunto - Tema 202 - Homenagem dos 50 anos da tragédia do Cheche no CTIG

Caro amigo Luís,

Aqui te envio o meu singelo texto e alguns recortes da HU relativos à tragédia do Cheche, e às vitimas da CCaç 1790 e CCaç 2405, e outros que desconheço. É uma homenagem e uma lembrança, que faço pela primeira e última vez, é um tema que fica gravado no coração,

Tinha outras ideias para melhorar esta minha homenagem, pois trata-se em parte de militares que fizeram parte do meu Batalhão, o BCAÇ 1933, e de outros que, não tendo dados,  não os menciono, mas estão incluídos na mesma dor.

Aliás este acontecimento foi aquele que definitivamente me marcou e deixou feridas, mesmo que não estivesse presente nessa altura da tragédia.

 Abraço,
Virgílio Teixeira

Seguem em dois mails separados, pois não cabem num só, e não quero enviar por Transfer


2. CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:


T202 – O DESASTRE DO CHECHE – 50 ANOS DEPOIS

A TRAVESSIA EM JANGADAS DO RIO CORUBAL

COMPANHIA DE CAÇADORES 1790 - BATALHÃO DE CAÇADORES 1933
COMPANHIA DE CAÇADORES 2405 - BATALHÃO DE CAÇADORES 2852


HOMENAGEM SENTIDA ÀS VITIMAS DA TRAGÉDIA DO CHECHE E ÀS SUAS FAMILIAS ENLUTADAS, PASSADOS ESTES 50 ANOS.

QUE DEUS E A PÁTRIA JAMAIS OS ESQUEÇAM


I - Anotações e Introdução ao tema:

Porque se passaram 50 anos sobre o nefasto acontecimento, na travessia do Rio Corubal, entre as margens do Cheche e Canjadude, é dever pelo menos assinalar semelhante perda de homens-militares ao serviço da Pátria em acções de combate.

Este tema refere-se a um acontecimento no qual perderam a vida cerca de 50 militares, quando a jangada em que seguiam se virou a meio do Rio Corubal, provocando a queda de todo o pessoal e material que transportava, arrastando rio abaixo dezenas de militares.

O General António Spínola, comandante em chefe das Forças Armadas do CTIG, deu ordens para que fossem evacuados 2 aquartelamentos que eram fustigados diariamente com ataques do IN, flagelações que duravam tempos indeterminados, obrigando as NT a uma permanente vivência em abrigos, quase soterrados, estamos a falar de Madina do Boe e um destacamento em Beli, e seguidamente o Cheche.

Na zona onde alegadamente não havia condições humanas para uma sobrevivência, nem alguma hipótese de erradicar o IN daquela zona, muito martirizada.

São questões táctico-militares, estratégias e opções de combate, que não são por agora aqui chamadas. Era assim, tinha de ser feita a evacuação daqueles dois quartéis, e foi dada a ordem da sua evacuação, para a qual foram movimentados meios materiais e humanos de uma envergadura nunca antes utilizada.

O objectivo era «abandonar» os quartéis, levar todo o material utilizável, e destruir tudo o que não fosse possível levar, para não cair nas mãos do IN.

Ocupava nesse tempo, a CCAÇ 1790 com 3 pelotões em Madina do Boé, e um pelotão de cerca de 30 homens num destacamento localizado mais para Leste, situado como se costuma dizer no «cu de Judas» onde Jesus Cristo nunca lá tinha passado, assim reza a história.

A CCAÇ 1790 esteve lá desde inícios de Fevereiro de 1968, tendo ido render a CCAÇ 1589, e por ali ficaram mais de um ano, sofrendo um total de mais de 400 flagelações do IN.

Segundo parece seria um inferno a vida naqueles dois aquartelamentos, e militarmente não era exequível lá continuar, salvo com muito mais pessoal militar o que humanamente não era possível, por falta de efectivos.

O que me leva a fazer esta homenagem, porque esta Companhia pertencia ao meu batalhão, o BCAÇ 1933, eu conhecia muito pessoal, estivemos juntos algum tempo a formar Batalhão em Santa Margarida, depois convivemos algum tempo em Nova Lamego, e daí partiram para aquelas paragens do fim do mundo. É uma questão pessoal que me diz muito.

Fizeram parte da operação diversas unidades, infantaria, cavalaria, artilharia, carros de combate e outros pelotões, além dos meios aéreos – HELI, T6, Avionetas.

Uma delas,  a CCAÇ 2405, que pertencia ao Batalhão Caçadores 2852, mas estava adido ao BCAÇ 2835, Nova Lamego, que foi render o BCAÇ 1933, em finais de Fevereiro de 1968.


Foto nº 4 >  Relação dos elementos da CCAÇ 1790, apenas a 1ª página, com Comando da Companhia e Graduados. 



Foto nº 3 > Reprodução do Apreço e Reconhecimento à CCAÇ 1790, pelos serviços prestados em Madina do Boé, subscrito pelo Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné, General António de Spínola, em 17 de Julho de 1968. 


A História já está bem contada em muitos e variados artigos, Blogues, comunicação social, arquivo nacional e nas cabeças de tanta gente que sofreu na pele este sinistro caso.

Quando se procedia aos últimos transportes entre as margens, a jangada que seria fatal estava demasiado sobrecarregada, e por razões que são várias, adornou, e a maior parte dos militares, carregados com todo o armamento, caíram ao rio, alguns conseguiram saltar novamente para a jangada, e a maior parte desapareceu, nunca mais foram encontrados, fala-se que teriam perecido junto com os crocodilos que infestavam a zona.

Foram várias as tentativas de encontrar os 45 militares que ali ficaram, sendo 25 da CCAÇ 1790 e os restantes da CCAÇ 2405, tropa africana e um civil.

Nunca foram encontrados, e já após 40 anos têm sido procurados vestígios no local, mas nada se encontrou.



Foto nº 6  >  Mapa desenhado do Sector L3 de Nova Lamego, região de Gabu, que ocupava 1/5 do território do CTIG, na zona Leste da Guiné, onde se localizam os aquartelamentos abandonados de Madina do Boé, e destacamentos de Béli e Cheche.


ASSIM E PASSADOS ESTES ANOS TODOS, DEIXO AQUI A MINHA SINGELA HOMENAGEM ÀQUELES BRAVOS E INFELIZES HOMENS QUE PERDERAM A SUA VIDA, COM 19-20-21 ANOS OU MAIS, EM SITUAÇÕES AINDA POR ESCLARECER, E QUE LHES SEJA RECONHECIDO O DIREITO DE SEREM MÁRTIRES CAIDOS EM COMBATE, AO SERVIÇO DA SUA PÁTRIA.

II – As Legendas das fotos:


Estas imagens de documentos retirados da História da Unidade, são as únicas lembranças que tenho, não há fotos de militares nenhuns.

Conheci o Comandante da Companhia, o Capitão José Aparício, mais tarde no Comando da PSP de Lisboa como Coronel, e algumas vezes voltamos a ver-nos em almoços do Batalhão.

Sei que ele voltou ao local da tragédia, muitos anos depois, décadas, com intuito de voltar a ver o local de tanta dor, e também ver as possibilidades de encontrar vestígios dos seus homens da Companhia, e não esquecendo os outros de outras unidades, pois fazem parte de um todo, indiviso.

Conheci pessoalmente o meu camarada ex-alferes José Loureiro, e mais tarde em múltiplos encontros de almoços do batalhão, os primeiros ainda levava consigo o nosso Comandante.

Conheci, também o ex-alferes Gustavo Pimenta, depois da partida para Madina nunca mais o cheguei a ver, só aqui no Blogue li algumas notas da visão dele da tragédia.

Conheci também o outro ex-alferes, o Eurélio Amorim, que viajou comigo e com o comando do batalhão, no avião militar DC6 da Douglas ao serviço da FAP, no dia 20 de setembro de 1967. Depois não o vi mais na Guiné, nem nunca foi a nenhum almoço do batalhão, que eu saiba, porque não fui a todos. Vi-o uma vez, talvez uns 25 anos depois, em Vila do Conde, aqui perto do parque da cidade. Lembramos alguns momentos do passado.

Conheci também no avião, o 2º Sargento Carlos de Oliveira, da CCAÇ 1790, e depois nunca mais o cheguei a ver.

Falta aqui um alferes miliciano, para perfazer os 4, mas não me lembro de mais nenhum.

Vamos aos documentos que junto:

Foto nº 1  > Capitulo III – Página 6 da História da Unidade (HU)  > Relação dos Mortos ao serviço da Pátria, da CCAÇ1790. Não disponho de dados da CCAÇ 2405, porque pertencia a outro Batalhão.

Foto nº 2   > Capitulo dos Louvores inserto na HU > Reprodução do Pesar e Reconhecimento à CCAÇ 1790, subscrito pelo Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné, General António de Spínola, em 11 de Fevereiro de 1969.

Foto nº 3  > Capitulo dos Louvores inserto na HU.  > Reprodução do Apreço e Reconhecimento à CCAÇ1790, pelos serviços prestados em Madina do Boé, subscrito pelo Comandante Chefe das Forças Armadas da Guiné, General António de Spínola, em 17 de Julho de 1968.

Foto nº 4  > Capitulo I – Página 7 da História da Unidade (HU)  > Relação dos elementos da CCAÇ 1790, apenas a 1ª página, com Comando da Companhia e Graduados.

Foto nº 5  > Capitulo I – Página 3 da História da Unidade (HU)  - Relação dos elementos do BCAÇ 1933 que seguiram por via aérea para o CTIG em 20 de Setembro de 1967, entre eles o Comando do Batalhão e elementos da CCAÇ1790 e CC1791.

Foto nº 6  > Capítulo da descrição do Sector e operações desenvolvidas, inserto na HU > Mapa desenhado do Sector L3 de Nova Lamego – Gabu – que ocupava 1/5 do território do CTIG, na zona Leste da Guiné, onde se localizam os aquartelamentos abandonados de Madina do Boé, e destacamentos de Béli e Cheche.

Foto nº 7  > Reprodução da capa de um desenho, com a História da Unidade, tendo por fundo o território da Guiné, e por cima, um soldado anónimo, não se sabendo quem é o autor.

Foto Nº 8  > A História da Unidade – BCAÇ1933 – devidamente encadernada e guardada há 50 anos.

Tenho o privilégio de ter um dos poucos Originais do livro, mas a qualidade de algumas folhas e descrições é fraca, mas é o que tenho.

"Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».


NOTA FINAL DO AUTOR:

#As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir.#

Legendas actualizadas hoje,
Em, 2019-02-04
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 6 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19473: Efemérides (297): Tragédia do Che-Che, dia 6 de Fevereiro de 1969 - 47 miúdos pereceram nas águas do Rio Corubal (José Martins)
Viewing all 11948 articles
Browse latest View live


<script src="https://jsc.adskeeper.com/r/s/rssing.com.1596347.js" async> </script>