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Guiné 61/74 - P19515: Pelotões Independentes em Gadamael: A Memória (Manuel Vaz, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 798) (6): 3 - Os Pelotões de Artilharia que estiveram em Gadamael (Continuação)

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Guiné 61/74 - P19516: Notas de leitura (1152): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (74) (Mário Beja Santos)

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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
Aqui se põe termo à apresentação de apontamentos coligidos por Castro Fernandes, Administrador do BNU, após uma visita que ele fez à Província, entre 9 de março e 8 de abril de 1957.
Bem estribado sobre a situação política, alerta para o fenómeno separatista que começa a soprar na África Ocidental francesa; refere o contencioso entre o Governo e o Perfeito Apostólico; dá-nos um dos retratos mais crus alguma vez feitos sobre a sociedade guineense; inventaria os recursos económicos, levanta o véu sobre a competitividade que ele desejaria que fosse mais forte entre a Sociedade Comercial Ultramarina e a Casa Gouveia; aborda a questão cambial, as propriedades do Banco, ainda vê solução para o aproveitamento dessas dezenas de milhares de hectares, repertoria as riquezas de subsolo que se conheciam, fala das conversas que teve em privado com o Governador Silva Tavares.
Em suma, um apanhado de notas de grande valor que a historiografia não pode doravante ignorar.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (74)

Beja Santos

Continuamos com os apontamentos coligidos pelo punho de António Júlio Castro Fernandes, administrador do BNU, com o pelouro de Cabo-Verde, Guiné e S. Tomé. Permaneceu na Guiné de 9 de março a 8 de abril de 1957 e deixou-nos um documento com incontestável valor histórico. Bem documentado, com acesso à cúspide das instituições, deixa-nos um assombroso retrato do meio social, compendia os recursos económicos à luz dos interesses da época, deixa o aviso de que se vão operar mudanças na África Ocidental francesa e que a Guiné tem que deixar o estado de colónia-feitoria, pela primeira vez, em documento de administrador, fica bem claro que o BNU tem um desafio pela frente que é concorrer com a CUF por via da Sociedade Comercial Ultramarina, como ele diz, “obra do nosso Banco”.

Deixa para o fim dos seus apontamentos um capítulo sobre os problemas que diretamente interessam ao BNU e inclui nas notas soltas referências às condições mineralógicas, juntando mais elementos sobre a Sociedade Comercial Ultramarina e a exploração agrícola da Casa Gouveia.

Detalha a situação cambial, o que faz o Fundo Cambial da Província, concluindo que fica explicada no seu largo comentário a razão pela qual a conta da Sede algumas vezes dá a perceber uma posição favorável que não existe, e procura justificar o motivo da desnivelada posição de coberturas da Filial. Enuncia as propriedades do Banco, é um assunto a que se terá que voltar, pois no Arquivo Histórico do BNU há referências sobre as propriedades rústicas do Quínara e relatório sobre as possibilidades económicas desta imensa propriedade sita na circunscrição de Fulacunda. Por razões de coerência e de legibilidade quanto a este património, trata-se adiante tudo em conjunto.

Falando das condições mineralógicas, diz que há bauxite na região de Boé. Informa que do lado francês estava a proceder à extração uma empresa canadiana e que do lado da colónia portuguesa a dificuldade parecia ser o transporte até ao rio Buba, dificuldade que poderia ser suprida com uma pequena linha de caminho-de-ferro. E comenta que a casa holandesa N. V. Billiton Maatschappij estava a projetar na região.

Observa, a propósito da ilmenite, que os franceses estavam a explorar as areias da praia ao Norte do Cabo Roxo, junto da foz do Casamansa. Os trabalhos hidrográficos levavam à conclusão que a ilmenite abunda na Guiné Portuguesa. Diz igualmente que as análises dos calcários de Bissau revelaram a existência de nódulos de fosfatos de cálcio em percentagens que indicam a conveniência de se fazerem ulteriores trabalhos de pesquisa.

Como estamos já em notas soltas, escreve lapidarmente o seguinte:
“No plano político, disse-me o Governador, são poucos os elementos com que pode contar. O Governador é, disse-me, intransigente quanto aos princípios fundamentais: não nomeia, não distingue pessoas que não sejam de absoluta fidelidade a esses princípios. Não se importa que discordem do Governo da Província ou do Governo Central neste ou naquele ponto, ou mesmo em muitos pontos, mas têm de ser fiéis aos princípios. Reviralhistas e comunizantes abundam na Guiné (A. A. Silva, Mário Lima, etc.). O nosso consultor jurídico, Dr. Pina, foi nomeado Presidente da União Nacional.”

E cita afirmações do Governador na sessão do Conselho de Governo em que foi aprovado o orçamento:
“A Brigada de Estudos Hidráulicos da Guiné além do melhor aproveitamento do rio Geba como via de comunicação, tem como um dos seus principais objectivos estudar o aproveitamento nos terrenos marginais do referido rio e a forma de proceder às respectivas drenagens e irrigação. Para esse efeito, está prevista já para este ano a construção de uma estação agronómica. Essa estação será construída em cooperação com os Serviços de Agricultura, de forma que ambos os Serviços utilizem mutuamente os respectivos conhecimentos e experiências. Essa estação deverá ainda ser construída tendo em mente que ela deverá vir a reverter para os Serviços de Agricultura, passando a ser a Estação Agronómica da Guiné.
… Ainda no que concerne a fomento agrário, entrar-se-á, este ano, através do Plano de Fomento, pelo caminho da defesa, enxugo e recuperação de terrenos, indo, aliás, de encontro às solicitações dos indígenas.”

Refere, e tem seguramente significado, a exploração agrícola da Casa Gouveia, em Bolama:
“Nos viveiros do Nato Fula existem 18 mil coqueiros já muito desenvolvidos e 30 mil cocos em viveiro coberto, dos quais grande parte dará transplantação na próxima época das chuvas.
Fazem-se experiências de plantas de cobertura com objectivo de evitar a erosão e o domínio do capinzal inútil. Experimentaram-se também os pés de rícino, estudando-se a melhor época da sementeira.
Em Sã-Muriá existem plantações com 6 mil palmeiras de samatra e 23 mil coqueiros – início de uma grande exploração futura. A exploração conta com 250 trabalhadores voluntários, com salário, alimentação, alojamento e assistência médica. Esta exploração, escreve-se na imprensa local, constitui uma novidade prometedora, um caso única na vida agrícola da Província através dos tempos!”

Estamos agora chegados à questão do património do Banco em terrenos. A riqueza do BNU distribuía-se pelas áreas administrativas de S. João, Tite, Fulacunda e Buba, constituindo um conjunto de seis blocos, abrangendo uma área total próxima dos 44 mil hectares. Castro Fernandes tece os seguintes esclarecimentos para a governação do BNU:
“Tendo havido conversas aqui em Lisboa, acerca do eventual interesse da Sociedade Nacional de Sabões em adquirir para si ou para a Sociedade Comercial Ultramarina estas propriedades, procurei antes de mais nada averiguar se o negócio teria ou não viabilidade.
Coincidiu estar na Guiné o Engenheiro Agrónomo Teles Ribeiro, encarregado pela Sociedade Nacional de Sabões de estudar o assunto.
Uma primeira conversa com o Eng.º Teles Ribeiro levou-me logo a concluir que o assunto não interessaria à Sociedade Nacional de Sabões. Com efeito, esta empresa parece estar interessada nas possibilidades de exploração agrícola na Guiné – sobretudo de palmares, coqueiros, rícino e, eventualmente, de arroz. Para tanto, encarregou o Eng.º Teles Ribeiro para proceder ao estudo da possibilidade dessa exploração.
O critério que preside ao estudo a que o Eng.º Teles Ribeiro está procedendo consiste em não adaptar determinados terrenos às culturas que interessam à empresa, mas sim o de escolher terrenos próprios para essas culturas. Prefere, já se vê, propriedades perfeitas a concessões, em todo o caso como ainda é possível adquirir propriedades a $20 o hectare, só escolherá terrenos em condições óptimas.

As propriedades que as casas grandes possuem na Guiné – como a Casa Gouveia – não tiveram, aquando da aquisição, o objectivo de fazer exploração agrícola, mas objectivos exclusivamente comerciais. Pretendeu-se que o indígena, trabalhando – por sua conta – nessas propriedades, lhes vendessem, e não a outros, os respectivos produtos.
Os antigos donos das propriedades que hoje pertencem ao Banco deviam ter tido os mesmos objectivos.
É certo que a consciência que hoje na Guiné se vai tendo dos problemas, força as Casas grandes a darem o seu concurso à valorização económica da Província. O facto de haver, como há, propriedades pertencentes a comerciantes completamente ao abandono, é motivo de críticas que se publicam. Assim é que em artigo publicado no jornal ‘Bolamense’ se denunciam asperamente estas situações: ‘… não, senhores agricultores, na maior parte casas comerciais de grande vulto aqui e na Metrópole, assim não está certo. As vossas terras são enormes e estão praticamente abandonadas sem valor económico algum’.

A CUF apercebeu-se já da situação e lançou-se decididamente na valorização das suas propriedades. E o facto é tão saliente que em entrevista concedida à imprensa pelo Governador da Província, referindo-se ao facto, disse: ‘A exploração agrícola da empresa A. Silva Gouveia, Lda., é um empreendimento de grande vulto. Já estão plantados dezenas de milhares de coqueiros e existem em viveiros muitas outras dezenas de milhares de coqueiros e palmeiras. Está planeada a plantação, segundo me dizem, de centenas de milhares de coqueiros e palmeiras. É uma iniciativa de largo alcance para a Guiné… Quero crer que a iniciativa frutificará… O difícil é sempre principiar’.

Vai descrevendo os blocos das referidas propriedades, fala em solos vermelhos em S. João, dizendo tratar-se dos mais equilibrados da Província, ali se cultiva amendoim, os solos dão sinais nítidos de cansaço. Noutro bloco, o maior, encontra-se uma maior diversidade de tipos de solos, que vão dos vermelhos aos amarelos, caraterizando-se estes últimos pelo aparecimento de uma couraça laterítica. Há propriedades com palmeiras, ocupadas por floresta aberta, e depois de fazer esta exposição, Castro Fernandes deixa as seguintes notas:
“O problema das propriedades do Banco põe-se, a meu ver, em três hipóteses: venda; o seu abandono à acção devastadora do indígena; a sua valorização ao longo dos anos, mediante uma gradual ocupação agrícola.
Não sendo – como não é – viável a primeira, decido-me abertamente pela terceira.
Quanto a mim, esta valorização teria de assentar na ocupação das melhores parcelas dos terrenos, por cultura de carácter arbóreo. São as que permitem uma maior extensão ocupada com o mínimo dos investimentos. Sem as que – ao contrário das culturas arvenses de carácter anual – se traduzem por uma ocupação definitiva.
Estou convencido que a valorização dos terrenos – agora sem valor – se poderia fazer através do coqueiro e da palmeira (viável nos terrenos baixos e húmidos), do caju (árvore muito rústica, que pode ser semeada directamente no terreno definitivo e que permite uma ocupação extremamente económica, dada a inexistência de granjeiros), da coleira (com elevados rendimentos por árvore e que pode ser utilizada na ocupação dos terrenos mais a Sul) e, eventualmente, do cafezeiro, que, embora ainda não definitivamente estudado, tudo leva a crer ser viável uma boa adaptação da variedade robusta. No que se refere às lalas existentes e ainda não ocupadas pelo indígena, seria, a meu ver, caso para se pensar o seu aproveitamento para a exploração orizícola através de combinações a encarar”.

É este o essencial dos pontos abordados neste importante relatório. Está enxameado de notas políticas e revelação de conversas. Veja-se o caso da ilha de Canhambaque:
“Foi o Governador quem primeiro me falou no assunto, revelando a maior hesitação sobre o caminho a seguir. O intendente Santos Lima pensa que a solução consistiria em transferir para lá a colónia penal que está instalada nas lhas das Galinhas e, com esse pretexto, mandar uma companhia militar que meteria aquilo na ordem. O Administrador de Bissau entende que tal medida seria um disparate. Segundo diz, a ilha é um palmar densíssimo que permitiria uma luta de guerrilhas semelhante à Indochina”.

Vamos seguidamente passar em revista o essencial do muito que se escreveu sobre as propriedades do BNU, o que se disse sobre as possibilidades económicas, e como a luta armada tudo veio atrapalhar de modo que em 1973 o BNU encontrou uma forma airosa de se desfazer de um acervo de terrenos que se tinham tornado economicamente inúteis.

(Continua)

********************

A doutoranda Lúcia Bayan, estudiosa da etnia Felupe, mais uma vez revela a sua generosidade oferecendo-nos imagens relacionadas com a sua investigação, desta feita um marco que assinala a presença de fuzileiros do DFE 2 junto do Cabo Roxo, desconhecia completamente estas imagens, creio que nos prestou um ótimo serviço para enriquecimento do mais valioso acervo fotográfico que existe da Guiné Portuguesa.

Uma curiosidade para os militares portugueses que estiveram em Varela. Esta foto é do marco fronteiriço nº 184, junto ao Cabo Roxo, a ponta mais ocidental da Guiné-Bissau, que hoje é mais senegalesa que guineense. O marco foi refeito, em 1962, por militares portugueses (Fuzileiros DFE 2)

Foto do farol português, agora desactivado, no mesmo Cabo.

Imagem de um mapa do Ministério do Ultramar, de 1953, com o marco fronteiriço e o farol assinalados.
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Notas do editor

Poste anterior de 15 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19496: Notas de leitura (1150): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (73) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 18 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19505: Notas de leitura (1151): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19517: In Memoriam (340): Até sempre, 'comandante' Jorge Rosales (1939-2019)

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Cascais > Alcabideche > Cabreiro > Restaurante A Camponesa > 24 de Novembro de 2011> Almoço de convívio da Tabanca da Linha >  O régulo e o almoxarife Jorge Rosales  que tratava da "bianda da Tabanca da Linha"... Era ele que tinha a rede de contactos... E sobre a bianda lá na Guiné, contou.nos o seguinte, no nosso blogue:

"Na minha memória,recordo-me que uma vez o barco não entregou farinha e fermento, e aí é que foi um problema, porque faltava o casqueiro!!! Fomos buscar ao Geba, pequenas pedras, que serviram para acompanhar o molho.

"Este grupo, tinha o Alface, sargento do quadro, que com o seu "saber", safava sempre nos dias mais dificeis, Aí aprendi, ou refinei, o espirito de equipe, que resolve tudo"



Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Tabanca da Linha > Cascais, Alcabideche, Carreiro > Adega Camponesa > 17 de outubro de 2013 > Um momento de grande camaradagem, captado pela câmara do Manuel Resende: o alfabravo entre o Jorge Rosales e o Armando Pires, dois homens de afetos.

Sobre o Jorge, escreveu o Armando (****):

"Já não sei pela mão de quem, fui ao almoço da Tabanca da Linha. Conhecia uns dois ou três dos presentes e os outros foram-me sendo apresentados.Já estávamos dos digestivos, iam-se misturando as histórias do passado, quando um decidiu incluir-me como actor de uma bravata por ele imaginada.

Senti necessidade de sair por ser mais forte o meu respeito por todos. Foi quando a tua mão forte pousou suavemente no meu ombro, e na tua voz serena me disseste, 'tem calma, Armando, a malta aqui da Linha conhece o gajo, é um inventor, ninguém acredita nas coisas que o gajo conta'...

O teu gesto, Jorge, tornou-se marca indelével de ti. A um grande Homem bastam pequenas coisas para o tornar admirado, respeitado. À admiração e ao respeito fui somando a amizade que te ganhei. Gosto de ouvir quando ao telefone me dizes: 'Armando, sabes quem fala? É o Jorge, o Rosales, estás bom Armando?'

E sinto até o vazio dos anos, tantos anos, que tardei em te conhecer. Ainda bem que te conheci, Jorge. Hoje fazes anos. Leva um profundo abraço meu. É o melhor de mim que tenho para te dar."



Tabanca da Linha > Cascais, Alcabideche, Cabreiro > Adega Camponesa > 17 de outubro de 2013 > Da esquerda para a direita, a Gisela (a única camarada presente), o Luís Graça (editor do nosso blogue), o "comandante" Jorge Rosales (, "régulo" da Tabanca da Linha) e Miguel Pessoa (, herói da FAP, que a FAP nunca reconheceu...)

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



27.º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > 22 de setembro de 2016 > Quatro dos 'magníficos': da esquerda para a direita, Juvenal Amado, Jorge Rosales, Armando Pires e Mário Fitas.

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Leiria > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012> VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > O Jorge Rosales, régulo da Tabanca da Linha, ainda do tempo do caqui amarelo (1964/66) e a Giselda Pessoa, a primeira mulher a quem começámos a tratar, por direito próprio, como camarada, na sua qualidade de enfermeira paraquedista no TO da Guiné (1972/74).

Foto: © Manuel Resende (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Magnífica Tabanca da Linha > Cascais > Carcavelos> Hotel Riviera > 21/1/2016 >  Almoço-convívio > .Os manos Rosales, Jorge e José. Foto rara...

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 >  Dois veteranos... da Guiné e dos nossos encontros: o Virgímio Briote e o Jorge Rosales... (Infelizmente, o último encontro da Tabanca para o Jorge!)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Jorge Rosales nunca foi um hiomem de escritas. Era um homem da fala e dos afetos.  E um líder nato, um organizador, um agregador... Sem ele, nunca a Tabanca da Linha teria provavelmemte nascido e crescido... E foi, na juventude, um grande desportista... Começou nos Salesianos (que estão no Estoril desde 1931).

Recordo-me da primeira vez que o "conheci",  ao telefone. Ligou-me na tarde dia 9 de junho de 2009, há cerca de 10 anos atrás...

- Sou o Jorge Rosales,  tenho  69 anos de idade ,  vivo  no Monte Estoril / Cascais, e estive em Porto Gole, e 1964 a 1966. (*)

Fiquei a saber que falava ao telefone com o Henrique Matos,  o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52, que  esteve a seguir a ele em Porto Gole, entre 1966 e 1968. Falei-lhe do Abel Rei (1967/68), que era mais novo, e que ele naturalmente não conhecia...

O seu objectivo era, muito simplesmente, o de poder ainda inscrever-se , a tempo, no  IV Encontro Nacuional da Tabanca Grande,  em Ortigosa. Naturalmente que eu assegurei automaticamente a sua presença. Foi  o nosso participante nº 96. 

Soube também que ele era o pai da Doutora Marta [Vilar] Rosales, mnha colega (ISCTE e FCSH/UNL), douorada em antropologia (2007), investigadora do ICS- Instituto de Ciências Sociais.  De resto, o Jorge falava dos filhos sempre com um brilhozinho nos olhos. Além da Marta, tinha o Tiago, bancário. E era um homem que se preocupava com a saúde da saúde da sua esposa.

Pude fazer então uma primeira apresentação do nosso novo camarada,  que me disse ter muitas fotografias do seu tempo de comissão de serviço na Guiné e que as iria  levar consigo, para o IV Encontro (***).

(i)  o Jorge era muito amigo do mítico capitão de 2ª linha, o Abna Na Onça, chefe espiritual, poderoso, da comunidade balanta da região, a quem o PAIGC havia cometido o erro fatal de “matar duas mulheres e roubar centenas de cabeças de gado”;

(ii)  o prestígio, a  influência e e o carisma do Abna Na Onça eram tão grandes que ele sabia tudo o que se passava numa vasta região que ia de Mansoa a Bambadinca (nomeadamente, importantes informações militares, como a passagem de homens e armas do PAIGC);

(iii) jovem (teria 72/73 anos se fosse vivo, em 2009), era um homem imponente, nos seus 120 kg. 

(iv) Schulz tinha-lhe oferecido um relógio de ouro e uma G3 como reconhecimento pelos seus brilhantes serviços;

(v) mais tarde, seria morto, em Bissá, em 15/4/67, com seis dos seus polícias administrativos, todos eles residentes em Porto Gole;

O Jorge Rosales, em  agosto de 1964, em Porto Gole,
com o seu guarda-costas bijagó.
(vi) nesse dia o destacamento de Bissá foi abandonado pelas NT: “ um dia trágico para quem estava no inferno de Bissá, como escreveu o Abel Rei no seu diário. 'Entre o paraíso e o inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné', 1967/68, editado em 2002, pp. 68/70);

O Jorge Rosales pertencia à 1ª Companhia de Caçadores Indígena, com sede em Farim (Havia mais duas companhias de caçadores indígeas, uma Bedanda e outra em Nova Lamego, acrescenta ele). 

Ficou lá pouco tempo, em Farim, tavez uma semana. A companhia estava dispersa. Foi destacado para Porto Gole, com duas secções (da CCAÇ 556, do Enxalé) e outra secção, sua, de africanos. Tinha um guarda-costas bijagó. Parte dos soldados eram balantas. 

Em Porto Gole possuíam apenas 1 morteiro (60) e 1 bazuca. A farda ainda era a  amarela. Ficou 18 meses em Porto Gole. Craque de futebol, ia a Bambadinca jogar à bola com os de Fá. Foi uma vez a Bafatá, apanhar o NordAtlas. Lembra-se da piscina.




Guiné > Região de Bafatá > Destacamento de Porto Gole > 1964 > À esquerda da foto o soldado Alfredo Ramos, algarvio, segurando a macaquinha  “Gabriela” enquanto o allf mil Jorge Rosales prova o rancho. O Ramos foi colega de infância do Estorninho, e ficou com uma dívida de gratidão ao alferes Rosales (**).

Foto (e legenda): © Arménio Estorninho (2010).. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Enquanto lá esteve, em Porto Gole, havia um certo respeito mútuo, de parte a parte, entre as NT e o PAIGC, disse-me o Rosales. A influência de Cabral era evidente, fazendo a distinção entre o povo (português) e o regime (colonialista). A nossa malta podia deslocar-se num raio de 10 km…. Mas a ligação com Mansoa já se perdera. O troço já não era seguro. Em Mansoa estavam os respeitados Águias Negras (o BART 645), que dominavam o triângulo do Óio: Olossato, Bissorâ e Mansabá .

Do lado do Geba, eram os fuzileiros que impunham a lei e a ordem. Lançavam uma bóia e fundeavam a LDG em frente a Porto Gole. Vinha quase tudo por rio: os frescos, a bianda, os cunhetes de munições… (excepto o correio, que era lançado do ar, de DO 27, e às vezes ir cair no tarrafo; em contrapartida, o correio expedido ia de LDG... Enfim, singuralidades de Porto Gole que não tinha uma simples pista de terra batida, para as aeronaves). 

Tem vários amigos fuzos, desse tempo, incluindo o comandante Castanho Pais.

Do outro lado, a nascente,  estava a CCAÇ 556, no Enxalé… Também conhece dois furrieís do Enxalé, de quem se tornou amigo. Também passou por Fá. E no final da comissão, esteve em Bolama, por onde passavam os periquitos… Conviveu com algumas companhias que, da ilha de  Bolama, partiam para operações no continente…



Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Novembro de 1965 >  "Com o o meu amigo Alfero"...






Guiné > Bissau > Novembro de 1965 > O Jorge Rosales junto ao Palácio do Governador... "Foto tirada pelo infeliz alferes Madonado".



Guiné > Bissau > Praça do Império > Novembro de 1965 > O Jorge Rosales mais o Maldonado, junto ao monumento "Ao Esforço da Raça" ... "O alf mil Maldonado, meu camarada desde Mafra e meu substitulo em Porto Gole, (...) faleceu em marçio de 1966, em consequência do rebentamento de uma morteirada IN que o atingiu em cheio, no aquartelamento de Porto Gole". DE seu nome completo, António Aníbal M. C. Maldonado, morreu  no dia  4/3/1966.


Fotos (e legendas): © Jorge Rosales (2010).. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (***)


No seu tempo (Março de 1966), morreu em Porto Gole o alf mil António Maldonado, que o veio substituir. O Maldonado, de Coimbra, estava em Bolama. Eram amigos, tinham estado em Mafra. Tinham combinado revezar-se ao fim de um ano. O Maldonado vinha para Porto Gole e o Jorge ia para Bolam… No meio disto, há um coronel que vem dificultar o acordo de cavalheiros. Enfim, uma história que é preciso contar com tempo e vagar.

O Maldonado é morto num ataque violentíssimo a Porto Gole, depois de as NT terem feito um ronco nas áreas controladas pelo PAIGC… Ferido, aguardou em vão o heli que só podia vir de manhã. A mãe do Jorge foi ao enterro, em Coimbra. O cadáver foi rapidamente trasladado, contrariamente ao que acontecia na época. Esta morte de um camarada e amigo abalou-o.

Relativamente ao nosso IV Encontro Nacional, o Jorge estava entusiasmadíssimo com a ideia de poder encontrar malta de Bambadinca, Xime, Enxalé, Porto Gole, Fá... Queixav-se de estar isolado, de não ter ninguém do seu tempo, até pelo facto de ter sido de rendição individual.

Já em 2009 reformado de uma dessas empresas que faziam o reabastecimento de combustível aos aviões, no aeroporto de Lisboa. Alguma malta da TAP e da ANA deviam reconhecê-lo. Falei-lhe do Humberto Reis, do José Brás, do Alberto Branquinho, do Mário Fitas… Mas no aeroporto há milhares de pessoas a atrabalhar. Tem uma segunda habitação, no Couço, Coruche…

Disse.me na altura que ainda acalentava a esperança  de voltar, à Guiné, com mais malta do seu tempo… Queria fazer parte do nosso blogue, que estava a  acompanha diariamente.

Tanto quanto sabemos morreu sem nunca poder realizar esse sonho.

PS - Nunca escondeu de ninguém o seu orgulho de ter sido um antigo salesiano do Estoril. Tinha página no Facebook, aqui. Muitos tabanqueiros prestaram-lhe a última homenagem, em palavras simceras e sentidas. Não nos é possível reproduzí-las todas. Destaco o que escreveram o Manuel Resende e Manuel Joaquim. E recuperamos aqui um belíssimo texto do Zé Manel Dinis, de 2013.


2. Depoimentos:


Caros Magníficos,certamente todos estamos tristes pela partida do nosso amigo, camarada e comandante Jorge Rosales para uma viagem sem regresso. Não o veremos mais fisicamente por isso há que o recordar com as nossas festas, festas-convívio em que ele esteve sempre presente, com excepção do nº 20, altura em que foi operado ao aneurisma e problemas na coluna. Faço-lhe esta pequena homenagem com uma foto de cada convívio e estão numeradas de 1 a 39, correspondendo ao respectivo convívio

(2) Manuel Joaquim
Morreste-me, caro Jorge! De ti me despeço, querido amigo, profundamente chocado e dolorosamente emocionado pela tua partida.  E é já na saudade dos belos momentos de fraterno convívio que passámos juntos que relembro esse teu sorriso franco de que eu gostava tanto, sorriso algo tímido mas bem iluminado pelo brilho especial do teu olhar.
Pensando bem, para mim ainda vives e irás acompanhar-me no que resta do meu caminho, meu querido camarada da Guiné. E depois ... lá nos encontraremos no Absoluto do espaço e do tempo.
Até qualquer dia, Jorge!
Para os teus entes queridos vai a minha profunda solidariedade na dor.

(3) José Manuel Matos Dinis, em 7/10/2013,  na altura secretário da Magnífica da Tabanca da Linha (até 2016)


"O dia de aniversário do Rosales" (****)

 Don Rosales encantou-se pelo pré-cosmopolitismo da região entre Cascais e Estoril. Mas os laços só consolidaram, quando conheceu uma senhora de uma família tradicional de Cascais, por quem se apaixonou, e foi correspondido. Casaram, e decorridos pelo menos os meses que a natureza impõe, nasceu um robusto rapaz, a que se seguiu uma menina e outro rapazola. O primogénito foi rodeado de mimos, e veio ao mundo com seis quilos, setecentas e oitenta e cinco gramas, segundo dados oficiais da família. Chamaram-lhe Jorge, um nome distinto e com apetências imperiais.


Don Rosales assistia ao desenvolvimento do puto com indisfarçável orgulho, e cogitava, se houvesse mais uma dúzia daqueles matulões, garantia-se a si próprio, Portugal nunca se teria separado da Galiza.

Aos dez anos o meu pai deu-me um passe metálico, com fotografia, onde se colocava um bilhete semanal, e mandou-me estudar para os Salesianos do Estoril, a ESSA. Na minha turma andava um rapazito, também Zé, e de apelido Rosales. Tinha um irmão mais velho, que andava lá para os últimos anos do liceu, vestia-se à adulto, com casaco, levava uns cadernos debaixo do braço que lhe conferiam ar intelectual, e batia-me alarvemente, alegando que eu fazia macaquices ao irmão benjamim. Depois já não alegava nada, batia-me, porque sim. Jurei vingar-me.

Mais tarde, quando eu andava pelos dezassete ou dezoito aninhos, o meu clube de putos, o CAC, mas com grande aura na região, foi treinar algumas vezes contra o Estoril-Praia, clube mais ou menos referenciável em ambientes luminosos e dragonianos, fundado por um grupo de que se destacava um primo meu. Lá andava outra vez o Rosales, o tipo assanhado que eu, ainda lingrinhas, tinha que evitar no meio do campo. Por isso jogava a extremo-direito.

Havia dois defesas na equipe da Amoreira que, alternadamente, me calhavam em sorte, o Coropos, e mais escassamente, porque era direito, o Virgílio. Eram dois bulldozers, e a minha equipa fazia um futebol geométrico de grande efeito prático: antes de recebermos a chicha, já tínhamos que saber a quem a endossar. Era lindo, ver os canarinhos em corridas desenfreadas de um lado para o outro. No meio do campo amarelo, o alferes promovido a capitão levava as mãos à cabeça e clamava por calma.

Felizmente para eles, os jogos-treino não tinham espectadores, ou seriam varridos com saraivadas de pedras, sempre abundantes no topo norte. A vingança consumar-se-ia muito mais tarde, no Blogue do Luis Graça, onde voltei a encontrar a imponente figura, mas mais lento de movimentos, sem as fintas com jogo de cintura, e até umas artroses que lhe tolhem os lançamentos em profundidade.

Por isso aproveito esta magnífica ocasião gentil e solidariamente concedida pelo Boss, para vos dar conta do que o aniversariante tem ocultado de personalidade litigante.

Para não faltar à verdade, ainda acrescento que o dito Rosales foi campeão nacional de ténis de mesa, que se transferiu para a Académica, onde esteve quase a triunfar, se o Dr. Rocha tivesse mudado de ares, e posteriormente optou por ir defender a Pátria, e escolheu Porto Gole como destino de privilégio. Assessorado pelo Alface, distinguiu-se com virilidade e distinção. Também manteve relações próximas com o chefe local Abna Onsa, temido e fiel à NT, com quem consertava táticas e acções.

A vocação imperial que lhe estava destinada, tem-na praticado com visíveis resultados, em tascas, bares, e outros estabelecimentos de bebidas. Às vezes aparece em minha casa, sempre a dar ordens disfarçadas de perguntas gentis, do género Ó Zé, tens cá algum vinho bonzinho?

Com o óbvio desejo de lhe tornar a vida num castigo, daqui lhe apresento os parabéns, e o desejo longa vida.

JD [ José Manuel Matos Dinis, ex-fur mil, CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71]

___________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 9 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça


(**) Vd. poste de 23 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7165: Estórias do meu amigo de infância Alfredo Ramos, ex-Sold Condutor Auto da CCAÇ 556 (Guiné, 1963/65) (Arménio Estorninho)


(***) Vd. postes de:

30 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6501: Álbum fotográfico de Jorge Rosales, ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ, Porto Gole, 1964/66 - I (Jorge Rosales)

1 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6511: Álbum fotográfico de Jorge Rosales, ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ, Porto Gole, 1964/66 - II (Jorge Rosales)

(****) Vd. poste de 7 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12123: Parabéns a você (634): Bom dia, comandante Jorge Rosales!... Um feliz e magnífico dia de aniversário! (José Manuel Matos Dinis, Armando Pires, Beja Santos, Hélder Sousa, Luís Graça)

(*****) Último poste da série  > 19 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19508: In Memoriam (339): Jorge Rosales (1939-2019): morreu esta manhã o comandante, o cofundador e o régulo da Magnífica Tabanca da Linha... Velório na igreja de Stº António do Estoril, e funeral na sexta-feira, 21, às 14h30.

Guiné 61/74 - P19518: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXII: O adeus a São Domingos, 50 anos depois (22/2/1969 - 22/2/2019)... E o meu voo no avião da TAP B707, em 28/2/1968, a caminho de férias na metrópole...

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F03 – Local e cena de ‘fuga’. Pista de São Domingos, em 22-Fev-69. Pista, cobertura de passageiros, torre de controlo, avião Dornier dos TAGP, o Jeep que me transportou, o Jeep do Comandante, o Jeep do administrador de Posto, outras viaturas, e personagens do filme. Local, São Domingos, 22 de Fevereiro de 1969


F04 – A avioneta DO – Dornier dos TAGP, levanta voo em ‘fuga’. Local, São Domingos, 22-02-69. Pista, o avião a levantar, o Jeep do administrador, o povo da terra.


F05 – Uma vista aérea do aquartelamento. Local, São Domingos, 22 Fevereiro de 1969. Pode ver-se a Pista, as instalações do Comando e CCS, as instalações da CART1744, a última vista geral que eu foquei, ambígua, nostálgica, com muito stress.


Foto nº 2 > O Bilhete Nº 26372, na Dornier dos TAGP para o voo de São Domingos-Bissau. Bilhete de passageiro, custo 224$00, de S. Domingos para Bissau, em 22 Fevereiro 69.
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Foto nº 6>  – Local e cena da ‘fuga’. Local, Bissau (Bissalanca), em 28-02-69 Na placa da pista pode ver-se um avião da TAP, Boeing 707, e Sala de Embarque.


Foto nº 7 > O Avião TAP B707, algures ao largo do Senegal, nos céus de África, em 28-02-69. Pode ver-se a Asa do Avião, o Mar azul a terra de areia branca, talvez, costa do Senegal.


Foto nº 8 > O Avião TAP B707, algures ao largo da Mauritânia, nos céus de África, em 28-02-69. Pode ver-se a Asa do Avião, em baixo o Mar azul e a terra sem fim, de areia branca, talvez, costa da Mauritânia ou Marrocos.


Foto nº 9 >  Foto Aérea, algures em território e nos céus de Portugal, em 28-02-1969. Pode ver-se a asa do avião da TAP B707, porções de terra firme e mar ou rio.


Foto nº 10 > Foto aérea, na aterragem em Lisboa, sem indícios de terramoto, em 28-02-69. Presumo tratar-se da margem sul de Lisboa, talvez Lisnave, Barreiro, ou outro local. Céus de Portugal, Lisboa, em dia de terramoto, sem sinais dele, 13 Horas

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)


 TEMA 008 – O ADEUS A SÃO DOMINGOS  – 50 ANOS DEPOIS  >  22 FEVEREIRO DE 1969 – 22 FEVEREIRO DE 2019.

O TITULO ORIGINAL SERIA: A MINHA FUGA DE SÃO DOMINGOS,

MAS...

Li o primeiro comentário do Luís Graça, muito real e certíssimo, dizendo:

‘A malta não fugia, desenfiava-se'...

Claro que esta história não é de fuga ou deserção, como tantos o fizeram, trata-se de ter conseguido com alguma astúcia e muita determinação, "Desenfiar-me"  para vir passar férias no final de Fevereiro de 1969, era uma obsessão minha, tenho de admitir, não conseguia viver com isto na minha mente. E mais ainda, ultrapasso as minhas expectativas, quando me apercebo que me estão a bloquear por maldade e pura inveja. Eu estou com a documentação em ordem, tudo está "Autorizado", eu tenho o direito às ‘minhas férias’, e não vejo razão nenhuma de especial para me ‘tentar bloquear’ a minha partida.

Pensei melhor e até já tinha feito outro texto, mudando as palavras-chave

– «Fugir», por iutra mais soft, ‘Desenfiar’

Que podem vir a ser mal interpretadas, mas estou hoje com a consciência bem tranquila que fiz tudo o que tinha de ser feito, na minha missão na Guiné, e ultrapassei largamente aquilo que me era exigido em todas as circunstâncias, nunca FUGI a nada, nunca corri para um Abrigo, e em vez disso, tirava fotografias, e "vi muita coisa vergonhosa'....

A minha missão e função foram cumpridas totalmente sem a ajuda de ninguém, não tinha paralelo com outras funções de outras especialidades.

Fugir, sim, no sentido de ultrapassar as barreiras da burocracia e autoritarismo, nisso eu era realmente bem forte, e não me faltam exemplos na carreira militar.

Tenho bastante orgulho em tudo aquilo que fiz no TO do CTIG, e é isso que hoje move comigo e com a minha maneira de ser e estar na vida. Lamento que outros não possam concordar, mas não estou aqui a confessar-me nem a pedir desculpas, e não posso mudar nada agora do que foi feito.

Agora faço mais uma alteração e o título passa a ser de «O Adeus a São Domingos», porque realmente foi um Adeus definitivo, porque nunca mais lá voltei.

Em, 24-09-2018, Virgílio Teixeira

Legendado novamente,

Em, 2019-02-13, Virgílio Teixeira



Já antes em 20 de Setembro de 2018, tinha escrito ao Luís Graça o seguinte:

Caro Amigo e Camarada Luís Graça:

Fizeste-me o desafio de escrever a história da minha "fuga" de S. Domingos, contrariando todas as ordens do Comando do Batalhão.

Escrevi, melhor dizendo, passei do meu livro - não editado - esta passagem fabulosa da minha estadia na Guiné. Não é uma fábula, já estava tudo escrito, apenas fui fazendo alguns arranjos, pois já tinha quase 10 anos sobre o dia em que escrevi isto, alterei datas e locais, pois fui consultando mais elementos que agora sei melhor e com mais pormenor. Não quer dizer que tudo esteja exacto, mas são contos reais. Para mim tudo isto foi muito importante esta aventura, que me poderia ter custado muito caro, mas saiu tudo bem.

Julgo que é extensa, mas o meu poder de síntese é muito escasso, já retirei muitos pormenores, mas não posso reduzir mais. Podes dar uma olhada para ver se tem narrações a mais, ou desajustadas, fica ao critério do editor.

As fotos, umas são das datas, outras são aproximações da realidade, nada de ficção nem invenções. É claro que as fotos na pista e a DO a levantar voo, são outras cenas, mas é uma aproximação muito real ao cenário do crime.

Espero que apreciem, porque nem tudo foi um mar de rosas para mim, e outros da minha especialidade, embora não me queixe disso. Eu arrisquei muito, mas não estou em nada arrependido. Cumpri na totalidade a minha função, e a missão que o Estado me confiou.
Obrigado,

Virgílio Teixeira,

Em, 2018-09-20

(No dia em que embarquei para a Guiné, a bordo de um DC6 em Figo Maduro, faz 51 anos neste dia 20-09-2018, na hora em que escrevo, estava precisamente na Ilha do Sal, em Cabo Verde, onde pernoitei. No dia seguinte, 21-09-1967, pelas 09:00 horas da manhã, desembarquei em Bissau).

Legendado novamente,

Em, 2019-02-11, Virgílio Teixeira


CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T008 – O ADEUS A SÃO DOMINGOS – 50 ANOS DEPOIS > PARTE I

- SINOPSE:

Este tema que já o escrevi várias vezes, na tentativa de o tornar mais simples, pequeno e não chato de ler, nunca consegui essa façanha, e assim parto para o mais simples possível, ficando para outros capítulos a verdadeira história completa.

Vou eliminar os nomes das personagens, nesta fase, para não chocar ninguém.

No fundo estava eu em São Domingos (SD) em meados de Fevereiro de 1969, pronto para vir de férias à metrópole, ao Porto, já estava cheio daquela terra onde nada se passava.

Já tinha tudo pronto, autorização do novo Comandante de Batalhão, acabado de chegar no início de Janeiro de 1969, o bilhete comprado nos TAGP para o dia 22 de Fevereiro de 1969, e tinha já bilhete que me custou 224$00, e já tinha reservado o lugar na TAP para o voo de 28 do mesmo mês.

– O Comandante tenta travar a minha saída:

Logo bem cedo pela manhã, vou ao Gabinete do Comandante, e como era normal, vou tentar dar-lhe o golpe, assinar a Guia de Marcha para Bissau, com fundamento de entregar as contas na Chefia de Contabilidade, e depois estava lá escrito, que seguia de férias para a Metrópole.

Depois de uma espera ansiosa do dia, eis que acordo manhã cedo, e vou ao comandante para ter o visto final para embarcar na avioneta que iria chegar. O comandante não se lembrava de nada, não me queria deixar sair, disse que tinha de lá ficar, pois não havia ninguém para me substituir nas minhas funções. Eu mostrei que já tinha a sua autorização, mas ele insiste que não posso ir, é o início de uma luta feroz com ele, pois eu não me deixava ficar, tinha de ir a todo o custo. Ele lá se convenceu e assinou a Guia de Marcha, vou logo de jeep directo para a pista, ou campo de aviação, e já se começa a ouvir o barulho do motor da avioneta dos TAGP.

Eu não consigo agora coordenar as ideias do que se passou, mas sei que ele ficou muito apreensivo e disse-me como é que vou de férias sem autorização. Mostrei e disse: O meu comandante já autorizou e mostrei-lhe a Ordem de Serviço.

O Comandante levanta-se da cadeira e disse que não era possível, pois tinha visto que os CA tinham de acabar em menos de um mês, e eu nunca poderia ir. Não assinou. Vou dizer que os ‘ditos’ me caíram ao chão, entrei em pânico. Expliquei que tinha tudo marcado, o avião dos TAGP já estava aí a chegar, já paguei a viagem na TAP, e tenho direito às férias. Mas não sei como, ele bufou por todos os poros e assinou, vociferando quando baste.

Meti-me num Jeep direito à pista, já ouvia o roncar da avioneta a pairar no ar, era uma Cessna de 2 lugares, e chego ao ponto de embarque. Sei que se gerou logo grande alarido, pois muita gente ficou de imediato a saber, e naturalmente o Major adjunto de operações lhe deve ter dito, se ele for quem vai apresentar as contas do Batalhão e cumprir as ordens do QG?

O filme de suspense começou e vai prolongar-se por muito tempo, minutos que parecem séculos. Eu não via mais nada a não ser o momento de sair dali e ir de férias, fosse a qualquer custo, mas tinha de ir embora.

A Avioneta parou na pista envolta num manto de poeirada, numa manhã quente e o sol a pino em cima da cabeça. Sai um passageiro, o piloto fica no cockpit, atira com a mala do correio, o que vai logo entreter muita gente, que se vai amontoando, não só pelo correio mas para ver a cena do ‘desenfianço’. O Piloto ainda manda o pessoal tirar umas caixas de mercadorias e alimentos frescos, o que já era normal.

Esta na hora de eu entrar, mas olho para trás, num último Adeus, e vejo um Jeep a alta velocidade, deixando um rasto de poeira vermelha atrás dele, e que parou ao meu lado, era o nosso 1º comandante, X. Ele vem logo para cima de mim, e disse mais uma vez com voz ameaçadora que eu não posso ir, tenho de ficar, pelas razões já expostas, que estou a desobedecer às ordens, e ameaçando que se me ausento, vai processar-me disciplinarmente, não sei como, mas poderia até mandar deter-me à força, não faço ideia.

Eu insisto dizendo que, ‘tenho tudo assinado pelo meu comandante’, por isso, agora já é tarde, eu sei que estou legal com o documento assinado, mas ele se quiser manda cancelar tudo e até pode impedir-me sem razão nenhuma a minha saída. Discute-se a quente, o piloto não sai do seu lugar, os motores nunca pararam, ele assiste à conversa, isto é à discussão, pois metia gritos do comandante.

Lembro que as avionetas civis, quando aterravam, largavam o pessoal e encomendas, correio normalmente, e não deixam parar o motor, para o caso de uma eventualidade ter de largar sem aviso prévio. Eu estou já a despedir-me de alguns companheiros mais chegados e que sabiam desta saída, mas ouço um barulho de um Jeep, a poeirada que largava atrás de si, e vem directo ao avião ter comigo, continuando a dizer que não podia ir, apesar de ter acabado de assinar a Guia de Marcha.

Esta discussão leva uma eternidade de minutos, mas o piloto apercebe-se que eu tinha razão, e manda então o recado final:

O passageiro ou entra, ou sai, eu vou levantar voo agora mesmo.

Ele já me tinha agarrado no braço, e eu já tinha um pé dentro do avião, outro de fora.

E, nessa ocasião tomo a maior decisão da minha vida como militar, livro-me das ‘garras’ do comandante, entro no avião e fecho a porta, o piloto levanta voo a caminho de Bissau, deixa uma nuvem de pó que quase não dava para ver aquela cabeça de ‘Melão’ do comandante a gesticular com os braços, só faltou mesmo, ele mandar abrir fogo sobre a Avioneta, com toda a artilharia ligeira e pesada.

Olho para trás lá de cima aquela paisagem desoladora que já tinha vista muitas vezes antes, o nosso ‘Acampamento’ tipo ‘Forte Álamo’ do Texas, e vejo o pessoal em terra a olhar para o ar, fico com uma nostalgia indescritível, pois tinha a sensação que já não voltava mais para aquele sítio. Torna-se quase impossível descrever este cenário, que até hoje me comove, por causa de tanta maldade, e porque sabia que não voltaria mais para aquele local e ficar às ordens mais uns meses daquela brutal parelha, o Major e o Coronel. Faço as últimas fotografias daquela terra que deixava para trás, ao fim de tantos meses, prisioneiro. Em pouco tempo deixei de ver o quartel, pensei que era a última vez que ia ver aquela terra – São Domingos. E foi mesmo.

Consegui sair dali, e passado pouco mais de uma hora já estamos a aterrar em Bissau, nem uma hora foi preciso, pouco falei com o piloto, nem me lembro da cara dele, eu estava lívido de raiva, e comecei a ficar aterrorizado, a pensar no que ele poderia fazer dali por diante até chegar o dia do avião da TAP. Fui direito ao Grande Hotel de Bissau, onde normalmente ficava e instalo-me ali, em vez de ir para a porcaria da caserna do Biafra para o meio daquela malta já “apanhada” e dos mosquitos, e ficar bem longe dos olhares militares. E assim foi, nunca mais voltei àquela terra, a São Domingos, por razões de mudanças e estratégia militar, da qual falarei mais tarde.

Esta foi a cena para mim, mais marcante na minha estadia na Guiné, embora ainda não tinha terminado, faltava muito para entrar no avião da TAP.

Depois foi uma longa espera até ao meu voo, senti os minutos a passar e foram 6 dias de espera, chega o dia, vou ao QG carimbar o passaporte, vou para o aeroporto, o Boeing levanta voo, já ninguém me apanha, e chego na manhã do dia 28 de Fevereiro de 1969, no dia do terramoto, para mim nem o cheguei a cheirar.

Ao fim de 30 dias, regresso à Guiné, conforme previa já me tinham mandado tudo para Bissau, fiquei instalado no Quartel do 600 e aí acabei a minha tarefa e a minha comissão.

E conforme tinha dito, nunca mais voltei a SD, ficou lá tudo o que era pessoal, roupas, malas, as minhas lembranças, a minha G3, a minha motorizada Honda, os meus caixões cheios de garrafas de bebidas brancas estrangeiras, os meus companheiros e amigos mais chegados, isto é 12 meses da minha vida na Guiné.

É por isso que sempre digo:

- Nunca me despedi de São Domingos, nem das pessoas de que mais gostava.

… Fim da I Parte

II – As Legendas das fotos:

Não tenho fotos específicas destas cenas e desta fuga ainda dentro da pista, mas vou colocar alguma já editada, para suportar com Postes este Tema, quase surreal, kafkiano, que mais se parece ao estilo do famoso livro do ‘Papillon’, ou do filme ‘Casablanca’.

Tirei algumas ainda a sobrevoar São Domingos  e depois na saída de Bissau, nos céus de África, e a chegada aérea à zona de Portugal, até Lisboa.

Podemos considerar como os locais e aparelhos do ‘crime de fuga’, as seguintes fotos:

F01 – Nota do QG- CTIG, com ordens de Extinção dos Conselhos Administrativos dos Batalhões de Reforço, com data de 16-11-68 e Prazo para cumprimento até 31-12-68.

F02 – O Bilhete Nº 26372, na Dornier dos TAGP para o voo de São Domingos-Bissau. Bilhete de passageiro, custo 224$00, de S. Domingos para Bissau, em 22 Fevereiro 69.

F03 – Local e cena de ‘fuga’. Pista de São Domingos, em 22-Fev-69. Pista, cobertura de passageiros, torre de controlo, avião Dornier dos TAGP, o Jeep que me transportou, o Jeep do Comandante, o Jeep do administrador de Posto, outras viaturas, e personagens do filme. Local, São Domingos, 22 de Fevereiro de 1969

F04 – A avioneta DO – Dornier dos TAGP, levanta voo em ‘fuga’. Local, São Domingos, 22-02-69. Pista, o avião a levantar, o Jeep do administrador, o povo da terra.

F05 – Uma vista aérea do aquartelamento. Local, São Domingos, 22 Fevereiro de 1969. Pode ver-se a Pista, as instalações do Comando e CCS, as instalações da CART1744, a última vista geral que eu foquei, ambígua, nostálgica, com muito stress.

F06 – Local e cena da ‘fuga’. Local, Bissau (Bissalanca), em 28-02-69 Na placa da pista pode ver-se um avião da TAP, Boeing 707, e Sala de Embarque.

F07 – O Avião TAP B707, algures ao largo do Senegal, nos céus de África, em 28-02-69. Pode ver-se a Asa do Avião, o Mar azul a terra de areia branca, talvez, costa do Senegal.

F08 - O Avião TAP B707, algures ao largo da Mauritânia, nos céus de África, em 28-02-69. Pode ver-se a Asa do Avião, em baixo o Mar azul e a terra sem fim, de areia branca, talvez, costa da Mauritânia ou Marrocos.

F09 – Foto Aérea, algures em território e nos céus de Portugal, em 28-02-1969. Pode ver-se a asa do avião da TAP B707, porções de terra firme e mar ou rio.

F10 – Foto aérea, na aterragem em Lisboa, sem indícios de terramoto, em 28-02-69. Presumo tratar-se da margem sul de Lisboa, talvez Lisnave, Barreiro, ou outro local. Céus de Portugal, Lisboa, em dia de terramoto, sem sinais dele, 13 Horas


«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».

- NOTA FINAL DO AUTOR:

# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir.#

Em, 2019-02-14
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Nota do editor:

Último psote da série > 18 de fevereiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19503: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXII: Memórias do Gabu (I)

Guiné 61/74 - P19519: Parabéns a você (1577): José Carlos Pimentel, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2401 (Guiné, 1968/70); José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689 (Guiné, 1967/69) e José Maria Claro (DFA), ex-Soldado Radiotelegrafista da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969)

Guiné 61/74 - P19520: Convívios (886): Encontro do pessoal do BCAV 3846, a levar a efeito no próximo dia 17 de Março de 2019, no Cartaxo (Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf.º)

Guiné 61/74 - P19521: Os nossos seres, saberes e lazeres (309): Viagem à Holanda acima das águas (13) (Mário Beja Santos)

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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
É do senso comum que visitar o Prado, o Louvre, a National Gallery, os museus do Palácio de Charlottenburg, em Berlim, entre outros alfobres da grande Arte, são sempre visitas irrepetíveis a convocar regressos, em quaisquer estações do ano.
Este Museu Municipal de Haia goza, face a outros templos de preciosidades artísticas, o epídoto de um edifício esplendoroso, todo cheio de luz natural, obra de 1935, quintessência da Arte Deco, está aqui a maior coleção mundial de Piet Mondrian, uma coleção de Arte Moderna topo de gama, pela qualidade das obras e pela quantidade de movimentos artísticos representados, por isso o viandante vê e guarda imagens, fá-lo com alegria intensa, e sempre com o prazer da partilha.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (13)

Beja Santos

O Museu Municipal de Haia, escrevem os seus epígonos, é um daqueles espaços de arte que se deve ver pelo menos uma vez na vida. O viandante é reincidente, anda por aqui eufórico, recorda a ousadia das linhas Arte Déco, edifício de 1935, não conhece nada que se lhe compare em arrojo, funcionalidade e memória para o futuro. As observações que se seguem são necessariamente soltas, não se pode causticar o leitor tal o acervo de obras, movimentos e correntes artísticas, nestas galerias exibem-se alguns dos maiores génios da pintura, da escultura, da arquitetura e da moda, faça-se uma lavagem aos olhos, os grandes mestres agradecem.






Que dizer desta escada, que sinal de modernidade indica? É que logo a seguir estas linhas vão ser esquecidas ou mesmo escarnecidas, a seguir virá uma arquitetura convencional, tipicamente ideológica, conotada com raças, com o homem novo prometido por diversos totalitarismos. Olhando esta fotografia fica-se a pensar que só é novo o que foi esquecido, estes antepassados de génios como Siza Vieira são testemunhas mudas de que as ideias às vezes viajam numa montanha russa ou ficam num limbo durante gerações, outras dinâmicas são postas em marcha até serem arrecadadas em armários, moda é moda.




O viandante prepara-se para visitar duas exposições, uma que tem a ver com a Arte Nova nos Países Baixos, outra que tem a ver com a vida nas praias, muitas décadas atrás. E que belíssimos espécimes a Holanda detém dessa Arte Nova, de produção própria, obviamente com os olhos postos em tudo quanto se passava na Grã-Bretanha, em França, nos Impérios Centrais e até na Rússia.






O leitor que perdoe ao viandante esta enxurrada de imagens, estava com o astral muito elevado, andara anos a cogitar neste regresso, esquecera completamente a variedade de acervos, o facto de estar aqui o maior baú das obras de Mondrian, incluindo a sua última obra-prima, executada em Nova Iorque, há aqui antiguidades, moda e em edifício anexo um museu de arte contemporânea que é um luxo. Mas o que o viandante recordara de um domingo de 1978 teve prémio, o comprazimento de recordar que num domingo chuvoso, de céu plúmbeo, aqui fora confrontado com este caleidoscópio, com o assombro do edifício e com a descoberta, olhos nos olhos, de que Piet Mondrian é um dos génios do século XX, e na primeiríssima linha.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19498: Os nossos seres, saberes e lazeres (308): Viagem à Holanda acima das águas (12) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19522: Parabéns a você (1578): António Cunha, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 763 (Guiné, 1965/66) e Manuel Henrique Quintas de Pinho, ex-Marinheiro Radiotelegrafista (LDM 301 e 307) (Guiné, 1971/73)


Guiné 61/74 - P19523: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XV: cap pilav Luís Alberto Fonseca Ferreira Simões (Azembuja, 1933 - Angola, ZIN, 1965)

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1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972. Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar.

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de fevereiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19514: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XIV: maj pilav João António de Lemos Silva Santos Gomes (Lisboa, 1929 - Moçambique, 1964)

Guiné 61/74 - P19524: Blogpoesia (609): "Parecemos diferentes", "Tardes de Lisboa" e "Renovar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Parecemos diferentes

Parecemos diferentes mas somos iguais.
Os mesmos medos.
Os mesmos anseios.
O amor pela vida.
Receio da morte.

Nos custa sofrer.
Nos alegra a saúde.
Damos tudo por ela.
Não gostamos de perder.
Vingança à derrota.

Esperança na sorte.
Navegamos na fé.
Olhamos o alto.
Fugimos do chão.

Por mais voltas que dermos,
Buscamos um rumo,
No sul ou no norte.

Se fingem diferentes,
Despindo ou vestindo.
Mostrando, escondendo.
No fundo, iguais.

Café Setemomentos em Mafra, 22 de Fevereiro de 2019
9h24m
Jlmg

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Tardes de Lisboa

Fervilhando de gente, nas praças e nas ruas.
Calmas passeatas, vendo as vitrinas e armazéns.
Esplanadas coloridas, onde servem os cafés e se lêem os jornais.
Alamedas sombreadas com arvoredo secular.
Corridas desenfreadas de táxis para o aeroporto.
Autocarros e eléctricos pendulares que visitam Lisboa inteira.
Doces banhos de maresia nas bordas do rio Tejo.
Que encanto ir de comboio até Cascais sempre à beira rio.
Tantos miradouros que nos dão o céu na terra.
E, lá no alto, de atalaia, o Castelo altaneiro,
afugentando de Lisboa as feras e os piratas.

Ouvindo Carlos Paredes

Bar Castelão em Mafra, 23 de Fevereiro de 2019
9h5m
Jlmg

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Renovar…

A oliveira será das plantas mais duradoiras e permanentes,
À face da terra.
Muito serenas.
Pouco balançam suas ramadas discretas.
Uma cor cinzenta.
Para não dar nas vistas.
Até seus frutos,
Têm tamanho e tons,
Tão sóbrios
Mas refulgentes.
A elegância de formas
Não é seu timbre.
São tímidas.
Por vezes demais.
Se torcem e reviram todas,
Para não prenderem os olhos
De quem as vê.
Estão muito enganadas.
O seu silêncio de cinza
É tonitroante.
Ouve-se e vê-se ao longe.
Impuseram-se ao mundo,
De todas as camadas.
Das mais humildes
Às mais supostas altas.
Não há casebre, por esses montados,
Não há palacete ou santuário de culto,
Profano ou não,
Que não as cultue.
É nos jardins. É nos relvados.
Extensos ou mais exíguos.
É nas varandas opíparas
E nos terraços celestiais.
Até esses Havais…sofistas...
Ó que pobreza!
Que o deserto escolhe.
Mas quem delas recolhe
O saborosíssimo néctar
Tão bem calibrado e raro
Que ela encerrra e dá…
Se rende e prende a elas
se avassala a elas,
Suas rainhas ou mestras abelhas.

Ouvindo Albinoni…e mais

Segunda-feira a abrir-se envergonhada
Mafra, 13 de Outubro de 2014
8h55m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de

17 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19500: Blogpoesia (608): "Árvore do amor...", "Chuvas de Lisboa" e "O final da tarde...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19525: Parabéns a você (1579): Gumerzindo da Silva, ex-Soldado Condutor da CART 3331 (Guiné, 1970/72)

Guiné 61/74 - P19526: Notas de leitura (1153): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (2) (Mário Beja Santos)

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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Outubro de 2016:

Queridos amigos,
A questão agrária é a espinha dorsal dos acontecimentos guineenses pós-coloniais. Durante o período da luta armada, Cabral motivara os quadros políticos para um desenvolvimento agrícola descentralizado e na base do respeito popular. No período a seguir à independência investiu-se pouco na agricultura e apostou-se num modelo faraónico agroindustrial, também assente na substituição de interpretações. Descurou-se a formação agrícola, desapareceram os subsídios, as sociedades rurais ficaram entregues a si próprias.
É essa notável resiliência que o investigador Philip Havik analisa neste livro, que é seguramente o documento histórico-político mais importante de 2016, no que concerne à Guiné-Bissau.

Um abraço do
Mário

Guiné-Bissau: de Micro-Estado a Narco-Estado (2)

Beja Santos

“Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’”, por Patrick Chabal e Toby Green, Hurst & Company, London, 2016, é constituído por um acervo de estudos dedicados à memória de Patrick Chabal, falecido em Janeiro de 2014, e que idealizou até ao fim dos seus dias a organização desta obra com Toby Green. Obra constituída por três partes (fragilidades históricas; manifestações da crise e consequências políticas da crise) convocou nomes importantes da historiografia da Guiné-Bissau no plano internacional como Toby Green, Joshua B. Forrest, Philip J. Havik, entre outros.

Compete a Philip Havik, investigador sénior no Instituto de Higiene e Medicina Tropical e professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa uma apreciação em profundidade da economia rural e da sociedade guineense. No meu livro “História(s) da Guiné-Bissau”, Edições Húmus, 2016, procurei apurar como o PAIGC abordou a questão agrária, antes e depois da independência, e que tratamento político foi dada à chamada “linha de Cabral”, e invoco os trabalhos de Philip Havik nesta área. O PAIGC do tempo de Cabral punha em lugar de topo o desenvolvimento agrícola a par da mobilização rural, da descentralização política e numa perspetiva da melhoria dos níveis de vida das famílias camponesas. O PAIGC não ignorava que a sua base militante se situava nos campos, mas ascendo ao poder com um pano de fundo de crise económica mundial, as agências internacionais não puderam acompanhar o impulso de modernização. Só no III Congresso é que o PAIGC apresentou uma estratégia para um desenvolvimento equilibrado que incluía programas de formação destinados aos agricultores guineenses. O grande objetivo era obter-se um excedente alimentar, sobretudo em arroz. Isto aconteceu no mesmo ano em que ocorreu uma grave seca. Os centros de extensão agrícola são criados enquanto os Armazéns do Povo e a SOCOMIN eram supostas oferecer crédito à custa da diferença de preços no produtor e no retalho/exportação.

Contrariando vozes autorizadas, o governo lançou-se na construção de um gigantesco complexo agroindustrial destinado ao descasque de arroz. Os investimentos injetados na agricultura, no entanto, eram mínimos. A “linha de Cabral” fora desviada. Com o golpe de Estado de Novembro de 1980 anunciou-se um regresso a essa linha de Cabral. Mas também não se passou das intenções. Philip Havik escreveu, a tal propósito:  
“A falta de quadros e de infraestruturas prejudicou seriamente a capacidade do Estado em planear e executar as suas intervenções na agricultura. O conflito então em curso entre as facções populista e tecnocrata, ou seja, entre os militantes rurais formados no mato e os educados na Europa e noutros locais, surge como factor determinante na incapacidade de um aparelho de aparelho de Estado supercentralizado mobilizar os camponeses, que não eram encarados como uma classe”.
Em resultado, deu-se um afastamento dos camponeses face aos decisores políticos instalados em Bissau.

Philip Havik observa que ao abandonar a sua função mobilizadora, o PAIGC travestiu-se numa classe médica burocratizada e mercantil. Os agricultores ficaram progressivamente mais pobres e entregues a si próprios.

No seu ensaio no livro de homenagem a Patrick Chabal, Havik retoma as suas teses de que a produção industrial e a substituição de importações se fez em detrimento do pensamento de Cabral e que a seguir ao golpe de Estado de 1980 as medidas associadas às políticas de ajustamento estrutural deixaram a agricultura periférica. Nunca se encontrou autossuficiência no arroz, a produção de amendoim veio a ser gradualmente substituída pela produção de caju. Enquanto o Estado enfraquecia, as sociedades agrícolas procuravam encontrar soluções graças aos djilas e aos compradores diretos de amendoim e caju. Philip Havik recorda que em meados do século XIX o amendoim se apresentava como excelente produto de exportação, criaram-se pontas ou propriedades agrícolas que privilegiavam o amendoim e o coconote.

Quando Nino Vieira ascendeu ao poder e deu luz verde ao plano de ajustamento estrutural veio muito dinheiro para crédito agrícola e que acabou desviado para formar uma classe rica a explorar as novas pontas. Philip Havik observa as grandes questões étnicas do século XIX, incluindo a luta de libertação, à luz da resposta das sociedades agrícolas. Mais adiante recorda a organização económica colonial pós o período da pacificação, em que preponderavam as exportações da CUF e as transações da Sociedade Comercial Ultramarina, Barbosa & Comandita, Nunes e Irmãos, Mário Lima, bem como uma série de negócios dirigidos por cabo-verdianos, sírios e libaneses. O PAIGC trazia um plano de nacionalizações e previa a integração de uma agricultura coletiva a par de uma distribuição estatal onde preponderavam os Armazéns do Povo e a SOCOMIN (integraram a Casa Gouveia, que mesmo durante o período da luta armada conseguiu manter uma gestão apreciável no import/export).

O dado importante deste ensaio de Philip Havik é a forma como ele integra a sua análise a partir do período colonial, destacando a etapa de desenvolvimento em torno de meados do século XX, como conflituaram a linha colonial e pós-colonial, como depois da independência foram permitidas depredações no campo florestal na miragem de bons negócios na venda de madeiras exóticas (é atualmente um dos grandes interesses dos chineses na Guiné-Bissau), e como se manteve a fragilidade da economia rural neste enorme puzzle de conflitos, migração, alterações climáticas e ambientais, falta de apoio à modernização agrícola e em que a reposta óbvia foi os agricultores encontrarem os seus meios de subsistência tanto na economia de troca como na monocultura. A Guiné-Bissau é correntemente apresentada como um Estado frágil e passadeira de droga, mas à margem dessa cupidez e constituição de uma classe suportada por uma clique militar e políticos, a economia rural demonstra uma notável capacidade para resistir indiferente à fragilidade das instituições políticas, resiste pela economia informal, com as precárias infraestruturas de educação e saúde e com um per capita dos mais pobres do mundo. Como observa Philip Havik, a despeito de todos estes constrangimentos, a riqueza e a diversidade dos recursos económicos, sociais e culturais permanece o pilar fundamental da resiliência da sociedade rural e da possível dinâmica guineense.

(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 18 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19505: Notas de leitura (1151): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 22 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19516: Notas de leitura (1152): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (74) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19527: Manuscrito(s) (Luís Graça) (151): o passado, o presente e o futuro: tal como em Guidaje, Guileje ou Gadamael, não vai haver "bunkers" para todos

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Lourinhã > Praia da Areia Branca > 14 de fevereiro de 2019 >  Pôr do sol às 17h42


Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O futuro

por Luís Graça



A última barreira: adivinhar o futuro. 
Seria a omnis...ciência. 
Usurparíamos o poder dos deuses. 
Mas sempre quisemos, em todas as culturas,
deter esse poder... 

Adivinhar o futuro através do voo das aves, 
ou da dissecação das suas vísceras,
da conjugação dos astros, 
da queda dos meteoritos, 
do nascer e do pôr do sol, 
da bola de cristal, 
das cartas de jogar.
da ficção científica... 
Através das pitonisas,
das bruxas,
das cartomantes,
dos vendedores de sonhos...

E desgraçadamente não somos sequer capazes
de reconstruir o "puzzle" do passado, 
juntar as peças e dar-lhes um sentido... 

E muito menos ainda compreender 
o que se está a passar, aqui e agora... 
na casa comum da humanidade. 
Como se diz hoje, 
não temos escapadela, 
não há saída de emergência,
não há plano B, 
não há planeta suplente...
Tal como em Guidaje, Guileje ou Gadamael,
não vai haver... "bunkers" para todos nós.

Lourinhã, Praia da Areia Branca
Paseio da Foz do Rio Grande,
Esplanada do 100 Pratus - White Sand Club
14 de fevereiro de 2019

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19450: Manuscrito(s) (Luís Graça) (150): No país dos poetas...

Guiné 61/74 - P19527: Convívios (887): 1º Almoço de Confraternização do Combatente Limiano: Ponte de Lina, 10 de JUnho de 2019 (Manuel Pereira e Mério Leitão)

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Página do Facebook do Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes






Mnauel Pereira
 1. O nosso camarada e grã-tabanqueiro  Manuel [Oliveira] Pereira, é um  limiano de pura gema [, ou seja, nartural de Ponte de Lima]. Foi fur mil, CCAÇ 3547,   "Os Répteis de Contuboel", (Contuboel 1972/74), subunidade que pertencia ao BCaç 3884 (Bafatá, 1972/74).

Foi um dos primeiros camaradas da Guiné a dar a cara no nosso blogue. Conhecemo-nos no I Encontro Nacional da Tabanca Grande, na Ameira, Montemor-O.Novo, em 2006. temo-nos encontrada de vez em quando por aí, em Lisboa. Trabalhou durante anos no Hospital da CUF, em Lisboa, como técnico de gestão, ligado à produção, licenciando-se, entretanto, em Direito. Depois da reforma, regressou  à sua terra natal onde, com o Mário Leitão e outros antigos combatentes, tem animado o Núcleo local da Liga dos Combatentes..

O Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes tem página no Facebook:

(..) Este "espaço", agora, reactivado, pretende - com a ajuda de todos - ser "ponto de encontro", mas também "ponte", entre todos os "Combatentes Limianos", quer no contexto nacional, quer na diáspora. 

Iremos, sempre que possível, dar as informações que entendermos úteis, à nossa condição de "combatentes", quase "esquecidos" pelo poder político.

Iremos igualmente e, para maior transparência à nossa "missão", dar a conhecer toda a
Mário Leitão
actividade do Núcleo. Assim, correspondência, actas, comunicados, fotografias e outra documentação, será aqui disponibilizada.


Para que os objectivos acima descritos, sejam alcançados, precisamos de "sócios" e muito particularmente da colaboração de todos. (...) 

É ele que está a organizar,  juntamente com o Mário Leitão, o 1º almoço de confraternuização do combatente limiano, no próximo 10 de junho de 2019.

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de fevereiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19520: Convívios (886): Encontro do pessoal do BCAV 3846, a levar a efeito no próximo dia 17 de Março de 2019, no Cartaxo (Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf.º)

Guiné 61/74 - P19529: Em busca de... (294): O ex-1.º Cabo At Alberto de Aparecida Couto do Pel Caç Nat 54 procura o seu camarada José Augusto da Silva Dias, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BART 3873 que o salvou de morrer afogado no rio Geba (Sousa de Castro)

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1. Em mensagem do dia 22 de Fevereiro de 2019, o nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74) enviou-nos para publicação este apelo do ex-1.º Cabo Atirador Alberto de Aparecida Couto que procura o Soldado José Augusto da Silva Dias da CCS do BART 3873.

Boa noite, 
Caros camaradas, em anexo um apelo que gostaria ver publicado no nosso Blogue. 

Saudações veteranas, 
Sousa de Castro 
CART 3494 - Guiné


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Nota do editor

Último poste da série de 27 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19445: Em busca de... (293): O sobrinho do Marinheiro Radarista Ademar da Silva, natural de Matosinhos, pede que o ajudem a esclarecer as circunstâncias do desaparecimento de seu tio, em 24 de Junho de 1968, assim como do 2.º Sargento Ricardo Manuel Serpa Bettencourt, natural de Angra do Heroísmo (Artur Santos)

Guiné 61/74 - P19530: Manuscrito(s) (Luís Graça) (152): Parabéns ao meu mano Tó, o ex-1º cabo magarefe, António Ferreira Carneiro, o "Brasileiro", que, em Tete, Moçambique, no Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664, levou um tiro de Uzi no bucho... Ficou com uma cicatriz tipo 'fecho éclair', de alto a baixo, do peito à barriga, já teve vários AVC, e chega hoje aos 80 anos, rodeado de uma bela família de filhas e netos

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Moçambique > Tete > 25 de fevereiro de 1964 > Pessoal do Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664 (Tete, 1964/66) > Almoço do 25º aniversário do António Ferreira Carneiro, 1º cabo magarefe, natural da Ribeira, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses... Este destacamento chegou a Moçambique uns meses antes do inícío oficial da guerra colonial em Moçambique. As primeiras ações armadas da FRELIMO datam de agosto de 1964. Havia dois no destacamento. O outro cabo, além dele, era minhoto: chamavam-lhe o Cabinho... O camarada que está defronte dele, na foto, era um alentejano... de que também não sabe o nome. São mais de 50 anos passados...

O António é o nosso  "mais velho", na Tabanca de Candoz. Nasceu precisamenre há 80 anos, no dia 25 de fevereiro de 1939, seis meses   antes do início da II Guerra Mundial. Depois de regressar do Brasil, aos 24 anos, teve de cumprir o serviço militar. Estamos em meados dos anos sessenta. Com a especialidade de Magarefe, da Manutenção Militar, foi mobilizado para Moçambique. m Tete, o António sofreu um grave acidente com uma pistola-metralhadora ligeira, uma UZI, disparada acidentalmente por um camarada... Milagrosamente salvou-se. Hoje é um DFA - Deficiente das Forças Armadas (com cerca de 2/3 de incapacidade). E como  se isso não bastasse, já teve vários AVC... Mas é um otimista, "quase profissional"... Aos 80 anos, diz-me que já não conta os anos mas os dias... Mas a verdade é que "os 80 anos já cá cantam"...

Uma análise da foto acima  (, digitalizada, a partir de um original de formato reduzido,) mostra-nos doze jovens, em tronco nu, à volta de um mesa comprida, comendo e bebendo na festa dos 25 anos do "Brasileiro". Há, para além de um garrafão, 15 garrafas de cerveja, das grandes, da marca Mac Mahon, uma das bebidas produzidas em Moçambiquem, na época... Também era conhecida pela 2 M. A marca rival era a Laurentina. (Recorde-se que, em Angola, eram as marcas Cuca e Nogal).


Foto (e legenda): © António Carneiro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Finalmente, ao fim de estes anos todos (oito anos!), apareceu um camarada, que vive em Braga, que conseguiu localizar o "brasileiro", o António Ferreira Carneiro, meu cunhado, irmão mais velho da Alice... Afinal, o  Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande! (*)....  

Esse camarada, o tal minhoto, que também era 1º cabo, no Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664 (Tete, 1964/66), foi testemunha do acidente que matando o no nosso "morgado", o filho mais velho de José Carneiro e Maria Ferreira, e transmitiu ao António a sua versão dos acontecimentos, que é diferente da oficial ou oficiosa, mas que não interessa aqui para o caso... Na tropa encobria-se "muita merda" com o papel selado...

Para o mano Tó, foi  uma grande alegria poder abraçar este camarada., que penso que é "caixeiro viajante" ou coisa parecida, e vive em Braga, e que há uns meses trás foi bater à sua porta, em Custóias. Telefonou-me primeiro, através do número de telemóvel que divulgámos no blogue.

 O António Carneiro não pertence à Tabanca Grande, não tem de resto endereço de email, página no Facebook e outros "modernices"... É um homem do seu tempo...  Mas pertence à... Tabancas de Candoz...

É o mano mais velho de seis irmãos, três rapazes e três raparigas, uma das quais a Alice Carneiro, nossa grã-tabanqueira. Esteve imigrado no Brasil entre 1957 e 1963, para grande desgosto do seu pai, que era um proprietário rural e industrial de construção de ramadas, conceituado na sua terra e região. Só os pobres, os "rendeiros" e os "cabaneiros", os "proves" [pobres]  é que iam para o Brasil, tentar a sorte... Creio que o pai nunca lhe perdoou essa "desonra"... Mas o rapaz era teimoso, não tinha jeito nem físico para trabalhar arte de ramadeiro... E depois, aos 18 anos, é difícil resistir aos apelos da liberdade...  Aproveitou a "boleia" de um tio materno, com quem irá aprender a arte de magarefe... Em 1957, com 18 anos, o António obteve dispensa do serviço militar para se fixar, a título definitivo, no Brasil. Pagou, em Viseu, no RI 14, duzentos escudos de emolumentos, em selos, pela sua dispensa militar (, o equivalente hoje a cerca de 90 euros.)

Era pressuposto ficar pelo Novo Mundo, até porque em 1961 "rebenta a guerra de Angola"... Acabou por ter de regressar, por razões obscuras... Há quem diga que era um rabo de saias... Enfim, voltou a apanhar a boleia do tio,  em 1963, então de de regresso a casa, no Alto, em Paredes de Viadores,  onde tinha mulher e filhs... Está-se mesmo a ver a cena seguinte: no aeroporto, em Lisboa, o  passaporte do Tó levou logo com o "carimbo da PIDE"....  É notificado de que deverá regularizar de imediato a sua situação militar. Faz a recruta, aos 24 anos, e é de seguida mobilizado para Moçambique. Viaja no T/T Niassa. Chega a Tete, em janeiro de 1964, integrado numa subunidade de intendência. A sua experiência profissional (era magarefe no Brasil) é devidamente aproveitada pela tropa. Um mês depois celebra o seu 25º aniversário, como se podes ver na foto acima...

Seis ou sete meses depois de chegar a Tete, sofreu em julho de 1964 um grave acidente com uma pistola-metralhadora ligeira, uma UZI, disparada acidentalmente por um camarada que acaba de "fazer o seu serviço de sentinela" (versão oficial, ou oficiosa)...

O 1º cabo Carneiro irá estar mais de um mês em estado de coma. Só um milagre o salvou. Hoje tem uma enorme cicatriz, um autêntico fecho "éclair",  de alto a abaixo, do peito à barriga... O tiro perfurou-lhe sete órgãos. É um DFA - Deficiente das Forças Armadas (com cerca de 2/3 de incapacidade)...

O António Ferreira Carneiro, na altura conhecido como o "Brasileiro",  pertencia, como dissémos,   ao Destacamento Avançado Móvel de Intendência nº 664, sendo o seu comandante o alf mil Patrício (, que nunca mais viu). O 1º Sargento era o Anmtónio Teles Touguinha, já falecido, que se veio a revelar grande amigo da família. Era natural de Vila do Conde. Havia ainda dois furriéis açorianos, de que o António já não se lembra o nome. Ao todo, eram cerca de 25 militares, viviam numa vivenda em Tete, em plena cidade. Os graduados eram apenas 2 cabos, 2 furriéis e 1 alferes.

O "Brasileiro"  foi ferido em julho de 1964 e transferido para o HMP - Hospital Militar Principal, em Lisboa, em Dezembro desse ano. No HMP passou cerca de oito meses. Nunca ninguém da família, muito menos o pai, José Carneiro, o foi visitar a Lisboa... Regressou à vida civil em agosto de 1965, tendo casado depois. Vive em Custóias, Matosinhos, há mais de meio século.

Durante anos e anos,  procurou malta da sua subunidade bem como o médico que o operou em Tete ("Era a maior alegria que me podiam dar, saber do paradeiro dos meus camaradas de Intendência bem como do médico que me salvou").

Afetado por um AVC, por volta de 2013,  foi tratado no Hospital militar do Porto. Teve outros pequenos AVC posteriormnete. Ficou com alguns sequelas. Emocionou-se com faciidade... Mas faz a sua vida "quase normal", e adora andar de comboio. Dantes vinha de propósito a Lisboa, visitar a mana... Agora mete-se no comboio da Linha do Douro e vai até "Calça Curta", um conhecido restaurante na Foz do Tua... Um dia não são dias, e no céu não há as iguarias da terra...

 Depois do seu regresso do Hospital Militar Principal, em Lisboa, a família recebeu visita desse 1º  sargento, o Touguinha, que foi para o António um verdadeiro anjo da guarda. Sem a a acção dele, provavelmente o nosso mano não se teria salvo.


2. Ontem fiz 800 km para dar um abraço fraterno ao mano (e meu camarada) Tó. E desejar-lhe a saúde possível... Fizeram-lhe uma bonita festa, as filhas, netos, manos, sobrinhos... Onde não faltaram os foliões de Carnaval,  alguns sobrinhos machos "travestido" de "putas da Via Norte"... (Imagens, feiizmente, do passado,  já que  não há... as tristes "putas da Via Norte", segundo me garante o nosso especialista Zé Ferreira, o autor das "Memórias Boas da Minha Guerra"). (As fotos na festa também não publica, nem com bolinha,  a menos que haja muito pedidos das respeitáveis famílias da Tabanca Grande.)

E eu escrevi-lhe, em nome de todos os irmãos/irmãs e cunhadas/os,  um soneto, enquanto ia na autoestrada, com a minha "chofera" a conduzir... Aqui fica, para "memória futura"... Só hoje lhe dei os parabéns, no próprio dia, antes dá azar... (**)


Para ti, mano, que fazes 80 anos,
a melhor prenda que os teus manos te gostariam de dar...


A melhor prenda para ti, mano Tó,
É uma que não te podemos dar,
Não serve para nada, é tão só
Um bem sem preço, não dá para trocar.

Adivinha que prenda será esta,
Não serve para comer nem beber,
Mas sem ela não és feliz, nem há festa,
Nem tempo p'ra os bisnetos ver crescer.

Chegaste hoje a uma bonita idade,
Tens sido um grande resistente,´
Mano querido da nossa irmandade.

Essa prenda de que aqui falamos,
É... a saúde, é não estar doente,
È a melhor que nós hoje te desejamos.



Maia, Restaurante Quinta das Raparigas,
almoço de 80º aniversário do Tó Carneiro,
Os manos Alice e Luís, Nitas e Gusto, Rosa e Quim, Zé e Teresa, Manel e Mi.
__________

Guiné 61/74 - P19531: Parabéns a você (1580): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da FAP (1979/82)

Guiné 61/74 - P19532: (D)o outro lado do combate (44): A morte de Rui Djassi - Parte I (Jorge Araújo)

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 Imagem nº 2 > Ilha do Como (Jan1964) - «Operação Tridente». Desembarque das forças do BCAV 490.


Imagem nº 3 > Ilha do Como (1964) – Embarque de vário material de regresso a Bissau.

Fotos do camarada Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 498 (1963/1965) - P12386, com a devida vénia.


Imagem nº 1 > Infogravura da «Operação Tridente», com a indicação do desenrolar das acções iniciadas em 15 de Janeiro de 1964, 4.ª feira. In. Guerra Colonial: Angola - Guiné - Moçambique, edição do Diário de Notícias, p.73, com a devida vénia. 


Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue



GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > OS RETIROS RESERVADOS DE RUI DJASSI (FAINCAM), NAS MATAS DE GAMPARÁ, DESCOBERTOS PELA CART 643, NA «OPERAÇÃO ALVOR», EM 24ABR64, DATA DA SUA MORTE... "HERÓI DA PÁTRIA", TEM HOJE NOME DE RUA EM BISSAU 



1. INTRODUÇÃO

Mantendo o interesse em encontrar respostas fiáveis às dúvidas suscitadas nas narrativas anteriores, partilhadas no fórum nos P19433, P19437 e P19471, onde se colocava a questão relacionada com o desconhecimento do paradeiro do cmdt da Zona 8 (região de Quinara), Rui Djassi (Faincam), de quem Amílcar Cabral recebera as últimas notícias em finais de 1963, identificamos novas pistas que indiciam termos chegado ao fim desta incógnita e, por conseguinte, deste tema.

Para situar o contexto historiográfico e cronológico das ocorrências, recorda-se que os últimos contactos de Rui Djassi (Faincam) tinham sido duas cartas enviadas ao secretário-geral, datadas de 26 e 30 de Dezembro de 1963. Este, como resposta, manifesta-lhe um duplo desagrado, para o qual utilizei a metáfora "puxão de orelhas", o primeiro por insuficiente comunicação, o segundo por um comportamento pouco cuidado, rigoroso e muito permissivo na "zona 8", enquanto principal responsável operacional na região de Quinara, que facilitou um bloqueio da fronteira Sul por parte das NT, inviabilizando o cumprimento da estratégia logística no «Corredor de Guileje» [P19433].

Certamente, consequência desse laxismo, o seu nome/pessoa deixou de contar para a nova estrutura político-militar do PAIGC decidida no I Congresso, realizado em Cassacá, entre 13 e 17Fev1964, onde foram nomeados os líderes do 1.º Corpo de Exército Popular. Já nessa ocasião Amílcar Cabral (1924-1973) dava conta do agravamento da situação naquela região (Zona 8 - Quinara) por via do desaparecimento do seu responsável – Rui Demba Djassi (1937-1964) – cujo paradeiro ninguém conhecia embora, para ele, existisse a convicção de que estaria vivo [P19433].


2. OPERAÇÃO "TRIDENTE"– DE 15JAN64 A 24MAR64

Tendo por objectivo recuperar o controlo das ilhas de Caiar, Como e Catunco, antes ocupadas pelos guerrilheiros do PAIGC sob a liderança de 'Nino' Vieira (1939-2009) [Marga, nome de guerra], no sentido a garantir a segurança dos abastecimentos marítimos na costa sul da Guiné, foi realizada a «Operação Tridente», a qual teve uma duração de dois meses e meio, entre 15 de Janeiro e 24 de Março de 1964 [Vd. imagem nº 1, acima].

De referir que durante a realização do 1.º Congresso do PAIGC já a componente terrestre dessa operação contabilizava um mês de intensa actividade operacional, sob o comando do Tenente-Coronel Fernando José Marques Cavaleiro (1917-2012), que, para além do envolvimento do seu Batalhão de Cavalaria 490 [BCAV 490], de Estremoz, contava, também, com a participação conjunta de outras unidades militares dos três ramos das Forças Armadas, num contingente superior a um milhar de elementos. [Vd. imagenns nºs 2 e 3, acima].

Entretanto, após concluída a reunião de quadros do PAIGC, em Cassacá [, na pensínsula de Quitafine], onde 'Nino' Vieira viu reforçada a sua liderança, enquanto principal responsável operacional da guerrilha naquela região sul, este seguiu, naturalmente, para essa frente de luta tendente a assumir o controlo da situação e, concomitantemente, dos diferentes combates.

Em função das dificuldades observadas no terreno, tomou a iniciativa de escrever uma carta aos seus camaradas «Faincam» e «Kant», nomes de guerra de 'Rui Djassi' e 'Domingos Ramos', respectivamente, implorando ajuda em recursos humanos (guerrilheiros) para fazer face à situação militar difícil que estava a viver [, na Ilha do Como].

Este pedido de apoio, expresso na referida carta, não teria nada de anormal, digo eu, para a construção desta narrativa, se não tivesse encontrado duas versões divergentes quanto à génese dos factos narrados. Ainda assim, as divergências encontradas não nos impediram de perseguir com o aprofundamento da investigação, cujos resultados aproveito para partilhar convosco.

2.1. CARTA DE 'NINO' VEIRA ENVIADA A RUI DJASSI [FAINCAM] E DOMINGOS RAMOS [KANT] NO INÍCIO DE MARÇO DE 1964

De acordo com o acima exposto, é de relevar que as duas versões, ainda que o conteúdo da carta [texto] seja igual, entre elas existem diferenças quanto ao contexto como foram obtidas.

No primeiro caso, o acesso à carta está plasmada no livro «Os Anos da Guerra Colonial (1961-1974)», no sítio: [http://batalhaocacadores2885.blogspot.com/2009/08/as-grandes-operacoes.html].

Diz a carta: […]

"Ao fim de 48 dias de combates na região do Como (ou seja, em 3 de Março de 1964, 3.ª feira), as
tropas portuguesas interceptaram um estafeta com uma carta de Nino Vieira, escrita à máquina, para outros chefes da guerrilha. Os destinatários eram os comandantes Faincam e Kant".

O exemplar da carta dactilografada, que se apresenta na figura ao lado, pela sua qualidade, não nos permite decifrar, com nitidez, o que nela consta. Apenas tivemos acesso ao seu conteúdo no texto que a enquadra, publicado na obra acima citada. [Imagem nº 4].

No segundo caso, a referência à carta em apreço consta do livro do Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974) – Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª edição, Lisboa (2014). 

Dele se retira, para o presente propósito e com a devida vénia, a seguinte passagem: 

"Sobre a operação "Tridente" junta-se uma carta atribuída a João Bernardo Vieira "Nino", capturada em Maio [Abril] de 1964, na operação "Alvor". […] Na realidade, a carta de João Bernardo Vieira "Nino", esclarece a situação aflitiva dos guerrilheiros nas referidas ilhas perante a acção das NT. O original da carta figurava entre os documentos capturados por forças da CArt 643 na "Operação Alvor", realizada na península de Gampará, de 22 a 26Abr64, quando atingiram o "Quartel-General" do chefe da região Sul, Rui Demba Djassi (op.cit., pp 218/219).

Eis a transcrição do seu conteúdo:

"Camaradas Faincam e Kant

Para que esta vos encontre continuando uma boa saúde, junto dos vossos camaradas. Eu e os meus vamos indo razoavelmente bons.

Camaradas, achei obrigado a dirigir-vos estas linhas, porque sei que já não tenho nenhuma safa a não ser que dirigir-me a vós. Como sabem estou muito afrontado, porque as tropas ainda continuam a praticar bárbaros massacres no I. Como. Hoje [3 de Março de 1964] já se faz 48 dias que os n/ [nossos] camaradas estão enfrentando corajosamente as forças inimigas. Queria que os camaradas retirassem juntamente com a população conforme era a solução tomada pelo n/ [nosso] Secretário Geral. Mas o que certo é impossível, porque não temos caminho de fazê-los sair. Por isso agradecia-vos que me mandassem reforço vindo de todas as partes. Mesmo se por acaso será possível podem enviar no mínimo 150 a 200 camaradas, porque senão os portugueses vão-me dar cabo da população.

Camaradas, tenham paciência porque não tenho uma outra safa a não ser o vosso auxílio.

Tenho encontrado numa situação muito grave. As tropas estão aumentando cada vez mais as suas forças, tanto como terrestres, aviação e também por meios marítimos.
Camaradas, não tenho mais nada a dizer-vos. Somente posso dizer-vos que dum dia para outro vamos ficar sem a população e sem n/ [nossos] guerrilheiros aí. Já estamos a contar com a baixa de 23 camaradas n/ [nossos] durante todos estes dias dos ataques. Portanto termino desejando-vos maiores sucessos, junto dos vossos camaradas e do povo em geral.

Do vosso camarada Marga – Nino"

2.2. Segue-se a reprodução da carta manuscrita por 'Nino' Vieira [Imagem nº 5].



Imagem nº 5


Imagem nº 6 > Bilhete-Postal (s/d) da Rua Dr. Oliveira Salazar, em Bissau [hoje, Rua Rui Djassi], da Colecção "Guiné Portuguesa, 135". (edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, Sarl.) - P6625, com a devida vénia.



Imagem nº 5 > Localização da Rua Rui Djassi, em Bissau. 


3. RUI DEMBA DJASSI [FAINCAM] – HERÓI DA PÁTRIA

Depois da independência o corpo de Rui Djassi ('Faincam') foi transladado [teria sido o seu corpo?] para Bissau, encontrando-se sepultado no Memorial dos Heróis da Pátria da Guiné-Bissau, na Fortaleza de São José de Amura, no centro da cidade.

Hoje, o seu nome faz parte da toponímia de "Bissau-Antigo", substituindo a designação anterior que era a do Dr. Oliveira Salazar (1889-1970).

Continua…
Nota:

Em função da extensão da presente narrativa, considerámos ser de interesse colectivo dar conta, em novo poste, ao modo como se desenrolou a «Operação Alvor», de que resultou a morte de Rui Djassi (Faincam), na medida em que sobre ela nada consta no puzzle historiográfico da «Tabanca».

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

18Fev2019.
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P19533: Memórias de Gabú (José Saúde) (78): O paludismo. (José Saúde)

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1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem. 

Falemos de uma doença conhecida pelos camaradas

O paludismo

Neste incessante vaguear por caminhos já estreitos que a mente, por enquanto, vai sendo benévola para que possamos escalpelizar a nossa passagem pela Guiné, acontece, agora, falar sobre o paludismo. Um tema que, aliás, nos foi comum.

O paludismo é tão-somente uma doença provocada ao ser humano através de picadelas de uma determinada variedade de mosquitos que por terras guineenses eram “mato”. Julgo que numa triagem que porventura ousemos efetuar ao enormíssimo contingente militar que pisou aquele solo, raro terá sido o camarada que não conheceu a enfadada moléstia, ou porque o paludismo lhes fustigou o físico, ou porque camaradas que viviam por perto terão sido atacados com tal malazenga.

A doença, em si, é também conhecida como malária. As causas que o paludismo provoca interferem com febres altas, dores de cabeça, vómitos, fraqueza muscular, tosse, problemas renais e hepáticos, alteração do sistema nervoso central de entre outros problemas, assim como a implícita chancela de gravidade que pode levar à morte.

As estatísticas são explícitas quando referem que milhares de pessoas morrem por ano tendo como causa principal o paludismo. Aliás, acrescesse que a maioria das mortes ocorridas são de crianças que vivem no continente africano.

Mas será que existem mecanismos para abreviar a propagação da doença? Claro que os há! Basta, por exemplo, tratar a água estancada em pântanos que se constituem como os locais ideais para o seu habitat natural e onde estes insetos proliferam.

Sabe-se, por outro lado, que existem vacinas que visam prevenção no desenvolvimento do mal. Não sendo especialista na matéria, isto é, sou leigo, e humildemente confesso, diz-se que uma vacina considerada capital para o aniquilar o paludismo estará ainda por descobrir. Por conseguinte, a definitiva cura para a maleita persiste.

A cédula pessoal deste velho combatente regista dois casos de paludismo: o primeiro contraído em Gabu; o segundo em Beja em finais de 1970. Este último foi-me diagnosticado por um médico amigo que me visitou quando me encontrava acamado no leito da minha cama e logo me pôs ao corrente do meu estado de saúde.

Neste contexto, sinto-me minimamente à-vontade para debitar narrativa sobre as condicionalidades que o conhecido paludismo me provocou. Sei que vi a coisa preta. Os arrepios de frio e o mal estar geral deixaram-me o corpo quase inerte. Depois, com uma santa paciência lá me ergui e prossegui o meu caminho. Ficou, porém, a malvadez da experiência.

Na Guiné a ansiedade do “mal” deixava o combatente de rastos. Presenciei camaradas entregues a uma luta corporal que impunha apertadas restrições. O “mal” não era fácil combater e um dia, tal como atrás referi, calhou-me conhecer essa efémera e tenebrosa doença.

Asseguram os especialistas na matéria, que o paludismo, vulgo malária, é uma doença transmitida pela picada de mosquitos pertencentes ao gênero Anopheles.

Recorrendo a dados da Organização Mundial de Saúde, observa-se que cerca de 200 milhões de criaturas foram detetadas como portadores da doença e que derrapa, infelizmente, para cerca de 700.000 mortes por ano. A praga é de tal modo agressiva que os médicos travam árduas lutas para minorar as estratégias de contaminação.

Recordo a nossa espontânea deliberação para protegermos a “carcaça” da praga de mosquitos que nos nossos “poisos” não davam tréguas ao combatente que requeria o merecido descanso, isto é, dormir sob a proteção dos famosos mosquiteiros que, em princípio, salvaguardavam inesperadas picadelas destes inoportunos “terroristas”.

Uma curiosidade: quando cheguei à Guiné e me fixei nas exíguas instalações do Quartel General (QG ), “Biafra” como a malta apelidava o pomposo alojamento, vi, desde logo, que muitas das camas das camaratas eram dotadas com os pomposos mosquiteiros.

Lembremos, então, a guerrilha travada com estes inusitados inimigos, leia-se insetos, que não davam pausas a homens cujo propósito era, naturalmente, salvaguardar o corpo de outros ferrões maiores que o IN, sempre à espreitava, impunha no terreno.

E assim vamos dissecando memórias de uma guerra onde conhecemos variadíssimas situações de calamidades, e de pânicos, sendo o paludismo uma “arma de arremesso” que visava um ataque cirúrgico a camaradas que caíam numa emboscada desses proféticos “bicharocos”.



Um abraço camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

19 DE FEVEREIRO DE 2019 > Guiné 61/74 - P19509: Memórias de Gabú (José Saúde) (77): Pequena biografia da Guiné-Bissau. Viagem pela história. (José Saúde) 

Guiné 61/74 - P19534: Parabéns a você (1581): Luís R. Moreira, ex-Alf Mil Sapador do BART 2917 e BENG 447 (Guiné, 1970/71)

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