Quantcast
Channel: Luís Graça & Camaradas da Guiné
Viewing all 11958 articles
Browse latest View live

Guiné 61/74 - P19535: Historiografia da presença portuguesa em África (151): Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (4) (Mário Beja Santos)

$
0
0
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Junho de 2018:

Queridos amigos,

Não hesito em classificar o relatório do Dr. Damasceno Isaac da Costa como de leitura obrigatória para quem pretenda saber qual o estado da Guiné e como se processava a presença portuguesa nos primeiros anos da autónoma Província da Guiné. Há pontos do maior interesse no seu documento: veja-se o que escreve sobre o Geba e a referência que faz ao ponto extremo da nossa presença, Bafatá. Referirá nas considerações finais que espera que as negociações luso-francesas não nos retirem a influência secular nos territórios do Casamansa e do rio Nuno, este médico ainda vivia numa mítica Senegâmbia Portuguesa.

Um abraço do
Mário


Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (4)

Beja Santos

Este relatório consta dos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa e foi oferecido pelo seu filho Pedro Isaac da Costa ao antigo administrador de Bissau, António Pereira Cardoso, autor de um conjunto apreciável de documentos, muitos deles de leitura indispensável para conhecer a vida administrativa da Guiné, sobretudo entre as décadas de 1930 e 1950.

Este relatório, como se verifica pelo seu fecho, foi copiado pelo filho do autor. E diz-se que é de estranhar que tendo sido escrito em 1884 se refere a factos de 1888.

Chamou-se a atenção para o acervo de olhares sobre a fortaleza de S. José de Bissau, a vila, o Geba e a vila do mesmo nome, tudo meticulosamente comentado. Chega agora a vez do médico se debruçar sobre higiene e salubridade.

Começa pela sanidade marítima, dizendo o seguinte:

“Durante o ano, quando se vê no mapa do movimento marítimo, demandaram o porto doze navios de vela de longo curso, 25 a vapor e 244 de capotagem. Aqueles foram regular e pontualmente por mim visitados, sendo os últimos pela Alfândega, por o porto de procedência estar limpo. Foram submetidas a cinco dias de observação uma chalupa procedente da Goreia, um brigue americano e uma lancha procedentes de Carabane, visto serem considerados suspeitos de Colera morbus os portos do Senegal. Em nenhum destes navios se manifestou moléstia alguma.

O ilhéu de Bandim, ou de Bourbon, como o denominam os franceses, é o que até aqui tem servido para se proceder às quarentenas de observação. O ilhéu tem pouca extensão e é habitado unicamente pelos pássaros e pelos répteis. No preamar um extenso banco que se descobre torna fácil a passagem para a aldeia de Bandim onde residem o régulo e os principais balobeiros e se refugiam os criminosos para se livrarem das perseguições da Justiça”.

Após estes considerandos, desvia a sua atenção para a higiene pública, sem contemplações nem rendilhados:

“A vida de Bissau está cercada de pântano. Ao sul, a vila é limitada pela praia que na baixa-mar se descobre numa grande extensão e deixa exalar um cheiro infecto devido à decomposição e putrefação de limos, plantas, animais, lixo e várias imundícies intimamente misturadas com a lama.
Vários produtos, tais como o couro, borracha, amêndoa de palma, armazenados nas próprias habitações dos negociantes, exalam um cheiro infecto. Os poços e nascentes que existem na povoação contêm águas estagnadas, as quais repetidas vezes são utilizadas pelos habitantes da vila para usos culinários, devido ao desleixo das autoridades competentes. Finalmente, encontra-se por toda a parte, tanto intra como extramuros, depósitos de lixo. Tais são, em resumo, as poderosas causas geradoras de tantas e tão variadas moléstias que se manifestam na vila. A influência desses poderosos factores, auxiliado pelo clima, é assaz sensível aos recém-chegados. Os tripulantes dos navios de longo curso que demandam o porto de Bissau é raro que durante a sua permanência de 15 a 20 dias fiquem incólumes da perniciosa influência das emanações do porto, pois apesar de cheios de vida e rubor nas faces, apresentam-se profundamente anémicos, sendo preciso, quase sempre, baixarem ao hospital. É o que repetidas vezes tenho observado desde 1879”.

Seguidamente, os seus comentários direcionam-se para fábricas e depósitos de substâncias alteradas, nos seguintes termos:

“Há duas fábricas para clarificar a cera situadas nos extremos da vila, as quais amiudadas vezes foram por mim visitadas. Uma dessas fábricas, na data em que escrevo o presente relatório, foi removida para outro ponto afastado.

O comércio da ilha consiste principalmente na cera, couro, amêndoa de palma, arroz, borracha, etc. Estes produtos são acondicionados pelos seus proprietários em quartos contíguos ou nos armazéns sitos no pavimento inferior das habitações. O couro, a borracha e a amêndoa de palma, algum tempo depois de armazenados, exalam um cheiro nauseabundo. Se a pólvora é removida para o paiol da fortaleza para evitar a explosão e os desastres que ela pode causar, por que razão não se pratica o mesmo com os produtos acima apontados, especialmente com os couros e borracha, que pelas suas exalações produzem constantes explosões perniciosas sobre a salubridade dos habitantes da vila?”.

Os próximos comentários vão incidir sobre o mercado e o açougue:

“Há dois lugares onde se notam quotidianamente ajuntamentos do povo com variados produtos à venda a que se dá a denominação de mercado ou feira.

Um destes mercados é destinado exclusivamente aos Bijagós e tem lugar ao Norte e o outro aos Papéis, a Sul e extramuros. Nestes dois mercados permuta-se o arroz, feijão, carne de porco ou de vaca, leite, galinhas, lenha, mandioca, milho, batata e vários outros produtos cuja aparição na feira está dependente da estação apropriada. Não havendo vigilância alguma sobre a higiene destes dois lugares, apresentam-se eles frequentes vezes imundos.

Quanto ao açougue, para o consumo público foram abatidos durante o ano 118 cabeças de gado vacum e 404 de suínos, não tendo sido nenhuma inutilizada por serem de boa qualidade mas a Câmara Municipal não possui casa para este fim e permite que em qualquer porta ou rua se exponha a carne à venda. Urge, pois, que se proceda à construção de uma casa destinada a açougue”.

Não menos importante é o que o Dr. Damasceno Isaac da Costa nos diz sobre as habitações:

“Na vila, as casas correm de norte a sul e são todas cobertas de telha de barro; na maioria térreas, há algumas assobradadas; os pavimentos inferiores destas últimas servem ordinariamente para armazenar couros, arroz, amêndoa de palma, amendoim e outros produtos, cujas exalações são altamente nocivas à salubridade pública. À excepção de algumas, na maioria as casas são mal divididas e ventiladas, húmidas e algumas vezes até imundas por servirem de pocilgas aos porcos e outros animais domésticos que vivem com confraternidade com os racionais.

Ruas propriamente não existem, à excepção da central denominada S. José; as que porém têm tais denominações não passam de becos.

As cubatas dos grumetes que vivem extramuros são todas construídas de taipa e cobertas de colmo e conquanto algumas são espaçosas não possuem se não duas portas sem nenhuma outra abertura para a entrada de luz e ventilação. O colmo, porém, cobre mal algumas destas casas ao que dá lugar a que os abrasadores raios de sol tropical penetrem nelas e as iluminem. Em torno destas habitações existem grandes depósitos de lixo e imundícies. As cubatas dos Papéis que servem na ilha são arredondadas; as suas paredes construídas de taipa têm a altura de 1,5 metros e o tecto é composto de paus de mangue e a coberta de colmo é piramidal, cuja base repousando sob as paredes fica o vértice olhando para o céu.

A capacidade da cubata assim construída pode ser calculada em 4 metros de diâmetro; é dividida em 4 a 5 compartimentos para a residência de 8 a 10 pessoas.

A reunião destas cubatas constitui o que no país se denomina morança.”

Como se vê, é bem estimulante a leitura deste relatório. Vão seguir-se outros aspetos bem impressivos como a alimentação, a limpeza das ruas e dos cemitérios, o estado dos hospitais e apresenta-se mesmo uma relação das plantas medicinais. E pede-se ao leitor que esteja atento às considerações gerais por ele tecidas.

(Continua)

Aguarela de Edgar Silva, datada de 1994, a sede do BNU na Rua Augusta
Por amável deferência do Arquivo Histórico do BNU.

Homenagem em casa do Dr. Vieira Machado pelos corpos diretivos do BNU, 1972
Imagem cedida pelo Arquivo Histórico do BNU, agradece-se a deferência. 

Francisco Vieira Machado foi figura determinante do BNU mas foi igualmente um esteio da política colonial.
Em 1934, então Subsecretário de Estado das Colónias, ao prefaciar o catálogo da 1.ª Exposição Colonial Portuguesa, não se escusou a um claro ponto de vista ideológico:
“Há através da História de Portugal uma Ideia, ou antes, um Ideal, que decerto enraíza na própria essência da alma e no carácter dos portugueses, tal é o vigor com que se formou a persistência com que renasce: o Ideal da formação dos Impérios.
Esboçado e vago na organização do Infante, mais preciso sob a ambiciosa vontade de D. João II, ganha a primeira expressão real e perfeitamente enformada com Afonso de Albuquerque. E o primeiro esforço imperial da parte portuguesa despende-se no sonho de formação de um grande Império Asiático com guardas vigilantes em Aden, Ormuz e Malaca.
Desfeito com a morte do grande político e guerreiro, o plano tão audaz e inteligentemente iniciado, logo outro grande português – e esse tão desconhecido, tão caluniado, tão incompreendido por mais de três séculos de História, D. João III ! – nos lança para a formação do Império Sul-Africano. E o novo sonho, do novo rumo que o Ideal português procura, nasce esse portentoso Brasil, descoberto, colonizado, povoado e engrandecido por gente portuguesa.
Num vale escuso da História, invadidos nas organizações políticas e nas almas, pelas ideologias de 1789, aleados do sentido da nossa grandeza e da nossa missão pelo falso esplendor de novas ideias, perdemos o Brasil e o rumo imperial da nossa nação nas Colónias.
Passam-se longas dezenas de anos – quase um século.
Uma geração de escola, que em si guardava as mais ricas virtudes de Portugal, levanta de novo a ideia colonial, lança-se para África, ocupação pacífica, e refaz e fixa as novas fronteiras imperiais.
Depois deles outros seguiram o seu esforço heróico.
E novamente o sonho do Império – desta vez o Império africano – ganha forma e encontra o velho Ideal português.
Estamos novamente no caminho do Império”.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 20 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19511: Historiografia da presença portuguesa em África (150): Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19536: (D)o outro lado do combate (45): A morte de Rui Djassi - II (e última) Parte - A Op Alvor, península de Gampará, de 22 a 26 de abril de 1964 (Jorge Araújo)

$
0
0

Guiné (1964) - Operação militar. Foto de Manuel Parreiras (1941-2017), natural de Elvas, o 1.º da direita [Unidade desconhecida], pai da minha aluna Ana Parreiras, filha de mãe guineense, de Bafatá. (vou fazer um poste… com mais detalhes).



Mapa da península de Gampará. Território batido pelas NT durante a «Operação Alvor» onde morreu Rui Djassi (Faincam) em 24 de Abril de 1964. Fonte: Carta de Fulacunda (1955), escala 1/50 mil

Infografia: Jorge Araújo (2019)



 Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue



A «OPERAÇÃO ALVOR», DE 22 A 26ABR64, NA BUSCA DO "QUARTEL-GENERAL" DE RUI DJASSI (FAINCAM) - A PRIMEIRA MISSÃO DAS NT NA PENÍNSULA DE GAMPARÁ,  15 MESES APÓS O INÍCIO DO CONFLITO ARMADO - 




1. INTRODUÇÃO


Como complemento à narrativa anterior – P19532 – onde caracterizamos algumas das vicissitudes da vida do guerrilheiro do PAIGC, Rui Demba Djassi (Faincam), primeiro cmdt da Zona 8 (região de Quinara), com particular relevância para o desconhecimento do seu paradeiro desde o início do ano de 1964, vimos hoje ao fórum dar conta como foram os últimos 'combates' da sua vida, e dos seus subordinados, travados em redor do seu "Quartel-General", algures na Península de Gampará.


2. A «OPERAÇÃO ALVOR», DE 22 A 26ABR1964


A execução da «Operação "Alvor"» foi determinada pelo Comandante Militar do CTIG, à data o Brigadeiro Fernando Louro de Sousa, através da Directiva de Operações n.º 1/64, ficando agendada para o período compreendido entre 22 e 26 de Abril desse ano, um mês depois de concluída a Operação "Tridente". A missão tinha como área de intervenção a península de Gampará, uma vez que, desde o início do conflito, esta região ainda não tinha sido percorrida por forças militares.

Para cumprir esta "Directiva de Operações", a primeira de 1964, a responsabilidade de comando foi atribuída ao BCaç 599 (Sector G), com sede em Tite, que abrangia, do ponto de vista operacional, os subsectores de Tite, S. João e Fulacunda. 

De referir que o BCaç 599, Unidade mobilizada pelo RI 15, de Tomar, era comandada pelo tenente-coronel Carlos Barroso Hipólito, sendo apenas composto de Comando e CCS, não dispondo, por isso, de subunidades operacionais orgânicas. Este Batalhão sucedeu, em 18Out1963, ao BCaç 237, dele transitando os elementos de recompletamento.


 2.1. AS FORÇAS MILITARES ENVOLVIDAS


Tendo em consideração as distâncias que havia que percorrer, os meios logísticos à disposição da Unidade de quadrícula [BCaç 599], bem como os efectivos operacionais que esta podia empregar em acções prolongadas, foi considerado que uma operação de "reconhecimento e controlo da população" na península de Gampará, só poderia ser levada a efeito com êxito por efectivos mais numerosos, com forte apoio aéreo e o concurso de meios navais, operacionais e de transporte. 

Para esse efeito, a operação mobilizou os seguintes efectivos:

● Forças do Sector G:

> Companhia de Cavalaria 353 (CCav 353) – 2 Gr Comb;

> Companhia de Artilharia 565 (CArt 565) – 2 Gr Comb.

● Reforços:

> Companhia de Artilharia 643 (CArt 643) – 3 Gr Comb;

> Destacamento de Fuzileiros Especiais (DFE 2). 

O DFE2 e as restantes Forças Navais tinham a seu cargo o transporte de pessoal, água potável e reabastecimentos com as LDM 302, 303, 304 e 305 e a fiscalização dos rios Geba e Corubal compreendidos na ZO, com especial atenção para as "cambanças" e flagelações do IN partindo de Ganjeque, Ponta do Inglês e Ponta Luís Dias.

A Força Aérea, por outro lado, apoiava os desembarques e reembarques e a actividade das forças de superfície durante a acção; fiscalizava o rio Pedra Agulha, bem como os rios Geba e Corubal dentro da ZO impedindo "cambanças"; fazendo ainda a ligação, PCA e a evacuação sanitária. 


2.2. AS RAZÕES QUE JUSTIFICARAM A OPERAÇÃO

O facto da península de Gampará nunca ter sido percorrida por forças militares desde que se iniciou o conflito armado [23 de Janeiro de  1963], embora se soubesse que a maioria dos habitantes das tabancas limítrofes de Fulacunda as tivessem abandonado, passando a residir em locais desconhecidos, situados nos matos existentes nessa península. 

Por reconhecimentos feitos a Uaná Porto e à região marginal do rio Geba, junto à foz do rio Pedra Agulha, sabia-se que o IN se tinha revelado com fraco poder combativo. Em função dos factos anteriores, ainda não se tinham realizado contactos entre a população e as forças militares estacionadas nessa área. Acresce, por outro lado, terem sido referenciadas dez canoas na orla marítima, bem como observadas de Porto Gole, entre as 18h00 e as 20h00, luzes da outra margem. De referir, também, que em 16 de Abril de 1964, pelas 00h30 ter sido atacada uma embarcação das Forças Navais (FN) com MP [, metralhadora pesada].


2.3. A MISSÃO


i) - Percorrer os matos e as povoações de toda a área da península de Gampará, contactando com a população a fim de avaliar do seu grau de lealdade. Sempre que estas se manifestarem pacíficas procurar acalmá-las quando for caso disso, incutindo-lhes confiança e sensação de segurança pela presença das NT.

ii) - Obter, por meio de interrogatórios a PG [prisioneiros de guerra] ou civis, os elementos de informação que conduzam à detecção de elementos lN, seus acampamentos, ligações, pontos de "cambança", chefes de zona, etc.

iii) - Explorar, imediatamente, as notícias ou informações obtidas no decorrer das operações e que se refiram à localização de órgãos de apoio do IN, à identificação destes ou dos seus chefes, de elementos activos ou de simples simpatizantes.

iv) - Procurar, sempre que possível, fazer prisioneiros por necessidade e conveniência em se obterem os elementos de informação desejados, que venham a permitir avaliar-se do grau de confiança que essas populações possam merecer.

v) - Deixar intactos os géneros, a água, o gado ou outros bens pertencentes aos habitantes encontrados, desde que os seus proprietários não tenham hostilizado as NT, incluindo mesmo os daqueles que tiverem fugido quando da sua aproximação. Mas, destruir ou recuperar, conforme os casos e as possibilidades, as habitações, o gado, os géneros, os poços de água, ou outros bens ou pertences existentes nas povoações donde tenham sido hostilizadas as NT ou tenha havido reacção à presença das mesmas.

vi) - Abater ou destruir, por qualquer meio, todo o elemento IN que reaja ou actue pelo fogo contra as NT assim como todo o indivíduo armado que não entregue acto contínuo a sua arma ou que pretenda fugir, bem como ainda todas as instalações que lhe sirvam de guarida ou apoio, todas as canoas encontradas e ainda as povoações abandonadas donde tenham sido hostilizadas as nossas forças.

vii) - Explorar o sucesso, imediatamente a seguir à neutralização de núcleos do ln quer esta tenha sido levada a cabo pelas Forças de Superfície ou pela FA, por forma a tornar possível a apreensão do armamento ou a recolha e identificação dos mortos e dos feridos, do lN.

viii) - Destruir todas as casas de mato e outras instalações de fortuna, localizadas fora das áreas das povoações, permitindo-se porém aos seus proprietários a recuperação dos seus bens uma vez que não tenham mostrado hostilidade à presença das NT.


2.4. A EXECUÇÃO


Com vista ao reconhecimento da península de Gampará, a fim de permitir o controlo e a assimilação da sua população pacífica e a destruição dos núcleos de elementos do IN aí existentes, seriam realizados desembarques simultâneos na foz do Rio Agulha e em Uaná Porto, conjuntamente com as restantes forças saídas de Fulacunda e com o apoio da FA, de modo a isolar a península de Gampará e criar as condições favoráveis ao reconhecimento e à limpeza desta área segundo três eixos de progressão paralelos.




2.5. O DESENROLAR DA OPERAÇÃO


No dia 22 de Abril de 1964, quarta-feira, pelas 03h00 da madrugada, deu-se início à «Operação Alvor» na península de Gampará com desembarques simultâneos das CCav 353, CArt 565, CArt 643 e DFE 2, utilizando quatro LDM, na foz do rio Pedra Agulha e Uaná Porto, conjugados com forças progredindo de Fulacunda e com apoio aéreo, a fim de isolar essa região. 

As forças desembarcadas ocuparam posições ao longo da linha Gansambo-Uaná Porto-Uaná Beafada. A partir dessas posições executaram uma batida conjunta e simultânea na península de Gampará.

No dia 23 de Abril, quinta-feira, elementos In armados, escondidos no tarrafo, detectados pelo PCA, foram batidos pela CArt 643, com a colaboração da FA e fugiram. O DFE 2 venceu uma ligeira resistência em Canquecuta, que destruiu com o apoio da FA. O IN opôs resistência à progressão da CArt 643. Foi isolado e aprisionado um grupo da população que escondia 8 guerrilheiros. A CArt 565, emboscada pelo IN, reagiu prontamente, dispersando-o. As NT tiveram um guia auxiliar morto e dois feridos. Foram mantidos os horários de coordenação e as forças atingiram os objectivos estabelecidos para este período.

No dia 24 de Abril, sexta-feira,  também foram atingidos os objectivos determinados para o terceiro dia de operações. Foi capturado material e documentos. As NT não tiveram baixas e foram mortos três guerrilheiros [, um deles pondendo ser o Rui Djassi... ] e feitos mais de vinte prisioneiros. 

O IN estava sitiado e a operação prosseguia. Durante a noite os estacionamentos das NT foram flagelados, sendo o IN posto em fuga. Em toda a zona revelaram-se guerrilheiros isolados, alguns dos quais foram abatidos. Foram evacuados para Bissau oito prisioneiros, mulheres e crianças. O IN, cercado no extremo da península de Gampará, exerceu violenta repressão na população que pretendia apresentar-se às NT. Estas recolheram três centenas de pessoas, no mato e no rio, das quais foram evacuadas noventa, para Bissau. 

No dia 25 de Abril, sábado, o IN flagelou a CArt 565 que recolheu a Fulacunda, sem baixas. O DFE 2, em colaboração com a CCav 353, fez batidas na orla do rio. As NT acompanharam a população, na reocupação das tabancas, antes do reembarque.

No dia 26 de Abril de 164, domingo,  recolheram a quartéis todas as forças que tomaram parte na operação.



3. MAIS DUAS NOTAS DA PARTICIPAÇÃO DAS FORÇAS NAVAIS NESTA OPERAÇÃO


Para concluir o contexto sobre a «Operação Alvor", e como adenda ao modo como a mesma decorreu, importa dar conta de alguns testemunhos individuais de camaradas que nela participaram, ainda que as mesmas já tenham sido publicadas neste espaço.


No primeiro caso, cito uma passagem do livro "Homem  Ferro - memórias de um combatente", da autoria de Manuel Pires da Silva [SMor Grad FZE (Ref) do DFE 2] – P11521: "Notas de Leitura", de Mário Beja Santos, onde se pode ler:


"Tudo se agrava no rio Corubal, as embarcações são constantemente alvo de emboscadas, atacam navegação na Ponta do Inglês, e mesmo no canal do Geba. Volta-se à península de Gampará, vão com o apoio de forças terrestres, conclui-se que o inimigo não estava até então implantado no terreno. E depois atacam Cafal Balanta, Cafal Nalu e Santa Clara, há fogo do inimigo que só deixa de reagir quando chegam os T6. E no mês de Junho [1964] acabou a guerra para o DFE 2". 


No segundo caso, a narrativa está ligada à "LDM 302", recurso logístico utilizado na "Operação Alvor", e que é contada em livro de A. Vassalo, em BD, Edições Culturais da Marinha, 2011, com o título "A Epopeia da LDM 302".

No P15003, de novo em "Notas de Leitura", de Mário Beja Santos, retiramos a seguinte passagem: 


"Em 22 de Abril [1964, a LDM 302] conheceu o baptismo de fogo. Frente a Jabadá quando, em conjunto com mais três LDM [303, 304 e 305] procedia a um desembarque de fuzileiros [DFE 2], o inimigo tentou opor-se com fogo de armas ligeiras, mas não conseguiu evitar o desembarque".


Também no P10084 – "A Vida e morte da gloriosa LDM 302", o marinheiro fogueiro Ludgero Henriques de Oliveira [, lourinhanense, vizinho, amigo de infância,  e colega de escola primária do nosso editor e camarada Luís Graça, nascido em 1947 e falecido em 2011, ]  que pertenceu à guarnição desta Lancha de Desembarque Média, atribuída ao DFE 2, em 18 de Março de 1964, para fiscalização da zona do Rio Geba, conta-nos alguns dos aspectos mais relevantes da sua existência. 




A LDM 302 no rio Cacheu onde viria a ser violentamente atacada e afundada por duas vezes com baixas pessoais dramáticas, com mortos, feridos graves e feridos ligeiros. Fonte: Cortesia do blogue Reserva Naval, do Manuel Lema Santos [1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, Guiné, 1966/68]


4. A OCUPAÇÃO [?] DE GAMPARÁ PELAS NT

Por último, depois de consultada a bibliografia a que tivemos acesso, nada encontrámos para satisfazer a curiosidade relacionada com a instalação das NT em Gampará (e em Ganjauará)  Apenas temos, como referência, o Monumento ali existente, onde constam as diferentes Unidades de quadrícula que por lá passaram, conforme imagem abaixo (vd. P12247).



Guiné > Zona Leste > COP 7 (Bafatá) > Margem esquerda do Rio Corubal > Península de Gampará > Gampará > 1972 > Monumento da CART 3417 (Magalas de Gampará), assinalando a passagem por Gampará (e Ganjauará) da 38ª CCmds e de outras tropas especiais.

Vê-se que por ali também passaram, ao serviço do COP 7 (Bafatá), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCA - Companhia de Comandos Africanos, o 29º Pel Art e o Pel Mil 331.

A última Unidade que aí esteve instalada, até à independência, foi a CCAÇ 4142 (1972/1974) "Herdeiros de Gampará".

Foto (e legenda): © Amilcar Mendes (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Fontes consultadas:

«Operação Alvor» (texto adaptado): Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014); pp 252/257.

Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

26Fev2019.

_______________

Nota do editor:

Guiné 61/74 - P19537: Em busca de... (295): SOS, Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11, LMPQF, Angola (1971/73)... Procuro o ex-fur mil Morgado, natural da região de Santarém, partilhámos o mesmo camarote no N/M Vera Cruz, trabalhámos juntos, não nos vemos há 46 anos... (António Mário Leitão, Ponte de Lima)

$
0
0

Angola > Luanda > Farmácia Militar, Delegação n.º 11, Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF)  (1971/73) > Da esquerda para a direita, o fur mil Mário Leitão, de Ponte de Lima, e o fur mil Morgado, de Santarém.


Foto (e legenda): © Mário Leitão (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso camarada António Mário Leitão



[O Mário Leitão, hoje farmacêutico reformado, foi fur mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), no mil, período de 1971 a 1973; é natural de (e residente em) em Ponte de Lima, é membro da nossa Tabanca Grande, tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue;  é autor  de 3 livros publicados: "Biodiversidade das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d´Arcos" (2012), "História do Dia do Combatente Limiano" (2017) e "Heróis Limianos da Guerra do Ultramar" (2018)].



Data - terça, 26/02, 20:00


Assunto - SOS - Laboratório Militar


Caro Luís, um grande abraço!

Preciso da tua ajuda para divulgação desta fotografia, na qual figuro ao lado do Furriel Morgado, meu camarada de comissão na farmácia Militar de Luanda (1971-1973). 

Partilhamos o mesmo camarote no N/M Vera Cruz e muitas aventuras na cidade de Luanda. Há 46 anos que nada sei dele. 

É natural da região de Santarém. Gostava de o rever e de partilhar as suas memórias num livro sobre o LMPQF, que ando a escrever.

Ofereço alvíssaras a quem me der informações! (Em alternativa, um arroz de sarrabulho em Ponte de Lima!)

Um grande abraço!

Mário Leitão (telem 967039844)


2. Resposta do editor LG:


Comandante, um pedido teu é uma ordem!... Vamos lá põr a malta da Tabanca Grande à procura do Morgado que, como dizes, deve ser ribatejano e que, esperamos, deve estar vivo e de boa saúde, é o que todos esperamos.

Acabo de vir da "catedral da lampreia", aqui no Lumiar, a Tasca do João... Lembrei-me de ti... Temos encontro a 25 de maio:é o XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande, comemorando os 15 anos do blogue... Será que este ano voltas a fazer-nos companhia ?... 

Um abração. Luís

PS - Mário, só pelo apelido, Morgado, é mais difícil de localizar o nosso camarada ribatejano... Para mais, só sabes que é(era) natural do distrito de Santarém... Mas vou o teu apelo na página do Facebook da Tabanca Grande.

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de fevereiro de 2019 >  Guiné 61/74 - P19529: Em busca de... (294): O ex-1.º Cabo At Alberto de Aparecida Couto do Pel Caç Nat 54 procura o seu camarada José Augusto da Silva Dias, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BART 3873 que o salvou de morrer afogado no rio Geba (Sousa de Castro)

Guiné 61/74 - P19538: Parabéns a você (1582): José Rodrigues, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)

Guiné 61/74 - P19539: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte IV: Catió: as primeiras impressões

$
0
0


Guiné > Região de Tombali  >  CCAÇ 617  (1964/66) >    O quartel


Guiné > Região de Tombali  >  Catió > CCAÇ 617  (1964/66) >   O "largo" da vila, visto do campanário da igreja


 Guiné > s/l > CCAÇ 617  (1964/66) >  A bordo de uma LDM [, Lancha de Desembraque Média,], o cap inf  [António Marques]Alexandre e eu, alf mil Sacôto...


 Guiné > Bolama >  CCAÇ 617  (1964/66) >  Viagem de Bolama a Catió, em LDM.


 Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617  (1964/66) >  O mercado local


Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617  (1964/66) >  A igreja de Catió.



Guiné > Região de Tombali > Catió >  CCAÇ 617  (1964/66) >  O alf mil Sacôto, na "avenida principal" de Catiô, tendo ao fundo a igreja local.


Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, de seu nome completo... Foi alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66). Trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC [Direção Geral de Aeronáutica Civil]. Foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.


Lema: Vis non visa movet"... Uma expressão de
difícil tradução: movimenta-te,
se não qureres ser visto
Estudou no Instituto Superior de Ciencias Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG) . Andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente. É natural de Lisboa. É casado. Tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas). É membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011.

2. Continuação da publicação do seu álbum fotográfico: no poste anterior publicámos algumas fotos do seu cão, Roby, um   "boxer", que foi a mascote da CCAÇ 617, participou nalgumas operações, foi ferido em combate e regressou a casa como um herói...

Recorde-se que a CCAÇ 617 esteve em Bissau esteve cerca de mês e meio,  na dependência do BCAÇ 600. Em 1 de março de 1964, partiou para Catió, substituindo a CCAÇ 414, e sendo integrada no dispositivo de manobra do seu Vis non visa movetbatalhão, o BCAÇ 619.

Efetua operações nas regiões de Ganjola, Cobumba, Cufar Nalu, Calobol e Catunco. 

Em 22 de setembro de 1965, assume a responsabilidade do susector do Cachil, por troca com a CCAÇ 728. Será rendida pela CCAÇ 1424, em 16 de janeiro de 1966. Regressa a Bissau, aguardando embarque para a metrópole.
 
 Neste poste mostram-se algumas fotos das "primeiras impressões" de Catió.[As fotos, parcialmente legendadas pelo autor, não têm datas...]

Guiné 61/74 - P19540: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXIV: Memórias do Gabu (II)

$
0
0


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 1A > 4º trimestre de 1967 > Edifício do comando e do Conselho Administrativo.



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 1 > 4º trimestre de 1967 > Edifício do comando e do Conselho Administrativo, de estilo colonial, tal como encontramos, com paliçadas e bidões de protecção, ruas esburacadas e em terra batida, com pó ou lama. Foto tirada a partir dos CTT da outra esquina.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 3A > 4º trimestre de 1967 > >  Rua Principal da vila


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 3 > 4º trimestre de 1967 > Rua Principal, cheia de gente, mas sem carros. Verifica-se um movimento de pessoas locais e não só, com as suas bicicletas, a maioria a pé, com os seus bebés às costas, e não se vê aqui no centro, mulheres despidas.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 4A > 4º trimestre de 1967 > Passeio de bicicleta em dia de domingo.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 4 > 4º trimestre de 1967 > Um passeio de Bikla no Domingo, numa rua bem arranjada. São pequenas vivendas, moranças,  para a população local, numa época de criar melhores condições de alojamento e habitação.



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 9 >  Janeiro de 1968  > O Posto de abastecimento da velhinha ‘SACOR’. Sendo uma vila  já importante [, cidade só era Bissau...]  tinha a bomba de gasolina, só não sei se era para os civis, ou a ‘bomba’ da tropa. Devo ter abastecido lá a minha motorizada.



   Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 15A >  c. Janeiro / fevereiro de 1968  > A  cerimónia  do hastear da  Bandeira Nacional. 


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 15 >  c. Janeiro / fevereiro de 1968  > A  cerimónia cheia de significado da continência à Bandeira Nacional. Trata-se do hastear da bandeira, pela manhã, depois o arrear era às 18 horas, já quase noite. Hoje onde se vê disto? Em Bissau, por exemplo, toda a gente em sentido, até na Estrada principal, paravam os carros e saiam as pessoas com destino ou vindas de Bissau, a passar em Brá.



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Foto nº 14 A >  4º trimestre de 1967 > Vista aérea da cidade e quartel de Nova Lamego.  O avião – Dakota – a fazer-se à pista à sua frente, não se conseguem ver bem os contornos nem da cidade nem das ruas, nem casas nem quartel, só a pista.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)



(**) Vd. poste anterior > 18 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19503: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXII: Memórias do Gabu (I)

Guiné 61/74 - P19541: Agenda cultural (673): Entrudo Chocalheiro, Podence, Macedo de Cavaleiros, 2-5 de março de 2019... Porque A Vida São Dois Dias, e o Carnaval São Três... E Portugal Não é Só Lisboa ... E Eu Vou Lá Estar!... (Luís Graça)

$
0
0






Página dos Caretos de Podence







Programa do Entrudo Chocalheiro, Podence, Macedo de Cavaleiros, Trás-os-Montes, Portugal
Com a devida vénia (*)... 




A vida é um entrudo chocalheiro

por Luís Graça

A vida é um teatro,
A vida é um anfiteatro grego antigo,
A vida é um jogo de máscaras,
A vida é ora tragédia, ora drama, ora comédia,

A vida é um jogo onde não há "final feliz",
A vida é representação, subversão e transgressão...
... Mas nunca digas que a vida é uma merda, 
amigo, companheiro, camarada!


Representas múltiplos papéis no teu palco,
enquanto a vida flui, do nascer ao morrer.
Papéis que tu escolhes, uns,
e outros que te impõem.
Quem é o encenador ?
Quem escreve o guião ?

Quem é o dono do palco ? 
Quem te faz a máscara, a tira e a põe?
E o chocalho, para não te perderes 

no teu mundo imaginário ?
Às vezes és ator, canastrão,
e vaidoso dono da ribalta 

e do proscénio e do cenário,
outras, mero e reles figurante.

Representas diversos papéis, 
bem ou mal mascarado,
ora emboscador, ora emboscado,

ora embrulho, ora embrulhado,
ora presa, ora predador,
ora herói, ora vilão,
ora sedutor, ora apanhado,
ou simples gato e rato.

Muitas máscaras chegaram-te 
até aos dias de hoje:
a "toga" do senhor doutor juiz, 

que,"cego, surdo e mudo",
decide da tua vida e da tua morte;
o "capuz" do carrasco, que te enforca;
o "traje académico", na universidade,
separando o sabichão do mestre 
e o pobre do aprendiz;
o "camuflado" do combatente na Guiné, 

que também te servia de mortalha,
a "farda" militar, que te impõe 
a unidade de comando-controlo
e a hierarquia na tropa e na guerra;
os "paramentos" do celebrante da missa cristã, o sacerdote,
as "vestes" do feiticeiro,
ambos fazendo a ponte entre dois mundos
que, só por magia, ou pela fé, se tocam,
a terra e o céu,
o sagrado e o profano,

o corpo e a alma; 
ou ainda a "bata branca" do médico ou da enfermeira,
que não é apenas uma simples peça 
de vestuário de trabalho;
ou o "título de chefia" 

que te eleva até ao trono ou ao altar,
mostrando a tua cabeça alguns centímetros acima da multidão.

Das máscaras do terror do passado
às máscaras de hoje
que te ajudam a exorcizar o medo de viver e morrer,
ou a virar o medo do avesso,
como diria o poeta Miguel Torga,
o medo que é inerente à condição humana,
a do "homem sapiens sapiens",
no terror do tsunami,
no absurdo da guerra,

no dignóstico e prognóstico do cancro fatal,
no estertor da morte...


Mas a máscara também está associada 
à festa, 
à terra,
aos tambores, 
à gaita de foles, 
aos chocalhos,
ao pão, ao queijo de ovelha e de cabra,
aos enchidos, ao vinho...
Porque não há festa sem o pão
e o vinho, a música, a folia,
a transgressão, 

a subversão dos papéis,
o entrudo,
o carnaval,
o terreiro,
esse fantástico chão português
que foi e ainda é o teu chão,
de Trás-os-Montes ao Algarve,
e os caretos de Podence (**), Grijó e Lazarim...
Sim, a vida é um entrudo chocalheiro,
a vida são dois dias,
e o carnaval são três.

... E eu quero lá estar!

Luís Graça, 14/2/2018,

revisto, 1/3/2019 (***)

__________


(**) Vd. também poste de 9 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16067: Manuscrito(s) (Luís Graça) (83): As nossas máscaras, ontem e hoje... Apontamentos sobre o XI Festival Internacional da Máscara Ibérica (Lisboa, 6-8 de maio de 2016)

(***) Vd. poste de 14 de fevereiro de  2018 > Guiné 61/74 - P18316: Manuscrito(s) (Luís Graça) (138): a vida são dois dias e o carnaval são três

Guiné 61/74 - P19542: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XVI: Cirilo Bismarck Freitas Soares (Matosinhos, 1918 - Caxito, Angola, 1965)

$
0
0




1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972. Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar
_____________


Guiné 61/74 - P19543: Notas de leitura (1154): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (75) (Mário Beja Santos)

$
0
0
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Junho de 2018:

Queridos amigos,
Caminhamos para o último punhado de documentação avulsa do Arquivo Histórico do BNU.
Hoje passa-se em revista as decisões tomadas quanto às propriedades do BNU na Circunscrição de Fulacunda, mais de 1% do território guineense, todas elas encravadas num Quínara em efervescente guerra, a Casa Gouveia doou o que tinha para uma cooperativa agropecuária, a governação do BNU, no final de 1973, quis fazer uma cessão a 15 anos. A guerra não parecia abrandar o ritmo dos negócios, o Governo criou o Hotel Nuno Tristão em Bissau, constituíra-se a CICER - Companhia Industrial de Cervejas e Refrigerantes da Guiné e a Companhia de Pesca e Conservas da Guiné em fevereiro de 1974 já estava completamente paralisada, apareceu e desapareceu.
Veremos seguidamente um pouco da história da Sociedade Comercial Ultramarina, constituída em 19 de fevereiro de 1923 e que paulatinamente se transformara numa das jóias da coroa do Banco.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (75)

Beja Santos

Desde muito cedo que o BNU na Guiné passou a ser detentor de dezenas de milhares de hectares, tornou-se um banqueiro com assinaláveis propriedades rústicas, centradas na região de S. João, Tite, Fulacunda e Buba, mais de 1% do território. Num documento de indiscutível importância histórica, os apontamentos de António Júlio de Castro Fernandes, administrador do BNU e um dos próceres do Estado Novo, elaborados depois da viagem que fez à Guiné de março a abril de 1957, é levantada a questão e preconizada uma gama de soluções para a rentabilização destas propriedades, refere Castro Fernandes nas suas notas a natureza dos solos, fala na organização de seis blocos de propriedades, invoca mesmo um estudo elaborado pelo engenheiro José Teles Ribeiro.
Este, a propósito da valorização das propriedades do BNU, escreveu o seguinte:
“Os terrenos do BNU integram-se na designação de ‘Propriedades Perfeitas’ o que, segundo os termos do regulamento de concessões, garante ao proprietário o domínio directo, o domínio útil e a faculdade de venda; em contraste com a concessão por aforamento em que o foreiro tem exclusivo direito ao domínio útil, pertencendo o directo ao Estado e revertendo o terreno a este desde que não esteja devidamente aproveitado no prazo de tempo para tal afixado. Daqui resulta o alto interesse e valor das propriedades do BNU e a necessidade de os valorizar ao longo dos anos, mediante uma ocupação agrícola gradual em vez de a deixar ir desvalorizando pelo abandono das mesmas à acção devastadora do indígena.
Essa desvalorização terá de assentar necessariamente na ocupação das melhores parcelas dos terrenos por culturas de carácter arbóreo, não só por serem as que permitem uma maior extensão ocupada com o mínimo de investimentos, mas também porque, ao contrário das culturas arvenses de cultura anual, se traduzem por uma ocupação quase definitiva.

Com base no conhecimento das condições ecológicas locais, consideramos preferenciais as seguintes culturas:
Caju – árvore bastante rústica, podendo ser semeada directamente no terreno definitivo, é a que se traduz numa ocupação mais económica, dada a inexistência de granjeios.
Coleira – Com elevados rendimentos por árvore, poderia ser usada na ocupação dos terrenos mais ao Sul.
Coqueiro e palmeira – Viável nos terrenos baixos e húmidos, onde seja possível a obtenção de água superficial ou subterrânea.
Cafeeiro – Embora ainda não definitivamente estudado, parece admitir-se como provável uma boa adaptação da variedade ‘robusta’.”

Anteriormente, o BNU encarregara um perito alemão, E. W. Boesser, a quem Castro Fernandes também alude, a fazer um estudo sobre as possibilidades económicas destes terrenos, mormente na região de Quínara. O seu relatório debruça-se sobre a natureza dos terrenos e o que eles podem produzir.
O que escreve tem bom recorte literário, ele procura enquadrar e pôr em consonância os dados naturais de solo, clima e planta:
“A ciência que se ocupa com estes factores, com as suas interdependências e influências mútuas é a fitogeografia, no seu ramo da ecologia vegetal; e quando se respeitam propositadamente as condições especiais que se constituem e põem, quando as actividades e finalidades económicas do Homem terão de ser relacionadas com aqueles factores básicos da vida vegetal, com os quais querem ser postas em harmonia e produtiva efectuação recíproca, é de falar em fitogeografia aplicada.”

É muito expressivo em tudo quanto escreve, está muito atento aos “rios” e à sua importância nas explorações, pensa logo na cultura do arroz e nas formas de mangal de alto fuste e equaciona as quatro entidades naturais da paisagem, falando das áreas marinas dos rios comenta os solos lodosos que podem ser transformados em terras de arroz.

É técnico, e tudo quanto redige tem essa matriz, mas a sua escrita é muito elegante, falando de rios, mangais, lalas, população vegetal, a organização da selva, solo dos matos secundários, linhosas secundárias, rematando: “Um facto muito remarcável é que em todas essas variantes de vegetação, desde a espessa floresta secundária, de aspecto quase virgem, até à mais clara savana arborizada, se encontram sempre ora numerosamente ora de modo mais disperso, em todo o caso porém em aparente prosperidade, palmeiras de óleo”.

E tece um enquadramento entre essa paisagem e o habitat:
“Embutidas naquela paisagem, variada em si, de floresta, bosque e parque, acham-se as pequenas roças dos indígenas de data recente que no decurso de poucos anos já serão reconquistadas pela savana e pelo mato. Somente nas proximidades das aldeias ou tabancas e especialmente nas penínsulas dos arredores de S. João de Bolama observam-se extensas áreas de cultura, continuadamente exploradas e por isso quase completamente desnudadas”. E em jeito de conclusão dirá que aqueles terrenos colinosos oferecem condições para a vida vegetal, não haverá qualquer impedimento essencial à concentração desejável das produções.

Atenda-se que nas reuniões do Conselho Geral do BNU ocorridas em 10 e 16 de maio de 1957, Castro Fernandes lembrou estes terrenos, que em conversações havidas com a Sociedade Nacional de Sabões, esta chegara à conclusão não estar interessada em tal compra, comentou detalhadamente o documento elaborado em 1954 pelo fitogeógrafo E. W. Boesserg, referiu que a Casa Gouveia estava a fazer em Bolama uma exploração agrícola e que o próprio Governador fazia constantemente apelos ao desenvolvimento. Fez comentários ao punhado de notas que enviara a todos os membros do Conselho, enfatizou a situação cambial da Província, manteve a sua enorme expetativa no florescimento da Sociedade Comercial Ultramarina e por fim versou assuntos sociais do BNU na Guiné como as moradias para os empregados, beneficiações no edifício da sede e a compra de dois bungalows destinados aos empregados do Banco na Praia de Varela.

A agricultura associada ao comércio passou a ser uma tónica dominante da presença do BNU na Guiné, em qualquer relatório ela virá a ser tratada com realço.
Veja-se o relatório da visita de inspeção à Filial de Bissau em 13 de dezembro de 1968, estamos no auge da luta armada:
“A agricultura, outrora a base da economia da Guiné, não pode hoje ser considerada como elemento efectivo do desenvolvimento desta Província. A situação criada à região levou o agricultor a concentrar-se nos grandes centros comerciais ou em tabancas onde efectivamente encontra a protecção das Forças Armadas mas, em contrapartida, depara com solos fracos, sem grandes possibilidades.
E ao natural afrouxamento das culturas tradicionais – milho, mandioca, sorgo e arroz – também não será completamente alheio o facto de, por razões de defesa, haverem sido chamadas largas centenas de homens para as milícias e que deixaram assim de prestar o seu contributo braçal à agricultura.
Não se torna por isso difícil explicar a necessidade em que se viu nos últimos anos a Província de, tradicionalmente exportadora de arroz, embora de quantidades reduzidas, passar a importar grandes quantidades deste cereal para sustento das populações.
As indústrias existentes, reflexamente, têm também na actual conjuntura uma muito menor influência na economia da região se atendermos a que a matéria-prima – a mancarra, o coconote e o próprio arroz – escasseou pelos mesmos motivos apontados.
Se dantes dizíamos que a economia assentava basicamente na agricultura, hoje podemos afirmar que a Guiné encontra relativo equilíbrio orçamental no comércio importador, que passou a desfrutar de grande prosperidade – melhor diríamos, a viver uma fase de autêntica euforia – na medida em que se lhe proporciona um maior poder de compra trazido pela presença dos grandes efectivos militares, de 1963 a esta parte. Esta situação, como não podia deixar de ser, provoca um desnível muito acentuado na sua balança comercial”.

O BNU, tal como a Casa Gouveia, vão gradualmente perdendo esperanças de pôr a agricultura dos seus terrenos a funcionar. E tomar-se-ão decisões drásticas, em 1973, ambos os empórios oferecem aqueles prédios rústicos para cooperativas.

No Arquivo Histórico do BNU encontra-se uma informação que tem a data de 9 de julho de 1973 em que toda a questão é repertoriada: a posse daqueles cerca de 44 mil hectares na Circunscrição de Fulacunda, propriedade do BNU desde 1927, por efeito de execução hipotecária; a tentativa de criar uma sociedade em Bissau, à qual seriam vendidas as propriedades, para devida exploração agropecuária, que, afinal, não chegou a constituir-se; a ocupação e controlo das propriedades por parte dos terroristas; em situação análoga se encontravam na Guiné cerca de 15 mil hectares de terrenos pertencentes ao grupo CUF que vieram a ser doados à Província em abril de 1973, para serem explorados pelas populações, em regime comunitário; o General Spínola conversara com a administração do BNU tendo ficado verbalmente assente que o Banco faria a doação dos terrenos; o General Spínola enviara agora uma minuta de escritura onde se sugeria uma doação ao Governo da Província com uma importância destinada à instalação da cooperativa agropecuária, que teria a designação de Cooperativa do Quínara; quem assinava a informação dava o parecer que apenas se deveria doar os terrenos e não conceder qualquer subsídio ou, quando muito, conceder um subsídio simbólico de 100 ou 200 contos e se a Cooperativa precisasse de auxílio do Banco, estabelecer-se-ia um crédito.

Em 8 de fevereiro de 1974 temos uma última referência a estas propriedades, numa documentação avulsa onde também se fala da CICER, da Companhia de Pesca e Conservas da Guiné e do Hotel Nuno Tristão em Bissau. Quanto às propriedades de Fulacunda, escrevia-se que o Conselho do Banco considerara, em 10 de outubro de 1973, ser preferível fazer uma cedência gratuita do direito de uso pelo prazo de 15 anos, atribuindo um subsídio de 10 mil contos. Quanto à CICER, aqui temos a primeira referência a esta sociedade fundada em 21 de dezembro de 1971, tendo como principais acionistas a Sociedade Central de Cerveja, a Companhia União Fabril Portuense, a Cuca de Angola e a Fábrica de Cervejas Reunidas de Moçambique, Lda. Para satisfazer diversos encargos com a construção da sua fábrica em Bandim, a CICER solicitou, em julho de 1973, créditos, o apoio do BNU no final desse ano de 1973 somava 54 mil contos. A Companhia de Pesca e Conservas da Guiné, dizia-se já em fevereiro de 1974, era um empreendimento que não ultrapassara a fase de arranque, a sociedade estava paralisada e sem meios para funcionar, o crédito concedido pelo BNU era de cerca de 8 mil contos. Quanto ao Hotel Nuno Tristão, era um empreendimento que o Governo da Província chamara a si, o previsto hotel constaria de um edifício de três andares, com 53 quartos e 7 suites, cujo custo estava orçado em 26 mil contos. Para cobertura da parte financeira, o Governo solicitara ao BNU um empréstimo de 20 mil contos a liquidar em 15 anuidades. O BNU concedia o empréstimo a liquidar em 24 semestralidades.

Caminhamos para o final da documentação avulsa, temos ainda pela frente o grande dossiê da Sociedade Comercial Ultramarina, dela se falará já a seguir.

(Continua)

Navegação à vela nos rios. Imagem extraída do livro Guiné – Alvorada do Império, 1953, trata-se de uma homenagem ao Governador Raimundo Serrão.

Tocadores de “Mutaro”. Imagem extraída do livro Guiné – Alvorada do Império, 1953, trata-se de uma homenagem ao Governador Raimundo Serrão.

Farol do canal de Pedro Álvares, Bijagós. Fotografia de Francisco Nogueira, retirada do livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.
____________

Notas do editor

Poste anterior de 22 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19516: Notas de leitura (1152): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (74) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 25 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19526: Notas de leitura (1153): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19544: Os nossos seres, saberes e lazeres (310): Viagem à Holanda acima das águas (14) (Mário Beja Santos)

$
0
0
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
Deixo-vos as imagens da visita às coleções do Museu Municipal de Haia, o museu é riquíssimo, logo o edifício, caso ímpar da arquitetura Arte Deco, o arquiteto H. Berlage deixou aqui uma das suas obras-primas.
Depois o acervo de Mondrian, as coleções permanentes, as exposições apuradíssimas. E havia a paga de um domingo sombrio que aqui se viveu em 1978, logo a inquietação que deixou Piet Mondrian, do alto dos então 33 anos ele julgava que os grandes artífices e feiticeiros das Artes Plásticas do século XX tinham as suas coordenadas máximas em Picasso e Matisse, ver assim Mondrian provocou sério abalo que chegou aos tempos de hoje, pois Mondrian estende pontos para a arquitetura, gera mais sobressaltos no cruzamento das linhas, das formas e das cores.
Mas nisto das artes, os gostos não se discutem.
E a viagem vai continuar.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (14)

Beja Santos

Continua a visita ao Museu Municipal de Haia, desta feita a um núcleo expositivo que fala do passado nas praias do Mar do Norte. O viandante não resistiu a captar esta fotografia, é a espontaneidade e a alegria lavar pernas e pés, a moral não permitia mais, tempos depois viriam os fatos de banho da cabeça aos pés, mesmo os homens taparão o tronco. Mas naquele exato momento as mentalidades só autorizavam esta felicidade que a fotografia regista.





O que chama a atenção? São obras eivadas de naturalismo, são cores nórdicas, um tanto soturnas, mesmo no verão a claridade é caprichosa e arredia, veja-se aqueles céus no belíssimo quadro centrado no veleiro, vejam-se as crianças a brincar e tome-se em consideração a nesga de mar sombrio, no fundo do horizonte.


O átrio do museu é uma obra-prima de azulejaria, tem tanto de espaçoso como repousante, aqui os visitantes amesendam, lêem livros e jornais, preparam-se para novas acometidas, ver exposições, rejubilar com as coleções de valor extraordinário ou, pura e simplesmente, deleitar-se com estes pormenores da Arte Nova, olhem só para esta fonte um tanto espampanante mas de um cromatismo tão equilibrado, tão ajustado.


Como resistir a estes aracnídeos da Louise Bourgeois, uma escultura que nada tem de terrificante, pelo contrário são pernas elegantíssimas, contempla-se e venera-se o espantoso talento de uma grande escultora da nossa contemporaneidade.


Quando aqui esteve em 1978 o viandante apreciou imenso a reconstituição de um espaço desse estilo decorativo que só virá a ser substituído pela Arte Deco. Belíssima composição, uma integração de leitura acessível, há reconstituições de ambientes que nos lavam a alma. Esta é uma delas.





Primeiro, temos uma obra de Constant Permeke, um artista um tanto inclassificável, um espantoso alterador de formas, parece trabalhar em paralelo com a Arte Naif. E depois, estes espantosos quadros de Francis Bacon, uma espantosa figura que reformatou o figurativismo, há sempre figuras que se torcem e retorcem, por vezes rostos convulsivos, troncos e membros que parecem estar submetidos a jogos de espelhos, e muitas vezes cores sanguinárias contrastando com o cor-de-rosa onírico. Aqui esteve o viandante especado, não tem pejo em dizer que esta arte o deixa estarrecido, estas torções que parecem tão brutais para que a evidência salte à vista.


Estávamos num tempo em que o museu que se prezasse no Norte da Europa tinha que exibir Monet, Gauguin ou Matisse, e este museu de Haia não faltou à regra. O viandante vinha encadeado pelo Francis Bacon, saudou esta dança e despediu-se da bela coleção do museu de Haia.


E mesmo à saída não resistiu a mostrar estas formas revolucionárias, de alto a baixo, luz por todos os lados, linha e profundidade, uma genial simplicidade esquemática que tornou este museu um paradigma da interligação de todas as artes. Por isso é que Piet Mondrian tem aqui a sua casa-mãe.

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19521: Os nossos seres, saberes e lazeres (309): Viagem à Holanda acima das águas (13) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19545: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXIV: Memórias do Gabu (III)

$
0
0


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Foto nº 7 > A ‘Porta de Armas’ das instalações do Quartel. Junto ao local de entrada, uma legenda da BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67).  Junto de mim (oficial de dia) o alf.mil inf Carneiro. 


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Foto nº 7A  > A ‘Porta de Armas’  do Quartel. O oficial de dia, Virgílio Teixeira, e o alf mil inf Carneiros, sentados num monumento erigido à  memória  do BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67). 


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Janeiro de 1968 > Foto nº 10 > Uma casa nova e moderna com cobertura de telha. Como cidade em desenvolvimento, as casas faziam-se a bom ritmo, para o local.
Foto captada em Nova Lamego, em Janeiro de 1968.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  Dezenbro de 1967 > Foto nº 2 >  Casa de pasto, tasca, um local de comer, ‘ O Geraldes’. Pode ver-se o Geraldes, da direita para a esquerda, o 3º de camisa aberta, ao meu lado.  Do outro meu lado, o Sargento Parracho (acho que era de Aveiro) e tinha chegado da Madina do Boé, era da CCAÇ 1589, e lá vinha com os seus ‘autos de destruição’ para serem aprovados.  Os outros comensais são civis, comerciantes.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Foto nº 8 > Uma noite de festa da população local. Não me lembro que festa se trata, possivelmente por alturas do Natal, é noite e a foto foi feita sem o flash.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de 1967 > Foto nº 11 > Na esplanada do Clube do Gabu com o seu ‘Patrão’. Estamos ali num fim de tarde, o furriel Rocha, e um 1º cabo escriturário. O omem da camisa branca, cabo-verdiano, era o dono e patrão do estabelecimento, só não consigo lembrar-me do nome dele, era um gajo porreiro.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > 4º trimestre de 1967 > Foto nº 5 > No cimo de um monte bagabaga com alguns camaradas. Era uma foto imprescindível, num local de milhares de montes bagabaga.  No cimo sou eu e o soldado condutor ‘O Ermesinde’. Em baixo o Furriel Carvalho e outros.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Foto nº 6 > Rua principal num dia de chuva torrencial, um lamaçal.


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Outubro de 1967 > Foto nº 12As nossas amigas e lavadeiras, na Fonte de Nova Lamego. Estas eram as nossas bajudas e as nossas lavadeiras, as melhores amigas, sem dúvidas.

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); é economismita e gestor, reformado; é natural do Porto; vive em Vila do Conde. (*)



CTIG/Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T061 – IMAGENS DO GABU – NOVA LAMEGO

PARTE III (*)

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19540: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXIV: Memórias do Gabu (II)

Guiné 61/74 - P19546: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte V: Catió, o quartel e a vida da tropa

$
0
0

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > O João em cima de Daimler, uma autometralhadora ligeira.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Messe de oficiais em Catió. Jogando King. O cor Matias supervisiona a jogatana.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Qartel: o armazém de combustíveis


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > O "artista"... bem "emoldurado"

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Com o Cabo Quarteleiro Mourão, responsável pelo armazém da Companhia


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Café do  libanês Jassi em Catió: quatro alferes, da esquerda para a direita: Sasso, Gonçalves, Cardoso e eu.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  Na esplanada do Café do  libanês Jassi.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Escrevendo para casa no meu quarto, partilhado com o cap Alexandtre-



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  "Fazendo turismo" nos arredores de Catió. O João Sacôto em primeiro plano, na base do bagabaga.


Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, de seu nome completo... Foi alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66). Trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC [Direção Geral de Aeronáutica Civil]. Foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

Estudou no Instituto Superior de Ciencias Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG) . Andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente. É natural de Lisboa. É casado. Tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas). É membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011.


2. Continuação da publicação do seu álbum fotográfico: no poste anterior publicámos as primeiras fotos da vila de Catió, que era sede de circunscrição.

Lembre-se que a CCAÇ 617 esteve em Catió de 1 março de 1964 até 22 de setembro de 1965, altura em que assume a responsabilidade do susector do Cachil, por troca com a CCAÇ 728. Será rendida pela CCAÇ 1424, em 16 de janeiro de 1966, preparando.se depois para regressar à metrópole.

Quanto à operação Tridente, o João esclareceu-nos o seguinte:

"(...) Ainda bem que perguntas, para não haver mal entendidos, que detesto. Nós tínhamos acabado de chegar a Bissau (éramos uns “maçaricos” muito inexperientes), a nossa companhia teve uma participação na operação Tridente muito reduzida, creio que unicamente com uma secção de apoio logistico, comandada pelo furriel Carlos Cruz, também nosso tabanqueiro." (...)

______________

Nota do editor:

Ýltimo poste da série > 28 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19539: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte IV: Catió: as primeiras impressões

Guiné 61/74 - P19547: Blogpoesia (610): "De tristezas e alegrias", "De bico no chão" e "Não sou marinheiro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

$
0
0
Póvoa de Varzim - PasseioAlegre
Com a devida vénia a "O Poveiro"


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


De tristezas e alegrias

Fazem parte de sua história, tristezas e alegrias.
Lisboa nasceu dum feliz encontro e ousadia.
Seduzido pela beleza, assentou arraiais aqui Ulisses, há muitos séculos.

Misto de saudade, audácia e de sonho.
Deixou o Mediterrâneo tacanho e lançou-se ao mundo.
Com vontade de regressar. Prometera.

Chegado ao oceano imenso, virou para o norte.
Sempre rente à costa.
Logrou um rio largo de que não sabia o nome.
Avançou nele.
Duas margens sumptuosas. Verdes.

Quando o viu alargar demais, receou ir dar ao mar.
Atracou e subiu a colina.
Que haveria de se chamar a Mouraria.

E, desarmado, ali se instalou com a comitiva.
Tão afáveis as gentes que vieram saudá-los que nunca mais tiveram coragem de se ir embora.
Excepto, Ulisses.
Para cumprir o juramento de amor à sua esposa. Penélope.
Assim nasceu Lisboa que deu ao rio o lido nome que ainda mantém.

Ouvindo Carlos Paredes

Bar Castelão em Mafra, 26 de Fevereiro de 2019
8h40m
Jlmg

********************

De bico no chão

Pareço um pião, rombudo,
às voltas, de bico no chão.
Ando e cirando.
Velas ao vento.
Moinho parado no alto do monte.

Não adianta clamar.
A chuva ou vem ou não vem.
Por mais que se reze.
A terra está seca.
Uma sede maluca.
Arde e não seca.

Se não fosse o passado
A dizer como é,
Morria de susto.

Às duas por três,
Rebentam os céus,
Se desfazem em água,
O chão floresce
E a vida retorna.

dia cinzento

Bar "Caracol", arredores de Mafra,
27 de Fevereiro de 2019
9h20m
Jlmg

********************

Não sou marinheiro

Não sou marinheiro mas vivo do mar.
Me cura seu sal.
Me adormece acordado.
Faz-me feliz.
Me põe a sonhar.

Não sou nada sem ele.
Me reviro de dor quando não o oiço bramir.
Companheiro de sempre.
Desde menino a chorar.
Minha Mãe me levava,
ao romper da manhã.

Dois mergulhos gelados
pelas mãos do banheiro.
Garantiam-me rijo
por um ano a viver.

Póvoa de Varzim, que saudades eu tenho.
Do Agosto-Verão, à beira do mar.

Aqueles rochedos medonhos,
revestidos de conchas,
Me guardam segredos,
nas vazias marés.
Mexilhões com fartura.
Nunca mais acabar.
Jantaradas de graça.
Como sabiam a sal.

Nunca fui marinheiro.
Como eu gosto do mar!...

Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19524: Blogpoesia (609): "Parecemos diferentes", "Tardes de Lisboa" e "Renovar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19548: Notas de leitura (1155): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (3) (Mário Beja Santos)

$
0
0


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Novembro de 2016:

Queridos amigos,
Na sequência das análises que se tem feito a um importante livro que é uma homenagem a um grande investigador, Patrick Chabal, dois autores apreciam as instituições da sociedade rural e a sua proverbial estabilidade que agora estão em mudança graças a vários fatores: a arbitrariedade dos preços do caju, a crescente procura de trabalho no exterior, a ameaça de segurança alimentar (entenda-se o risco e não haver comida para todos, até agora tem havido, a ameaça permanente é a subnutrição).
Outros dois autores dão-nos um quadro bem curioso do pluralismo religioso e da convivência interétnica, que permite a previsão de que não há condições para a presença avassaladora do terrorismo e fundamentalismo islâmico.
Por último, outro autor aborda a descriminação de género, um dos aspetos mais grotescos do incumprimento das promessas de Amílcar Cabral, isto quando a mulher combateu ao lado do homem, destemidamente, na luta de libertação.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau: de Micro-Estado a Narco-Estado (3)

Beja Santos

“Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’”, por Patrick Chabal e Toby Green, Hurst & Company, London, 2016, é constituído por um acervo de estudos dedicados à memória de Patrick Chabal, falecido em Janeiro de 2014, e que idealizou até ao fim dos seus dias a organização desta obra com Toby Green. Obra constituída por três partes (fragilidades históricas; manifestações da crise e consequências políticas da crise) convocou nomes importantes da historiografia da Guiné-Bissau no plano internacional como Toby Green, Joshua B. Forrest, Philip J. Havik, entre outros.

A introdução e a primeira parte, dedicada às fragilidades históricas, motivaram os dois primeiros textos.
Iniciamos hoje a segunda parte, centrada nas manifestações de crise. Marina Padrão Temudo e Manuel Bivar Abrantes retomam a questão da estabilidade social e do modo de viver rural. Tenha-se em conta o que outros autores já referiram: o caráter suave do Estado da Guiné-Bissau, a sua ineficácia no processo de elaboração de políticas, o seu gradual desfasamento fazer chegar as instâncias do PAIGC à sociedade rural, aos poucos a participação política foi-se restringindo; foram exíguos os investimentos na agricultura, soçobraram as medidas de nacionalização do import/export e a nacionalização das terras não passou de uma utopia. Para estes dois autores as sociedades rurais guineenses foram resilientes, fizeram frente aos desaires do Estado, resistiram às suas prepotências e irresponsabilidades com a política agrícola. Mas o conflito político-militar de 1998-1999 apanhou as sociedades rurais já na monocultura do caju, as deslocações maciças de população desestabilizaram as formas de viver, uma coisa é a pobreza com alimentação e mesmo focos de subnutrição, outra coisa é subitamente as tabancas do interior serem confrontadas com insegurança alimentar. Até recentemente, estes pequenos agricultores e os ponteiros conseguiam uma harmonia precária entre a comida de subsistência e a produção de troca e a exportação, nomeadamente o caju.

Está devidamente estudado que a intervenção colonial não desarticulou, dentro de certos limites, este precário equilíbrio nas sociedades rurais. O amendoim foi o produto de exportação por excelência entre 1846 e 1974. Houve igualmente exportação de arroz para a Europa, que se iniciou na década de 1930, a guerra de libertação inverteu esta tendência. Distinguem-se fundamentalmente os modos de sobrevivência alimentar dos povos animistas (com os Balantas e os Manjacos à cabeça) dos muçulmanos. Seja como for, é na diversidade étnica que se encontram formas complementares destes sistemas de modo de vida que integram cereais, coconote, óleo de palma, arroz, com uma correspondente economia de troca, onde pode entrar carne, pescas, frutos e outros produtos. A guerra de 1998 levou a que mais de 200 mil guineenses urbanos tenham procurado refúgio nos campos, houve que encontrar acolhimento e amortecimento ao choque de providenciar comida em tão grandes quantidades aos refugiados. Os autores abordam o fenómeno das pontas exploradas ao tempo em que houve financiamentos durante o processo de ajustamento estrutural, agravou as desigualdades sociais e criou uma nova elite política e financeira que, de um modo geral não pagou ao Estado os créditos concedidos pelas linhas generosas desse dinheiro vindo do exterior. Os autores fazem uma análise demorada das mudanças sociais que se estão a operar na vida comunitária cuja evidência é a explosão migratória, a perda da autoridade dos mais velhos e o crescente número de casamentos interétnicos. A monocultura do caju está a revelar-se um desastre, os agricultores estão cada vez mais dependentes de compradores que jogam com as baixas cotações do mercado internacional, a Índia está a tornar-se um feroz competidor e o mercado dos cereais é cada vez mais instável. As mudanças em curso estão a reduzir a solidariedade nas comunidades rurais.

Bem curioso é o artigo de Ramon Sarró e de Miguel de Barros sobre a convivência entre credos religiosos, entre crentes monoteístas e animistas. É crescente a presença da religião na esfera pública e o pluralismo de opiniões é uma moeda corrente. Os autores dão como exemplo a povoação de Enxalé onde há 8 diferentes línguas, uma mesquita, uma igreja católica, um templo protestante, neopentecostais e balobeiras, membros do movimento profético Kyang-yang, onde se misturam elementos simbólicos do Islão, da cristandade e da religião Balanta. Eles analisam historicamente o mapa religioso da Guiné-Bissau a partir das etnias, das práticas religiosas, para concluir que até ao presente têm funcionado com sucesso todos os processos de mediação entre convicções religiosas, acentuando que em pleno conflito político militar todos os atores se reuniram fazendo um apelo à paz.

O último artigo é da responsabilidade de Aliou Ly que analisa as relações de género na Guiné-Bissau destacando que todas as promessas de Cabral no campo da promoção da mulher têm sido ignoradas pelos sucessivos poderes, ao longo de 40 anos. A mulher continua marginalizada do sistema político, o seu contributo nas estruturas sociais e económicas está praticamente limitado ao trabalho braçal e a obedecer sem reticências ao homem, estão sub-representadas no sistema educativo, administrativo e nas instituições políticas de todo o tipo. Estuda o impacto da marginalização da mulher na Guiné pós-independente, a despeito de muitas licenciadas que se impõem no mundo dos negócios. As leis contra a discriminação de género não são respeitadas, é notória a resistência masculina como se mantêm inúmeras desigualdades de classe e étnicas que agravam a condição da mulher. Nos primeiros anos da independência ainda se falava nas heroínas como Titina Sila, referindo-se sempre com respeito mulheres como Francisca Pereira ou Carmen Pereira. O autor atribui responsabilidades a este fenómeno discriminatório logo à governação de Luís Cabral, teria começado aqui o círculo vicioso da desigualdade de género e da imposição da ordem masculina. Os homens emigram para os países limítrofes, as mulheres ficam com cada vez mais trabalho na tabanca e na vida familiar. O paradoxo de tudo é que Amílcar Cabral tinha prometido que se construiria um país com igualdade e melhor vida para todos.

O próximo e último artigo centra-se na diáspora guineense depois de 1998, as consequências políticas da crise e o aparecimento do Narco-Estado e Toby Green apresenta as suas conclusões.

(Continua)
____________

Notas do editor

Poste anterior de 25 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19526: Notas de leitura (1153): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 1 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19543: Notas de leitura (1154): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (75) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19549: Estórias avulsas (93): Histórias do vôvô-Zé - As nossas andorinhas (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

$
0
0
1. O nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), em mensagem do dia 22 de Fevereiro de 2019, enviou-nos uma bonita história sobre as andorinhas. Conversa entre avô e netos que nos devia sensibilizar a todas a preservar a natureza.


Histórias do vôvô-Zé

As nossas andorinhas

https://youtu.be/QrrawrmJkOM

Passados mais de setenta invernos, lá vinha de novo mais uma ansiada primavera. Das coisas boas do inverno pouco havia a recordar. Não fora a quadra natalícia, por excelência a dos dias de maior aconchego e afecto familiar, e apenas recordaríamos a chuva teimosa, o frio penetrante e os dias pequeníssimos daquela estação anual.

A primavera era anunciada com a chegada das andorinhas e o friorento vôvô-Zé, sempre ansioso, passava o tempo a olhar o céu na expectativa de as ver chegar. Ele sabia que todos os anos por volta do dia 20 de Março elas se instalavam no seu espaço, para dar início a mais um admirável ciclo das suas vidas. Para ele, até parecia que, com a chegada das andorinhas, lhe estava garantido mais um ano de vida. Nos últimos anos, talvez devido ao aquecimento global da Terra elas, por vezes, têm vindo mais cedo uns dias. Foi o caso daquele ano em que coincidiu a chegada da primeira andorinha, na última semana de Fevereiro, precisamente com o dia de mais um aniversário do avô Zé.
Mal os netos chegaram para a festa do aniversário, já o avô babado lhes contava a grande novidade:
- Já chegou a primeira andorinha, a exploradora! Acordei cedo a ouvi-la chilrear poisada no fio eléctrico que passa diante da janela do meu quarto. Ela não se calou enquanto não me viu feliz a dar-lhe as boas-vindas.
- E as outras, vôvô-Zé, quando chegam? – Perguntava o pequeno Dudu (de 6 anos). Logo ele a quem o avô costumava levantar várias vezes para, pasmado de curiosidade, espreitar os ninhos.
- Esta apenas vem cá dormir mas não todas as noites. Penso que vai ver se encontra locais disponíveis para os demais familiares. Alguns deles devem ser bem longe daqui. No ano passado, tivemos aqui cinco ninhos com cinco filhotes, excepto um que teve só quatro. Fazendo as contas, vemos que a exploradora vai ter muito que fazer. O que lhe vale é que devem chegar para a ajudar mais duas ou três dentro de poucos dias.


Mais interessada em pormenores, a Kika (de 9 anos), uma excelente aluna na escola primária, parecia querer enriquecer os conhecimentos que já possuía nessa matéria. E questionava:
- Mas, ó vôvô-Zé, assim já devíamos ver mais andorinhas. Onde andam as outras?
- Olha, tenho a certeza absoluta que temos descendentes daqui da nossa Casa dos Aidos, espalhados pelo norte de Portugal. Às vezes penso até que também estão na Galiza. Há já uns anos, fiquei a dormir numa pensão em S. João da Pesqueira e, de manhã, querendo admirar melhor aquela lindíssima paisagem duriense, subi a um ponto alto da povoação, que ficava dentro de uma vinha. Fiquei tão satisfeito que não queiras saber. Um pequeno grupo de andorinhas, a chilrear, fez círculos sobre mim, tal e qual como me costumam fazer aqui no quintal, quando chegam. Fiquei convencido de que elas me conheciam.

Entusiasmados com o tema, seguiram para o alpendre para verem se a andorinha lá estava. Até as gémeas Rita e Carmo, com três anitos apenas, lá seguiam os mesmos passos curiosos.
- Aquele ninho continua destruído. Já não me lembro o que aconteceu – Observou o Dudu.
- Foi devido a um ataque do milhafre. Não foi, vôvô-Zé? Lembrou a Kika.
- Sim, foi num dia em que ouvimos as andorinhas a gritar muito. Lembro-me que o Malhadinho saltou de repente dos meus joelhos e correu para a varanda. Ao segui-lo, ainda vi o milhafre a fugir. Descemos ao alpendre e encontrámos três filhotes novinhos, ainda com as penas pequenas. Haviam caído dois, ali, dentro da gamela do moinho eléctrico e um, aqui, no chão.

Ao ver a muita atenção dos quatro irmãos, filhos da Ana e do Abel, o avô continuou:
- Quando peguei nesses filhotes, os pais choravam e pediam muito para que eu tivesse muito cuidado com eles. Vi que um dos ninhos estava vazio, arranjei-o com as palhas mais finas e mais fofinhas, caídas do seu e coloquei-os lá dentro. E eles, caladitos, lá ficaram muito quietinhos. No ano seguinte, quando as andorinhas haviam chegado, fui vê-las pousadas sobre os arames, antes de decidirem começar a trabalhar. Algumas aproveitaram para me olharem atentamente, talvez para saberem se estava a ficar muito velho ou verem se estava doente. Porém, duas delas fugiram cheios de medo, a gritar devido à minha aproximação e eu afastei-me para não as incomodar. Já no jardim, vejo-me sobrevoado pelas quatro andorinhas que quase me tocaram. Para mim, fiquei com a certeza de que os pais já tinham explicado aos filhos que fora este velhote quem os salvara no ano anterior. Acenei-lhes com um gesto de simpatia e elas lá foram subindo aos esses e a chilrear de satisfação.
- Mas, ó vôvô-Zé, não foram três as que salvaste? – Observou a Kika.
- Sim. É natural que uma tenha morrido. Talvez, aquela que caiu ao chão. Também te digo que muitas não aguentam as grandes viagens que fazem até África. Por outro lado, são muitas as que morrem por comerem mosquitos envenenados por alguns produtos químicos que são espalhados para desinfecção dos campos e para limpeza das ruas. Antigamente só se usavam adubos caseiros e produtos orgânicos, biodegradáveis e bastante seguros.

Entretanto, chegaram as duas netas de Vila do Conde, filhas da Beatriz e do Zé-Tó. Após algum entusiasmo neste reencontro, já se ouve a Inês de 12 anos (uma intelectual em potência), a neta mais velha, a explicar:
- É verdade. Há dias a minha professora esteve a explicar várias coisas sobre esse assunto. Agora, procura-se gananciosamente a reprodução intensiva através de produtos sintéticos que até são nocivos para a saúde e para a natureza. Por sua vez, os nossos governantes, na ânsia de mostrar as ruas e caminhos limpos, também aplicam pesticidas desmesuradamente. Com as chuvas, dá-se o arrastamento desses produtos para os rios e fontes, provocando o seu envenenamento e, também, o desaparecimento dos peixes e de outros seres vivos úteis à natureza.

A irmã Francisca de 10 anos (a super- activa), sempre agarrada à Kika, também ajudou no tema e lembrou que na Casa do Couto, do avô David e da avó Maria José, de Barcelos, também existem ninhos de andorinhas.


Nesta Casa dos Aidos, onde nasceu a avó Gilda, ela lembra-se bem do alpendre com mato para fazer estrume e dos aidos do gado à volta, no rés-do-chão da casa. Talvez devido às moscas ali produzidas, esse tipo de casas de lavoura, sempre tinham ninhos por perto, debaixo das varandas. Agora, que o gado já não existe, nem os matos no alpendre (cimentado), as andorinhas continuam a vir fazer os seus ninhos. Pensamos que isso se deve ao seu sentido de posse, de defesa das suas tradições e da sua afectividade à casa dos seus antepassados. Normalmente, elas são merecedoras da nossa grande admiração e de toda a simpatia. Diz-se, até, que as casas com andorinhas são abençoadas. Muitas dessas casas já não as têm, porque alguém as perseguiu ou mal tratou. Pois, aqui, elas mandam. Sim, elas é que são donas desta casa. Se esta casa tem mais de duzentos anos, imagine-se quantas gerações delas, já cá passaram. E se elas vivem em média cerca de 7 anos, teremos mais de 30 gerações em equiparação, o que, transferido para a nossa média de vida de 70 anos, daria qualquer coisa como 2.100 anos!


Em Julho e Agosto, as andorinhas novas sobem para apanhar os ventos marítimos. É o período de preparação/musculação para poderem seguir a grande viagem continental. E à medida que a data de partida se aproxima, elas reúnem, para organizar essa grande viagem colectiva. Primeiramente reúnem aqui a sua família mais chegada, umas 25 ou mais e, depois, umas 80 a 100. Talvez, já com os familiares mais afastados, que vêm descendo do norte. Depois, juntam-se muitas centenas junto da igreja matriz, ocupando extensões enormes de fios eléctricos, durante cerca de dois dias.


O vôvô-Zé ainda acrescentou:
- Já me tenho levantado da cama para vê-las em reunião madrugadora, a planearem a sua longa viagem. É impressionante a sua educação e a disciplina democrática que elas nos mostram. Estão todas sobre os arames da antiga ramada e voltadas para o centro do alpendre. Só se ouve uma a “falar” que, por sua vez, “dá a palavra” a outra e… a outra. Um dia ouço algumas a “avisar” de que está alguém a espreitar. Mas, a chefe deve tê-las acalmado, informando-as de que eu não lhes faria mal algum. Fui buscar a máquina e quando procurava uma boa posição para as fotografar, elas partiram e devem ter suspendido ou terminada a assembleia.
- Mas, ó vôvô-Zé, por que é que elas vão embora, se nós não lhes fazemos nenhum mal?- Lamentava-se o Dudu.
- Porque com o frio do inverno não existem moscas e mosquitos e elas precisam de comer muitos. Por isso, vão para a África passar o nosso inverno e que lá faz muito calor.



Já voltado para os filhos, nora e genros que se juntaram, o vôvô-Zé comentava:
- Em Setembro, podemos continuar a sentir o clima agradável e a ouvir os vários pássaros teimando no prolongamento dos dias felizes do Verão. Porém, quando as andorinhas partem, parece que tudo muda e que já nada é como dantes. Sinto um ligeiro calafrio que se irá acentuar nos meses de inverno e que só me “ressuscitará” a partir de finais de Fevereiro, não por celebrar mais um aniversário mas, isso sim, por ver chegar de novo as nossas andorinhas.
____________

Nota do editor

Último poste da série de16 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19105: Estórias avulsas (92): Triste memória de guerra (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)

Guiné 61/74 - P19550: Agenda cultural (674): Convite para a apresentação do livro "Orando em verso II", de Joaquim Mexia Alves, dia 30 de Março de 2019, pelas 15h00, no Mosteiro de Santa Clara - Monte Real (Joaqim Mexia Alves)

$
0
0
C O N V I T E



1. Mensagem do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) com data de 4 de Março de 2019:

Meus amigos
O meu segundo livro está editado e até já começou a ser vendido. No entanto a apresentação do mesmo só será feita no dia 30 de Março.

Estão todos convidados para a apresentação do meu livro "Orando em Verso II".

A receita da venda deste livro, (depois de deduzidas as despesas de edição), será inteiramente entregue às Irmãs Clarissas de Monte Real, para ajudar as obras do Mosteiro que recentemente construíram em Timor.

O livro pode ser adquirido também enviando um mail para orandoemverso@gmail.com e na resposta serão dadas todas as indicações para o poder receber em casa.
Ainda restam alguns, poucos, exemplares do primeiro livro, "Orando em Verso", cuja receita de venda foi e é entregue à Paróquia da Marinha Grande para a construção do Centro Pastoral de imensa necessidade para a paróquia. Pode ser adquirido também com envio de mail para o mesmo endereço electrónico acima referido.

Muito obrigado a todos pelo vosso apoio e colaboração.

Envio também convite e poster feitos pela Paulus para o evento.
Se quiserem colocar nos blogues respectivos agradeço e as Irmãs Clarissas também.

Abraços amigos e gratos do
Joaquim Mexia Alves
____________

Nota do editor

Último poste da série de1 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19541: Agenda cultural (673): Entrudo Chocalheiro, Podence, Macedo de Cavaleiros, 2-5 de março de 2019... Porque A Vida São Dois Dias, e o Carnaval São Três... E Portugal Não é Só Lisboa ... E Eu Vou Lá Estar!... (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P19551: Convívios (887): XXXVI Encontro Nacional dos ex-Oficiais, Sargentos e Praças do BENG 447 - Brá, 1964-1974, a levar a efeito no dia 11 de Maio de 2019, na Tornada, Caldas da Rainha (Lima Ferreira, ex-Fur Mil do BENG 447)

Guiné 61/74 - P19552: Agenda cultural (675): Inauguração da Exposição de Pintura e Poesia "...Como um dia de Primavera nos olhos de um prisioneiro", de Adão Cruz, dia 8 de Março de 2019, pelas 18h00, na Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo, em S. João da Madeira

$
0
0
C O N V I T E




INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO DE PINTURA E POESIA  
“…COMO UM DIA DE PRIMAVERA NOS OLHOS DE UM PRISIONEIRO”, DE ADÃO CRUZ

Caro(a)s Amigo(a)s, 
No âmbito da Campanha da Poesia à Mesa 2019, é com imenso gosto que enviamos um convite para a inauguração da exposição de Pintura e Poesia “…Como um dia de primavera nos olhos de um prisioneiro” de Adão Cruz, no próximo dia 8 de março, sexta-feira, pelas 18h00, na Biblioteca Municipal. 

Contamos com a sua presença.

Biblioteca Municipal Dr. Renato Araújo
Rua Alão de Morais, 36
3700-021 S. João da Madeira
Blog: http://bibliotecasjmadeira.blogspot.pt
Facebook: https://www.facebook.com/biblioteca.sjm

********************

1 - O Dr. Adão Cruz, foi Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68),

2 - Adão Pinho da Cruz nasceu no lugar de Figueiras, freguesia de Castelões, concelho de Vale de Cambra, em 1937. 
- Licenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, especializado em Cardiologia e sub-especializado em ecocardiografia. 
- Prestou serviço militar na Guiné, entre 1966 e 1967, como alferes médico. 
Usando palavras suas: a profunda vivência da guerra e o profundo contacto com uma população miserável, constituíram uma das mais ricas e marcantes experiências da sua vida
- Apanhado pela explosão do 25 de Abril, não fugiu ao novos deveres de cidadania criados pela Revolução e, nomeado pelo Governador Civil de Aveiro, exerceu durante um ano as funções de Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Vale de Cambra. 
- É membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, da Sociedade Europeia de Cardiologia, da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos e foi também membro da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos. 
- Para além da sua actividade como médico, é escritor e pintor, com diversos livros publicados, de contos, poemas e pinturas. 
- Fez várias exposições, individuais e colectivas, realizadas em Portugal e no estrangeiro. 
- Principais obras publicadas: 
Esta Água Que Aqui Vem Dar (poemas e pinturas-1993), Vem Comigo Comer Amendoim (contos, ilustrados por Manuel Cruz-1994), Palavras e Cores (prosa poética e álbum de pinturas-1995), Adão Cruz – Tempo, Sonho e Razão (álbum de pinturas e textos de Albano Martins e César Príncipe-2003), Nova Ponte Sobre um Velho Rio (conjunto de três pequenos volumes de poesia, com capas sobre pinturas do autor-2006), Adão Cruz – Hora a hora rente ao tempo (álbum de pinturas e texto do autor-2007), Adão Cruz – Um gesto de silêncio (álbum de pinturas e poemas, com texto do autor -2010), VAI O RIO NO ESTUÁRIO, poemas de braços abertos (poesia e textos) e VAI O RIO NO ESTUÁRIO, cores de braços abertos (pintura e texto do autor).

(Com a devida vénia a "A Viagem dos Argonautas")
____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de Março de 2019 > Guiné 61/74 - P19550: Agenda cultural (674): Convite para a apresentação do livro "Orando em verso II", de Joaquim Mexia Alves, dia 30 de Março de 2019, pelas 15h00, no Mosteiro de Santa Clara - Monte Real (Joaqim Mexia Alves)

Guiné 61/74 - P19553: Dando a mão à palmatória (30): o cap inf Cirilo de Bismarck Freitas Soares, natural de Matosinhos, morreu em 26/5/1965, quando atingido por fogo inimigo numa emboscada na zona de Piri, norte de Angola (Morais Silva, cor art ref)

$
0
0
1. Mensagem do nosso camarada António Carlos Morais da Silva, cor art ref [, foto à esquerda, quando cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar; no TO da Guiné, foi instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972; estamos a aguardar que ele aceite o nosso convite para se sentar à sombra do poilão da Tabanca Grande, no lugar nº 784]

Data: 2 de março de 2019 00:19
Assunto: Correcção


Caro Dr Luís Graça

No texto biográfico enviado, o Cap Inf Cirilo de Bismarck Freitas Soares é dado como tendo falecido pela deflagração de uma mina A/C. (*)

Dos contactos tidos com o filho do senhor capitão Bismarck e com o ex-capitão da CCaç 464/BCaç 467, Coronel Joaquim Leão Repolho, concluí que a morte ocorreu por ter sido atingido por fogos IN que emboscaram a viatura em que ele se deslocava.

Assim sendo, reenvio a ficha biográfica corrigida pedindo a sua republicação no site que dirige.

Lamento o erro cometido (**) mas a falta de informação no processo individual levou-me a adoptar o texto que encontrei em

http://ultramar.terraweb.biz/Memoriais_concelhos_Matosinhos_Matosinhos_CiriloBismarckFreitasSoares.htm.

Os meus cumprimentos e a minha disponibilidade

Morais Silva

www.moraissilva.pt
_____________

Notas do editor:


Guiné 61/74 - P19554: Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (1): a ansiedade da partida e o calor humano da chegada, em 2 de março de 2019

$
0
0
Luís Oliveira
1. Texto do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, o último comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74): é bancário reformado, foi praticante e treinador de andebol; vai estar 3 meses como voluntário na Guiné-Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambuno âmbito de um projeto da associação sem fins lucrativos ParaOnde, que promove o voluntariado em Portugal e no resto do Mundo. (*)

Esta é a primeira crónica que ele nos prometeu escrever para o blogue da Tabanca Grande, e que nos acaba de chegar... 


2. Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (1): a ansiedade da partida e o calor humano da chegada, em 2 de março de 2019


A partida para Bissau, marcada desde Dezembro, parecia nunca mais chegar. Detesto as longas esperas, sobretudo quando a caminhada é uma incógnita e fértil em surpresas que até poderão não ser as melhores.

Depois as conversas com os amigos:

­‑ Tás é tótó, agora o velhadas quer ir para a Guiné! Pensas que tens vinte anos...isso era dantes, agora estás lixado, vais levar com os mosquitos, com a lagartada, pensas que tens a EPAL, estás f…! Tem mas é juizo e passa o bilhete a outro, os guineenses já nem falam português, nem te percebem!

E os dias foram passando lentamente, a ansiedade aumentando até que, tal como há quarenta e cinco anos atrás, chegou aquela tranquilidade que me protege nas alturas mais complicadas, passei a dormir melhor, a obsessão do embarque ficou distante e a partida, e tudo o que surgiu a seguir, passou a ser uma data de calendário com uma nota em agenda: “!Voo TAP TP1479, 17.40 do dia 2 de Março”.

E lá estava eu no aeroporto, convencido a ficar fechado naquele contentor voador durante quatro horas, sem direito a soltura, sujeito ao ar forçado e à simpatia das hospedeiras. Nem quero falar do que chamaram “jantar”, porque por sinal tratou-se apenas de um pormenor. O “pormaior” foi o assalto que a companhia de bandeira nacional fez a todos os passageiros cujas malas de cabine não cabiam na reduzida forma que criaram com o fim sacar cento e cinco Euros a todos os desprevenidos.

A minha mala de cabine que voou para Londres, Barcelona, Madrid, Roma, Milão nunca pagou um Euro e apresentava a medida certa, desta vez ou dilatou com o calor ou a TAP temia a sua dilatação no espaço aéreo Guineense e cobrou a quem podia e a quem não o podia fazer. Passageiros houve que deixaram a bagagem para que a mala apresentasse a elegância exigida pela bitola TAP.


Escola Privada Humberto Braima Sambu >  O novo uniforme dos alunos. 
Cortesia da Página do Facebook da Escola.  21 de novembro de 2018


Chegados a Bissau, digo chegados porque a Silvia Barny, voluntária do ParaOnde, também viajou neste voo e, após recolhidas as bagagens, tivemos a emotiva surpresa da recepção. Além do director da escola, o professor Humberto Braima Sambu e alguns professores, um numeroso grupo de alunos com o uniforme da escola cantaram as boas vindas e proporcionaram um acolhimento extraordinário.

Estava na Guiné das minhas memórias, o mesmo povo, a mesma simpatia daqueles que nunca deixarão de ser irmãos.

Bissau, 5 de Março 2019


__________

Nota do editor;

(*) Vd. poste de 8 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19482: Ser solidário (222): O nosso camarada Luís Mourato Oliveira parte dia 2 de março para Bissau, para fazer voluntariado durante 3 meses, através da organização sem fins lucrativos "ParaOnde"... E qualquer ajuda humanitária adicional pode ser encaminhada para (e seguir por conta de) a loja "Paris em Lisboa", no Chiado
Viewing all 11958 articles
Browse latest View live