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Channel: Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Guiné 61/74 - P19495: Consultório militar do José Martins (38): Ficha do Batalhão de Caçadores 619 (Catió, 1964/66)

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1. E mensagem de 5 de Fevereiro de 2019 o nosso camarada e "consultor militar" José Martins [ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70) enviou-nos a ficha do BCAÇ 619 com as suas Companhias Operacionais, entre elas a CCAÇ 617 do outro nosso camarada João Sacoto, ex-Alf Mil.








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Nota do editor

Último poste da série de 24 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19229: Consultório militar do José Martins (37): Pedido de Informações sobre a CCAÇ 2466 / BCAÇ 2861, Bula e Encheia, 1969/70, a que pertenceu o meu avô (Cristiana Duarte)

Guiné 61/74 - P19496: Notas de leitura (1150): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (73) (Mário Beja Santos)

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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
Duas razões para mim de muito peso seguem com este apontamento que submeto à vossa leitura. Não conheço nenhum texto de índole política, social e económica tão influente como estas notas elaboradas em 1957 pelo administrador Castro Fernandes, figura gradíssima do regime de Salazar. No fundo, é uma solene advertência de que tudo tem de mudar, estão a acontecer coisas na emancipação de África, mesmo ali à volta da Guiné, atenda-se à franqueza do diagnóstico e atue-se, antes que seja tarde.
A outra razão é de caráter muito pessoal, e pode abranger todos os camaradas da Guiné que porventura tenham conhecido Mato de Cão. Veja-se a imagem da estação no rio Geba, com ela convivi de agosto de 1968 a novembro de 1969, com uma frequência inusitada, uma regularidade quase diária. Montava-se a segurança num ponto alto, e em certas ocasiões subia a passagem, para que os barcos, civis ou militares, me identificassem, era ali que pedia boleia para Bambadinca, para mim e para os meus. Que impressão tão forte me provoca esta imagem!

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (73)

Beja Santos

Os apontamentos elaborados pelo Administrador António Júlio de Castro Fernandes, a propósito da sua visita à Guiné Portuguesa entre 9 de março e 8 de abril de 1957 são uma peça de indiscutível importância não só pelo leque dos assuntos versados, a crueza de opiniões e a formulação de conceitos coloniais, a análise económica e o punhado de sugestões que apresenta para revigoramento da Sociedade Comercial Ultramarina. Iniciou a apreciação dos recursos económicos dando prioridade, como era óbvio, à mancarra. Segue-se agora uma apreciação do coconote.

A palmeira de azeite produz óleo de palma, coconote e vinho de palma. E é minucioso ao dizer que “o óleo de palma é extraído da polpa que envolve a amêndoa, o coconote é a amêndoa, o vinho é extraído da ferida feita junto ao cacho”. Diz mais: “A palmeira abunda na zona do Litoral. Maciços mais extensos: Arquipélago dos Bijagós, Cacheu e S. Domingos. Cobre uma área aproximada de 90 mil hectares”. Fala sobre a tonelagem exportada de óleo de coconote e de óleo de palma. E fala concretamente do que viu: “Tive ocasião de em diversas tabancas e moranças assistir à preparação do óleo de palma. Entre Teixeira Pinto e Cacheu, vi uma das instalações administrativas para o descasque do coconote e esmagamento da polpa. O indígena utiliza o descascador mas recusa o esmagamento ou trituração da polpa”.

A única fábrica de óleo de palma que existe é a de Bubaque, diz adiante e lança números sobre a mesa, não descurando comentários próprios:
“O coconote ocupa o segundo lugar na exportação da Província. O descasque é feito, geralmente, pelo indígena – é mal feito e à custa de um esforço perfeitamente estúpido. Além da fábrica de Bubaque, existem algumas britadeiras (umas administrativas, por utilizar quase todas; outras particulares). O desinteresse por parte do indígena na utilização destas britadeiras tem sempre a mesma causa – paga-se por preço inferior ao razoável o coconote bruto adquirido ao indígena (os detentores das britadeiras querem lucros elevados para a rapidíssima amortização do capital investido nas maquinetas).”
A única produtora de óleo de coconote já estava fechada, mas entrara em negociações com o BNU. E tece um comentário final:  
“O comércio do coconote faz-se como o da mancarra. Os mesmos processos, a mesma técnica. O coconote compra-se através de todo o ano, o indígena tem as suas reservas para ocorrer às necessidades mais prementes. As pontas são de maio a Outubro. Neste negócio do coconote, a grande vantagem está ao lado dos que possuem descasques de arroz.”

Entrando na apreciação do alimento preferido pela população guineense, esclarece:  
“Reputa-se em 70% da superfície total os terrenos susceptíveis de serem aproveitados para o cultivo do arroz.
É impossível determinar com rigor a produção, sobretudo em virtude do contrabando para o Senegal, Guiné Francesa e Gâmbia. Calculando-a pelo rendimento por hectare, admite-se uma produção de 90 mil toneladas”.
E enumera a produção pelas diferentes regiões da Guiné. Havia fábricas de descasque, eram três: a Casa Gouveia, a Sociedade Comercial Ultramarina e Mário Lima. E informa que “Os donos do descasque são também comerciantes que, por intermédio das suas redes de lojas ou por contratos com os comerciantes – intermediários, adquirem a maioria da produção não exportável por contrabando. Todo o arroz descascado fica, assim, em seu poder, sendo vendido em Bissau, nas suas próprias lojas”. E dá conta de um outro pormenor, além do arroz descascado há o arroz de pilão, este não pode ser misturado com o arroz descascado mecanicamente.

Vê-se que Castro Fernandes está seriamente documentado e possui informação atualizada:
“Segundo o Governador, a cultura do arroz é uma cultura colectiva que não pode ser levada a efeito em pequenas propriedades individuais. O arranjo das terras, a construção dos diques, exige o trabalho de toda uma organização. É o trabalho das tribos que é exercido, principalmente pelos Balantas. Diversas causas têm desorganizado o trabalho tribal, tornando impossível, quando tal se dá, o cultivo do arroz. É o caso dos Papéis da Ilha de Bissau. Solicitado para toda a espécie de trabalhos, foi-se desorganizando, desarticulando a tribo e não são as mulheres e as crianças que podem proceder aos amanhos e cultivo dos terrenos. O problema consiste em recuperar terrenos, pondo-os em condições de se fazer a respectiva cultura e, ao mesmo tempo, em não desorganizar a tribo, só recrutando homens para o coconote e outros trabalhos, na fase da cultura que as mulheres podem fazer. É esta a orientação que o Governo da Província está a imprimir aos milhares e milhares de hectares que se estão recuperando. Ao Estado compete fomentar a cultura, criando os meios necessários para tal: recuperação de terrenos, organização e defesa do trabalho tribal, obras de rega e de defesa, auxílio ao indígena (tractores, plantas, etc.). O indígena – acrescentou o Governador – tem a compreensão exacta do problema. Os velhos queixam-se de que lhe vêm buscar os rapazes, desorganizando por completo a única forma de exploração possível do arroz.
O caso do Sr. Álvaro Boaventura Camacho funciona estupendamente porque, justamente ele é verdadeiramente o régulo, fazendo os indígenas nas suas propriedades um trabalho tribal.
As propriedades do Sr. Álvaro Camacho – em casa de quem estive hospedado – estão situadas na região de Tombali, circunscrição de Catió. É chão de Nalus, mas – graças à fixação operada através de 30 anos pelo Sr. Camacho – predominam os Balantas. A produção do arroz nesta circunscrição estima-se em 20 mil toneladas. Em Cufar (a 15 quilómetros de Catió) tem a residência e em Cantone os armazéns de arroz, fazendo-se daqui o respectivo embarque. Os indígenas cultivam o arroz nas propriedades do Sr. Camacho que lhes compra o produto, vendendo-lhes os que necessitam”.

O Administrador Castro Fernandes irá ainda debruçar-se sobre os produtos têxteis, a cana sacarina, o gergelim e purgueira, o rícino, o cajueiro, as plantas alimentares, a exploração florestal, a borracha, a pecuária, a cera e o mel, a pesca e as indústrias. Há observações relevantes: até agora, a cultura algodoeira tinha sido um fracasso, bem como a sumaúma; acreditava-se que a cana sacarina tinha viabilidade económica, o Governador não parecia particularmente entusiasmado, seria de atender ao gravíssimo problema do fabrico e consumo de aguardente (“O Balanta, que só trabalha 4 meses por ano, anda bêbado os outros 8 meses. As mulheres já dão aguardente às crianças”), o Governador dissera a Castro Fernandes estar a procurar por formas indiretas diminuir sucessivamente a produção de aguardente; o gergelim e a purgueira tinham largas possibilidades de expansão na Guiné; o cajueiro constituía pela proteção do solo um conectivo à desmedida agricultura de sesmeiro; a Guiné, reconhecia-se, tem condições francamente boas para uma eficiente exploração florestal, mas era indispensável um esforço de repovoamento ordenado com espécies úteis; as possibilidades da pesca eram ainda desconhecidas e dizia-se no relatório que a tentativa de J. da Silva Peralta era, por enquanto, extremamente tímida e limitada; quanto às indústrias, à parte das instalações da Sociedade Comercial Ultramarina e da Casa Gouveia e da instalação da Sofuil em Bubaque, pouco havia a assinalar. Em síntese, uma indústria extremamente rudimentar.

No capítulo dedicado às perspetivas, o conjunto de observações merece todo o destaque:
“Conseguirá a Guiné Portuguesa passar do estado de colónia-feitoria?
Existe uma certa evolução, ao menos nas ideias, no sentido de passar da simples exploração do existente para a criação de verdadeira riqueza.
Há hoje um interesse, todos os dias crescente, pela Guiné havendo sinais de que não só as grandes firmas (refiro-me à CUF) se preparam para investir capitais em explorações tecnicamente bem estudadas, como se anunciam certas tentativas interessantes. Receio, porém, que algumas delas fracassem (tenho sérias dúvidas, por exemplo, quanto à fábrica de borracha) e que tal fracasso desencoraje os outros.
Mas não nos fiquem dúvidas de que o que está, como está, se não poderá manter por muito mais tempo.

Os Serviços Agrícolas locais têm uma missão extraordinariamente importante, mesmo decisiva, a cumprir. Mas organizar-se como estão – servem menos do que para nada.
Além de não haver bom pessoal (tecnicamente), o quadro é mais do que exíguo e pessimamente dotado. Ainda por cima a terra é pouco desejada, os que vão para a Guiné têm um único objectivo – sair da Guiné, serem transferidos para outra Província (conquanto que não seja para Cabo Verde). De modo que não há, nem pode haver, continuidade. Um estudo, uma experiência iniciada hoje, é interrompido, fica pelo caminho, perdendo-se o que porventura se tinha obtido.
Os nossos vizinhos do Senegal conseguiram já, quer na mancarra, quer no arroz, resultados apreciáveis, tanto na selecção, como no aumento do rendimento, como na obtenção de variedades apropriadas às diferentes características de solos e climas.

Mas não basta organizar capazmente os Serviços Agrícolas – embora seja essencial e urgente fazê-lo – é necessária, para que se obtenham os resultados que importa obter, uma perfeita cooperação do produtor e do comerciante. Educação do indígena (que tem de começar por o não roubar), disciplina do comércio (que hoje facilita as fraudes e desleixe do indígena – comprando tudo quanto apresenta, por mais inferior que seja o produto). A justificada má fama da mancarra e do coconote guineenses no mercado mundial é apenas o resultado da nossa incapacidade em comerciar com decência – incapacidade que advém, ao fim e ao cabo, do regime de monopólio em que vivem as empresas compradoras da Metrópole. Como os lucros dão para tudo – para comprar pelo mesmo preço a mancarra e as impurezas que contém – os importadores da Metrópole não fazem questão. Como assim é, os pequenos comerciantes não discutem com o indígena, aceitam o que este lhe trouxer. Por outro lado, rouba-o quanto pode o que, por si, justifica as fraudes que o indígena – em legítima defesa – pratica. É uma cadeia, uma pouca-vergonha, é uma verdadeira praga, uma autêntica calamidade…

Que as coisas melhoram, sente-se. Que têm de melhorar é axiomático – a menos que queiramos estar, dentro em breve, a braços com as maiores dificuldades.
A Guiné já não é hoje inteiramente uma quinta da CUF. Para tanto, em muito contribuiu o crescimento da Sociedade Comercial Ultramarina, obra do nosso Banco a que é de inteira justiça ligar o nome do Sr. Visconde de Merceana. Oxalá o enfraquecimento, ou mesmo a queda, desta empresa não venha fazer-nos andar para trás. O BNU nada ganharia com isso – muito pelo contrário – e a Guiné também não.
A consciência dos problemas – que é por agora o resultado verdadeiramente positivo da evolução económica da Guiné – obrigará a CUF se quiser manter a sua posição, a investir dinheiro da Guiné e a pôr ao serviço do progresso da Província a sua técnica e os seus quadros. De contrário, terá – a curto prazo – desgosto e desgosto sério. O mesmo se põe para os outros grandes, cada um dentro da sua escala.

A Guiné, repete-se, continua ainda no estado de colónia-feitoria. Mas tudo indica que as coisas se vão modificar.
Não pode o Estado arcar sozinho com o peso de transformar a Guiné – mas para que se saia da pura ‘economia de resgate’ tem de, por processos indirectos, obrigar os que querem a carne a terem o seu contrapeso de osso.”

(Continua)

Imagem de uma Festa da Luta Felupe (Eran-ai), tirada em Sucujaque, em 8 e 9 de Abril de 2012, enquanto em Bissau decorria o golpe de Estado. 
Fotografia cedida por Lúcia Bayan, investigadora do povo Felupe, a quem agradecemos a gentileza.


Imagens tiradas de As comunicações e os aproveitamentos hidráulicos da Guiné, Angola e Moçambique, Agência-Geral do Ultramar, 1961.
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Nota do editor

Poste anterior de 8 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19481: Notas de leitura (1148): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (72) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 11 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19490: Notas de leitura (1149): O litígio entre Portugal e a ONU (1960-1974), por António Duarte Silva; Revista Análise Social, n.º 130, 1995 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19497: Parabéns a você (1574): António Eduardo Carvalho, ex-Cap Mil Inf, CMDT da CCAÇ 3 e da CCAÇ 19 (Guiné, 1974) e José Maria Pinela, ex-1.º Cabo TRMS do BCAV 3846 (Guiné, 1971/73)

Guiné 61/74 - P19498: Os nossos seres, saberes e lazeres (308): Viagem à Holanda acima das águas (12) (Mário Beja Santos)

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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
Como em muitos outros aspetos da vida, na Arte os gostos não se discutem. Mas há o reconhecimento das figuras geniais, daí esta visita ao museu de Haia ter que atrair obrigatoriamente o que ele oferece da obra de Piet Mondrian, é um acervo sem paralelo.
Há uns tempos fora visitar no Museu Coleção Berardo uma exposição intitulada "Linha, Forma e Cor". Ali aparece Mondrian e outros contemporâneos como Albers e Malevich. Na brochura distribuída alude-se claramente a que Mondrian foi reduzindo progressivamente o seu vocabulário formal até restar um sistema de cores primárias, neutras e linhas horizontais e verticais, era assim que ele procurava um equilíbrio dinâmico.
Um museu cheio de obras de arte, após a veneração dos trabalhos de Mondrian e dos seus colegas do movimento De Stijl, o viandante vai à procura de mais surpresas e vai mostrá-las a quem o segue por esta Holanda acima das águas.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (12)

Beja Santos

O viandante tem razões fundadas para vir a este museu de Haia venerar, deslumbrar-se, tonificar-se com as obras incomparáveis de Piet Mondrian, reconhecido, no mínimo, como um dos artistas fundamentais do século XX. O Gemeente Museum de Haia tem o maior depósito mundial das suas obras, é impensável querer estudar o movimento De Stijl e a obra de Mondrian sem aqui pôr os pés. Foi um grupo espantoso, revolucionou linhas, formas e cores, muitos deles traziam a aprendizagem do naturalismo, do pós-impressionismo e do simbolismo, avançaram para uma nova linguagem de abstração, modificaram conceitos de tal forma abrangentes na arquitetura, no mobiliário, no design de interiores, que implicaram novos movimentos, que chegaram ao presente. Quando vemos as obras de Daciano Costa, Souto Moura ou Siza Vieira, é obrigatório retornar a este grupo De Stijl que impôs uma formulação de trabalho artístico total – arquitetura, arte, design, mobiliário – formavam um todo.

Cadeira vermelha e azul, de Gerrit Rietveld, 1918.




São imagens de trabalho artístico total, uma nova dinâmica cheia de vitalidade e esperança, representações otimistas e idealistas acerca da vida, a I Guerra Mundial já fazia parte do passado. O arquiteto H. P. Berlage apoiava este novo ideário, não será por acaso ele o responsável por toda esta construção admirável que é o Gemeentemuseum. Berlage era para os artistas do De Stijl um ponto de referência, daí o todo o sentido que faz edifício e trabalhos artísticos do movimento terem ficado neste diálogo. Olham-se estas obras e sente-se a inovação impulsionada por gente como Piet Mondrian e Van Doesburg.




Piet Mondrian (1872-1944) foi a figura determinante do movimento. O seu percurso até chegar à abstração recorda-nos imediatamente os génios de Braque e Picasso: partiu dos movimentos da época do fim do século, foi professor, em Paris sentiu-se atraído pelo cubismo e ainda não tinha 40 anos quando se operou a transformação radical, ele irá teorizar um novo grafismo feito de horizontais e verticais, planos e cores. Tornou-se fundador de arte abstrata com as suas composições onde primam o cinzento, o azul, o amarelo, o preto e o vermelho.

Material de trabalho de Piet Mondrian.




Na Alemanha, os dirigentes nazis declararam Mondrian como ligado à “arte degenerada”, apercebendo-se de que tinha o seu trabalho em risco, parte para Londres e depois para Nova Iorque, onde irá falecer. Percorre-se a sua exposição permanente e podemos seguir o seu itinerário na Academia Nacional de Arte, os seus trabalhos inspirados por temas campestres, florestas e moinhos, a sua evolução em Paris, no período efervescente que precede a guerra e onde Mondrian se sente atraído pelo cubismo, o seu regresso à Holanda onde se irá ligar ao grupo do De Stijl, o regresso a Paris onde ele vai repudiar em definitivo a pintura figurativa, adotando as linhas geométricas e uma paleta de cores, hoje mundialmente famosa. Quem quiser saber mais sobre Mondrian e De Stijl tem o site www.mondriaan.nl/en, aqui estão os temas essenciais, inclusivamente a importância que tiveram as suas linhas, formas e cores que entusiasmaram costureiros famosos como Hermès e Yves Saint Laurent.


É um grande museu, as surpresas não ficam por aqui, vamos ver um núcleo permanente de grandes artistas e dar uma olhada pelas exposições, então a ocorrer. Até breve.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19484: Os nossos seres, saberes e lazeres (307): Viagem à Holanda acima das águas (11) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19499: Parabéns a você (1575): António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250 (Guiné, 1972/74) e Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 1426 (Guiné, 1965/67)

Guiné 61/74 - P19500: Blogpoesia (608): "Árvore do amor...", "Chuvas de Lisboa" e "O final da tarde...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Árvore do amor…

Árvore do amor…
A vida é um bosque extenso e longo,
De árvores com muitos ramos.
Não é o sol que a alimenta.
É o amor divino.
Que não nasce e se põe
Em cada dia.
Ele está presente ao centro,
Em cada hora
e cada momento.
Não vem de longe,
Nem vem do alto,
Está cá dentro.
Ele mora connosco
Se O deixarmos entrar.
Seu mandamento não é jamais
Que O amemos sobre tudo e todos… 
É que O deixemos amar-nos.
Antes de tudo e todos.
Tudo o mais será com Ele.
Sua lei não é a Justiça…
Mas sua misericórdia.
Um mar imenso,
Um mar de amor,
Onde ninguém naufraga.
Uma grande árvore.
Com muitos ramos.

Mafra, 29 de Setembro de 2014
7h43m
O dia nascendo com sol e neblina
Jlmg

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Chuvas de Lisboa

Escorrem pelas ruas as águas de Inverno.
Saíram do armário as gabardinas e, sorumbáticos, caminham pelos passeios os guarda-chuvas.
Adeus aos sapatos de tacão alto.
É a altura das solas espessas e dos cachecóis.
Chegou, de vez, o frio e a chuva grossa.

Desertas as esplanadas, ficam a abarrotar de gente os cafés, saboreando suas bicas.

Pendem molhadas as cortinas de plástico sobre os escaparates de revistas e jornais.

Pelos jardins esperam, sozinhos, todos os bancos, pelas horas de sombra seca.

Escorrem cheios dos telhados os beirais e algerozes
E, desvairadas, fazem rios as valetas.

Inconformados com tanta água, só se ouvem lamentos e suspiros pelo chegar da Primavera.

Ouvindo Cantiga do Maio - Carlos Paredes
Berlim, 13 de Fevereiro de 2019
9h9m
Jlmg

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O final da tarde…

Experimento a luz escassa
Do anoitecer.
Ardem-me os olhos de Tanto ver,
Sem nada ver.
Perpassa-me na mente, às cegas,
O terrível pavor das madrugadas.
De todo o lado,
Chegam fantasmas mortos
De hora a hora.
Num cortejo incessante
E prepotente.
Vêm extorquir-me a pouca paz
Que consegui no dia,
A troco de promessas falsas
Nunca cumpridas.
Jazem mortos os mortos debaixo das pedras.
E os cães danados
Soltam vagidos.
Me arremessam pedradas,
À falsa fé, os maus amigos.
E, nas horas mortas,
Vibram facadas vis,
Donde menos se espera.
É o final da tarde horrenda do abandono.
Quando, cá dentro, tudo apagou
E já nada arde.

Mafra, 25 de Outubro de 2014
0h58m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19487: Blogpoesia (607): "Nevoeiro em Lisboa", "Lapinho de carvão" e "Passear por Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19501: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XIII: cap inf António Afonso Silva Vigário (Estarreja, 1936 - Vale do Vamba, Quitexe, Angola, 1964)

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1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia).

Guiné 61/74 - P19502: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte III: O meu cão Toby, que fez comigo uma comissão no CTIG, e que será depois ferido em combate no Cantanhez

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N/M Quanza > 10 de janeiro de 1964 > O cão Toby, pertencente do alf mil inf João Sacôto, da CCAÇ 617, foi uma das estrelas da companhia...e efz uma comissão no TO da Guiné onde será ferido em combate...Embarcou no dia 8 de janeiro de 1964 e desembarca em Bissau a 15, juntamente o pessoal do BCAÇ 616 e as suas subunidades de quadrícula: CCAÇ 616, CCAÇ 617 e CCAÇ 618;O Diz o dono, orgulhos: "O meu cão o Toby seria mais tarde ferido em combate durante uma operação no Cantanhez, uma bala prefurou-lhe a barriga, foi tratado e recuperou".



Guiné > Bissau > Quartel General > s/d > c. 1964 > O alf mil João Sacôto e o seu companheiro, o cão Toby, ante de partirem para Catió.



Guiné >1964 > CCAÇ 617 > O Toby, a caminho de  Catió.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 > c. 1964 > O alf mil João Sacôto e o seu  cão Toby,  na hora da higiene.


Guiné > Região de Tombali > Cachil , Ilha do Como  CCAÇ 617 >  s/d > O Toby nstrada de acesso ao cais no Cachil, Como.

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O João Sacôto {, João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, de seu nome completo,] foi alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66). Trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC [Direção Geral de Aeronáutica Civil]. Foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

Estudou no Instituto Superior de Ciencias Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG) . Andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente. É natural de Lisboa. É casado. Tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas. É membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011.

Continuação da publicação do seu álbum fotográfico: no poste anterior publicámos algumas fotos da chegada a Bissau, em 15/1/1964. Aqui esteve cerca de 2 meses, na dependência do BCAÇ 600. Parte da companhia ainda irá participar na Op Tridente, na ilha do Como (jan-março de 1964).

Neste poste mostram-se algumas fotos do valenet Toby,que será, no regresso, tratado como um herói pelo "Diário de Notícias", de 2/3/1966 (Poste a publicar oportunamente, na série "Recortes de Imprensa").


Guiné 61/74 - P19503: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXII: Memórias do Gabu (I)

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F11  > Nova Lamego > Novembro de 1967 > Passeio de bicicleta com a malta, numa tarde de Domingo. Estava eu agarrado à árvore, a seguir o Furriel Carvalho – que ficou ferido num dedo e mais tarde passou a fazer parte da ADFA no Porto – a seguir o Furriel Enfermeiro – Carlos Veiga, com camisa aos quadrados, e que foi mais tarde, já na peluda, médico, entretanto já falecido infelizmente -, depois outro Furriel que não me lembro do nome, um homem civil, talvez militar, e sentado o ex-alferes Figueiredo, natural da Guiné, onde tinha já mulher e filhos, bem como os pais e o seu negócio de família, que não sei qual é. Este edifício pertencia naturalmente às instalações da tropa, mas não estou certo.


Foto nº 6 > Nova Lam,ego > Outubro de 1967 > Um passatempo nos primeiros tempos no Clube do Gabu. Talvez numa tarde de domingo, no café Clube do Gabu, com os meus amanuenses, os primeiros cabos Seixas – ao meio – e Horta no extremo esquerdo.  


F15>  >  Nova Lamego > Janeiro-Fevereiro de 1968 > .Numa Tabanca dos arredores, com uma criança mestiça. 


F09 >Nova Lamego >  Dezembro de 1967.  Na minha motorizada e os meus amigos, as crianças da terra. Já na posse da minha motorizada Peugeot, mandada vir de Bissau, era o centro das atenções daquela passarada pois todos queriam andar de mota. Dei muitos passeios por aquelas ruas poeirentas, e dei alguma alegria à miudagem.


F10 > Nova Lamego > Dezembro de 1967. Na prova do rancho geral, como era hábito... Era hábito a prova do rancho, antes de ser servido no refeitório geral, com este aparato todo. Só que era o ‘Oficial de Dia’ que fazia a prova, e eu não estou de abraçadeira, não era o meu dia, mas por vezes provava e acabava por comer no refeitório com os soldados, por ser melhor que na nossa messe, pois sempre sabia de antecedência o que era servido nesse dia.


Foto nº 1 > Região de Gabu > Novembro de 1967 > Placa de identificação de distâncias. Não sei o seu local desta placa, estiu junto com o soldado condutor Pita, numa saída para algum sítio. Pelas distâncias indicadas, estávamos s 30km de Nova Lamego.


F02 > Nova Lamego > Dezembro de 1967 >  Casa de pasto, ‘ O Geraldes’.  Pode ver-se o Geraldes, com o ‘macaquinho’ , ao lado dele, um homem civil, em pé o Sargento Parracho (acho que era de Aveiro) e tinha chegado da Madina do Boé, era da CCAÇ 1589, e lá vinha com os seus ‘Autos de Destruição’ para serem aprovados.


Foto nº 3 >  Nova Lamego > Outubro de 1967 > As lavadeiras do rio na Fonte de Nova Lamego. Neste local por mim muitas vezes visitado, estavam as nossas lavadeiras no rio, junto à Fonte, na sua faina de tratar das nossas roupas, e sempre com um sorriso aberto que nos dava boa disposição. Quer com top, ou sem top.


F05 > Bafatá > Outubro e 1967 > Imagem de uma Bolanha nos arredores de Bafatá.


F07 >  Nova Lamego > Novembro de 1967 > Na entrada da Escola Primária do Gabu. Uma visita à escola, na companhia do meu camarada ex-alf Mesquita das Transmissões.


F08 > Nova Lamego > Novembro de 1967 > Uma das ruas principais, com casas modernas de habitação. A rua ainda era de terra batida, mas notava-se já um movimento de construção nova, quer para residência das populações locais, ou para arrendamento como cheguei a ouvir.


F12 > Nova Lamego > Fevereiro de 1968  Treino de Jeep pertencendo ao Pelotão de Morteiros. Passeio de Jeep na Avenida General ‘Arnauld Schulz’, a ver a minha condução o alferes Azevedo, junto à sua moradia, denominada a ‘Tabanca do Morteiros’ .  O Azevedo era de Évora ou Beja, já não me lembro, o meu melhor amigo na tropa, e nunca mais o vi depois de deixar Nova Lamego.


F14 > Nova Lamego > Dezembro de 1967 > Junto ao Posto de Transmissões, com a mascote deles – o macaco. Foto na porta de acesso ao ‘estaminé’ das Transmissões, do qual era responsável o meu também amigo alferes Mesquita. O Macaco era a sua mascote, não me dava lá muito bem com esta bicharada, não sei se foi ele que me pegou a praga de piolhos.


F15 >  Nova Lamego > Janeiro-Fevereiro de 1968 > .Numa Tabanca dos arredores, com uma criança mestiça. Como andava muitas vezes pelas tabancas, tinha muitas amizades com a população, dava alguma coisa, tirava fotos com as bajudas e mulheres, depois levava uma cópia para eles, eu dava-me bem naquele ambiente sem medo, sem stress. Esta criança logo se vê que é filho de mãe preta e pai branco, não sei os pormenores, eram assuntos naquela altura muito tabus, perguntar estas coisas. Deve estar um homem, espero que não tenha ido para a guerrilha! Foto captada em Nova Lamego, durante os meses de

Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)


CTIG/Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T064 – IMAGENS DO GABU – NOVA LAMEGO



PARTE I


I - Anotações e Introdução ao tema:

Devido ao interesse que tem suscitado a ‘Princesa do Gabu’, e para juntar às muitas que já existem, é com muito gosto venho enviar para Postar, mais algumas fotos de Nova Lamego (Gabu) dos tempos de 1967/68 (Período de 23set67 a 26fev68).

Esta será a PARTE I – também escolhidas ao acaso, sem tema especial que não seja mostrar como era a Nova Lamego do meu tempo, não dos anos seguintes, que já não a conheci.

Espero e desejo que agradem, pois a falta de qualidade é uma constante.

II - Legendas das fotos:


F01 – Placa de identificação de distâncias, que não sei o seu local. Esta placa junto com o soldado condutor Pita, numa saída para algum sítio, fizemos esta foto.

Pelas distâncias indicadas estamos a 30 km de NL (Gabu). Podia ser em Piche, mas não é, pois Piche fica a 60 Km. Também não é Bafatá porque eram 57 km, fico portanto em grandes duvidas, pode ser noutra das muitas localidades, que não consta aqui na placa. Qual será?... Foto captada no sector de Nova Lamego, em Novembro de 1967.

F02 – Casa de pasto, tasca, um local de comer, ‘ O Geraldes’. Pode ver-se o Geraldes, com o ‘macaquinho’ , ao lado dele, um homem civil, em pé o Sargento Parracho (acho que era de Aveiro) e tinha chegado da Madina do Boé, era da CCAÇ1589, e lá vinha com os seus ‘Autos de Destruição’ para serem aprovados. Foto captada em Nova Lamego, em Dezembro de 1967.

F03 – As lavadeiras do rio na Fonte de Nova Lamego. Neste local por mim muitas vezes visitado, estavam as nossas lavadeiras no rio, junto à Fonte, na sua faina de tratar das nossas roupas, e sempre com um sorriso aberto que nos dava boa disposição. Quer com top, ou sem top. Foto captada em Nova Lamego, em Outubro de 1967.

F04 – Mulheres locais junto à estrada com os seus cestos à cabeça. Uma imagem usual, com cestos, na berma da estrada, e um Unimog parece que na sua direcção. Uma curiosidade, sempre que olho para esta foto, consigo imaginar como se fosse uma montagem, a cara e cabeça de Fidel Castro, junto à mulher da frente. Ilusão apenas. Foto captada em Nova Lamego, em Outubro de 1967.

[Foto não publicada por falta de qualidade...]

F05 – Imagem de uma Bolanha nos arredores de Bafatá. Numa ida a Bafatá, tive a oportunidade de tirar esta imagem, uma bolanha (de arroz) ainda nem sabia nessa altura o que era uma Bolanha! Foi tirada com menos de um mês de Guiné. Foto captada em Nova Lamego, em Outubro de 1967.

F06 – Um passatempo nos primeiros tempos no Clube do Gabu. Talvez numa tarde de Domingo, no café Clube do Gabu, com os meus amanuenses, os 1ºs cabos Seixas – ao meio – e Horta no extremo esquerdo. Foto captada em Nova Lamego, em Outubro de 1967.

F07 – Na entrada da Escola Primária do GABU. Uma visita à escola, na companhia do meu camarada ex-alf Mesquita das Transmissões. Foto captada em Nova Lamego, em Novembro de 1967.

F08 – Uma das ruas principais, com casas modernas de habitação. A rua ainda era de terra batida, mas notava-se já um movimento de construção nova, quer para residência das populações locais, ou para arrendamento como cheguei a ouvir. Foto captada em Nova Lamego, em Novembro de 1967.

F09 – Na minha motorizada e os meus amigos, as crianças da terra. Já na posse da minha motorizada Peugeot, mandada vir de Bissau, era o centro das atenções daquela passarada pois todos queriam andar de mota. Dei muitos passeios por aquelas ruas poeirentas, e dei alguma alegria à miudagem.
Não sei identificar com exactidão o local, mas deve ser na periferia, numa zona pobre pela qualidade das tabancas e moranças, e pelas ‘vestes’ dos miúdos, em tanga. Ainda aparecem na foto os meus amigos cães rafeiros, que pelos vistos ainda não eram os meus piores inimigos, como são hoje. Não nos entendemos. Foto captada em Nova Lamego, em Dezembro de 1967.

F10 – Na prova do rancho geral, como era hábito. Era hábito a prova do rancho, antes de ser servido no refeitório geral, com este aparato todo. Só que era o ‘Oficial de Dia’ que fazia a prova, e eu não estou de abraçadeira, não era o meu dia, mas por vezes provava e acabava por comer no refeitório com os soldados, por ser melhor que na nossa messe, pois sempre sabia de antecedência o que era servido nesse dia. Foto captada em Nova Lamego, em Dezembro de 1967.

F11 – Passeio de bicicleta com a malta, numa tarde de Domingo. Estava eu agarrado à árvore, a seguir o Furriel Carvalho – que ficou ferido num dedo e mais tarde passou a fazer parte da ADFA no Porto – a seguir o Furriel Enfermeiro – Carlos Veiga, com camisa aos quadrados, e que foi mais tarde, já na peluda, médico, entretanto já falecido infelizmente -, depois outro Furriel que não me lembro do nome, um homem civil, talvez militar, e sentado o ex-alferes Figueiredo, natural da Guiné, onde tinha já mulher e filhos, bem como os pais e o seu negócio de família, que não sei qual é. Este edifício pertencia naturalmente às instalações da tropa, mas não estou certo. Foto captada em Nova Lamego, em Novembro de 1967.

F12 – Treino de Jeep pertencendo ao Pelotão de Morteiros. Passeio de Jeep na Avenida General ‘Arnauld Schulz’, a ver a minha condução o alferes Azevedo, junto à sua moradia, denominada a ‘Tabanca do Morteiros’ .  Azevedo era de Évora ou Beja, já não me lembro, o meu melhor amigo na tropa, e nunca mais o vi depois de deixar Nova Lamego. Que raio de amigos são estes? Perdemos o rasto um do outro, ele era mais antigo lá, eu saí de NL, ele ficou, e foi para a Metrópole muito antes de mim e do meu batalhão. Comi lá bons petiscos, que ele fazia e mandava fazer. Esta foi das últimas fotos tiradas com ele, pois foi no mês em que vim embora do Gabu. Foto captada em Nova Lamego, durante o mês de Fevereiro de 1968.

F13 – A cavalgada dos ‘Sete Magníficos’ no terreiro do Gabu, Faroeste da Guiné. Um dia compramos uma vaca – monte de ossos – para tirar a barriga de misérias, e então a entrada magistral da minha cavalgada, tipo Cowboy americano, e com os bandidos ao lado. Até tinha a carabina usada pelo Xerife lá do sítio. Uma coboiada do carago, não sei como ficou o petisco, mas foi diferente, digo eu. Foto captada em Nova Lamego, em Dezembro de 1967.

[Foto não publicada por falta de qualidade]

F14 – Junto ao Posto de Transmissões, com a mascote deles – o macaco. Foto na porta de acesso ao ‘estaminé’ das Transmissões, do qual era responsável o meu também amigo alferes Mesquita. O Macaco, era a sua mascote, não me dava lá muito bem com esta bicharada, não sei se foi ele que me pegou a praga de piolhos. Foto captada em Nova Lamego, em Dezembro de 1967.

F15 – Numa Tabanca dos arredores, com uma criança mestiça. Como andava muitas vezes pelas tabancas, tinha muitas amizades com a população, dava alguma coisa, tirava fotos com as bajudas e mulheres, depois levava uma cópia para eles, eu dava-me bem naquele ambiente sem medo, sem stress. Esta criança logo se vê que é filho de mãe preta e pai branco, não sei os pormenores, eram assuntos naquela altura muito tabus, perguntar estas coisas. Deve estar um homem, espero que não tenha ido para a guerrilha! Foto captada em Nova Lamego, durante os meses de Janeiro-Fevereiro de 1968.

 «Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».

NOTA FINAL DO AUTOR:

# As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir. Nada mais. #

Acabadas de legendar, hoje,

Em, 2018-02-05

Virgílio Teixeira
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19448: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXI: As colunas para o sudoeste do setor: Bafatá, Fá Mandinga e Bambadinca, eram mais de 200 km, ida e volta

Guiné 61/74 - P19504: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (10): Porto Gole: homenagem aos portugueses que aqui chegaram antes de nós, há mais de 5 séculos e meio...

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Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 14 de fevereiro de 2019


Foto nº 1A > Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 14 de fevereiro de 2019


Foto nº 2A  > Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 14 de fevereiro de 2019


Foto nº 2 >  Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 14 de fevereiro de 2019


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 14 de fevereiro de 2019


Foto nº 3A > Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 14 de fevereiro de 2019


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 14 de fevereiro de 2019


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 14 de fevereiro de 2019


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 14 de fevereiro de 2019

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2019) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amaigo e camarada Patrício Ribeiro, empresário (Impar Lda), que vive entre Águeda e Bissau, e que tem vindo a fotografar os restos dos cacos do nosso império na pátria de Amílcar Cabral:

[Patrício Ribeiro é um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

De: IMPAR Lda energia
Enviado: 14 de fevereiro de 2019 08:01
 Assunto: Portogol (fotos)

Bom dia, desde Bissau

Não sei se estes, quando aqui chegaram no ano de 1456, também tiraram uma foto.

Ao que parece chegaram um pouco antes de nós.

Para os outros que por aqui andaram, envio fotos com o cheiro do capim e da lama.

Como este meu texto é curto, cortem a palha e cubram o resto da casa, com os vossos comentários.

PS - A pedra do monumento [, inaugurado em 1946, no âmbito do 'V Centenário do Descobrimento da Guiné', sendo governador-geral Sarmento Rodrigues]  é boa para afiar catanas.

Abraço
Patrício Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guine Bissau
Tel,00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com
______________

Nota dos editores:

Último poste da série > 1 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18886: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (9): Bolama e a Fonte Nova de São João (1945)

Guiné 61/74 - P19505: Notas de leitura (1151): Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green; Hurst & Company, London, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Outubro de 2016:

Queridos amigo,
Tanto quanto sei, é a mais importante obra publicada neste ano de 2016 sobre a Guiné-Bissau por investigadores internacionais credenciados. Toby Green, do King's College de Londres, assume a homenagem a Patrick Chabal, um dos biógrafos de Amílcar Cabral, organizando um conjunto de valiosos ensaios onde a etnicidade, a fragilidade do Estado, as instituições coloniais e pós-coloniais, as manifestações de crise e o impacto do Narco-Estado e os riscos e ameaças que pendem nos países da sub-região.
Os investigadores aceitaram este desafio da complexidade, na interseção do colonial com o pós-colonial e o resultado salta à vista: um documento poderoso, incontornável, sobre a Guiné-Bissau do nosso tempo.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau: de Micro-Estado a Narco-Estado (1)

Beja Santos

Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’, por Patrick Chabal e Toby Green, Hurst & Company, London, 2016, é constituído por um acervo de estudos dedicados à memória de Patrick Chabal, falecido em Janeiro de 2014, e que idealizou até ao fim dos seus dias a organização desta obra com Toby Green. Obra constituída por três partes (fragilidades históricas; manifestações da crise e consequências políticas da crise) convocou nomes importantes da historiografia da Guiné-Bissau no plano internacional como Toby Green, Joshua B. Forrest, Philip J. Havik, entre outros. O livro inclui glossário e acrónimos, dados biográficos de personalidades influentes, sinopse de acontecimentos relevantes e biografia dos investigadores.

Toby Green contextualiza a natureza do trabalho, a natureza da sua instabilidade, as suas implicações no tráfico das drogas e a necessidade de estudar a Guiné-Bissau para compreender o país como um estado da África pós-colonial, com outras questões implicativas como seja a instabilidade da Guiné face às questões da segurança global e quais as condições necessárias para que a Guiné-Bissau encontre estabilidade. E lança algumas reflexões para se entender a especificidade do país: a singularidade do caso humano nas suas etnias e línguas e como se dispõe pelo território; o facto de durante muitos séculos o país ter sido um espaço para interações e cruzamentos culturais; a situação de que os navegadores portugueses aportaram à região quando os Mandingas do Mali eram um império e como a região veio a fazer parte da poderosa federação; a geografia do país concorreu para tornar os povos da região um refúgio seguro das incursões do império do Mali nomeadamente nos séculos XIII e XIV; uma multiplicidade de fatores concorreu para tornar estes povos hostis a um qualquer poder centralizador; a investigação permite encontrar linearidade endémica para cooperação étnica nas fases pré-colonial, colonial e pós-colonial.

O falhanço económico-financeiro guineense pós-independência convidou a que o país ficasse convidativo para o tráfico de drogas, mormente da Colômbia. A Guiné-Bissau tornou-se um ponto de chegada e distribuição, neste comércio se envolveram importantes figuras militares, políticos e distribuidores. Toby Green tece uma detalhada observação sobre a tragédia do Narco-Estado, não deixando, porém de recordar que o país tem ainda disponibilidade para soluções no quadro do desenvolvimento, do emprego e da criação de riqueza atendendo às potencialidades agrícolas, florestais e píscolas.

Estamos agora na primeira parte, a dimensão da etnicidade histórica. As categoria étnicas do período pré-colonial estão hoje muito melhor identificadas e permitem apurar que esses povos foram manifestamente relutantes ao poder imperial, celebraram casamentos mistos e cooperaram até na criação de novas povoações, aceitando-se nas suas diferenças. O período colonial, até ao século XIX, não afetou a essência destas linhagens das comunidades rurais, o colono ou o negreiro contratavam a compra de escravos ou de mercadorias com um régulo, não faziam incursões para ocupar território; a situação agudiza-se com um comércio que se intensifica, com a chegada de um funcionalismo, a montagem de uma administração, a imposição de impostos, tudo contribuiu para que o alargamento de influência do poder colonial gerasse tumulto na ordem estabelecida, mas a identidade étnica manteve-se, os agricultores continuaram a agricultar e a vender livremente; a “pacificação”, a obra brutal de Teixeira Pinto, modificou superficialmente as regras do jogo; um dos investigadores desta obra, Philip Havik, mostra claramente como os negócios da CUF através da Sociedade Ultramarina, Barbosa & Comandita e Casa Gouveia se processavam num certo enquadramento administrativo e havia as tensões dos preços mas os comerciantes também tinham a noção de que os agricultores podiam ir vender os seus bens no Casamansa ou na Guiné Francesa.

As comunidades rurais não só não esqueceram o legado de violência que acompanhou a pacificação como, após a independência, manifestaram relutância ao novo poder que rapidamente sentiram como uma extorsão nos preços, na ameaça de impostos, tudo isto acrescido do facto da etnia Balanta, o principal aliado de Amílcar Cabral, ter passado a sinónimo de repressor militar. O contexto é complexo nas suas envolventes: a rejeição cabo-verdiana pelos guineenses, estes sempre encarados com agentes da potência colonial, a permanente suspeita, durante a luta armada, que entendeu sobre os líderes cabo-verdianos do PAIGC. Nessas mesmas comunidades rurais a cooperação multissecular impediu conflitos religiosos, de uma parte etnias como os Felupes, os Balantas, os Bijagós e os Manjacos eram animistas e impermeáveis às regiões monoteístas, de outra parte os Fulas e os Mandingas e o seu proselitismo, aliás bem-sucedido, foram estendendo a sua influência e catequisando Beafadas, povos do Oio, entre outros. Mesmo durante o período colonial e até à luta armada as migrações processavam-se com grande tranquilidade e diálogo. No período pós-colonial, os líderes políticos promoveram os interesses da família e da etnia, tal o poder dos vínculos, esta atração da etnicidade acabou por concorrer para que o Estado fosse volátil.

Joshua Forrest analisa as instituições políticas dos períodos colonial e pós-colonial. Começa por observar que em muitos aspetos a Guiné Portuguesa tinha um modelo do governo típico, era muito semelhante ao de outras colónias: cordão umbilical com a metrópole; uma administração com profissionais preparados ou aprovados por Lisboa e que fundamentalmente se orientava para o desenvolvimento de infraestruturas que servissem para o aproveitamento dos recursos agrícolas para exportação, com esse mapa de estradas era mais fácil recolher os impostos para suportar a burocracia colonial.

Contudo, a Guiné era um apêndice burocrático de Cabo Verde, daqui vinham os mais qualificados funcionários, até porque os metropolitanos temiam o clima inóspito. Foi este o Estado que herdou o PAIGC, não trazia quadros da altura, Bissau era uma tentação, tinha ruas alcatroadas e comércio, casas com água canalizada, um porto bem apetrechado, um aeroporto moderno, hospital, instalações adequadas para ali montar ministérios incipientes. Ninguém deu ouvidos às advertências de Cabral que propunha a regionalização e reduzir o significado de Bissau. Criou-se uma administração empolada e impreparada, desenvolveu-se o amiguismo, montaram-se negócios à volta da ajuda internacional, desviou-se de dinheiro para pagar os salários dos professores para satisfazer outras necessidades. Joshua Forrest explana sobre a política cultural, as Forças Armadas, os equívocos à volta da figura do Presidente, a ascensão dos militares ao poder, para concluir sobre a fragilidade do Estado, as disfunções da burocracia governamental e a anomia da própria justiça. A Guiné-Bissau nunca julgou em tribunal um só conspirador, um assassínio político, um ministro corrupto. Ninguém acredita nas leis do Estado.

A capa do livro é elucidativa da anomia, do equívoco e da desmemória a que está entregue a Guiné-Bissau: vemos a estátua de bronze de Amílcar Cabral jazente num camião militar onde está há mais de uma década.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19496: Notas de leitura (1150): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (73) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19506: Fotos à procura de... uma legenda (113): Onde é que estava o fotógrafo, há mais de 50 anos, num dia qualquer de novembro de 1967, a 30 km de Gabu-Sará (Nova Lamego),a 60 km de Piche, a 90 km de Canquelifá e a 55 km de Cabuca ?

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Região de Gabu > Novembro de 1967 > Sinaliação de trânsito: placa de confirmação de localidades  e distâncias quilométricas. O autor (à direita) não sabe  o local onde foi tirada a foto.  à esquerda com o soldado condutor Pita, numa saída para algum sítio. Pelas distâncias indicadas, estes dois camaradas estavam s 30 km de Nova Lamego.




Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > c. set/out 1967 > Tabuleta com as indicações das distâncias, para Sul, Norte e Leste, localizada numa das saídas / entradas de Nova Lamego. Bafatá para sudoeste a mais longa, com 53 kms, e temos de juntar mais cerca de 60 dali até ao porto fluvial e depósito da Intendência em Bambadinca

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné > Região de Bafatá > Contuboel> Centro de Instrução Militar de Contuboel > CCAÇ 2479 / CART 11 (1968/69) > Um instruendo, de etnia fula, cuja identificação se desconhece... A placa rodoviária assinala alguns das povoações, mais importantes, mais próximas: Ginani (17 km), Talicó (22 km), Canhamina (27 km), Fajonquito (30 km), Saré Bacar (39 km), Farim (96 km)...

Contuboel chegou a funcionar como importante centro de instrução militar, no início da política da africanização do Exército Português, no 1º semestre de 1969. Em data que não posso precisar, esse centro acabou por ser transferido para a ilha de Bolama, aparentemente mais segura. Em junho de 1969, Contuboel era descrita como um "oásis de paz", pelo nosso editor Luís Graça e nela dava-se formação às futuras CCAÇ 11 e 12 e a um grupo de combate da futura CCAÇ 14.

Foto ( e legeenda) © Renato Monteiro (2007).  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região do Oio > Mansoa > 1968 > Um periquito do coração da Guiné, o Alf Mil Raposo, da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (1968/70),  junto à placa toponímica que indivaca as localidades mais próximas: para oeste, Nhacra (a 28 km), Bissau (a 49 km)...; para leste, Enxalé (a 50 km), Bambadinca (a 65 km), Bafatá (a 93 km)...

Foto (e legenda) ©  Paulo Lage Raposo (2007).  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região do Oio > Mansoa > Jugudul> 1969 > O alf Mil Aires Ferreira, em Jugudul, a 4 Km de Mansoa, na estrada Bissau-Bafatá. A placa quilométrica assinalava as distâncias para os principais povoações, a leste de Mansoa/Jugudul: Bindoro: 10 km; Porto Gole: 25 km; Enxalé: 47 km; Bambadinca: 62 km; Bafatá: 90km... O troço estava interdito, nessa altura, pelo menos até Porto Gole...e daqui até Bafatá. Um estrada, alcatroada, esteve em construção, até Bambadinca, nos últimos anos da guerra.

Foto (e legeenda) ©  Aires Ferreira  (2006).  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Onde é que estava o fotógrafo, no caso da primeira foto de cima, da autoria do Virgílio Teixeira ? 

Ele já não se lembra da localização exata...  Vamos ajudá-lo a melhor legendar a foto... Sabemos que foi em novembro de 1967, na região de Gabu... Nesse ponto exato, ele e o seu companheiro, o condutor da viatura, extavam a:

30 km de Gabu Sará (mais tarde, passou a chamar-se Nova Lamego);
60 km de Piche;
90 km de Canquelifá;
97 km de Buruntuma;
55 km de Cabuca;
(?) km de Madina do Boé [, o carregador da G3 parece ter tapado essa informação; de qualquer modo de Nova Lamego a Madina do Boé eram 65 km]

Ver aqui o mapa da província da Guiné (1957), à escala de 1/500 mil...

De qualquer modo, este "sinal de confirmação" das localidades mais próximas e da sua distância quilométrica, devia estar, não no meio do mato, mas numa locadalidade relativamente importante (sede de circunscrição, posto administrativo, etc.).

Contamos com mais pistas a fornecer pelos nossos queridos leitores...

2. Já agora voltam a reproduzir-se mais algumas fotos, do nosso blogue, semelhantes, de diferentes regiões: Gabu, Bafatá, Oio...

Não tenho a certeza, mas não deverá haver imagens com  sinais destes no sul da Guiné, no nosso tempo: região de Quínara e região de Tombali... Talvez por causa da guerra... Devem ter sido destruídos logo no início, tal como os postes de telefone e de telegrafia, as pontes, os pontões...

Não é preciso lembrar que a "nossa Guiné", até ao "consulado" do Spínola (1968-1973), tinha uma muito rudimentar rede rodoviária... As estradas eram "picadas", e o sistema de sinalização do trânsito  estava em conformidade com a rede rodoviária... Boa parte dos transportes (de Bissau, para o interior, o Norte, o Centro e o Sul) fazia-se de barco... As estradas ficavam intransitáveis na época das chuvas, de maio a outubro...

No nosso sistema de sinalização rodoviária, estes sinais (que não podem ser confundidos com "narcos quilométricos" ou "placas toponomicas") parece que se chamam "sinais de confirmação", (art. 40º do regulamento de sinalização do trânsito, Decreto Regulamentar n.o 22-A/98 de 1 de Outubro):

(...) L1 — sinal de confirmação: este sinal deve conter a identificação da estrada em que está colocado, bem como a indicação dos destinos e respectivas distâncias servidos directa ou indirectamente pelo itinerário, inscritos de cima para baixo, por ordem crescente das mesmas distâncias. Os destinos não directamente servidos pelo itinerário, bem como a distância a que se situam, devem ser inscritos entre parêntesis. (...) 


Um exemplo de um sinal de confirmação

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19493: Fotos à procura de... uma legenda (112) : Messe improvisada numa ponte em 26 de janeiro de 1968... Foto do Arquivo Mário Soares... Serão fuzileiros ? Que ponte seria esta ? (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P19507: Recortes de imprensa (102): "Diário de Notícias". 3/2/1966: o cão da CCAÇ 617. um bravo Boxer, que se bateu como um leão (João Sacôto / José Martins)

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Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > O valente Toby, um boxer... Ferido em combate, sobreviveu e regressou a casa com os seus "camaradas de guerra"... Infelizmente, e para grande desgosto do João Sacôto, teve de ser abatido por doença grave, infecciosa, contraída no TO da Guiné.  O João nunca mais voltou a ter um cão. "Amigo, guarda-costas, camarada"... são alguns dos epítetos que o seu dono a ele se referiu, em conversa que tivemos ao telefone... Acompanhou o João em diversas operações, e nunca o largava, nomeadamente quando o dono, sozinho, se embrenhava no mato para fazer as suas necessidades... Ficava de sentinela, não fosse o diabo tecê-las!... Um história, tocante, que faltava no nosso blogue...

Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]








Recorte do "Diárrio de Notícias", 3/2/1966



Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O Toby, junto com a malata da CCAÇ 617, desembarcando em Bissau,
em 15 de janeiro de 1964. Foto de João Sacôto (2019)
1. Mensagem de João Gabriel Sacôto Martins Fernande, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66),comandante da TAP reformado:

Data / Hora - 11/02, 14:45


Assunto - o meu cão Toby


Luis:

O meu cão Toby (*) era muito acarinhado pelo pessoal do batalhão [, o BCAÇ 619,] e famoso entre a população local de Catió. Regressou a Lisboa comigo, como documenta o "Diário de Notícias",  de 03/02/1966 (em artigo jornalisticamente trabalhado por excesso…) .

Acompanhou a companhia em algumas operações, assim como me fez companhia nos destacamentos que fiz em Ganjola e claro também nos acompanhou no último destacamento da CCAÇ  617 no Cachil, ilha do Como.

Quando foi ferido, durante uma das nossas operações [, no Cantanhez], não nos apercebemos da situação e foi só no dia seguinte que uma patrulha o avistou ao longe e estiveram a pontos de lhe dar um tiro, julgando tratar-se de uma gazela ou outro animal selvagem. Felizmente alguém gritou “Não atirem, é o Toby”. Encontrava-se quase desfalecido na berma da estrada já perto do quartel. A sua recuperação foi longa pois a sua fraqueza não lhe permitia nem levantar-se, nem alimentar-se normalmente. Foi recuperando as forças lentamente, alimentado com papas de farinha diluída em água que lhe ia dando com a ajuda de uma colher. 

Em boa verdade, ao contrário do que conta o jornalista, não foi operado, por decisão do nosso médico que achou ser preferível que as feridas com entrada e saída da bala fossem fechando lentamente e de dentro para fora, evitando uma infeção que poderia ocorrer, caso fosse suturado.

Um agradecimento ao José Martins. Um abraço, JS

2. Mensagem do nosso colaborador permanente, José Martins, em complemento da mensagem anterior:

Data - segunda, 11/02, 18:51


Assunto - O  “cão-praça Toby”

Não estranhem o título.

No tempo em que a cavalaria era a cavalo, que os oficiais de  infantaria se deslocavam em cavalos e a artilharia era de tracção  animal (solípedes), os animais eram considerados “cavalo-praça” a que
se seguia o seu número de ordem.

Tinham direito a uma verba para alimentação e, era corrente nos  jornais de localidades em que existiam regimentos, haver concursos  para “fornecimento de forragens e palha”.

Veio isto a propósito de um recorte de jornal, devidamente explicado,  publicado no Diário de Noticias de 2 de Fevereiro de 1966, há portanto  53 anos [, reproduzido acima

A história vai ser escrita/contada pelo Luís mas, não me escuso de  antecipar um comentário, com base na notícia e descrição feita pelo  Sacôto.

Se o Toby tivesse nascido na terra do Tio Sam, hoje teríamos, nos anais militares, a existência do “cão-praça Toby” com direito a verba para a alimentação e coleira e trela fornecida pelos Serviços de
Material, depois de confeccionada por algum Sargento Artífice Correeiro.

Como cita o tratador, o referido cão-praça foi ferido em acção de combate, tendo desaparecido no decurso dessa operação. Em situação normal, dentro da anomalia da guerra que todos vivemos, ao ser dado como desaparecido em combate, o mesmo teria sido objecto de menção na Ordem de Serviço e, provavelmente, os helis teriam levantado para “bater o terreno de operação”.

Como foi recuperado em condições físicas graves, teria direito a ser socorrido num hospital VET. Como caso raro, seria posteriormente recebido pelo General Comandante-chefe e Governador da Província, para lhe colocar numa “Casaca bordeada a ouro” que seria confeccionada numa
qualquer rua de Bissau, uma condecoração.

Digam lá: Era um grande Ronco, não era?


Gandabraço
Zé Martins


3. Nova mensagem do João Sacôto,  com data de 11/02/2019, 19:24  



Obrigado José Martins. Gostei.

O fim da historia é um pouco triste:

Alguns meses após o nosso regresso da Guiné, o Toby  adoeceu. A sua doença foi-se agravando até que o levei ao veterinário que lhe diagnosticou uma infecção generalizada do sangue derivado dos imensos ataques dos famigerados mosquitos da Guiné.

Por mais esforços que eu fizesse, tentando protegê-lo dos ataques que ocorriam durante a noite enquanto dormia, pela manhã, no lugar em que tinha estado deitado, era notável uma mancha de sangue, creio que dos mosquitos por ele esmagados quando em desespero se voltava no lugar que lhe servia de leito.

Sem condição de cura da enfermidade, fui confrontado com a solução posta pelo médico veterinário de pôr termo ao seu sofrimento, aplicando-lhe a eutanásia.

Foi para mim muito doloroso mas foi também um acto de solidariedade pondo fim ao sofrimento do “cão-praça TobY”, meu amigo e "camarada de armas”.

Um abraço, JS


_________________


Guiné 61/74 - P19508: In Memoriam (339): Jorge Rosales (1939-2019): morreu esta manhã o comandante, o cofundador e o régulo da Magnífica Tabanca da Linha

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Jorge Rosales (1939-2019. 
Foto de Manuel Resende (2017).

1. Acabamos de saber da triste notícia: morreu o nosso camarada, amigo, grã-tabanqueiro e régulo da Magnífica Tabanca da Linha, o Jorge Rosales... Completaria os 80 anos no próximo dia 7 de outubro de 2019.

Prestamos aqui a nossa homenagem ao Jorge,
relembrando uns versinhos que em tempos o nosso editor Luís Graça lhe fez, em 2013, por ocasião do seu 74º aniversário natalício.

Somos solidários na dor, por esta enorme perda, da sua esposa, dos seus filhos Marta e Tiago, da demais família, e dos amigos e camaradas da Magnífica Tabanca de Matosinhos, que ele ajudou a fundar e a crescer e que tanto acarinhou em vida.


Guiné > Arquipélagos dos Bijagós > Ilha das Cabras, julho de 1966...


O "comandante"Jorge Rosales, como a gente carinhosamente o tratava, o régulo da Magnífica Tabanca da Linha, um homem amável e afável, amigo do seu amigo... Aqui, na foto, já no final da sua comissão, depois de ter passado 18 meses em Porto Gole, 1964/66... Alferes miliciano, pertenceu à 1ª Companhia de Caçadores Indígena, com sede em Farim. (Havia mais duas, uma Bedanda, a 4ª, CCAÇ, e outra em Nova Lamego, a 3ª CCAÇ).


Ficou lá pouco tempo, em Farim, talvez uma semana. A companhia estava dispersa. Foi destacado para Porto Gole, com duas secções (da CCAÇ 556, do Enxalé) e outra secção, sua, de africanos. Tinha um guarda-costas bijagó. Ficou lá 18 meses. Passou os últimos tempos, em Bolama, no CIM - Centro de Instrução Militar, a dar recruta a soldados africanos. Era membro da nossa Tabanca Grande desde 9/6/2009.

  




Guiné > Região do Óio > Porto Gole > 1º Companhia de Caçadores Indígenas (1964/66) > O Abna Na Onça e o Jorge Rosales



Guiné > Região do Óio > Porto Gole > 1º Companhia de Caçadores Indígenas (1964/66)> 


o alf mil Jorge Rosales e o 1º srgt Arlindo Verdugo Alface, junto ao monumento comemorativo da chegada do explorador português Diogo Gomes em 1456.


Fotos (e legendas): © Jorge Rosales (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Homenagem a um grã-tabanqueiro,
régulo da Magnífica Tabanca da Linha,
antecipando o almoço-convívio,
no dia 17 de outubro de 2013,
na Adega Camponesa,
em Cabreiro, Alcabideche, Cascais:



Foi craque de futebol
E do pinguepongue campeão,
Desterrado em Porto Gole,
Tudo por mor da Nação.

É de galega linhagem,
Na Linha nado e criado,
É-lhe devida homenagem
Por ter sido bravo soldado.

Comandante só há um
Na Magnífica Tabanca:
Rosales, e mais nenhum,
Que ainda salta e pouco manca.

Estudou nos Salesianos,
Foi herói de capa e espada,
Faz setenta e quatro anos,
É um bom pai e camarada.

É o melhor pai do mundo,
Diz a Marta, no Brasil.
Tenho-lhe um amor profundo,
Diz o Tiago, no Estoril.

É um camarada porreiro,
Dizemos todos em coro,
É nosso grã-tabanqueiro,
É amigo que vale ouro.

Que este dia se repita,
Por muitos e bons aninhos,
Saúde, sorte e guita,
São os votos dos velhinhos.

Tu, periquito, vai no mato
Que o Rosales segue para Bolama,
Da guerra já ele está farto,
Só quer uísque e uma boa cama.

Adeus, meu povo balanta,
Adeus, caqui amarelo,
Nunca sede tive tanta,
Só queria uísque com gelo.

Água do Couço sabe bem,
Na Adega da Camponesa,
Aparece lá também,
Oh! bajuda, oh! beleza.

Se o bom irã me ajudar,
E me der anos p'ra viver,
...Ao Geba quero voltar,
E Porto Gole rever!


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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de fevereiro de  2019 > Guiné 61/74 - P19460: In Memoriam (338): José Arruda (1949-2019): fotos da última homenagem no cemitério dos Olivais, com Honras Militares prestadas por um Pelotão do Exército, e Alas de Cortesia, compostas por praças dos três Ramos das Forças Armadas (José Martins)

Guiné 61/74 - P19509: Memórias de Gabú (José Saúde) (77): Pequena biografia da Guiné-Bissau. Viagem pela história. (José Saúde)

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1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série. 

Pequena biografia da Guiné-Bissau

Viagem pela história

Numa curta viagem pela história da Guiné-Bissau, procuro disseminar conteúdos que conduzem a pequenas biografias de um território palmilhado por camaradas que para lá foram atirados “sem lei nem roque” e onde fomos combatentes numa comarca que se deparava então com a crueldade da guerra.

Sei que o debitar narrativa publica é por vezes mal entendida. Porém, não diverge-mos de pontuais opiniões, que aceitamos, e nem tão-pouco façamos do tema um cavalo de batalha. Passemos à frente e respeitemos. Aliás, enquanto a flexibilidade do cosmos da escrita o permitir, sê-lo-ei sempre um camarada pronto a responder à chamada e trazer à estampa pequenos “contos” de uma terra avermelhada que nos fez sofrer. 

Vamos ao tema que hoje aqui narramos. Foi uma pesquisa feita a um país que nos fora anfitrião durante o conflito e que serviu de base ao texto aqui inserido. 

A Guiné é um território plano, com poucas elevações, muitos rios e canais, sendo constituída por algumas ilhas, muitas delas próximas da costa - Bissau, Bolama, Como, Melo, Caió e Pecixe - e pelo arquipélago dos Bijagós, no qual se salientam, de entre outras, as ilhas Caravela, Formosa, Roxa, Galinhas, Orango, Ponta e Maio. 


O primeiro império a invadir o território foi o Gana por volta do século V. Sabe-se que a história refere um certo materialismo nas relações com os árabes do Magreb, sendo estas, por outro lado, amistosas, uma vez que a tolerância com o islamismo prevaleceu.

Alguns desses povos foram convertidos à religião muçulmana e apelidados de almorávidas. Estes, no século XI, empreenderam uma guerra santa a partir do Senegal, tendo-se o movimento expandido até à Península Ibérica. 

Com a destruição do império Gana, houve a libertação de muitos dos povos que entretanto estavam dominados, os Mandingas são disso um fidedigno exemplo, e partiram deliberadamente para a invasão do atual território da Guiné/Bissau no Séc. XIII.

Os portugueses chegaram à Guiné em 1446 e quando exploravam a costa africana. O conceito de Guiné do século XV era muito amplo, abrangia grande parte da África Ocidental, a sul do Cabo Bojador, dobrado em 1434 por Gil Eanes. Em 1466 a Coroa concedeu a administração da Guiné desde o Rio Senegal até à Serra Leoa, com exceção das ilhas de Arguim, incluindo o tráfego de escravos aos capitães de Cabo Verde. Os espanhóis tentaram, e por diversas vezes, conquistar a região, mesmo que a forma para o conseguirem se situasse afastado pelo Tratado de Alcáçovas (1480).

No segundo quartel do século XVI há uma grande intervenção da pirataria de traficantes franceses, seguindo-se os ingleses. Durante o período de denominação filipina (1580-1640) apareceram os Holandeses. A primeira povoação a ser criada foi o Cacheu, 1588, e que se tornou mais tarde na sede das primeiras autoridades coloniais de nomeação régia: os capitães-mor.

Em meados do século XVII, a ocupação portuguesa estende-se ao longo dos rios Casamansa, Cacheu, Geba e Buba. Em 1687 constrói-se uma importante fortaleza em Bissau. Sucede-se, até ao século XIX, um período de conflitos entre Portugal, a Inglaterra e a França pela posse destes e outros territórios da Costa Ocidental de África. A França consegue melhores resultados. Pela Convenção de 1836, Portugal cede-lhe os territórios que iriam constituir a África Ocidental Francesa. 


O fim da escravatura, principal negócio da região, levou a que fosse desenvolvida a agricultura e silvicultura, onde operavam grandes companhias francesas, inglesas e alemãs que exploravam o amendoim, óleo de palma e a borracha. Em 1879 a Guiné passa a ter um governo próprio. Em 1943 a capital é fixada em Bissau. 

Chegamos, agora, à guerra na Guiné. O conflito iniciou-se a 23 de janeiro de 1963 na região de Tite. O PAIGC apresentou-se, desde logo, como uma força militar deveras eficiente. A sua ação de início obrigava as forças portuguesas a defenderem-se no interior dos aquartelamentos, ou em grandes operações travadas no interior da mata.

Segundo informações recolhidas em sites sobre o conflito armado na Guiné, soubemos que no princípio da guerra as nossas tropas registavam cerca de 10 mil combatentes no terreno e que terminámos com cerca de 40 mil soldados distribuídos pelos três ramos das Forças Armadas, ou seja, Exército, Força Aérea e Marinha.

Em 1974, após a Revolução dos Cravos, 25 de Abril, Portugal reconheceu a Independência da Guiné, dando-se por terminado um conflito onde se registaram um infinito números de mortos, mutilados, desaparecidos, de entre muitos camaradas que sofrem ainda hoje de um atroz stress traumático de uma pós guerra deveras avassaladora. 

Para a história fica, também, que o PAIGC proclamou a independência da Guiné-Bissau a 24 de setembro de 1973 nas Colinas de Boé. 

Camaradas, deixo-vos com esta pequena história de um território onde assistimos a díspares acontecimentos de uma guerra que nos foi na verdade cruel.

Um abraço camaradas,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:  

Guiné 61/74 - P19510: Fotos à procura de... uma legenda (114): O Virgílio Teixeira, num qualquer dia de novembro de 1967, quando foi a Sonaco comprar uma vaca...

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Guiné > Região de Bafatá > Sonaco > Novembro de 1967 > Sinalização de trânsito: placa de confirmação de localidades e distâncias quilométricas. O fotógrafo, Virgílio Teixeira (à direita), não  se lembrava exatamente do local onde foi tirada a foto. Sabemos, pelas distâncias indicadas, que  ele estava em Sonaco, ou imediações de Sonaco, a 30 km, a nordeste de Nova Lamego. E o que é que lá foi fazer ? Comprar vacas... A tropa só ia a Sonaco, para comprar vacas... Temos escassas referêmncias a Sonaco (pouco mais de meia dúzia).

Foto  (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Setor L2 (Bafatá) > Contuboel > Centro de Instrução Militar de Contuboel >  15 de Julho de 1969 > CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71) > Da esquerda para a direita: o alferes miliciano Francisco Magalhães Moreira (1º Gr Comb), o fur mil  Tony Levezinho ( (2º Gr Comb), o o fur mil António Fernando R. Marques, o alf mil José António G. Rodrigues ( já falecido) e o fiur mil Joaquim Augusto Matos Fernandes (furriel) (estes três últimos do 4º Gr Comb), preparando-se para sair até Sonaco (a nordeste de Contuboel), local aprazível, banhado pelo rio Geba, tal com Contuboel e onde "não havia guerra" (*)




Guiné > Zona Leste > Setor L2 (Bafatá) > Contuboel > "Em 10 de Julho de 1969, numa canoa no Geba a caminho de Sonaco... Reconhecem-se da esquerda para a direita o Tony Levezinho, eu, o alf Francisco Moreira, o Rocha, condutor, o alf Rodrigues, já falecido, e o djubi, manobrador da canoa, de pé", diz o Humberto Reis.

A CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12) realizou os exercícios finais da instrução de especialidade dos seus soldados africanos, e a IAO, entre 6 e 12 de julho, a 10 km a norte de Contuboel. A recruta foora dada pela malta da CART 2479 / CART 11, dos nossos amigos e camaradas Valdemar Queiroz, Abílio Duarte, Renato Monteiro, etc. As praças, do recrutamento local, ainda não tinham camuflados,  envergavam a  farda nº 3 e levavam balas... de salva!... Só os graduados (metropolitanos) levavam cartucheiras, com bala... real,  não fosse o diabo  tecê-las... 

Mas Contuboel nessa altura (jun/jul de 1969) era ainda uma oásis de paz... Sonaco, por sua vez,  era um destacamento do subsetor de Contuboel, tendo em permanência um grupo de combate da unidade de quadrícula de Contuboel mais um pelotão de milícias. Não nos  consta que alguma vez tenha sido atacada ou flagelada, tal como Contuboel. 

 Fotos (e legendas): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados.Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 



Guiné > Mapa geral da província  (1961)  > Escala 1/500 mil > Pormenor das regiões de Bafatá e de Gabu (Zona Leste), com indicação das distâncias quilométricas entre as principais povoações.

Bambadinca - Bafatá =  28 km
Bambadinca - Xitole = c. 35 km
Bafatá - Gabu Sará [Nova Lamego] =53 km
Contuboel - Fajonquito = 30 km
Contuboel - Sara Bacar = 39 km
Sonaco - Paunca = 49 km
Sonaco - Gabu Sará =  34 km
Gabu Sará - Bajocunda = 45 km
Gabu Sará - PIrada = 54 km
Gabu Sará -Piche = 30 km
Gabu Sará - Piche - Canquelifá = 60 km
Gabu Sará - Piche - Buruntuma = 67 km
Gabu Sará - Cabuca = 25 km
Gabu Sará - Madina do Boé = 65 km

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)


1. Alguns comentários ao poste P19506 (**):

Tabanca Grande Luís Graça:

Virgílio, estive a fazer as medições (a partir do mapa), e bate certo: Também estava a pensar em Sonaco, a 30/35 km de Nova Lamego...

Toda a gente ia a Sonaco comprar vacas, até eu quando fui gerente de messe em Bambadinca (por um mês, era à vez...) fui a Sonaco comprar uma vaca por 900 pesos... Mas Sonaco fazia parte da região de Bafatá, não do Gabu... Havia de facto uma estrada Sonaco - Nova Lamego, que eu nunca utilizei... Fiz Bambadinca, Bafatá, Contuboel, Sonaco... e volta... Já lá tinha estado em "turismo", em junho ou julho de 1969, nessa altura estava no Centro de Instrução Militar de Contuboel... Sonaco fica(va) a nordeste (...).

Virgílio Teixeira: 


(...) Andei a ler na HU (Historia da Unidade – BCAÇ 1933) à procura do local da foto.

Também me parece que poderá ser Sonaco pois fui lá uma ou duas vezes, e não me lembro de nada, pois não havia tropa. Tinhamos um itinerário de Nova Lamego a Sonaco, e ainda Sonaco-Pauna-Pirada.

Sonaco fazia parte em 1967 (Set/Dez) e 1968 (Jan/Fev) do sector L3 sob o comando do BCAÇ 1933, ao contrário do que disse o Luís, que pertencia a Bafatá. Talvez mais tarde, tenho isso aqui na HU bem clarificado. Nesta zona durante os 5 meses de permanencia, não há referências a operações na zona de Sonaco. Daí que eu pudesse lá ter ido, relativamente à vontade, por ausência prevista do IN no itinerário.
Foto nº 13
Como o Luis disse, que foi lá comprar uma vaca, na sua escala de gerente de messe, pode ter sido isso que eu fui fazer, com um grupo, comprar uma vaca a Sonaco, que pode até ser aquela da foto nº 13 (, não publicada por falta de qualidade), no meu Poste Gabu Parte I, pelo que sugeria até, mesmo sem qualidade, que podesse ser publicada pois eu vinha a cavalgar na mesma, e é interessante, mas deixo ao cuidado do editor. (...)

Valdemar Queiroz:

(...) Julgo pelo ar descontraído que seria Sonaco. Quem passava por Sonaco e aproveitava bem o lá ter passado, poderia acontecer, depois, não se lembrar de lá ter estado. ah!ah!ah! Eu que o diga, só me lembro duma rua principal e de haver uma bomba de gasolina daquelas de dar à manivela vertical. (...)

Abílio Duarte:

É verdade, Valdemar, eu acho que passei por Sónaco, umas três vezes. Lembras-te de no dia de Pascoa, de 1969, que fomos lá almoçar, e ir á praia. Praia, nem vê-la, estava o rio em baixo!!!  

O que queria comentar contigo, é o seguinte: Porque é que nunca houve tropas aquarteladas em Sonaco? Qual a tua opinião, pois sempre achei um ponto estratégico, naquela zona!

Conta-me coisas sobre esta minha questão, tu ou alguém do Blog, que entenda a minha questão,pois sempre achei estranho, aquela zona não ter conflitos. E esta,  hem ?!...como diria o velho Pessa, Abraço, e as tuas melhoras.


Valdemar Queiroz:

Duarte: Eu também fui nesse dia a Sonaco e foi a única vez. Almoçar e ir à praia em Sonaco. Inesquecível. Levamos umas latas de conservas de lulas, talvez umas 10 latas, para um civil, julgo que fula, fazer um guisado de lulas 'à la Sonaco',  já com créditos firmados.

Lembras-te que foi organizado pelo furriel da secreta, rapazinho esquisito, sempre desenfiado a conhecer 'gilas', homens grandes e toda a gente em Sonaco. Ele ia lá constantes vezes com um caçador nativo, calhando lá estariam as sua fontes de informações.
Pois, qual praia qual quê, o que houve foi um grande bioxene geral com regresso a Contuboel já de noite e furriel da secreta todo irritado.
Não faço ideia por que razão não havia tropa em Sonaco. A tabanca ainda era grande e tinha grande movimento comercial e até tinha bomba de gasolina. Não sei explicar, mas penso tratar-se de uma 'terra franca' e dar jeito a ambas as partes, mas não sei ao certo.
Um abraço e cá vou indo com os bofes atrapalhados (...).

Guiné 61/74 - P19511: Historiografia da presença portuguesa em África (150): Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (3) (Mário Beja Santos)

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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Junho de 2018:

Queridos amigos,
O pretexto do médico Damasceno Isaac da Costa para elaborar o seu relatório era pôr por escrito o estado da higiene e saúde pública da recém criada Província Autónoma da Guiné. Mas não resistiu em deixar-nos estes apontamentos surpreendentes sobre a fortaleza e a vila de Bissau, descreveu o presídio de Geba ao pormenor, tais como os itinerários de Geba para Farim e de Farim para Bissau. Observa usos e costumes, fala de longevidade dos guineenses e da vida cultural dos Papéis.
Jamais encontrei documento tão precioso sobre a presença portuguesa neste ano de 1884.

Um abraço do
Mário


Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (3)

Beja Santos

Este relatório consta dos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa e foi oferecido pelo seu filho Pedro Isaac da Costa ao antigo administrador de Bissau, António Pereira Cardoso, autor de um conjunto apreciável de documentos, muitos deles de leitura indispensável para conhecer a vida administrativa da Guiné, sobretudo entre as décadas de 1930 e 1950.

Este relatório, como se verifica pelo seu fecho, foi copiado pelo filho do autor. E diz-se que é de estranhar que tendo sido escrito em 1884 se refere a factos de 1888.

Trata-se de um documento irrecusável, nenhum trabalho historiográfico sobre este período em que a Guiné ganhou autonomia como Província tem cronista de igual estatura. Descreveu minuciosamente a fortaleza de S. José de Bissau, a vila, e não se conhece descrição tão pormenorizada sobre o Geba como a dele. Depois, observa o seguinte:
“Acima de Geba e a 10 léguas de distância está situada uma aldeia importante, já pelo seu comércio já pela sua população, denominada Bafatá. É habitada pelos Fulas e negociantes cristãos. O comércio interno de Geba consiste em cera, couro, marfim, amêndoa de palma, borracha, ouro e outros produtos, são comprados e transportados para as praças de Bissau e Bolama.
Geba, pelas suas riquíssimas produções que lhe proporciona o seu ubérrimo solo, concorre mais que nenhum outro ponto da Guiné para levar aos grandes centros comerciais da Europa as suas produções. A prosperidade da Guiné, dependendo pois em grande parte do presídio de Geba, convém por todos os meios elevá-lo à categoria a que tem jus pela sua importância industrial e comercial”.

Finda esta tão significativa leitura do ponto mais avançado da presença portuguesa, o médico vira-se noutra direção:
“Entre Geba e Farim existe fácil comunicação. Distanciado um presídio do outro em uma extensão de 20 léguas, o trânsito de 8 é feito por terra, de Geba até ao rio Tandegú e as restantes 12 em canoas, pelo rio de Farim até o mesmo rio Tandegú. Existe igualmente entre os dois presídios fácil comunicação por terra e percorre-se este trajecto em 48 horas, atravessando os territórios ocupados por Fulas e Beafadas. Para encurtar o trajecto fluvial de 60 léguas, que intermedeia entre Geba e Bissau, transita-se 20 por terra da praça de Geba até Fá em 3 horas e as restantes 40 pelo rio, de Fá a Bissau, em 24 horas.”

Regressa a Geba com um conjunto de apontamentos etnográficos e etnológicos, vale a pena reproduzi-lo, na plena vivacidade da sua escrita:
“Em torno da povoação e numa vasta extensão habita a raça Fula que pela sua constante aplicação ao trabalho contribui muito para o engrandecimento do comércio, da indústria e agricultura de Geba. As mulheres trazem dependuradas nas orelhas argolas de latão ou cobre, em seus cabelos cuidadosamente entrançados trazem suspensas como um grande adorno moedas brasileiras ou francesas de 80, 120, 240, 480 e 900 réis.
Os gentios da Guiné, conquanto selvagens, são susceptíveis de se converterem ao cristianismo e de receberem educação, pois que possuem em subido grau o orgulho de se transformarem em brancos, isto é, de se civilizarem”.

Elenca um punhado de notas sobre a longevidade das populações, dizendo o seguinte:
“A população de Bissau divide-se em europeus, mestiços e indígenas. Os europeus que residem na ilha quer como funcionários públicos quer como comerciantes têm pouca permanência nela e por isso nada se pode dizer sobre a sua longevidade. Todavia, observa-se que eles, decorrido um ano, ou antes, apresentam profundas alterações orgânicas e funcionais, que são a fiel expressão da acção perniciosa do elemento palustre. O europeu não se aclima na Guiné.
Os mestiços possuem temperamento misto e constituição regular, notando-se alguns com 20 e 30 anos de residência na ilha com barbas encanecidas, com 60 a 70 anos de idade e gozando de perfeita saúde. Os indígenas, incluindo os Grumetes, pertencem à raça Papel que habita a ilha. Possuem em geral um temperamento linfático e uma constituição fraca. Vivem pouco tempo.
As crianças até à idade de 2 anos morrem mais de metade e as que saíram incólumes da mortífera luta que travam com os elementos que as cercam contraem lesões viscerais importantes”.

E de seguida dá-nos um quadro de usos e costumes, com espantosas minudências:
“Os Papéis homens vestem uma pele de cabra que lhes cobre imperfeitamente as partes genitais; rapam a cabeça e untam-se com azeite de palma, como os Bijagós; picam o peito com uma faca ou cauterizam a pele com ácidos, para simular diferentes paisagens e figuras como efeitos de luxo; com o mesmo fim, limam os dentes, tornando-os pontiagudos.
Os guerreiros, como distintivo, trazem na cabeça chapéus enfeitados com pontas de porco-espinho cujo número é tanto maior quantos forem os animais desta espécie que tiverem morto.
Os Papéis usam a tiracolo um saco de couro de cabra ou de macaco destinado a trazer tabaco, aguardente ou dinheiro. Os Papéis amam em extremo a música e a dança e em todas as suas festividades usam três instrumentos da sua predileção: o bombolom, o tambor e o balafon. O bombolom, constituído de um tronco de madeira consistente, é oco e toma a forma de um cone truncado e aberturas estreitas, longitudinais e paralelas. É sobre os bordos destas aberturas que por meio de dois paus se fazem repercutir diferentes sons. Este instrumento serve como corneta para anunciar ou transmitir ordens à força no campo de guerra. Entre os Balantas é mais frequente o uso deste instrumento para anunciar a morte, para convidar os parceiros ao roubo.
O tambor é construído de madeira consistente e tem a forma de um cone truncado, mas muito mais estreito que o bombolom, é forrado de um lado com couro de boi ou de cabra, que é besuntado com azeite de palma.
Alguns paus colocados em diferentes posições constituem a estrutura do balafon. Na parte inferior do balafon pendem muitas cabaças, tendo cada uma destas uma pequena abertura virada para cima e uma outra lateral, forrada com teias de aranha. Na parte superior do instrumento existe um teclado que consiste em paus com um metro de comprimento, dois centímetros de espessura e cinco ditos de largura, o qual repousa sobre a abertura das cabaças. E há dois paus arredondados, tendo três decímetros de comprimento, terminados num dos extremos por bolas de borracha destinados para fazer tocar o instrumento.”

E finalmente o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa lança-se pormenorizadamente a falar de higiene e saúde pública, é surpreendente tudo o que nos vai contar.

(Continua)

Bombolom, imagem retirada de flickr, rede social, com a devida vénia. Traz a seguinte informação: Tambor tradicional guineense utilizado para anúncios importantes à comunidade, em dias de festa e cerimónias fúnebres. Tabanca de Bolol, Cacheu, Guiné-Bissau.

Tambor guineense, imagem retirada de https://demonstre.com/lenda-dos-tambores-africanos/, com a devida vénia.

Imagem de um balafon, retirada do site http://eportuguese.blogspot.com/2011/05/fale-com-o-balafon.html, com a devida vénia.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19494: Historiografia da presença portuguesa em África (149): Relatório do Delegado de Saúde da vila de Bissau, o médico de 2.ª classe Damasceno Isaac da Costa, referente a 1884 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19512: Foto à procura de... uma legenda (115): Afinal, havia burros, e até bastantes, no nosso tempo (, para além das bestas humanas)...

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Guiné > Região de Bafatá > Fajonquito > CCAÇ 674 (1964/66) > O fur mil mec auto Sérgio Neves,  já falecido, irmão do nosso grã-tabanqueiro Tino Neves, momtando um burro.

Foto (e legenda):  Constantino Neves (201o). Todos os direitos reservados. [Edião e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné  s/l > c. 1938 > Burros transportan  "mancarra"


Fonte: João Barreto, História da Guiné, 1418-1918.Lisboa: 1938. Cortesia do nosso colaborador permanente, Mário Beja Santos (2007): "Ainda vi burros em Bafatá e arredores. Mas o régulo [do Cuor,] Malã, como seu pai, Infali, deslocavam-se pelo regulado a trote de burro. Malã contou-me que precisava de 8 a 9 horas para percorrer as picadas de Sansão e Missirá até Sinchã Corubal e Madina".

Por sua vez, o Fernando Gouveia, em comentário de 16 de julho de 2009 às 16:54, garante que "em Bafatá, 1968, 1969 e 1970,  havia muitos burros, vindos da estrada do Gabu trazendo mancarra".



Guiné > Região do Oio > Bissorã > 1965 > CART 703 > No Oio também havia burros, como se comprova nesta foto com o João Parreira, um cavaleiro à maneira, embora ele fosse de artilharia e tivesse mais tarde trocada a sua dama pelos comandos.

Foto (e legenda): © João S. Parreira (2007). Todos os direitos reservados. [Edião e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Bafatá> Geba > Camamudo > CCAÇ 1426 ( 1965 e 1967,  Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda) > O fur mil op esp / ranger em cima de um burro:

"Como apareceu em Camamudo algures em princípio de 1966, um indígena com um burro e, tal como podem deduzir, era um achado encontrar um burro por aqueles lados na Guiné e não vi mais nenhum em toda a comissão, pedi ao ilustre dono para dar uma volta para matar saudades. Ele era tão 'grande', o burro, que os meus pés quase chegavam ao chão.

"Todos tiveram oportunidade de dar uma volta grátis e tirar umas fotos para guardar e um dia recordar, como eu faço de vez em quando.  Agradeci ao senhor em nome de todos com um aperto de mão e ele também ficou contente.  Foi um divertimento diferente do habitual."


Foto (e legenda): © João S. Parreira (2007). Todos os direitos reservados. [Edião e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 


Guiné > Região de Bafatá  > Fá Mandinga >  CART 2339 (Fá e Mansambo, 1968/69) > Junho de 1968 > O fur mil Carlos Marques Santos, o fur mil vagomestre Costa e os burros - CART 2339

Foto (e legenda): © Carlos Marques Santos (2009).  Todos os direitos reservados. [Edi´ção e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região do Oio > Bissorã > s/d >  CCAÇ 2444 , , Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70) > O nosso saudoso João Rebola (1945-2018), "montando um dos burros de Sitafá Camará"...


Foto (e legenda): © João Rebola  (2013).  Todos os direitos reservados. [Edi´ção e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CSS/BCAÇ 3872 (1972/74) > "O mestre-escola [, o Joaquim Guimarães, ] mais o burro [, o Augusto, ] e o Mamadu Djaló, em 1972, em Galomaro, sede do batalhão. ...

Foto (e legenda): © Joaquim Guimarães (2007).  Todos os direitos reservados. [Edião e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Ingoré> 1998 > Esta foto, com a Zélia Neno (de costas), ex-companheira do Xico Allen, chegou-nos por mão do Albano Costa, com a seguinte legenda: “Esta foto vale pela imagem, e os brancos em África converteram-se? Não é que ficaram a ver a Zélia [Neno] a puxar o burro, mulher de armas!" ...

Foto (e legenda): © Albano Costa / Zélia Neno (2006). Todos os direitos reservados. [Edião e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto de Virgílio Teixeira (Sonaco, 1968)
1.  Afinal, havia burros na Guiné, no nosso tempo... E a  provar alguma coisa, estas fotos mostram-nos que também eles, os burros, parecem querer resistir à extinção em África, em geral, e na actual República da Guiné-Bissau, em particular...


Por outro lado, o nosso irmãozinho Cherno Baldé vê mais com um olho do que nós com os olhos todos... Pois claro que nesta foto, de má qualidade [, à esquerda] é um burrito e não uma vaquinha de Sonaco...  O Virgílio Teixeira monta o burro e não a vaca, salvo seja... Ampliei a foto: vê-se que o "trombil"é de burro...

Confirmo que no meu tempo ainda havia burros na região. de Bafata. Mas as vacas também eram pequenas. Sei que comprei uma por 900 pesos, a olho, não a pesei nem sei quantos quilos de bife deu para as messes, de sargentos e de oficiais, separadas, mas com gestão comum.

Em suma, na Guiné sempre houve burros, pelo menos desde os anos 30, a avlaiar pela foto do livro do médico João Barreto... Onde havia cultivadores de amendoim,  comerciantes e gilas (comerciantes ambulantes), havia burros...

Burro, asno, jumento, jerico, cujo berço foi a nossa África Mãe, Equus africanus asinus, segundo a nomencolatura trinomial de Lineu (1758)... Mas também "besta de carga", desde há pelo menos 5 mil anos a.C. quando o seu ancestral selvagem foi domesticado, tal como o cavalo... Mas na escolinha do nosso tempo punham-se "orelhas de burro" aos mais atrasados da classe... Pobre bicho, hoje em perigo de extinção...

Sem querer mentir, o único burro (fora... os humanos) que vi na Guiné foi a caminho de Madina/Belel, a 31 de Março de 1970, no decurso da Op Tigre Vadio: estava num estado lamentável, morto por abelhas selvagens e em vias de decomposição, já coberto de formigas... Não sei se vivia em "região libertada"... Mas tudo indicava que o PAIGC e a respectiva população - nomeadamente ao longo do corredor do Óio - também usavam os bons serviços do burro, no transporte de armas, mantimentos e outras mercadorias... Enquanto nós aturávamos...as nossas bestas!

E já agora, sobre o pobre do burro encontrei os seguintes provérbios crioulo-guineenses:

Buru tudu karga ki karga si ka sutadu i ka ta janti (O burro, com pouca ou muita carga, se não é açoitado não anda);

Karna di buru ta kumedu na tenpu di coba, di fugalgu na tenpu di seku (= carne de burro se come na estação, a de animal nobre na seca);

Praga di buru ka ta subi na seu ou Praga a di buru ka ta ciga na seu (Praga de burro não sobe ao céu).

Guiné 61/74 - P19513: Parabéns a você (1576): Veríssimo Ferreira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1422 (Guiné, 1965/67)

Guiné 61/74 - P19514: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XIV: maj pilav João António de Lemos Silva Santos Gomes (Lisboa, 1929 - Moçambique, 1964)

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1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972. Foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar.

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Nota do editor:

Último poste da série >  17 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19501: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XIII: cap inf António Afonso Silva Vigário (Estarreja, 1936 - Vale do Vamba, Quitexe, Angola, 1964)
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